Cada vez mais incentiva-se as mães amamentarem seus filhos, pois estudos apontam os aspectos positivos que a amamentação tem na vida da criança. O leite materno é um alimento completo e que favorece a imunidade da criança, reduzindo, inclusive, o índice de mortalidade infantil. Sabe-se, também, que o ato de amamentar o bebê, fortalece o vínculo mãe-bebê, pois esta não é inata, ela precisa ser construída e o momento da amamentação é propício que este vínculo se estabeleça ou seja fortalecido. Em função disso é que se recomenda que o momento da amamentação seja uma relação da mãe e do bebê, que os dois possam ter esse momento a sós, sem a influência de terceiros.

            Muitas mulheres enquanto amamentam seu filho, falam ao telefone, arrumam alguma coisa, conversam com as amigas, estão nas redes sociais e o que menos fazem é olhar para o filho. O olhar da mãe e do filho no momento da amamentação é importante, pois é quando começa se estabelecer o vínculo, em que a criança vê no olhar da mãe o afeto, o carinho, o amor, o prazer de o seu organismo produzir o alimento que irá sustenta-lo. Quando a mãe tem um quadro de depressão pós parto, sugere-se que não amamente, pois a criança ao olhar para os olhos dela lhe percebe  como uma mãe morta, levando seu inconsciente acreditar que ela é responsável por isto, visto ser um objeto ruim, devorador, que gera sofrimento para mãe.

           No olhar de Winnicott, o bebê não pode ser compreendido de forma isolada, visto tratar-se do bebê e a mãe, sendo que o nascimento psíquico é de cunho relacional, por meio do ambiente, dos estímulos externos (temperatura, luminosidade, das condições do tato, etc.), através desse contato inicial é que o bebê nutre a necessidade do exercício da função materna para que possa se desenvolver de maneira saudável.

            A construção do vínculo que se estabelece entre a díade mãe/bebê envolve a confiança que a mãe vai transmitindo ao filho por meio da interação que se estabelece com ele. O atendimento imediato de suas necessidades (cuidados profiláticos), a maneira de se comunicar através do olhar, a entonação de voz, os gestos,   a forma como a mãe  brinca  com o bebê, se reflete em seu desenvolvimento psíquico.

           Ao que se refere a amamentação, Winnicott sublinha o aspecto relacional, visto se tratar de uma experiência que vai se sofisticando após a primeira mamada, pois o bebê através do processo de repetição vai acumulando essas vivências que ficarão registradas em sua memória. Este autor percebe a amamentação como um momento impar para o bebê, pois começa a desenvolver os primeiros contatos com a realidade externa, salientando a importância da qualidade da comunicação que se cria entre a mãe e o bebê.  Mencionava que o ato de amamentar ao mesmo tempo que é simples, também é complexo, devendo ser respeitado a cultura de cada família.  A amamentação não pode ser forçada, o seio deve ser oferecido ao bebê e não empurrado na boca da criança. A criança precisa estar com suas mãos livres para poder tocar na mãe e senti-la. A mãe e o bebê é que terão que descobrir a melhor maneira de interagir na hora da amamentação, sem interferência de terceiros. Deve se estabelecer uma sintonia entre a mãe e o filho, em que ela começará a entender os sinais, grunhidos, sorrisos que a criança expressa.

      O desenvolvimento psíquico do bebê é complexo em função de se construir a partir das tendências herdadas, somadas ao que recebe e experimenta do ambiente. A maneira como o bebê processa e elabora essas vivências são relevantes por se tratar do uso que faz das vivências de troca com a mãe e seu ambiente primordial. Portanto, desde o início, a forma como se estabelece a relação mãe/bebê entra em cena, visto se tratar de alguém que oferece ao filho, suporte físico e emocional, através de uma relação estabelecida a partir do seu próprio corpo, principalmente, durante a amamentação.

     Sendo assim, vê-se que o ato de amamentar não é tão simples como parece, trata-se de algo mais profundo e que terá uma repercussão no decorrer da vida do indivíduo, visto que o processo de amamentação não se limita ao ato de amamentar, mas também trata-se de uma questão de vinculação que se inicia e vai acumulando experiências que podem ser bem ou malsucedidas. A interdependência entre as condições físicas e emocionais podem acabar interferindo não apenas na alimentação da criança, mas na díade mãe/filho que está em fase de construção. A relação de vinculo estabelecida nos primórdios da vida do indivíduo, poderá ser positiva ou negativa no decorrer da sua vida adulta. Daí a importância de a mãe abrir mão de qualquer coisa na hora da amamentação, pois este momento é de suma importância na vida psíquica do bebê.

Referência:

WINNICOTT, D.W. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 2006.