O aspecto mistico é aquele que dá tempero a religião. Ele é o resumo, a essência, a experiência, pois revela o prático da religião. Se a religião religa o homem a Deus então ela produz aquilo que é inerente da experiência do encontro da criatura com o criador. Quais são os aspectos envolvidos na religião cristã? O homem dotado dos seus sentidos e um Deus que com todos seus atributos se revela como é. Deus, conhecedor da nossa estrutura pelo fato de ser onisciente, conhece intimamente todo resultado, do nosso encontro com Ele e nós conhecemos todo resultado da experiência que  Ele, Deus, tem no seu encontro com nós? Nossos sentidos tem condições de compreender a continua experiência de Deus e da sua revelação? Se somos limitados e servimos um Deus ilimitado, então nossa limitação não consegue dimensionar a grandeza divina. Essa talvez seja a vida da verdadeira religião mistica saudável que podemos experimentar. Pois ela não focaliza num ponto, num objeto, senão numa plenitude que faz nossos olhos convergir para essa dimensão ilimitada na busca desse Deus transcendente. Ela não objetiva um encontro onde estamos no controle da situação ou onde manipulamos uma direção determinada pelo interesse que se deseja com a experiência. Deus não é refém da nossa liberdade, da nossa limitação, não pode ser enquadrado ou padronizado naquilo que pensamos ser Deus. Ele não pode ser contido e quando encontro esse Deus não posso me conter, senão ser "absorvido" por Aquele que tudo pode. Sendo assim nada fica oculto, escondido. A verdadeira experiência não é um mero observar, senão um compartilhar de vida, onde coparticipo da vida que transcende o tempo, o local e espaço. Essa vida na sua inteireza impacta pois traz algo novo, que não é daqui. Quando alimentamos a ideia da religiosidade com o que daqui, com os frutos da terra, somos como Caim.
 Deus nos criou dotados com os sentidos. Deus se revela e na nossa inteireza de sentidos podemos experimenta-lo. Deus não é apenas uma mente mecânica e estéril que deseja apenas compreensão racional da fé, desprovida de emoções, de sentimentos. Por mais que eles sejam enganosos em determinadas circunstâncias, eles fazem parte da adoração completa. Amar com todo coração, com toda alma e toda a mente,  é ser totalmente convergido, por completo, para Aquele que em si mesmo, tem o poder de descortinar os véus. O livre acesso esta em todas direções onde a gloriosa presença de Deus está. Não depende-se de lugar, de circunstâncias, senão um coração que foi descoberto pela suficiência Daquele que pode atrair para si. Quando se faz da presença divina um local demarcado e restrito por imposições e ideologias de interesse se limita a Deus, como se fosse de propriedade ou dependesse do líder de um determinado movimento. Ele é Senhor da Seara, as almas são todas suas. O meio para que a alma que é sua, mesmo que morta nos delitos e pecados, seja encontrada, já foi revelado: Jesus Cristo. Ele é o caminho a verdade e a vida. Buscar uma espiritualidade mistica no sentido positivo do termo, sem Cristo, é uma especie de autoendeusamento, pois, por mais que existam sensações elas são produzidas por si e para si. Como aquele publicano que orava para si. Ela não é um compartilhar do eterno  que nos leva para longe senão numa justificativa para o que experimento na finitude do instante e apenas em si. São experiências produzidas por artifícios que despertam de súbito sensações enganosas e que justificam um determinado estado de coisas, sem implicar com a magnitude da vida. Buscar as coisas onde Cristo está assentado é uma experiência de conhecer o depois, o eterno e  ser impactado de tal forma que ele produz uma ruptura prática. Uma adoração completa de alma coração e mente envolve uma compreensão que canaliza todo ser para essa verdade revelada. Ela não vem daqui ela é eterna e pelo fato de ser eterna é totalmente santa e não tem interesse com o que é daqui. Por se totalmente separada tem o poder de nos despertar para o seu propósito. Ela não pode ser amalgada, misturada, quando isso acontece a vida cristã se resume em sobrecarrego, peso, enfado. O vinho novo não pode ser colocado em odres velhos, quando insistimos em colocar o reino de Deus dentro dos padrões da religiosidade humana, sobrecarregamos a nós e os outros. Porque criamos e julgamos conforme preceitos pessoais do que é o verdadeiro cristianismo. Os fariseus faziam isso. Jesus diante de um quadro de religiosidade instaurada diz: Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviareis. A essência é essa.
 Quando Jesus disse que seus adoradores o adorarão em espirito em verdade Ele esta falando daquilo que está alem da matéria, que é nosso espirito. Esta falando de algo, que pelo fato de ser da mesma natureza de Deus, não pode ser contido ou que dependa de circunstâncias pra acontecer. Nosso espirito vivificado pode romper com a natureza carnal que insiste em prende-lo na pressa e no finito. Temos em nós o Espirito que nos conduz para toda verdade e quando conhecemos toda verdade conhecemos que em nós está um poder que pode vencer o mundo, a carne e o diabo. Receber o poder de se tornar filho de Deus é receber o poder de romper, de adentrar numa nova dimensão e que é o real propósito de ser filho de Deus. Embora estejamos no mundo não somos do mundo, não recebemos tal poder para apenas para algum propósito do mundo e para o mundo. Desde já somos co-herdeiros, não apenas depois, agora. Quanto essa verdade tem impactado nossos corações de gozo e esperança? Ora, a esperança não confunde. Quando nos sentimos confundidos ou essa esperança é apenas um algo a mais sem importância e sem poder de exercer decisivamente, contagiando e influenciando, nos mantendo inalterados no velho estado caído é porque fomos ou estamos enganados e isso não condiz com essa grande esperança. Paulo diz que já queria estar com o Senhor mas que por amor permanecia na carne, ele fala de um desejo real, não apenas de uma teoria a parte, de algo que não conhecia ou experimentava. Ele fala de algo que já experimentava e queria numa dimensão ainda maior. Sua pregação, seu querigma era carregado de vida que o movia. Essa esperança não o confundia diante das muitas adversidades, sem ela seria um ator isolado. Por isso ele também diz, diante da incompreensão do mundo por essa vida espiritual dinâmica, que era espetáculo diante dos anjos. Sim, porque a dimensão que ele julgava estar já era presente, notória, era sua realidade como portador do Evangelho que é o poder para a salvação de todo que crer. E quem crer estava, no seu entendimento, nessa dimensão, quando ele diz: fomos transportados do império das trevas para o reino da luz do seu amor. A dimensão nova não é de desordem interior, de caos, confusão, escuridão. Não há nada escondido, tudo está patente diante de Deus do mundo espiritual e dos homens. Isso lhe dava autoridade e assegurava com propriedade sua condição de apóstolo. Ele não viu apenas o Senhor na estrada de Damasco, ele andava com o Senhor em todo seu ministério. Inclusive em Corinto o Senhor lhe apareceu dizendo: Não temas, pois sou contigo e tenho muito povo nessa cidade. Maciel F.