O Aprendizado do Aluno, Suas Dificuldades e Interesse em Aprender
Por Karla Silva Oliveira Sandrini | 06/09/2018 | EducaçãoRESUMO
Existem determinados componentes ligados ao processo de ensino-aprendizagem que são causadores em potencial de dificuldades encontradas pelos indivíduos em qualquer faixa etária. Tais componentes fazem com que o ato de aprender seja complicado tanto para crianças que possuem os distúrbios como para as que, não são afetadas por características genéticas ou outros problemas. Este trabalho fará uma discussão das causas das dificuldades de aprendizagem de maneira mais ampla, através da abordagem de aspectos estruturais globais e locais que são capazes de causar impactos no processo de ensino-aprendizagem, como as características da educação e os conflitos da família brasileira, a formação dos educadores, entre outros. Embora todos esses fatores estejam intimamente ligados, eles serão, a partir desse momento, abordados em suas particularidades.
O Aprendizado do Aluno, suas dificuldades e interesse em Aprender
Karla S. Oliveira Sandrini
Ao analisar o histórico de desenvolvimento da educação do Brasil, pode-se perceber que a preocupação com as suas melhorias, bem como com a democratização do ensino e o consequente acesso a ele por uma quantidade infinitamente maior de pessoas, é relativamente recente. Há algum tempo, apenas uma parcela ínfima da sociedade, pertencente à elite social brasileira, tinha possibilidades de acesso à educação.
A democratização do ensino, embora seja algo positivo e de progresso, fez com que, em pouquíssimo tempo, a educação tivesse que atender a uma quantidade imensa de alunos. Essa necessidade repentina fez com que os sistemas educacionais não fossem capazes de oferecer vagas nas escolas e, ao mesmo tempo, manter a qualidade do ensino. Essa experiência não muito longa acarreta, também, em dificuldades para a tomada de decisões, como o quanto se deve investir na educação, quais são suas prioridades e os problemas que precisam de uma solução com mais urgência, quais os melhores métodos a serem aplicados no processo de ensino-aprendizagem e muitas outras.
Quando comparado a outros países, tem-se que o Brasil é uma das nações que mais investe na área da educação. Existe uma divergência entre profissionais desta área quanto a isso. Uma parcela deles acredita que os valores destinados à educação são insuficientes e deveriam ser aumentados, enquanto a outra tem a opinião de que os valores estão adequados, mas o país, devido à sua inexperiência, não sabe como aproveitar da melhor forma tais verbas. De qualquer forma, independente de qual postura esteja correta, o que se apresenta é uma educação deficiente e carente de melhorias.
Além de verbas, é necessário tempo para que se possa desenvolver qualitativamente. O aperfeiçoamento do processo de ensino exige análises, pesquisas e experiências capazes de mostrar quais são as melhores metodologias para lidar com a educação brasileira, afinal, apesar de ter investido na educação, o país continua apresentando ainda hoje altos índices de analfabetismo. É ilusão pensar que nossos problemas se resolvam apenas com capital, pois é preciso muito trabalho para realizar grandes transformações. Isso mostra que o Brasil pode ter aprendido a gastar, mas ainda tem que descobrir a ensinar efetivamente. Essa deficiência não se limita ao ensino público, abrangendo também as escolas privadas.
Nas de ensino públicas, o problema é ainda mais complexo, pois elas também precisam lidar com um número insuficiente de professores e outros profissionais, materiais inadequados, péssimas condições físicas, ausência de recursos, ausência de suporte para as crianças que possuem necessidades especiais e muito mais.
Além dessas questões não serem consideradas como prioridades para o poder público, a educação pode ser caracterizada como tecnicista e desligada da realidade, ou seja, acaba por levar em conta na construção de seus conteúdos apenas aspectos ligados às exigências técnicas do mercado de trabalho, esquecendo-se de considerar as características peculiares de cada indivíduo.
Outras contradições quando se fala na educação brasileira. Apesar de ser um dos países que mais investe nessa área, o Brasil também é o local em que as crianças passam menos tempo na escola. Considerando que os alunos, em grande parte países desenvolvidos, passam muitas horas a mais no ambiente escolar, parte-se do pressuposto de que o aumento do tempo em sala de aula ou em outros ambientes educativos é capaz de proporcionar aos alunos novas oportunidades para que se desenvolvam e atinjam seus objetivos. A educação é um direito fundamental, universal e inalienável.
Dessa forma, garantir a sua qualidade, o acesso a ela e a permanência a todos os cidadãos, a construção de espaços que proporcionam a participação da sociedade, a gestão, execução e avaliação de políticas públicas é dever do poder público. Assim, voltando à questão dos recursos destinados à educação, pode-se dizer que o seu financiamento é um tema relevante para todos aqueles que têm interesse na escola de qualidade, para que seja possível garantir o conhecimento historicamente construído.
Já nas escolas um dos fatores que dificulta ainda mais o processo de ensino-aprendizagem e recaem sobre as crianças é a prática que a maior parte das escolas possui em culpar os pais, os professores, a comunidade e o governo pelo fracasso de seus alunos e nunca assumirem, ao menos, parcela da culpa. A eficiência da educação depende de uma relação de fatores e, sendo assim, certamente a escola não deve estar isenta de suas responsabilidades.
A maior parte dos diretores acredita que os alunos são os que têm maior responsabilidade quando não aprendem. Dessa forma, esses profissionais assumem a tarefa de exercer seus papéis sem, no entanto, assumir o fracasso de seu trabalho. Os diretores brasileiros não possuem os pré-requisitos que profissionais renomados e pesquisadores colocam como sendo básicos para o desempenho da direção. Além de uma experiência em gestão acadêmica, eles também deveriam manter o seu foco nas salas de aula e traçar objetivos claros que sirvam de base para a atuação dos professores e demais educadores existentes na instituição de ensino. Tal gestão deve ser focada em uma integração entre o âmbito administrativo e pedagógico. A separação entre essas áreas dá origem a um equívoco comum entre os diretores: o de que o baixo desempenho dos alunos não está, de forma alguma, ligada à execução ineficiente de seu trabalho.
A rotina de todo diretor é caracterizada por uma série de atividades. Quando chegam à escola, não conseguem seguir o planejamento que fizeram no dia anterior em função das emergências que surgem por todos os lados. Essas interrupções podem implicar em coisas simples, como o telhado que está quebrado, um professor que ficou doente e faltou, um aluno que se acidentou ou um recurso tão esperado que não chegou.
Esses acontecimentos fazem com ele seja obrigado a reorganizar todo o seu plano de trabalho, além de ter que resolver os problemas imediatos, como a prestação de contas, estar presente em reuniões da Secretaria da Educação ou visitas a familiares dos alunos. Em meio a essas atribulações, as questões primordiais acabam sendo deixadas de lado e correm o risco até mesmo de serem esquecidas.
Além disso, existe uma grande quantidade de deveres burocráticos que são responsabilidades dos diretores. Nesse sentido, a escola acaba reproduzindo somente a ideia de formar indivíduos produtivos, não respeitando e, muito menos estimulando, as possibilidades e capacidades de cada um dos alunos que não se adaptam, por diversos motivos, aos padrões impostos. É de extrema importância evitar que as crianças sejam impossibilitadas de aprender e se desenvolverem simplesmente por estarem fora dos padrões estabelecidos para todos. Indivíduos com distúrbios terão seus problemas incompreendidos e agravados por falta de atuação adequada. Disso resulta também a dificuldade em dizer se uma criança realmente possui um distúrbio de aprendizagem ou simplesmente não consegue se adaptar aos métodos de ensino a que está submetida. Os métodos que não funcionam com todos os alunos fazem com que crianças com distúrbios fracassem com mais frequência e acabem marginalizadas.
Ainda existem, outros aspectos além das capacidades e possibilidades dos gestores escolares, que estão relacionados aos elementos estruturais, como, por exemplo, o espaço da escola, a qualidade dos materiais didáticos, a incidência de violência no interior desses ambientes, entre muitos outros. Fica realmente complicado imaginar que esse cenário do ensino brasileiro, sendo incapaz de lidar com as suas necessidades básicas, poderia dedicar um tempo especial para criar formas eficazes para o processo de ensino-aprendizagem daqueles que possuem os distúrbios tratados durante este curso. Mais uma vez, eles ficam em segundo plano e essas dificuldades são agravadas com o passar do tempo. Os professores e demais educadores que, embora também sejam vítimas das deficiências da educação, são causadores da intensificação dos distúrbios de aprendizagem em um grande número de crianças.
O processo deficiente de educação, pelo qual passa a maior parte das pessoas, acaba por formar profissionais também deficientes em suas capacidades. Assim, cria-se um círculo vicioso em que jovens mal formados iniciam uma carreira que requer determinadas vivências e compreensões, o que resulta em uma atuação que também fará com que as crianças saiam da educação básica igualmente mal formadas.
Muitos alunos que cursam o ensino fundamental na rede pública de ensino apresentam grandes dificuldades em aprender a ler e escrever por não terem esse domínio. A má formação dos educadores faz com que eles não sejam capazes de saber minimamente quais as características que podem ser indicadoras de distúrbios de aprendizagem em seus alunos. Eles não possuem conhecimentos suficientes nem para ter uma ideia sobre o problema da criança e, muito menos, para fornecer orientações úteis para que os pais possam procurar ajuda de especialistas capazes de dar um diagnóstico preciso.
O papel dos professores diante da posição que ocupam é fundamental, fazendo-se necessário que eles tenham conhecimentos não apenas acerca de conteúdos teóricos básicos, mas, também, que saibam lidar com a heterogeneidade de alunos com que têm contato diário, sendo capazes de identificar as suas qualidades e dificuldades, adequando a melhor forma de se trabalhar com elas.
Além dessa má formação do professorado originar uma didática ineficiente que não permite que as crianças construam um conhecimento real, esses profissionais, apesar da importância do papel que desempenham para toda a sociedade, já que são formadores de opiniões e atitudes, são desvalorizados socialmente. Eles também são vítimas de um sistema cheio de falhas e vivem em más condições, tendo que executar a sua função recebendo péssimos salários, sem poder contar com qualquer auxílio para renovar e multiplicarem seus conhecimentos, além de trabalharem em ambientes sem estrutura alguma no que se referem a recursos, materiais didáticos e outros elementos que constituem o processo de ensino-aprendizagem.
Não é preciso dizer que o núcleo familiar constitui também uma estrutura fundamental para o desenvolvimento de toda e qualquer criança. Porém, sabe-se que a família brasileira encontra diversos tipos de problemas em seu interior. Os conflitos familiares podem ser causadores de dificuldades de aprendizagem nas crianças que não as possuem e, intensificar, os problemas que os alunos com distúrbios já enfrentam.
Existem diferentes tipos de famílias. Algumas delas são mais presentes na vida das crianças, enquanto outras não se importam muito com o que elas fazem ou deixam de fazer. No entanto, essas diferenças podem auxiliar ou dificultar, de forma intensa, não apenas aspectos comportamentais na vida das crianças, mas também a sua vivência escolar.
Podemos caracterizar alguns comportamentos possíveis de serem encontradas em filhos de pais ausentes como: criança mais rebelde, criança sentimental/carente, criança que não consegue ter um bom rendimento na escola, criança que não se importa muito com o próximo, criança que pensa apenas em brincar e em atividades que não exijam grandes esforços e concentração são algumas dicas de identificar a ausência de familiares na vida escolar e afetiva dos filhos.
A ajuda dos pais ou demais responsáveis no processo de ensino- aprendizagem das crianças é, portanto, outro elemento diferenciador capaz de levá-las ao sucesso escolar, sendo válido para crianças que possuem capacidades normais de aprendizagem quanto para aquelas detentoras de determinado distúrbio.
Muitos aspectos estão ligados a essa relação entre família, aprendizagem e sucesso escolar, todos tendo uma influência no conjunto. A escolaridade dos pais é um deles. Como se sabe, a porcentagem de brasileiros com formação superior é muito restrita frente à população total. Isso acaba por reproduzir este quadro, afinal, é muito mais fácil que pais que saibam da importância do conhecimento e da escolaridade, porque passaram por ela, se empenhem em incentivar e ajudar os seus filhos nesse processo do que pais, que, possuindo um nível baixo de escolaridade, têm menos chances de darem o suporte necessário às suas crianças. Os primeiros, ao terem passado por processos parecidos na vida escolar e acadêmica, procuram ler com seus filhos, incentivá-los a buscar o sucesso escolar e lhes mostrar a importância do mesmo, bem como têm mais probabilidades de reconhecer um distúrbio de aprendizagem quando ele se manifesta e, consequentemente, procurarem a ajuda de especialistas. Já os segundos, não tendo passado por tantas experiências escolares, podem não atribuir a elas a devida importância e, dessa forma, refletir isso em seus filhos.
Há entre os responsáveis, uma carência de informações sobre o que realmente acontece na vida de suas crianças, além de existir, também, uma defasagem de informações sobre o que constituem os distúrbios de aprendizagem. Quando eles se manifestam, pais caracterizados dessa forma se sentem, ao menos parcialmente, culpados pela condição das crianças. Alguns chegam até mesmo a entrar em pânico. Essas reações imobilizam os responsáveis e privam a criança da ajuda que precisa.
Existem mais alguns aspectos possíveis de serem encontrados nos núcleos familiares que também são grandes causadores ou intensificadores das dificuldades de aprendizagem, como: famílias desorganizadas que permitem um excesso de atividades extraescolares na vida das crianças, como muito tempo na frente de computadores, videogame, televisão e, consequentemente, a ausência de uma rotina de estudos; pais com problemas como, por exemplo, o alcoolismo; pais demasiadamente exigentes projetam, em seus filhos, problemas emocionais graves; a super proteção característica de certos responsáveis pode criar crianças dependentes e incapazes de solucionar problemas sozinhas; filhos de pais separados também encontram maiores chances de desenvolver ou intensificar as dificuldades de aprendizagem. Essas crianças demonstram uma grande necessidade de serem compreendidas.
Sendo assim, é importante lembrar que são as dificuldades que fazem com que surjam novas alternativas na busca por soluções para os problemas que são diariamente colocados e o trabalho em conjunto, escola, direção e núcleo familiar devem estar juntos para uma melhor solução das dificuldades no aprendizado do educando.
Referência Bibliográfica
DOMIMGOS, Gláucia de Ávila. Dificuldades do processo de aprendizagem. In:
www.psicologia.com.pt.
VAYER, Pierre; DESTROOPER, Jean. Dinâmica da ação educativa para crianças inadaptadas. São Paulo: Manole, 1986.