O bailar da Biruta
Da janela observo uma biruta caseira que baila a sabor do vento, o que me faz ficar horas a fio a observá-la. O vento entra sorrateiramente e me cobre com uma sensação indescritível de prazer e felicidade 
Leio a última página do livro “o ensaio sobre a cegueira” e com a mesma destreza, naturalidade e beleza o autor me fez pensar na biruta, no vento e o prazer tão meu que jamais poderá ser seu, se não for capaz de distrair com uma biruta.
Há momentos que ela desce das alturas e rodeia o suporte num movimento suave, leve, submisso, não menos bonito, especial. Parece exausta, como se tivesse usando suas energias finais, e seu girar compassado me faz crer que não desistirá , mesmo o vento não soprando a seu favor. A coreografia continua e meus olhos atentos não a perdem de vista. Minha heroína! Eis que num piscar, ela se pluma, como fênix , renasce e retorna imponente, soberana, dona do seu telhado, sem perceber que sua rotina preenche em mim, algo inexplicável, denso, intenso, feliz. 
Biruta, do substantivo a adjetivo basta um sentimento e a capacidade de ainda, apesar de todo o vendaval contra ,subir, plumar , viver e ver a vida com a simplicidade e felicidade de quem ainda não foi acometido pela cegueira.