Graduando em Psicologia
Hortência Maria Martins Lima
Antonio Helson Lima
 Faculdade Luciano Feijão

 

RESUMO

 

               O presente estudo tem como tema central o atendimento à crianças vítimas de abuso sexual infantil, uma abordagem de grande relevância que atinge milhares de crianças e adolescentes no país. O maior objetivo é entender em que circunstâncias e que traumas podem causar nessa população, em especial., O abuso sexual infantil é um problema de saúde pública, devido ao alto índice epidemiológica e aos sérios prejuízos para o desenvolvimento das vítimas. Como resultado do presente estudo temos que: um dos efeitos perversos desta situação refere-se às exposições a ambientes insalubres e perigosos, além de prejudicar o desenvolvimento saudável, interferir nos aspectos cognitivos e psicossociais e ainda na formação da vida adulta.

 

Palavras – chave: abuso sexual infantil; criança; adolescente; traumas.

 

  

INTRODUÇÃO        

            O abuso sexual infantil é um problema que se arrasta há décadas no Brasil e tem sido considerado um grave problema de saúde pública, devido aos altos índices de incidência e às sérias conseqüências para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da vítima e de sua família (Gonçalves & Ferreira, 2002; Habigzang & Caminha, 2004; Osofsky, 1995). Daí percebe-se a importância de discutir esse assunto que é de grande importância para a sociedade.       

            Um dos aspectos mais surpreendentes no estudo do abuso sexual infantil relaciona-se ao fato de que, em grande parte dos casos, o abusador é pessoa conhecida da criança ou mesmo um familiar. Meichenbaum (1994) revela em seu estudo que nos Estados Unidos o padrasto é o maior agressor das meninas, sendo que no Brasil, Saffioti (1997) identifica o pai biológico como o principal agressor.

                      “A familiaridade entre  a criança e o abusador envolve fortes laços afetivos,
                              tanto positivos quanto negativos,  colaborando para que os abusos sexuais                                  incestuosos possuam maior impacto  cognitivo comportamental para
                                  a criança e sua família” (Furniss, 1993; Habigzang Caminha, 2004). 

            Os contornos dessas agressões ganham destaque nos meios de comunicação por todo o país, deixando a sociedade preocupada com a gravidade desses fatos nocivos que se repetem a cada dia. A evidência e a incidência desses fatos, nocivos contra o bem estar de crianças e adolescentes, fazem com que estudos como este, objetivem uma melhor compreensão dos fatos expostos e de suas consequentes influências diretas no diversos setores do desenvolvimento destas crianças e adolescentes, principalmente, no setor psicossocial.

           Fundamental também é compreender que o abuso sexual infantil é um fenômeno complexo e difícil de enfrentar, que envolve questões legais de proteção à criança, punição do perpetrador e também questões terapêuticas de atenção à saúde física e mental. No entanto, na década de 1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com o propósito de assegurar uma maior proteção a essa população em especial, trazendo assim, uma perspectiva de punição as pessoas que comentem abusos ou maus tratos a crianças, jovens e adolescentes. As consequências do abuso sexual infantil com crianças e adolescentes são diversas, tanto físicas quanto psíquicas, interferindo assim, diretamente, em seu desenvolvimento, e diretamente em seus níveis de aprendizagem.

             Guerra (2000) define o abuso sexual como a iniciação de crianças e adolescentes dependentes e imaturos do ponto de vista de seu desenvolvimento, em atividades sexuais que não compreendem plenamente e para as quais são incapazes de dar ou não seu consentimento, ou ainda que violam os tabus sociais ou os papéis familiares.

            A interação sexual pode incluir toques, carícias, sexo oral ou relações com penetração (digital, genital ou anal). O abuso sexual também inclui situações nas quais não há contato físico, tais como assédio e exibicionismo, o que não deixa de ser menos agravante. Além dos riscos traumáticos e de prejuízos nas interações sociais e comportamentais, esta experiência é considerada um importante fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologias. 

          Em todo caso, grandes são os prejuízos a curto e longo prazo, dificultando e implicando na vida saudável de qualquer ser humano, quando a situação se volta para uma criança a situação ganha ainda mais complexidade. É preciso estar atento para sinais que a criança transpareça, ou até mesmo, para a falta deles.

           Porém, sempre levando em consideração que nem sempre tais sinais estão sinalizando exclusivamente um abuso sexual. Analisar os fatos requer muita competência e atenção. Em alguns casos de traumas (não sexuais), a criança também pode apresentar mudanças comportamentais, entender o que isto representa é que é o grande dilema, que exige muita habilidade do profissional, e afetividade nas realações familiares.

 

DESENVOLVIMENTO

            Daí a importância do atendimento psicológico, o ideal seria que toda criança que sofresse de algum tipo de abuso sexual, pudesse iniciar imediatamente terapia. Para que tais consequências não venham a ser tão notórias, problemáticas e duradouras. Porém, a grande dificuldade está em descobrir o caso. Os abusos são mantidos em segredo, devido às ameaças e barganhas do abusador e aos sentimentos de vergonha e medo da vítima (Furniss, 1993; Habigzang & Caminha, 2004).      

           Segundo Ferrari (2002), o efeito dessa experiência repercute sobre a criança vítima do ataque sexual, pois ela ainda não possui independência emocional e maturidade para consentir qualquer tipo de contato dessa natureza. Sendo assim, a criança pode desenvolver respostas sensoriais após a violência sexual, como as de que o corpo está sujo, bem como os seus genitais, problemas de sono, pesadelos. E, ainda, comportamentos-problema, como agir de modo agressivo, apresentar choros, ataques de ira, comportamentos de birra, assim como o de desobedecer a pais e professores, bem como apresenta de medo de pessoas ou lugares.

             Quando mais cedo descoberto e procurado ajuda, mais chances de o terapeuta reverter a situação traumática na criança. É claro que, o terapeuta não vai fazer com que tal situação de abuso seja apagada, mas vai de tal forma, intervir para que isto não interfira totalmente de modo negativo na vida da criança e em suas diversas fases, como uma forma de amenizar e transformar em memória o que no atual momento causa tamanho desconforto.

           Em casos como este, o terapeuta escuta não só a criança, mas a família e todos os envolvidos, quando possível, o abusador. Uma das estratégicas mais válidas nestes casos e em outros, são os recursos lúdicos. O brincar, se torna um relato que, muitas vezes diz mais do que sua fala propriamente dita. É de extrema importância, que nestas horas, o terapeuta deixe a criança livre para imaginar e, que entre juntamente com ela neste universo de imaginação, onde dali, sairão realidades. 

           As crianças frequentemente precisam de outras formas para expressar seus sentimentos que não a verbal, para obter os ganhos que essa expressão significa para o desenvolvimento da terapia. Isso acontece porque as crianças brincam com seus sentimentos melhor do que falam sobre eles. É na brincadeira de boneca, ou nos desenhos, pinturas, que elas expressam a realidade vivenciada. Entrar nesse universo da criança faz com que ela crie vínculos e se sinta assim mais a vontade para falar de seus sofrimentos.

 

REFERÊNCIAL TEÓRICO

           Neste trabalho, me utilizarei da abordagem Analítico Comportamental (SKINNER 1998), que tem como base o Behaviorismo Radical. Diferente do que a maioria das pessoas pensam, a Análise do Comportamento não “descarta” ou desconsidera, as emoções. Para ela, estas são caracterizados como; eventos privados. O Behaviorismo Radical entende que tanto os nossos comportamentos como as nossas emoções e sentimentos, são produtos das contingências às quais estamos expostos nos diferentes ambientes.

             Explicar o que sentimos já é difícil, imagina-se então a dificuldade que uma criança abusada sexualmente tem de expressar sobre o assunto, principalmente a um desconhecido, no caso, o terapeuta. Diante desta dificuldade, cabe ao terapeuta ter embasamento criado nas peculiaridades das crianças sem descartar suas singularidades. 

             Um dos objetivos na clínica infantil, é implantar novas habilidades no repertório comportamental da criança de forma a possibilitar sua melhor adaptação social. Em casos de abuso sexual, a modificação do comportamento deve envolver tanto o comportamento da criança, como os dos pais ou responsáveis, uma vez que o comportamento é função das variáveis ambientais. Skinner (1953/1970) considera quaisquer condições que tenham efeito sobre o comportamento, uma vez que o comportamento não pode ser compreendido separado das características do contexto onde ocorre. 

           O brinquedo é um instrumento do processo de aprendizagem e brincar é uma possibilidade de aprender a se comportar adequadamente frente a determinados estímulos. Por meio da brincadeira, a criança analisa seu próprio comportamento, ficando ciente das contingências que o determinam e, a partir daí, pode alterar sua relação com o ambiente. Estimular a criança a contar fatos vivenciados diariamente em constante diálogo com os pais, é de extrema importância para que casos de abuso sexuais sejam descobertos o quanto antes. Atentando assim para situações de risco e para mudanças repentinas no comportamento da criança.

 

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

          Como apresentado no decorrer deste trabalho, o abuso sexual infantil é um problema de saúde publica que se agrava cada vez mais. A temática é bastante discutida nos dias de hoje e já vem de longa data, infelizmente, em alguns casos ainda é visto como um tabu, o que dificulta na maioria das vezes a busca por tratamento psicológico. 

         Os dados de abuso sexual são alarmantes e os prejuízos que podem trazer a suas vítimas são ainda piores, ainda mais quando se trata de crianças. É preciso ficar alerta para os sinais ou os não sinais que a criança emite, para entender o que está se passando com ela.

         A realização deste trabalho foi de suma importância para informar aos leitores acerca do tema, e em especial para nossa carreira acadêmica enquanto futuros profissionais. Casos de abuso sexual estão por toda parte, é extremamente importante estar sempre se atualizando sobre esta temática, nunca se sabe quando vamos nos deparar com essa problemática. 

         Na área social, em situações de vulnerabilidades estes casos são frequentes, em CRAS e CREAS. Mas é preciso estar sempre parado para receber um caso na clínica que envolva abuso sexual infantil, é nosso dever enquanto futuros terapeutas estar por dentro da complexidade que envolve esta temática, para que assim possamos desenvolver nosso trabalho levando uma melhor qualidade de vida para aqueles que sofrem ou sofreram deste grande mal.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SKINNER, B. F. (1970). Ciência e Comportamento Humano. Tradução organizada por J. C. Todorov & R. Azzi. 2ª Edição. Editora Universidade de Brasília e FUNBEC: Brasília. (Trabalho original publicado em 1953).

 STURMEY, P. (2008). Behavioral case formulation and intervention: A functional analytic approach. New York: John Wiley & Sons.

 BRAUM, S. A. (2002). Violência sexual infantil na família. Porto Alegre: AGE.

 GUERRA, R.D.O., 2000. Abuso sexual en niños y niñas – consideraciones clínicas. Jornal de Pediatria, 76(4): C33 – C38.

 GONÇALVES, H.S. & FERREIRA, A.L., 2002. A notificação da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes por profissionais de saúde. Cadernos de Saúde Pública, 18(1):315-319

 ABRAPIA, s/d. Exploração Sexual Infanto-Juvenil. Rio de Janeiro: ABRAPIA.