Quando eu tinha uns seis anos comecei a perceber que meu pai brigava muito com minha mãe e até batia. Muitas noites, as vezes, altas horas da madrugada, acordava assustado com as discussões deles indo até as agressões verbais e físicas, terminando com o choro alto de minha mãe suplicando que parasse de bater nela. Lembro que eu ficava muito nervoso com tudo aquilo e, como não podia interferir, pois apanhava também, ficava torcendo para que tudo acabasse numa boa; mas nem sempre acabava bem.

 Minha mãe não revidava as agressões porque apanhava mais ainda e corria o risco de ser morta, pois meu pai levantava da cama e ameaçava ela com uma arma. Minhas irmãs eram mais velhas mas também não tinha coragem de enfrentá-lo, e, nem mesmo entendiam o que estava se passando. Eu ficava com muita dó da minha mãe porque sentia muito amor por ela e por meu pai, apesar de tudo. Porém, achava estranho que brigassem tanto. Na verdade não podia entender devido a minha tenra idade. O tempo foi passando mas eles continuavam a brigar, até que mudamos de lugar, de cidade várias vezes. Passavam algum tempo sem brigar e de repente começava tudo de novo. Bastava o pai começar a beber. A bebida deixava meu pai muito violento com todos de casa, menos os de fora que tratava com o máximo de carinho como se quisesse compensar pela infelicidade que tinha em casa. Eu mesmo cansei de apanhar por qualquer motivo e isso era de chicote ou cinta de cavalos porque ele tinha sempre em casa guardado. E, ai de nós se ele fosse procurar e não encontrasse a dita cuja “soiteira” como ele a chamava.

Meu pai era muito violento, mas apesar de tudo eu o amava, pois era meu pai... Era uma pobreza sem precedentes: as vezes não se tinha dinheiro nem pro pão da manhã. Comíamos farinha com açúcar. Depois que cresci... eu conversava muito com ele pra entender um pouco do que se passava, mas dificilmente ele se abria comigo. Nunca quis dar o “braço a torcer” mas pelo menos me ouvia um pouco. Eu já conseguia evitar que brigassem estando eu perto. E sempre apenas conversando. Nunca quis e nem precisei ser violento com ele. Ele me ouvia sempre. Ele sabia que eu fazia aquilo por amor a eles. Só que os “problemas espirituais” que ele tinha começaram a me afetar demais fazendo com que eu me afastasse de casa porque minha saúde ficava muito abalada. Eu passei a sofrer de dores terríveis no estômago, não havendo remédio que acalmasse.

O importante nisso tudo é que eu nunca consegui sentir raiva do meu pai mesmo sofrendo muitos castigos, as vezes, imerecidamente e, com a saúde bastante precária.

Hoje meus pais estão mortos e sinto que os honrei  sempre. Sinto um grande alívio por ter procedido corretamente com eles até o fim de seus dias, embora quase tenha morrido também. Que Deus Pai os coloque no lugar que merecem, amem.

                                               Ações simples agradam  a Deus, como por exemplo, honrar pai e mãe.