Tenho quase 64 anos e, ao longo de minha vida sempre sofri de certa ansiedade que me movia a fazer, antecipadamente, todas as minhas tarefas bem antes do prazo estabelecido. Da mesma forma, meus pensamentos sempre fluíram com muita velocidade na minha mente me desviando a atenção das conversas e textos que estavam diante de mim para outros temas que me “pré-ocupavam”. Hoje, mesmo aposentado, procuro manter atividades profissionais e de leitura, mas enfrento muito menos cobranças externas do que no tempo em que estive empregado. Entretanto, com o advento das redes sociais e da Internet de alta velocidade, tenho observado pessoas muito jovens com comportamentos de elevada ansiedade e irritabilidade para enfrentar as tarefas do dia ou mesmo se sentar para uma conversa descompromissada com um amigo ou alguém da família. Este comportamento vem se disseminando como uma “normalidade” que assusta mesmo a um cara como eu que sempre enfrentou alta ansiedade. Parece que o mundo todo está muito acelerado apesar de nosso planeta continuar girando em torno do próprio eixo e em torno do sol nos mesmos intervalos de tempo. O que pode estar acontecendo? Aonde este comportamento irá nos levar?

Os debates sem fim de temas ideológicos e políticos nas redes sociais nos parecem saturar a mente, mas mesmo assim não somos capazes de nos calar e respirar fundo até que as constantes discussões e problemas se resolvam sem levar junto uma parte de nossa saúde física ou mental. Os rápidos cliques nos sites e aplicativos nos despejam enormes volumes de novas informações a cada minuto que nos fazem perder o foco do que é realmente importante para o nosso dia, deixando sempre aquela sensação de algo pendente ou inacabado. Será que estamos perdendo a capacidade de sermos felizes com as coisas básicas que nos rodeiam: família, amigos, paisagens, trabalho e o retorno seguro para nossas casas? Não! Sempre parece estar faltando alguma coisa que deixamos de fazer ou pensar, e já não conseguimos desenvolver um simples raciocínio ou mesmo expressar um pensamento ou sentimento mais profundo sem que sejamos atropelados por novos pensamentos e cobranças que o mundo moderno nos despeja constantemente.  Terão estes jovens a capacidade e a calma de refletir e decidir pelo futuro de nossas empresas, comunidades, cidades, países ou planeta, sem que antes consigam anuviar suas mentes e reaprender a ouvir atentamente aos outros e à sua própria mente. Busquemos a cura deste mal do século antes que nossas mentes sejam definitivamente substituídas pela inteligência artificial que está sendo desenvolvida e aperfeiçoada, propositadamente, para tirar proveito de um ecossistema com uma grande massa de dados (Big data) que nós mesmos estamos produzindo e despejando a cada dia. Espero que ao menos estas novas inteligências artificiais sejam capazes de lidar com este quase infinito volume de dados e informações e nos permitam alcançar, algum dia, a necessária calmaria das nossas mentes inquietas para que voltemos a ter tempo para ser efetivamente produtivos ou mesmo para filosofar enquanto jogamos uma boa conversa fora com nossos pares.