Quem pratica a escrita influencia os episódios culminantes da formação de um povo. Em geral, na média, grande parte de quem se dedica à escrita se torna porta-voz apenas dos melhores da sociedade, dos políticos, dos ricos, dos falsos ricos, dos emergentes. Volta e meia, se desmiola, e aplaude mesmo os laranjas.
Ao invés de driblar os modelos prontos, a maioria faz a mauvaise conscience do burguês, adere-se ao canto da sereia engajada. O escrever é fruto da coletividade do passado e a originalidade do novo. O mestre Aníbal Machado, na sua lucidez disse: Dispa-te, pois, da polaridade política, ou estética.
Os barristas são capazes de transformar Creusas em Lady Dy; e a moralidade passa a ser difundida mais por herança do que por convicção pessoal. A maioria tira de si mesmo o insuspeito, e os leitores ficam atarracados à reflexão de Píndaro: Alçar-me-ei diretamente ao palácio demasiado alto aonde habita a justiça, ou seguirei por vias sinuosas e oblíquas, em busca da plena aventura da vida.
Escrevendo, o homem torna-se um ser sagrado, filho do insight, um cultivador de almas. Se buscar justificativas, ou explicações, que iludam os leitores, fugindo do que ele próprio acredita, constroem para si mesmo e para os seus leitores, um casulo.
Aí, o preconceito fará dele um instrumento da banalidade, da involução, da boçalidade, e todo o colorido da sua arte será apenas fumaça, obscurecendo a quem busca a libertação através da leitura, da informação pura e simples, portanto, sem necessidade de caps policoloridas, e de ismos.
A manipulação preconceituosa e predominantemente intelectiva faz de quem escreve e de quem lê um Albatroz de Baudelaire. No convés, as suas asas são tão grandes e pesadas que o impeça de andar. Deveria estar pronto para o vôo.
Façamos, como Penélope, passe a tecer o tear às avessas, abrindo o nosso interior sem medo, deixando sair o natural, o intuitivo. Sejamos instrumentos conscientes, de busca da verdade, estimuladores de reflexões, propiciando aos nossos leitores um caminho do meio.
Porém, deixe que a individualidade de quem contemple interprete da sua própria maneira e grau de serventia.

Raphael Reys