Como o curso de Baralho Cigano pode ser o passo primordial para o aprendizado oracular e o autoconhecimento

(Entrevista com Winy Miwa Morimoto, aluna formada em Baralho Cigano pelo novo núcleo da Tsara Raio Luz do Oriente)

Como todo produto essencial para o avanço da consciência coletiva de nossa geração, foi na Revolução industrial que as cartas divinatórias passaram a ser produzidas em larga escala, partindo da Europa para as Américas. Desde então, são inúmeras as editoras que lançam oráculos acompanhados de livros e afins. Séculos afrente, Winy Miwa Morimoto, hoje com 25 anos, teve seu primeiro contato com as cartas em uma revista adolescente que oferecia o deck em papelão. Das ironias da tecnologia, é assim, em repentes de consumo e cultura pop, que o baralho cigano abre suas portas, sendo um dos mais conhecidos “jogos” até hoje.

“Depois que cresci, fui a uma terapeuta que me indicou estudar um oráculo. Na primeira loja holística que eu fui, perguntei ‘qual o oráculo mais fácil de se aprender?’ e me responderam ‘o Baralho Cigano’”, se lembra Winy. São 36 cartas com figuras que fazem parte do nosso consciente imagético e que vem acompanhada do intrigante ocultismo dos ciganos:  a mulher e o homem fortes, resolutos e livres, ligados ao amor e à fortuna no seu sentido amplo. Para Winy, é o arquétipo que temos em nós, adormecido ou não, trazendo consequentemente uma cigana e um cigano espiritual a nos acompanhar. São estes ciganos que guiam o intermediador durante o curso e as tiragens.

Muito diferente do que se é reproduzido, uma consulta com essas cartas não é brincadeira de adivinhações. “Há uma enorme seriedade em fazer uma tiragem de baralho cigano. Em desvendar a alma de uma pessoa de acordo com o que ela necessita. É muito mais do que adivinhar algo. Ao se abrir um jogo, uma história é contada. A técnica de tiragem é uma catalisadora de energia. O papel do terapeuta é contar aquela história. É fazer com que o consulente tenha uma nova perspectiva, limpa e verdadeira, e saia reflexivo sobre as atitudes que tomou, toma ou terá que tomar. O curso deixa essa responsabilidade muito clara para nós.”

Winy continua e diz que, apesar do baralho ser o mesmo, cada terapeuta, ao longo de sua jornada, se mostrará propenso a receber atendidos com uma necessidade específica, que se relacionará com a missão que ele e o guia cigano têm a desenvolver juntos. No final das contas, ela diz que as pessoas buscam e precisam se curar física, emocional ou espiritualmente, indiferente das questões que trazem. Relacionamentos, autoestima e prosperidade não deixarão de estar dentro das jogadas, mas a nova visão oracular aponta para a busca pela consciência, que resulta na cura verdadeira. A fama das adivinhações e as próprias cartomantes famosas não são mais as mesmas, afinal.

Ainda assim, é desta época mitificada que as cartas do Baralho Cigano vêm. Mademoiselle Marie Anne Adelaïde Lenormand foi a mais importante cartomante do século XIX, sendo consultada por cientistas e príncipes. Atrás do seu nome, muitos decks de cartomancia foram criados, acompanhando a explosão da produção e venda em massa que se iniciava. As pesquisas atuais indicam que um suposto filho de Mademoiselle Lenormand reduziu as cartas contidas no Tarô de Marselha e o colocou a venda, chamando-o de “Le Petit Lenormand” (o pequeno Lenormand, diferenciando-se dos muitos outros jogos lançados em nome da cartomante). Se era mesmo o seu filho ou se a história foi criada como jogada de marketing, podemos apenas especular. Igualmente ao por que de sua popularidade e a relação com o povo cigano. Outra história, por exemplo, diz que o próprio povo cigano transmitiu os ensinamentos simbólicos à Mademoiselle Lenormand, que os traduziu nas famosas cartas.

O fato é que as imagens contemporâneas que recheiam este baralho são muito mais bem recebidas do que números ou simbologias de civilizações extintas. Winy também pontua que “um tarô possui 56 cartas, enquanto o baralho cigano tem 36. São apenas os arcanos maiores, apenas as questões principais cercando um assunto”.

Quando questionada sobre intuição e técnica, Winy diz que elas andam juntas. O campo intuitivo é aberto a partir do momento em que as técnicas são passadas. “As técnicas ensinadas pela Si (professora e terapeuta holística Sibelle Andrade) vão desde as tiragens ciganas e clássicas até as previsões anuais ligadas à astrologia. Elas dão boa base para um iniciante nas leituras, porque são usadas em outros tipos de baralhos e tarôs”. Engana-se, porém, quem pensa que aprender uma técnica não exige mentoria apropriada e trocas constantes.

“Um grupo fortalece muito o indivíduo. Você reconhece as suas questões no outro, criando empatia”. Nada é mais importante para um terapeuta. “Junta as três gerações. As três vozes da experiência contidas nos alunos e na professora que ministra o curso”. Um treino em si. “A união faz a força. Na minha turma, uma colega era muito honesta em dizer suas dificuldades e todos riamos, porque o que ela dizia era real e estávamos sentindo o mesmo que ela durante o processo”.

Quando questionada se havia saído do curso diferente de como entrou, Winy sorri e embarga a voz para dizer: “Saí. Eu ainda quero entender muita coisa. Quando eu te digo que as cartas captam energia, acredito que estou falando de física quântica. Eu ainda não sei nada sobre isto, mas entendo a energia que é captada pelas cartas do baralho cigana em determinada leitura. Eu sei falar sobre o que eu sinto, a minha intuição foi desenvolvida, mas o caminhar continua”.

Pautada em princípios éticos, como todo oráculo deve ser, o Baralho Cigano foi a porta de entrada para a mais nova terapeuta formada pela Tsara Raio Luz do Oriente, mas pode ser mais uma técnica a ser aprendida por um  terapeuta que já domine outros oráculos. O importante é, sem dúvida, o desejo espiritual em busca da verdade interna e universal.