Mais uma sexta feira normal, não fosse uma sensação nova que tomava conta de Marcos naquela manhã. Não tinha motivos para tanta ansiedade e alegria, afinal, toda sexta saia com os amigos de sempre, para os mesmos programas. A única coisa diferente naquela noite seria a presença de uma prima de Sergio, recém chegada de Portugal.
Sergio e Marcos eram amigos de longa data, uma amizade que se fortalecia com o passar dos anos. Estudaram na mesma faculdade, conseguiram bons empregos na mesma empresa e nos fins de semana se divertiam com outros amigos, nas baladas, no futebol, no churrasco ou ainda em alguma viagenzinha nos feriados.
Enquanto se vestia para ir trabalhar, ficou pensando no "porque" de tanto empenho de Sergio para que se encontrasse "ás escuras" com sua prima.
- Ela deve ser muito feia ou muito burra.
- Alguma coisa errada ela deve ter! Um bigode enorme, talvez. Ria sozinho,imaginando um mulher de bigode.
Ao se despedir da mãe com um beijo, como fazia todos os dias, acariciou os cabelos brancos da velha senhora com um cuidado que nunca teve antes.
No caminho para a empresa, dirigindo seu carro, lembrou-se das vezes em que Sergio lhe dizia :
- Você precisa se casar, parar com a "galinhagem". Arrumar uma boa moça e criar juízo! Apaixone-se cara, é bom demais amar e ser amado. Olha para mim, já viu alguém mais feliz que eu e a Lucia? Já pensou que filhos lindos vamos fazer?
Ao que Marcos rindo respondia rindo:
-Ainda não conheci a mulher da minha vida, mas não esquenta, um dia essa moça vai chegar, não sei quando, mas vai!
Marcos era um homem bonito, carinhoso e atencioso com todos que o cercavam. Entre todos que o conheciam, não havia quem dissesse uma palavra que não fosse de respeito, carinho ou gratidão.Porem não ficava com a mesma namorada mais de dois meses. Sempre se esquivava de compromissos amorosos, dizendo a todos que ainda não tinha encontrado sua "princesa", e que por enquanto a única mulher de sua vida era D.Ana, sua mãe, viúva desde que ele tinha quinze anos.
Assim seguia namorando aqui e ali, com todas as mulheres que estivessem dispostas a tentar amarrar seu coração.
D.Ana queria muito que Marcos se casasse, que tivesse filhos, uma família enfim. Se preocupava em morrer e deixar sozinho no mundo, seu único filho.Mas no fundo de seu coração de mãe sabia, por intuição ou sabe-se lá o que, que não veria isto acontecer, por isso tratava muitissimo bem toda e qualquer moça que visse com Marcos, tinha pavor de pensar que poderia se tornar um peso incomodo para o filho ou para uma possível nora.
Ao saber de seu encontro com a prima de seu amigo, sugeriu a ele que comprasse roupas novas, sapatos e perfumes para a ocasião, ao que ele respondeu sorrindo :
- Querendo se livrar de mim? Porque, mamãe? Por acaso arrumou um namorado e eu vou sobrar aqui em casa?
- Não é nada disso menino, só quero que você se apresente bem. Afinal de contas, Sergio é seu amigo e se faz tanta questão de que conheça a moça, é porque ela deve ser especial e acha que vocês podem dar certo. Quem sabe não é ela a mulher de sua vida? ? Aí, você se casa e eu posso arrumar um namorado!
Riram por um tempo enquanto se abraçavam.


Perdido nesses pensamentos, descuidou-se do transito e acabou por bater no carro que seguia em sua frente. Era um táxi do qual saltou o motorista bastante nervoso, que olhando os estragos provocados pelo carro de Marcos, tratou logo de chamar a policia.
Com a confusão gerada pelo acidente, Marcos demorou a perceber que o táxi levava uma passageira, uma moça que se mostrava bastante nervosa. Esquecendo-se dos carros, procurou socorrer a moça, acalma-la, e foi aí que seus olhares se cruazaram. Ao ampara-la para que saísse do carro, pode sentir o calor de seu corpo, seu perfume e antes que ela pronunciasse qualquer palavra, ele já conhecia a doçura de sua voz.
Foi um instante mágico para os dois, pois Camila, esse era seu nome, também sentiu a mesma sensação que Marcos.
Depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, tinha o casal, a impressão de um reencontro,era como se eles já se conhecessem há muito tempo, e esse momento mágico só foi quebrado pela perguntas de um policial que já se encontrava no local.
Alheios a todos os procedimentos, seus olhares estavam presos um no outro de uma tal maneira, que nem perceberam que suas mãos estavam entrelaçadas.
Respondidas todas as perguntas do policial e ainda sem saber que estava acontecendo, ali bem perto deles,um assalto com reféns, Marcos e Camila conversavam como dois velhos amigos que há muito não se viam, embora a energia dos olhares trocados eram de amantes e não amigos simplesmente.
Marcos procurou providenciar um outro táxi para a moça, agora mais calma, prometendo, em tom de brincadeira, não bater neste também.
Antes que o táxi chegasse, se apresentaram e prometeram um ao outro, se encontrar mais tarde e no mesmo tom de brincadeira, embora sentisse,verdade nas suas palavras,
disse a Camila que estava apaixonado por ela e que não ia perder a mulher de sua vida.
Ela, por sua vez, fez dela as palavras dele, no mesmo tom. E como numa cena de filme, seus lábios foram se unindo num longo e esperado beijo. Coisa que deixou atônitos os curiosos em volta da cena.
Enquanto esse inexplicavel beijo envolvia aquelas duas almas, pode-se ouvir tiros vindo do local onde estava havendo o assalto e que foram revidados pelos policiais que estavam ali e outros que estavam chegando.
Foi uma correria entre gritos, todos procuravam se proteger de balas perdidas sem perceberem que já havia uma vitima. Marcos, que caia aos pés de Camila sem soltar suas mãos, numa tentativa de faze-la abaixar-se para não ser atingida também.
Camila com a cabeça dele em seu colo, gritava por socorro enquanto de seus olhos caiam as lagrimas mais sofridas do mundo.
- Não me deixe agora Marcos! Tenha força, resista. Olhe paras mim, demoramos para nos encontrarmos e não vai ser uma bala perdida que irá nos separar! Sei que é voce o homem que esperei por tanto tempo! Fica comigo! Fica comigo!
Ele, com muito esforço disse que a amava, que era um absurdo, nunca tinham se visto, mas amava e se sentia amado.
Deu seu ultimo suspiro, na forma de um ultimo beijo na boca da mulher que esperou a vida inteira e que tinha encontrado na morte.
Camila, desesperada, num ultimo fio de esperança, saiu correndo em busca de socorro, sem ver o carro em que fugiam os ladrões, que em altíssima velocidade avançava, jogando longe seu corpo já sem vida.
Estarrecidos, os presentes a cena, não acreditavam no que viam, mais intrigados ficariam ao ler a noticia nos jornais da manhã seguinte.
Sergio, no velório, fazia de tudo para consolar D. Ana, que embora sofrendo profundamente, não duvidava que o destino das pessoas ao nascerem, já estava traçado.
Abraçado á ela disse:
- Meu coração me dizia que eles iam se encontrar e se apaixonar, mas não era para ser desse jeito! Mas de qualquer modo, creio que estão juntos e felizes em algum lugar!