Novelas jornalísticas

Por Jean Carlos Neris de Paula | 15/02/2011 | Filosofia

Novelas Jornalísticas

Os romances escritos no Romantismo eram publicados em folhetins, capítulos diários divulgados em jornais da época. Assim, as histórias eram acompanhadas pela burguesia, principalmente pelas mulheres. Muitas das histórias que se tornaram patrimônio cultural brasileiro nasceram dessa maneira e só depois foram compiladas no formato de livros.
Esse costume se estendeu ao que hoje ocorre no Brasil com as novelas, as quais também são apresentadas em capítulos diários e vistas por milhares de pessoas, no país e no mundo. A sociedade brasileira se adaptou tanto ao modelo novelístico que os jornais acabaram por aderir a esse método, utilizando os fatos verídicos para produzirem verdadeiras novelas, com início, meio e fim.
Os escândalos, os atos de corrupção, os crimes e algumas tragédias são explorados economicamente visando à audiência, até o esgotamento dos espectadores, quando novos fatos irão gerar novas expectativas e serão novamente usados em demasia até cansar a população.
Isso ocorreu, por exemplo, com a crise aérea no Brasil. Será que os problemas já estão totalmente resolvidos? Será que os aeroportos brasileiros agora estão modernizados e eficientes oferecendo qualidade na prestação de serviço? A verdade é que essa novela cansou, e outras já a sucederam, a fim de se criarem novas emoções e de se ganhar mais dinheiro à custa da curiosidade dos indivíduos.
O caso Isabella Nardoni não é diferente: a mídia explorou o ocorrido como uma novela, exatamente da mesma maneira que fez com o assassinato do menino João Hélio.
O perigo disso reside no fato de as pessoas perderam o referencial entre realidade e ficção e passarem a depender passiva e unicamente dos meios de comunicação para entender o mundo, sem perceber que a imprensa usa os acontecimentos com o objetivo de manipular o cidadão e definir a pauta de discussão dos assuntos brasileiros. Essa prática torna as pessoas meramente espectadoras de tudo, sem capacidade de discernimento e reação, confirmando as palavras proferidas, no início do século passado, por Lima Barreto: "O Brasil não tem povo; tem público".
Mas tal realidade precisa mudar, porque o país já está cansado de acompanhar as emissoras de TV e as revistas e jornais de circulação nacional que influenciam as produções regionais.
Para tanto, mais do que nunca, é necessário investir na educação, na formação de leitores críticos, na valorização da arte de qualidade e, sobretudo, na promoção de leis e regras para conter a libertinagem da mídia capitalista que não assume o papel educativo que lhe cabe. Agindo com inteligência e profissionalismo, o país caminhará para o tão sonhado desenvolvimento sociocultural de que tanto necessita o povo brasileiro.