O ATO DE LER E ESCREVER PARA O PORTADOR DO TRASTORNO DO ESPECTRO AUTISMO - TEA

2022

Introdução

 A leitura é de extrema importância para todos, indistintamente, ressaltando que este é um processo social eminente e que envolve a inclusão social, uma vez que esta é a base da inserção social.

Assim, devemos pensar que o ato de ler, bem como a necessidade deste processo deve ser dinâmico e contemplar a todos, isso porque, nem sempre as crianças aprendem a ler ao mesmo tempo e nem ao menos da mesma maneira, havendo a necessidade de se respeitar esse processo.

Sendo assim, é importante considerar que, 

(...) aprender a ler é um grande desafio para crianças com autismo. Isso porque podem ter mais dificuldade em prestar atenção e manter o foco por muito tempo. 

Outros fatores que podem dificultar o aprendizado da leitura no autismo é a dificuldade em memorizar frases ou compreender instruções divididas em etapas. Compreender os textos lidos torna se ainda mais desafiador para as crianças com TEA, devido as essas singularidades. (Neurosaber, 2015, s/p, online)

O presente artigo, será marcado pelo tratamento da Leitura associado a Educação Inclusiva, haja vista que os portadores do Espectro Autista, na maioria dos casos, necessitam de um caminho alternativo para a aprendizagem de tal ato, isso porque, nem sempre o caminho tradicional, tido como o mais viável para a maioria dos professores, culminará com o resultado que se almeja ao longo deste percurso, já que, a inovação e a diversificação do contexto, as vezes é uma importante inserção para a aprendizagem dos portadores de necessidades especiais.

A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COM O OLHAR VOLTADO PARA A LEITURA 

Neta (2018) destaca que garantir o desenvolvimento e a aprendizagem dos portadores de necessidades especiais vem se tornando um desafio enorme para a rede de ensino, seja esta em qualquer um dos seus aspectos, isto é, tanto na rede pública, quanto na particular, embora a inclusão se configure como um direito a qualquer ser humano, no que compete o contexto educacional, de modo que, num passado não tão distante, essas pessoas eram consideradas um fardo para a sociedade.

Diante desta condição, é importante ressaltar que, existem inúmeros documentos, congressos e outros afins, que tratam a respeito da Educação Especial/Inclusiva, ressaltando a necessidade e os cuidados concernentes a escola, mediante essa condição.

Contudo, apesar de todo esse respaldo, receber um aluno com necessidades especiais, nem sempre é algo bem visto para os professores e os profissionais da educação, ressaltando que, sobra medo, insegurança e incertezas, mediante essa realidade ali então imposta.

Entretanto, um dos maiores medos observados até então, consiste no recebimento de alunos autistas, isso porque, estes, são portadores do Transtorno do Espectro Autismo, que nada mais é do o Transtorno Global do Desenvolvimento, cuja condição, de acordo com Grabois (2010, p. 43) incide na necessidade de desconstrução do conceito educacional até então verificado, e posterior reconstrução, visando não somente uma nova proposta, bem como uma nova dinâmica de ensino, buscando contemplar a todos, indistintamente.

É importante ainda destacar, que o TEA (Transtorno do Espectro Autista) possui limitações referentes à Linguagem, existindo casos até mesmo que não são verbais, comprometendo ainda mais a questão da interação social e acentuando a condição de isolamento, tão presente nesta condição.

            Todavia, no que condiz a aprendizagem, é de suma importância ressaltar, que esta não é e nem nunca foi algo homogêneo, ou seja, que ocorresse da mesma maneira para todos, pois, a  sala de aula é um espaço heterogêneo,  cheio de peculiaridades e características, que faz cada aluno ser único e diferente dos seus pares. Sendo assim, faz-se necessário a diversificação das aulas, pois  o que funciona para um nem sempre funciona para outro, sendo que essa diferença, pode causar um distanciamento significativo entre a aprendizagem e a não aprendizagem, concomitantemente.

            Dessa forma, em específico na Língua Portuguesa, é primordial que o professor tenha um olhar diferenciado para o seu aluno, refletindo sobre o processo de ensino, bem como a melhor maneira de levar e compartilhar o conhecimento com os alunos, priorizando a diversidade, bem como o envolvimento de todos ao longo de toda essa dinâmica.

            No entanto, em relação ao aluno portador de TEA (Transtorno do Espectro Autista), é fundamental que se siga algumas metodologias e práticas sedimentadas, visando a transdisciplinariedade e o caráter social linguístico, fato este que se deve a necessidade não apenas de visar à apropriação cultural e o acesso à esfera letrada, como também a inserção nas situações reais de comunicação e vivências do cotidiano, de acordo com os PCNs (Parâmetros Nacionais Curriculares).

            Contudo, o ensino da Língua Portuguesa se atém principalmente ao ato da leitura, cujo fenômeno é complexo e depende da compreensão do texto como um todo, variando das menores partes para as maiores, visando a totalidade da ação, respectivamente.

            Sendo assim,

 

O ato de ler é um exercício de indagação, de reflexão crítica, de entendimento, de captação de símbolos e sinais, de mensagens de conteúdo, de informações. É um exercício de intercâmbio, uma vez que possibilita relações intelectuais e potencializa outras. Permite-nos a formação dos nossos próprios conceitos, explicitações e entendimentos sobre realidade e elementos e/ou fenômenos com os quais defrontamo-nos. (ECO, 2010, P. 38)

 

            Ler, portanto, possibilita ao leitor produzir sentidos sobre o que está sendo lido, conforme Neta (2018) aponta, ressaltando que, este ultrapassa de forma incisiva o simples processo de decodificar as palavras, resultando na autonomia e na interação com o texto, isso porque ao ler, o leitor faz uso de sua bagagem cultural previamente adquirida.

            Vale ressaltar ainda que, ler demanda tempo, que o processo é contínuo e atravessa etapas, visando a formação de um aluno crítico e reflexivo, trabalhando a escuta, a fala e a construção de sentidos.

            No que tange a importância da Leitura, de acordo com os Parâmetros Nacionais Curriculares, é importante destacar, que os mesmos condizem a:

 

• expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados;

 • utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade linguística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam; • conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado;

 • compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz;

• valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos;

• utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.;

 • valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, ideias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário;

• usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica;

• conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia.

 

 

Sendo assim, é necessário nesse processo de inclusão, que os professores de Língua Portuguesa adotem diversos preceitos e modalidades de ensino, já que ler é uma ação importantíssima e que de certa forma nos garante a inserção social, pois esta prática condiz com o passaporte para o mundo letrado, já que tudo ao nosso redor depende da decifração do código da escrita e da prática de letramento, respectivamente.

            No entanto, para os autistas, essa prática é um pouco mais complexa e necessita de uma maior atenção, priorizando o desenvolvimento de habilidades e condutas que findem com tal objetivo.

            O ensino de Língua Portuguesa, assim como de qualquer outra disciplina, é fundamental para que cada um compreenda o seu papel na sociedade, tanto professor quanto escola, estejam preparados para lidar com os mais diversos desafios, com objetivo de promulgar não apenas o conhecimento, como também a conscientização dos deveres e direitos que cada um é portador.

            Ler, por sua vez, é a peça chave para a concretização da inserção social, estando aí a necessidade de este processo ser amplamente levado a sério e dinamizado, de maneira geral.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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ECO, Umberto. Semiótica e filosofia da linguagem. São Paulo: Editora Ática, 1991.

 

FERREIRA.C., MORAIS, F. & CRUZ, I. O Processo de RVCC, a promoção da Literacia Familiar e a Escolarização: Estudo Exploratório nos CNO. Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, vol. XXIII, 2012.

 

GRABOIS, Claudia. Orientações sobre a inclusão de alunos com transtornos globais. 2010.

 

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NETA, Marileide Leite Cabral. Ensino e aprendizagem de Língua Portugesa para autistas: uma abordagem de linguística aplicada na educação inclusiva. 2018.

 

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