1. INTRODUÇÃO

O Amor sempre foi um tema de grande valor artístico. A Literatura, sobretudo dos tempos clássicos, assim como a pintura, a música, o teatro e outras manifestações artísticas da Idade Média e do renascimento, sempre viram no Amor uma inspiração imprescindível, cujo simbolismo se nota nas maiores obras que eternizaram-se no correr dos tempos. Do mesmo modo, a filosofia – desde a Grécia Antiga – vem se debruçando, através de pensadores, acerca do Amor, o que permitiu uma imensidão de abordagens a respeito. Mais recentemente, o Amor ganhou interesse científico, sendo estudado em laboratórios e em pesquisas científicas, o que firma sua imortalidade. Neste artigo tentar-se-á entender o que é o Amor e como ele se manifesta nos episódios humanos, apresentando suas concepções por meio de alguns pensadores importantes no tema.

        2. IDEIA DE AMOR

O Amor se fizera presente desde o nascimento da humanidade. Aliás, o próprio Criador (na ideia do Cristianismo) revela-se como um ser repleto de Amor e que com este Amor, criara e também salvara suas crias que são os seres humanos. O Amor então vem se fazendo actual desde que o mundo é mundo. O Amor também define nossos pensamentos e nossas práticas. Não se ensina a amar, nascemos amando; amando nossos pais e nossos irmãos. Os nossos antepassados já amavam-se uns aos outros, o que coloca o Amor numa dimensão sentimental, parte da complexidade humana e que norteia nossa maneira de conviver.

As escrituras sagradas mostram a antiguidade do Amor com base ao relato de Adão e Eva no jardim. Do mesmo modo, as descobertas científicas apontam que, em nome do Amor, os primeiros seres humanos da antiguidade já formavam relações conjugais entre eles. Ora, pode-se notar que a prática do Amor já vem se mostrando muito antes da civilização, ou seja, desde a antiguidade. Um sentimento tão importante como este e que define as práticas humanas é deveras digno e merecedor de ser estudado e discutido por todos. Iremos então, nos seguintes parágrafos, apresentar as principais abordagens sobre o Amor propostos pelos maiores pensadores no tema.

        3. ENTENDENDO O AMOR

A primeira abordagem começa com Platão (428/427 a.C.-348/347 a.C.), que é um dos maiores filósofos da Grécia Antiga e da humanidade em geral; é autor de diversas obras elaboradas em forma de diálogos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de ensino superior no ocidente. Platão fala do Amor na sua obra “O Banquete”, onde, por intermédio de Sócrates, apresenta sua ideia de Amor. Platão não falava português e para referir-se ao Amor usava a palavra Eros. Ora, Platão dirá que Amor é Eros. Eros significa desejo, logo, para Platão, Amor é desejo, é desejar. Mas, se Amor é desejo, o que é desejo afinal? – Platão dirá que desejo é falta, ou seja, para este pensador, o Amor exprime-se no apego que temos pelas pessoas ou coisas que nos faltam. Apenas amamos verdadeiramente aquilo que nos falta e que queremos ter. Assim, quando alguém deseja um computador que não tem, este computador passa a ser objecto de Amor deste alguém.

Como abordagem a seguir, tem-se a ideia de Amor em Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), discípulo de Platão e que também se tornara um dos maiores filósofos da história do pensamento. Assim como Platão, Aristóteles também não falava português; e para referir-se ao amor, Aristóteles usou a palavra Philia. Para este pensador, Amor é Philia. Philia significa alegria, logo, para Aristóteles, Amor é alegria; alegria que sentimos pela presença do amado. Em outras palavras, o amor é a alegria que sentimos por aquilo que já temos, por aquilo que já é nosso. Nota-se então que Aristóteles, embora tenha sido discípulo de Platão, diferencia-se com seu mestre; enquanto que para Platão Amor é o desejo que sentimos pela pessoa ou pelo objecto (entendendo-se aqui o objecto como qualquer outra coisa) que não temos, para Aristóteles, Amor é a alegria que sentimos pelo objecto ou pessoa que já temos, ou seja, pelo computador que já temos, pelo carro que já temos, pelo amigo que já é o nosso.

Como terceira definição de Amor apresentemos o ensinamento de Cristo. Cristo, por intermédio da Bíblia (Mateus 22:39), ensina que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Para se referir a este Amor, muitas vezes foi usada a expressão Ágape, isto para justificar o Amor por qualquer um. Ora, para Cristo, o Amor é a bondade que sentimos por qualquer um. Nesta abordagem, a alegria do Amor não se finaliza em quem ama, mas no objecto amado, ou seja, o Amor exprime-se no esforço que o amante faz para a felicidade do amado.

Como quarta abordagem, apresentemos a abordagem sobre o Amor proposto por Baruch de Espinosa (1632-1677), um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII. Para Espinosa, o Amor é a alegria que sentimos por uma causa exterior a nós. Em outras palavras, o amor é a alegria que sentimos pelo simples facto de um objecto ou uma pessoa existir. Esta pode ser uma das maiores declarações de Amor, poder olhar nos olhos de quem ama e dizer: eu sinto uma alegria pelo simples facto de você existir. Então, Espinosa foi feliz na sua definição de Amor; a alegria inexplicável que uma pessoa nos proporciona pelo simples facto dela existir.

Como quinta abordagem do Amor apresentemos a proposta por Friedrich Nietzsche (1844-1900), um dos maiores filósofos da modernidade. Nietzsche usa a expressão Fati para referir-se ao seu amor. Fati significa “amor ao destino”. Ora, o Amor proposto por este pensador é o Amor ao destino, ou seja, Amor pelas coisas do jeito que elas são. Muitas vezes, nossa realidade é escondida por aquilo que parecemos ser ou que deixamos as pessoas verem e ocultamos a realidade que nos caracteriza; e muitas vezes passamos a amar a aparência das pessoas e não a realidade das mesmas. Neste aspecto, Nietzsche dirá que o Amor é o apreço que sentimos pela realidade dos objectos, das pessoas, ou seja, o afeto que sentimos pelas coisas do jeito que o destino as fez, e não do jeito que parecem ser.

Até aqui vimos as principais abordagens sobre o Amor e seus pensadores. Apresentemos agora outras abordagens sobre o amor pouco debatidas, mas que também fazem-se de extrema importância para a compressão do Amor.

         4. OUTRAS ABORDAGENS SOBRE O AMOR

Uma das grandes ideias do Amor é o sacrifício do amante para a sobrevivência do amado. Podemos recorrer a esta abordagem para sabermos se de facto amamos alguém; ou seja, para sabermos se realmente amamos alguém, precisamos apenas nos perguntar se morreríamos por esta pessoa caso fosse necessário para sua sobrevivência. Amamos a pessoa caso a resposta seja positivo. Esta abordagem então apresenta a aceitação do sacrifício ao outro como condição primordial do Amor.

O Amor é também por aquilo que nos alegra; pela pessoa que nos alegra. O Amor acontece no momento em que passamos a nos alegrar por uma pessoa, por um animal, por um objecto, por qualquer coisa. A essência do Amor, nesta abordagem, exprime-se então pela alegria que o amado nos causa.

 O Amor é também aquilo que justifica a união no mundo. As pessoas são singulares, as coisas são singulares, tudo é singular. Então, se tudo no mundo leve à singularidade, o que justificaria a harmonia das coisas? – Ora, a união das coisas – que também pode ser chamada de harmonia - é justificada pelo Amor. Em outras palavras, a harmonia só é possível com o Amor. A união de duas pessoas singulares que juntas se tornam uma só, é justificada pelo Amor. A harmonia de coisas diferentes é justificada pelo amor. Ou seja, o Amor é o que une os contrários e possibilita a harmonia no mundo.

        5. O AMOR NA PRÁTICA

O Amor não é só palavras jogadas ao vento cujo som é ouvido pelo amado. O Amor não se exerce apenas no lançamento de declarações ao ar a espera que o amado ouça. O Amor é também prático. Immanuel Kant (1724-1804) um dos maiores pensadores da humanidade é quem propusera este Amor: o Amor prático. Kant concebia o Amor como uma caridade, ou seja, o Amor não é completo quando se baseia em simples palavras e declarações, mas que torna-se de facto Amor quando é acompanhada com acções; acções de caridade, de demonstração de Amor. O Amor apresenta-se então não como simples forma de expressão verbal, mas também de expressão prática. Esta prática justifica-se na caridade, em ajudar o amado e buscar sua felicidade. 

        6. O AMOR ACABA?

Ao pensarmos o Amor à maneira de Platão, talvez acabe. Para Platão, como já vimos, o Amor é desejo por aquilo que não temos. Ora, ao obtermos o que nos fazia falta, neste momento, o desejo acaba; e se o Amor é desejo, acabando-se o desejo, acaba-se também o Amor. Ao pensarmos o Amor à maneira de Aristóteles, talvez também acabe, afinal, para Aristóteles, o Amor é a alegria que sentimos pelo amado, ora, se este amado vir a desaparecer para sempre, neste momento o nosso amor terá acabado, pois, para este pensador, o Amor é alegria pela presença do amado, logo, na ausência do amado, esta alegria não mais existirá e assim, o Amor acabará. Ao pensarmos o amor à maneira de Espinosa, talvez o Amor também acabe. Se o Amor é a alegria pela existência do amado, quando este amado deixar de existir, o Amor também deixará de existir.

Ora, ainda se pode ter esperança, afinal, sempre sentiremos falta de algo; na vida que temos, sempre desejaremos alguma coisa; e se o amor é desejo, logo amaremos o tempo todo e o Amor não acabará. Do mesmo jeito, sempre teremos por perto pessoas e coisas que nos causam alegria; e se o Amor é alegria pelas coisas que temos, logo, amaremos o tempo todo e o amor não acabará. Assim também, a alegria pode ser sentida pela existência das coisas e pessoas ao nosso redor. Nos alegramos o tempo todo com os nossos amigos, nossas conquistas, nossas coisas, enfim, com tudo próximo a nós. E se o Amor é a alegria que sentimos pela existência do amado, logo, amaremos o tempo inteiro, pois o tempo todo teremos famílias, amigos e coisas com as quais nos alegrar pelo simples facto de existirem.

O Amor ainda significa muitas coisas. Também podemos sentir Amor pelo próximo ao nosso redor, como ensina Cristo. Afinal, sempre existirão pessoas ao nosso redor; sempre teremos famílias e amigos ao nosso lado. E se o amor é por qualquer um próximo a nós, logo, amaremos eternamente e o Amor não acabará. Ora, o mundo é cheio de singularidades, mas ao mesmo tempo é cheio de harmonia. As pessoas unem suas singularidades para criarem um só elemento. Duas pessoas juntam-se para gerarem uma vida. Logo, a harmonia sempre existirá. E se o Amor é a harmonia dos contrários e das singularidades, então, o Amor existirá sempre, pois a harmonia é condição fundamental para a humanidade, o que confirma a permanência do Amor.

       7. O QUE O AMOR QUER DIZER?

Como vimos, o Amor não quer dizer uma só coisa; o Amor quer dizer tudo. Em tudo há Amor e o Amor está em tudo; está na falta, na presença, na existência e na harmonia. O Amor quer nos dizer que somos seres humanos e que temos em nós a possibilidade de usarmos a nossa humanidade para amar e não nos privarmos de exercer esta virtude que chega a originar todas as outras virtudes. A fidelidade, a paciência, o cuidar, o valorizar, a amizade, a felicidade, o bem-estar, a confiança e todas as outras virtudes são componentes que juntos simbolizam o Amor. O Amor é a mãe de todas as virtudes. Os princípios religiosos e éticos confirmam isso. As leis constitucionais são elaboradas com base ao Amor, pois só o Amor pode trazer a paz, a harmonia, a união, a felicidade, a confiança, a fidelidade e a amizade entre as pessoas.

       8. CONCLUSÃO

O Amor vem se apresentado de diversos significados no correr dos tempos. Todavia, envolve alegria e felicidade, tanto para quem ama como para o amado. É com o Amor que as sociedades têm crescido em felicidade e bem-estar, afinal, a prática do Amor ou da caridade sempre foi fundamental para a criação de uma sociedade altruísta, feliz e harmónica, onde todos disponibilizam-se para o crescimento de todos. É também através do Amor que as virtudes são geradas; é também fundamental para a elaboração de leis e normas para a convivência, afinal, se Amor origina a felicidade e a boa convivência, logo, em nenhum outro lugar se poderia tirar o modelo de lei e de norma para a felicidade e boa convivência se não no Amor.

       9. REFERÊNCIAS

Aristóteles. (1984). Ética à Nicômaco. Coleção Os Pensadores, trad. de Vincenzo Cocco et al. São Paulo: Abril Cultural.

Bíblia. Tradução João Ferreira de Almeida. Mateus: 22:39.

Kant, E. Crítica da Razão Pura. Trad. J. Rodrigues de Merege. Edição ACRÓPOLIS. [EBOOK]

Nietzsche, F. (2008). Ecce Homo. Editora LusoSofia.

Platão. (2013). O Banquete. Editora Virtual Books, p. 60. [PDF] Recuperado de www.baixelivros.com.br/ciencias-humanas-e-sociais/filosofia/o-banquete-platao

Spinoza, B. (2009). Ética. Autêntica Editora. [tradução de Tomaz Tadeu]. – Belo Horizonte.