NOVA DESCOBERTA: RECORTES DOS TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES EM UM BAIRRO DA CIDADE DO RECIFE

Por Dario Galdino | 20/12/2010 | Geografia

1 Introdução

O objeto dessa análise corresponde a um recorte espacial do bairro de Nova Descoberta (Coordenadas: 8°0'34"S - 34°55'27"W) na cidade de Recife, situado na zona norte e localizando-se em uma das regiões de morro da Região Metropolitana de Recife. O bairro está inserido na Região Política e Administrativa 03 (RPA3) no concerne ao planejamento urbano e ambiental da Prefeitura da Cidade do Recife e socialmente planejado a partir da territorialização municipal da Unidade de Desenvolvimento Humano 24 (UDH24).

O bairro de Nova Descoberta é caracterizado pela presença de um conjunto de territorialidades, nos mais diversos momentos do cotidiano da população residente na região.

A formação desse espaço acontece desde o começo do século XX com o advento da saída dos mocambos da região central da cidade de Recife, o que origina a explosão demográfica do bairro, além desse fator existe também o surgimento de fábricas têxtil no entorno do bairro de Nova Descoberta, fazendo com que pessoas vindas do interior do estado se radicassem no bairro.

Sua territorialidade contemporânea é vista como algo anormal, pois sua organização e ocupação não permitem um desenvolvimento proporcional para todo seu território o que ocasiona como efeito das precipitações graves acidentes, gerados no passado em sua parte territorial mais antiga, assim como hoje em seu território mais recentemente ocupado,pois não apenas os morros foram objetos de ocupação, mas, também, a margem da bacia do rio Beberibe, tendo como conseqüência o corte da mata ciliar, o desaparecimento de espécies da flora e da fauna e a morte do rio.

As chamadas instituições, Igreja Batista Missionária em Nova Descoberta, Grupo Mulher Maravilha, Igreja Católica Nossa Senhora de Lourdes, Escola Espírita Cristina Menezes de Albuquerque formaram e ensinaram os residentes no recorte da pesquisa a se reconhecerem como cidadãos através de cursos e educação básica ministradas por elas, por quanto de sua formação e igualdade de condições junto à legislação da época. Muitos deles foram torturados e presos pelo regime militar por se envolverem na luta pela posse da terra e por reivindicarem melhores condições de vida, a maioria desses indivíduos ainda residem no bairro.

Atualmente o bairro de Nova Descoberta, assim como o recorte objeto da pesquisa, é sem infra-estrutura não dispondo da maioria dos serviços oferecidos em outra Região Política Administrativa (RPAS) contígua, exemplo na segurança pública, todo dia ocorre homicídio, no recorte do estudo no bairro ou no mais próximo. O desemprego e as drogas são fatores de riscos na ocupação espacial do bairro.

As redes geográficas são construídas e desconstruídas na formação do espaço para dificultar o acesso das autoridades e conta com a falta de conhecimento geográfico das mesmas, o fato ocorre com a rede do tráfico, com miliciano, com prostituição, essas redes ainda podem existir e serem transferidas de acordo com o momento em que autoridade esteja presente ou não.

A prostituição é efetivada nas noites com a aquiescência da autoridade constituída, pois existem bares já citados e fotografados nesse trabalho e locais onde o crime contra menores é praticado com conhecimento de parte do publico freqüentador, essa prática extrapola a área do recorte, embora muitas dessas crianças e adolescente pertençam ao recorte do estudo.

Um dos elementos geradores desse mal é a milícia local, todavia se sentem donos da autoridade e contribuem de forma violenta para a continuação dos fatos observados, pois quem não se submete pode acabar perdendo a vida, entretanto a prática é a invasão domiciliar para isso basta a não obediência às suas ordens, com a agravante de existirem alguns policiais envolvidos. O território tem uso alternado com práticas das milícias que atuam durante o dia e no período noturno buscam os indivíduos, com o intuito de assassiná-los, por terem cometidos delitos ou subverterem as ordens de uso e ocupação dos territórios protegidos pelas milícias.

Os espaços ocupados pelo tráfico, não são do conhecimento das autoridades, pois em cada abordagem realizada a modificação se faz pronta e renovam-se os esconderijos para as drogas comercializadas no dia-a-dia na comunidade, além do aliciamento de crianças e adolescentes, o que é comum na área da pesquisa.

As temporalidades quanto aos usos e ocupações de parcela significativa do espaço do bairro ocorrem de forma dinâmica e alternada. Elas se caracterizam por serem transitórias em horários diversos ao longo do dia, fomentando na população uma dificuldade de trânsito e acessibilidade ao espaço público. Inicialmente, como forma de ilustrar uma das formas de uso e apropriação do espaço, refere-se a apropriação no período noturno, a partir da centralidade de freqüentadores de um bar e funciona como local de prostituição infanto-juvenil. Nos demais momentos, a causa aparente do crime é a combinação de fatores complexos (roubos, furtos, homicídios e drogas) tornando-o dinâmico para o uso acima especificado, mas durante a noite o território sofre uma remodelação sendo usado pelos traficantes de drogas.


O que leva a questão do Território e espaço muitas vezes é confundido como sinônimos embora não sejam. Fato esse exposto acima ocorre em um recorte de bairro, pela sua transitoriedade, assim como de suas diversificadas práticas pelas quais os elementos as usam.


O objetivo dessa monografia é denunciar, descrever a maneira como se ocupou o espaço natural e territorial do bairro, hoje denominado Nova Descoberta e a forma como uma parte dos elementos que constituem o bairro coopera para sua degradação, que com suas ações violentas e contrárias a legislação, as autoridades não conseguem de forma eficiente trabalhar nesse espaço territorial por falta de conhecimento geográfico contra os que agem à margem da lei. Empregando para esse fim o método dialético que levará não ao esgotamento do assunto mais a um conhecimento mais abalizado do mesmo, dessa forma cooperando para futuros trabalhos acadêmicos.



2 A geografia de Nova Descoberta

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2008, o Estado de Pernambuco localiza-se no Nordeste do Brasil e caracteriza-se por ser uma das vinte unidades federativas do país. Está localizado na região Nordeste e tem como limites: A leste banhado pelo oceano Atlântico, ao norte estado da Paraíba, ao noroeste estado do Ceará, de Alagoas ao sudeste, ao sul da Bahia e do Piauí ao oeste, Ocupa uma área de 98 311 km².

O espaço pernambucano apresenta um conjunto de paisagens físico-naturais diversificadas, destacando-se as planícies litorâneas, as serras, planaltos, brejos e o semi-árido do sertão. As planícies litorâneas têm baixa altitude de até 200m, apresentando relevo mamelonar, e alguns pontos da Borborema ultrapassam os 1000m de altitude. Na margem Oeste do Agreste, há a Depressão Sertaneja, uma depressão relativa com altitude média de 400m que se estende até a margem da Chapada do Araripe. O relevo é moderado: 76% do território estão abaixo dos 600m. No Agreste há picos com 1.000 m de altitude. O Planalto da Borborema tem altitude média de 600m, com destaque para o maciço dômico de Garanhuns, com altitude média de 800m. A Chapada do Araripe tem altitude média de 800m.

O bairro de Nova Descoberta está situado na Região Metropolitana do Recife, que por sua vez apresenta as seguintes características: é formada por 14 municípios e sua maior parte é caracterizada por áreas de morros, com declives de 30%, ficando situada na zona costeira do estado de Pernambuco, com limites UTM de 9.050.000 e 9.150.000m N e 250.000 e 300.m.E subordinando-se ao regime da faixa de transição continente oceano.

Com clima tropical chuvoso do tipo As? a Ams? segundo Köpen, com precipitação acima dos, 750 mm ano e temperatura superior a 18°C, variando em sua umidade relativa do ar de 79,2% a 90,7% ocorrendo maior quantidade de chuvas nos meses de abril e julho.

Há poucos lagos e lagoas no estado, como a Lagoa do Araçá e a Lagoa Olho D'Água, ambas na Região Metropolitana do Recife. Na periferia do município do Recife encontram-se dois belos cartões postais do município, os Açudes do Prata e de Apipucos, sendo o primeiro pertencente ao Parque Dois Irmãos. Além disso, Os manguezais são abundantes em todo o litoral, porém foram praticamente extintos na RMR devido à urbanização (com a exceção do maior mangue urbano do Brasil, cercado por bairros da zona sul do município do Recife, como Boa Viagem). Porém, nos anos 90, houve um programa de re-implantação do mangue nas margens do Rio Capibaribe, desenvolvido pela prefeitura do Recife, trazendo de volta a vegetação ao rio por todo o município.

Os morros no contexto metropolitano de Pernambuco são um espaço formado por rochas de composição granítica ocorrendo em toda faixa oeste da região metropolitana, e por solos sedimentares argilo arenoso como é o caso da formação Barreiras ao Sul e Norte de Recife; ainda com a bacia do cabo constituído por conglomerados de argilo cortados por rochas vulcânicas. O relevo é constituído por morros, abrangendo o domínio geomorfológico dos tabuleiros costeiros e planaltos rebaixados, podendo ainda ser encontrados tipologicamente serras, morros altos, colinas e planície costeira.

O litoral é uma grande planície sedimentar, quase que em sua totalidade ao nível do mar, tendo alguns pontos abaixo do nível do mar. Nessas planícies estão as principais cidades do estado, como Recife e Jaboatão dos Guararapes. A altitude aumenta conforme aumenta a distância da costa.

Segundo o atlas PMR (2005) no caso de Nova Descoberta a formação geomorfológica é caracterizada por Abranger a parte da Zona Especial de Interesse Social Casa Amarela. Nas últimas décadas do século XX, esse bairro passou por um forte crescimento populacional em áreas de colinas. O contínuo adensamento e o atraso dos investimentos públicos em infra-estruturas ampliaram os riscos de desabamentos no período chuvoso, fazendo desse território uma área de atenção da Defesa Civil.

Habitado por 38.678 habitantes em 2005 no período 1991-2000, a população da unidade espacial teve uma taxa média de crescimento anual de -0,63%, passando de 36.697 em 1991 para 34.676 habitantes (Atlas PMR) 2005.

Em 2000, a população da unidade espacial representava 2,44% da população do município de Recife. Com uma população de menores de 15 anos representando o total de 12.602 adolescentes em 1991, enquanto em 2000 o número era de 10.296 adolescentes na mesma faixa etária.
Segundo o atlas da Prefeitura Municipal de Recife (PMR) o bairro de Nova Descoberta caracteriza-se por ter uma área de 1,8 km² e com uma densidade demográfica de 18.948,6 hab./km², tendo um perímetro de 8,8 km2 e o bairro dista 8,5 km do Marco Zero de Pernambuco, a referida unidade territorial pertence à chamada Zona Especial de Interesse Social (ZEIS).

Com uma população de menores de 15 a 64 anos com aproximadamente 23.681 habitantes em 1991 e de 22.577 em 2000, perfazendo um total de 53,6% dos habitantes. Representando 2,44% da população da cidade, representada pela Figura 1 e 2, da Rpa onde esta localizado o bairro de Nova Descoberta.

Figura 1. Indicando o bairro de Nova descoberta na RPA 3.Fonte: Atlas 2005 PMR.

Figura 2: Mapa do bairro de Nova descoberta. Fonte: Atlas Municipal 2005 PMR.




3 Um passeio pela formação de Nova Descoberta

A ocupação da área em que se situa atualmente o bairro de Nova Descoberta caracterizou-se pelo espaço de Morro e de Mata Atlântica, mas no seu desenvolvimento passou de espaço natural ou primeira natureza para um espaço cultural, envolvendo distintas escala para tal classificação. Embora, espaço e território pareçam ser termos e conceitos próximos, ambos não têm um mesmo valor atribuído nesse contexto.

Tomando por empréstimo a definição do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986) o espaço definido como a distância entre dois pontos ou a área ou o volume entre limites determinados, toma corpo no campo do conhecimento comum ou senso comum, e passar a ter um significado mediante aos contextos de vida cotidiana. No entanto essa definição da língua portuguesa aparentemente não é suficiente para a construção da análise no campo geográfico dos fenômenos do espaço.

Para o Prof. Roberto Lobato Corrêa (1995) o espaço tem o seu uso associado indiscriminadamente a diferentes escalas, global, continental, regional, cidade, bairro. O mesmo adverte sobre a importância quanto ao uso inadvertido e nem sempre de forma correta, porém o uso indiscriminado não permite uma interpretação segura dos fenômenos.

Para Corrêa (1995) a Geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos chaves que guardam entre si forte grau de parentesco, pois todos se referem à ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território. Dessa forma, a articulação desses conceitos-categorias na análise dos usos e apropriações do espaço de Nova Descoberta colabora para a discussão da necessidade de ações governamentais e da sociedade civil frente aos problemas que não se resumem ao do bairro estudado, e sim, da cidade do Recife.

Entendem-se os cinco conceitos acima como anômalos para o vernáculo de possibilidades envolvidas na língua portuguesa, porém o parentesco usual delas remete-nos sempre a ação humana.

A formação sócio-territorial de Nova Descoberta ocorreu por volta da terceira década do século passado, no local que tem por toponômio Regina. Ali existia uma senhora que atendia por este nome e com o passar do tempo, como a mesma era comerciante e passou diversas décadas no local, o lugar acabou conhecido pelo nome dela.

O gosto popular cooperou para que assim o nome continuasse, Posteriormente com o advento da oficialização do local, o nome persistiu até a atualidade. Inicialmente, o espaço foi denominado de Largo Dona Regina e mais tarde por Praça Dona Regina.

As atividades de dona Regina caracterizaram-se por comercializar alimentos para os cavaleiros que por ali passavam para retirar madeira. Ambos os produtos eram comercializados para as pessoas que por ali passavam, pois o local era uma encruzilhada por onde trabalhadores da antiga fábrica Othon faziam caminho pela localidade, também era natural naquela época a venda de banhos já que inexistia o serviço da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), os moradores desta localidade construíam banheiros com esse fim, sendo mais um meio de fazer renda para a família.

Na década de 1930 não existia o serviço de energia elétrica no bairro o que conduziam os moradores a dormirem mais cedo, fato esse só não ocorrido em noites de luas cheias, as casas da localidade naquela época bem distantes uma das outras eram construídas com telhado de palha e suas paredes eram edificadas com argila, ou seja, uma construção comum naqueles tempos.

Por volta dos anos quarenta e com expulsão dos moradores dos mocambos no centro da cidade para a urbanização pretendida pelos administradores da época, as pessoas vieram firmar residência nos morros da zona norte recifense, o que contribuiu de maneira decisiva para o crescimento do bairro e do espaço pesquisado.

Nos anos cinqüenta o desenvolvimento fez-se presente através da construção de um cinema de nome Irajá para as matines, atualmente o local é uma Lã house, com abertura de estradas de barro para acesso de ônibus para os moradores do entorno da área objeto da pesquisa, pois até aquele momento o serviço de transporte não existia na localidade, Com o passar das décadas a população aumentou significativamente fazendo com que os moradores, com apoio das instituições presentes na localidade, se unissem para buscar seus direitos juntos aos órgãos públicos.

Segundo os moradores de épocas passadas, no local que tem por nome Olho D?água existia um "açude" onde os moradores tiravam água para consumo diverso, um declarante afirma que durante a década de cinqüenta ele e o seu progenitor exploravam madeira da área e vendiam a mesma no bairro da Torre para construção de casas nos arredores daquela localidade. Em uma das áreas do recorte estudado há um local por nome Córrego do Beiju onde se planta macaxeira e mandioca vem daí o nome do Córrego.

No bairro existia um terreiro de candomblé, sendo um dos mais freqüentados do Recife, pertencente à Babalorixá conhecida como Maria Aparecida, a mesma consegui renome da sua clientela, pois seu terreiro era visitado por muitos políticos da época, com seu envelhecimento o terreiro foi extinto.

Um terreiro existente era o de uma senhora conhecida como "Maria Carne de Porco", nesse terreiro existia um internato de menores carentes, chamado (Tiradentes) e Maria para manter esse internato buscava ajuda no porto de Recife onde conseguia alguns produtos perto da data de vencimento, para amenizar as despesas com esse orfanato. Ainda fazia doação de alimentos às demais pessoas carentes da área, um gesto de carinho e respeito ao ser humano e muita vez fazia entrega de diversos mantimentos sem nunca tirar proveito financeiro ou político dessas pessoas que estavam abaixo a linha de pobreza, O próprio declarante foi beneficiado diversas vezes com sua família, recebendo donativos da mesma, o que diminuía as mazelas sociais da fome naquela época.
Faz-se importante destacar que a senhora "Maria carne de porco", fazia todo esse gesto de caridade utilizando os precários ônibus da época, a mesma tinha uma forte predileção por tabaco (rapé) tornando-se uma das maiores consumidoras do bairro de Casa Amarela de que se tem conhecimento.

Dessa forma, o espaço, o lugar e o território estão aqui relacionados como termos usuais da ação humana sobre os modelos sócio-espaciais do bairro pesquisado o que permitiu uma observação de como se deu o dinamismo social e espacial dos morros ali originários do espaço pesquisado.

4 O território dos morros e a dinâmica- sócio ? espacial

A partir das dinâmicas territoriais do espaço estudado pode apontar que é essencial compreender que o espaço é anterior ao território. O território forma-se a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente "territorializa" o espaço. (Raffestin, 1993, p. 143).

Nota-se que conforme o acima citado o território é efeito da ação humana no decorrer do tempo e de sua cultura, que modifica e extrai dele a sua economia. Embora o espaço seja pretérito, ao território, ambos estão marcados pela cultura agindo com a tecnologia da época.

Para Claude Raffestin (1993) um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia ou informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. "Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolvem, se inscreve num campo de poder". Dessa maneira, a gênese das relações de produção do espaço de Nova Descoberta perpassa a questão do espaço e constitui um lócus de análise a partir do território e das territorialidades construídas. Figura. 3.


Figura 3: Território drogas e prostituição infanto- juvenil; Local acesso ao bairro de Nova Descoberta 25 L0287709; UTM: 9113034. Foto: Dario Galdino, (2010)

Na foto acima pode-se observar que as territorialidades são temporais, no caso do acesso ao bairro de Nova Descoberta durante o dia a ocupação é caracterizada pelas atividades de comércio e circulação das pessoas. Portanto, a idéia de Raffestin (1993) de que os efeitos territoriais são sentidos em todas as dimensões espaciais, os mesmos serão expressos na população que habita e circula pelo referido bairro.

O bairro de Nova Descoberta é efeito da ação humana no decorrer do tempo e de sua cultura, que modifica e extrai dele a sua economia. Embora o espaço seja pretérito, ao território, ambos estão marcados pela cultura agindo com a tecnologia da época, assim seu efeito é sentido em todas as dimensões espaciais como em um bairro.

A infra-estrutura existente no bairro não evoluiu com o crescimento populacional do século passado o que não permitiu uma base para o desenvolvimento do bairro.

O exemplo do desnivelamento da calçada no bairro de Nova Descoberta, no trecho com a Avenida Norte até a bifurcação com a Avenida Vereador Otacílio de Azevedo é deficiente e põem em dificuldade o trânsito de pedestres.

Outras dificuldades fazem-se presentes também por causa das barracas construídas nas calçadas e com os vendedores ambulantes que tomam o espaço destinado à pedestre durante o dia, Porém durante à noite a mesma é transformada em terreno continuo aos da residência.

Outro problema grave e comum são os canais abertos, pois no trecho da estudado, o planejamento foi feito ainda em meados do século passado, e apresenta atualmente um conjunto de dificuldades no trafego de transeuntes e de veículos de passeio e ônibus. Observa-se que nos dias de feira livre, a rua não comporta o fluxo, outro fator é a pouca sinalização de transito o que reverbera no movimento de todos que usam a Rua Nova Descoberta.

No início da Rua Nova Descoberta tem "calçadas" e via estruturada para veículos e transeuntes após esse trecho e no espaço da praça dona Regina, os bares se proliferaram e passaram a ocupar as calçadas destinadas aos pedestres. Nas proximidades da praça há um "ponto cego" para pedestres e condutores de veículos e sem nenhuma calçada para escape do pedestre e como conseqüências ocorrem diversos acidentes com vítimas fatais.

Nas proximidades do mercado Nova Esperança não existe calçada para tráfego de pedestre, o que obriga os mesmo a dividirem com os veículos o espaço da Rua: Nova Descoberta, Nas proximidades dessa área foi aberta uma distribuidora de bebidas que passou a ocupar o espaço dos pedestres. Nessa região verifica-se um conjunto dessas apropriações e usos dos espaços públicos pelo comércio e demais formas de territorialização.

A circulação da população pelas calçadas é dificultada nesse primeiro momento através da apropriação dos espaços públicos destinados a circulação e a possibilidade dos cidadãos de ir e vir. Um exemplo constatado no bairro de Nova Descoberta é a disputa dos pedestres com os automóveis de um estabelecimento de lavagem de automóveis, que nos dias de intensa movimentação encontram dificuldades de transitarem pelas calçadas. Esses problemas são recorrentes na localidade denominada, Olho D?água e Eucaliptos.

A dificuldade torna-se visível na entrada do Córrego do Arcanjo, posteriormente o fato se repete no lado oposta da via até a localidade conhecida como Visgueiro que é a entrada para a localidade Vasco da Gama, daí por diante ocorre o mesmo até a confluência com a subida da Betinha acesso para o Alto do Progresso, em sua subida de esquina com a rua estudada no trecho antes citado, existe um bar que toma o espaço destinado às pessoas que por ali trafegam.
Da entrada da localidade chamada Córrego da Areia até a bifurcação com a Avenida Vereador Otacílio de Azevedo o problema torna-se maior, pois aí concentra-se grande número de vendedores ambulantes assim também como o pátio da feira livre de Nova Descoberta, nesse local os transeuntes e veículos dividem literalmente os espaços destinados à circulação automotora.

A diversidade estudada no seu dinamismo ocorre em alguns bairros, porém no recorte estudado esses fatos correlacionados acima permitem percebe a falta de gerencia dos órgãos públicos, o que inserem as instituições ali estabelecidas na sua educação.
4.1 As instituições na formação do bairro

Sabe-se que são diversas as instituições na área da pesquisa, todas de distintas maneiras colaboraram e colaboram para o desenvolvimento do bairro e do trecho pesquisado, as mais antigas contribuíram com o aperfeiçoamento dos cidadãos da localidade, ora orientando com relação aos seus direitos, ora educando de maneira formal, contribuindo com a sua formação cidadã, Nessas instituições a população buscavam ajuda para tudo quando precisasse principalmente quando o tema era a terra para moradia. A maioria dessas instituições é religiosa com diversas denominações, entre as quais se pode citar, do inicio do trecho estudado até o seu final, Igreja batista Missionária em Nova Descoberta Figura. 4; Igreja Católica Nossa Senhora de Lourdes, Figura 5;Grupo mulher maravilha Figura.6; Escola Espírita Cristina Menezes de Albuquerque Figura. 7.


Figura 4: Igreja Batista Missionária, Nova Descoberta; 25 L 0287745; UTM :9113180 N . Foto: Dario Galdino, (2010)










Figura 5: Igreja Católica Nossa Senhora de Lourdes, em Nova Descoberta; 25 L.0287887; UTM: 9113890. Foto: Dario Galdino, (2010)

Igreja católica Nossa Senhora de Lourdes, (Figura 5), Escola espírita Bezerra de Menezes (Figura 7), entre outras. Dessas instituições pessoas se destacaram ajudando o povo recém retirado do centro recifense e que procuram os morros para fixar moradia.





Figura 6: Sede Grupo Mulher Maravilha, em Nova Descoberta; 25 L02877830; UTM: 9113738. Foto: Dario Galdino, (2010)

O grupo Mulher Maravilha (Figura 6) nasceu em 1975, em Nova Descoberta, periferia do Recife, no contexto do crescimento e afirmação política dos movimentos sociais, os quais tiveram um papel fundamental na luta pela reorganização e articulação dos movimentos comunitários e pela democracia, já nos anos 73 e 74, quando o país vivia mergulhado numa situação de grande repressão política, com leis de exceção e perseguição aos movimentos libertários, Algumas mulheres de Nova Descoberta, já envolvida nas lutas sociais pela redemocratização do país e pela justiça social, começaram a se encontrar e discutir a situação da mulher no lar e na comunidade, os problemas do país e suas raízes, em busca de saídas concretas. Além dessas questões as mulheres discutiam o papel na sociedade e a descoberta de sua identidade.
Em seguida criaram uma oficina de roupas artesanais que se tornou marca do grupo, até hoje cultivada por algumas mulheres que se dedicaram ao artesanato. O passo posterior foi à profissionalização das mulheres, visando à autonomia e a emancipação das mesmas.
Em 1986 a grupo Mulher Maravilha passou a trabalhar também com o publico infanto-juvenil que hoje ocupa grande espaço nos vários campos e atuação da organização. O trabalho com esse tipo de público deu-se em razão de grande preocupação com o aumento da violência em todas as faces, com a miséria, com a exclusão social, com a marginalização infanto-juvenil e a negação dos direitos humanos.
O texto mencionado abaixo corrobora para as citações abaixo com relação as pessoas na formação espacial e papel por elas desenvolvidos.
O uso do espaço por aqueles agentes transformadores dará origem a sentimentos de pertencimento espacial e territorial e de conexão com o lugar outrora espaço natural. Por isso:
A formação de um território dá às pessoas que nele habitam a consciência de sua participação, provocando o sentido da territorialidade que, de forma subjetiva, cria uma consciência de confraternização entre elas. (ANDRADE, 1995, p. 20).

Sabe-se que a produção territorial se faz com ser humano dando passagem do espaço natural para o espaço cultural o que permite por sua vez sua base territorial vivenciada por cada indivíduo o que é demonstrada por suas construções.
A partir de então, atividades sócio-culturais e esportivas foram introduzidas através de oficinas pedagógicas, de danças populares, capoeira, teatro, musica percussiva, e canto.
As exigências da globalização também levaram o grupo a se preocupar com a inclusão profissional do jovem, principalmente a informática.
O grupo Mulher Maravilha tem grande inserção no movimento popular, nas lutas por políticas públicas, participa ativamente de fóruns de controle social e promoção dos direitos humanos.
Outra questão levada a sério desde cedo foi à questão saúde preventiva, para tanto o grupo participou ativamente de campanha saúde preventiva realizou cursos de agente de saúde, e vem desenvolvendo há certo tempo, um forte trabalho de prevenção das IST HIV AIDS com o apoio do ministério da justiça e a prevenção as drogas junto ao publico infanto-juvenil, com projeto aprovado pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil CNBB ? CARITAS brasileira ? Fundo de Solidariedade.
O grupo também desenvolve ações de assistência social, já que trabalha com um público que às vezes encontra-se abaixo da linha de pobreza. O trabalho do grupo Mulher Maravilha foi se expandindo em termos geográficos e temáticos e procura trabalhar temas que contribuem para a desconstrução da violência que cada dia aumenta e busca alternativas de combate a miséria, à marginalização infanto-juvenil enfim, a exclusão social, enfrentando combatendo a violência domestica sexual, pobreza, numa perspectiva de justiça social e pela construção da paz.

Escola Espírita Cristina de Menezes (Figura 7) entre outras, dessas instituições pessoas se destacaram ajudando o povo recém retirado do centro recifense e que procuravam os morros para fixar morada.

Figura 7: Escola Espírita Cristina Menezes de Albuquerque em Nova Descoberta. 25 L. 0287869. UTM: 9114230: Foto; Dario Galdino, (2010).

As pesquisas têm mostrado que as chamadas instituições sociais já anteriormente citadas têm exercido o papel antes praticado pelas autoridades e em um local recém-habitado. Essas instituições são bem vindas, pois ajudam as comunidades a se organizarem para buscar seus direitos, garantidos pela legislação do momento, Instituição essas muitas vezes relegadas ao segundo plano pelos órgãos gestores das políticas públicas, Nenhum outro órgão tem as características dessas instituições, já que as mesmas vivem com a população local e sentem o despreparo delas para se organizarem em seus pleitos e assim serem agraciadas com as benfeitorias públicas, pois os serviços públicos devem ser colocados a disposição da sociedade e em qualquer espaço onde o homem se disponha a desenvolver sua ação.

A observação territorial é uma forma de vislumbrar as distintas escalas e suas "desconstruções", assim como os cíclicos pelos quais passa e ainda dependendo de cada pesquisa realizada e de que seu autor quisera transmitir ,assim afirma o texto abaixo:

Segundo Marcelo de Souza (1995,81); Territórios existem e são construídas (e desconstruídos) nas mais diversas escalas (?) territórios são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes (?) territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter existência periódica cíclica.

Verifica-se que a transitoriedade dos chamados territórios não é apenas por questões relacionadas na natureza, mas a forma de como a ação antrópica é efetivada no território.
Cada autor, dependendo da sua linha de trabalho e de suas concepções teórico metodológicas, dá ênfase a alguns aspectos dentro do território, seja o aspecto econômico, político e cultural ou o entrelaçamento destes fatores, para explicar o conceito e a dinâmica de um espaço que está sempre em construção. Adilson Aparecido Bordo; Cleide Helena Prudêncio da Silva; Marcelo Nunes; Túlio Barbosa; Wagner Miralha; FCT/UNESP (2004)

A população dessa comunidade que é objeto da pesquisa, não tinha em seu convívio pessoas capacitadas para desenvolver um programa para que através dele pudessem alcançar os devidos objetivos por eles pretendidos, nessa situação que entram as instituições que atuam, onde o poder público não alcança ou não pretende colocar-se junto à população menos favorecida já que a mesma é mais dependente do poder público e necessita de todo apoio, pois são indigentes nos diversos campos do direito, educação, segurança, moradia e cidadania.

O desenvolvimento só pode se estabelecer quando pessoas são treinadas e preparadas no decorrer de anos para executar as tarefas que a população precisa, A necessidade obrigou e obriga a população a se juntar às instituições que chegaram à Nova Descoberta para se apoderarem de seus direitos como cidadãos, Com o passar dos anos depois do aprendizado, a comunidade ali vivente descobriu a maneira pela qual poderia exercer sua cidadania, porém não sem antes passar pelo aprendizado das instituições já citadas anteriormente e que tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do percurso pesquisado.

Faz-se necessário um olhar direcionado para as comunidades carentes que ainda residem e que sofrem os mesmos males anteriormente sofridos pelas comunidades que chegaram primeiro no espaço objeto da pesquisa.
Nota-se que espaço e instituições se completam na orientação de um bairro e na contribuição da formação cultural de cidadãos que ali residam o que permite a idéia de como são suas contemporaneidades.

4.2 Territorialidades contemporâneas

Segundo Celso Furtado (1974) foi um dos raros economistas a ousar admitir que o desenvolvimento econômico, tal como é praticado pelos países que lideraram a revolução industrial, não pode ser universalizado. Tratar-se-ia do "mito do progresso da revolução burguesa", responsável pela formação da sociedade industrial moderna, mas irreprodutível em escala mundial. As idéias desse respeitado economista brasileiro faziam eco, no intenso debate mundial, sobre o verdadeiro significado do que venha a ser um virtuoso processo de desenvolvimento.

Constata-se que o desenvolvimento tal como é praticada não pode alcançar toda população do planeta assim como de recônditos menores com é o caso do objeto pesquisado, e permite ao estudo do recorte uma precisão dos porquês da insalubridade do mesmo e de seu teor violento.

Um dos eixos centrais do recente debate foi conduzido pelos que questionavam a sustentabilidade do padrão de relação homem-natureza, estabelecido nos últimos séculos. Os estudos do Clube de Roma, as iniciativas mobilizadoras do movimento ambientalista, as discussões na Academia e nos Fóruns internacionais foram contribuindo para a anexação do adjetivo "sustentável" ao vocábulo "desenvolvimento".

Um dos maiores problemas do bairro pesquisado, sobretudo a violência enfrentada por seus moradores e a falta de perspectivas dos jovens inseridos na localidade, a qual é difícil, pois não existem empregos para todos os que já se acham na faixa etária de trabalho o que muitas vezes induz os mesmos ao crime como o tráfico de drogas, nesse comércio existe vagas constantemente. O processo abaixo descrito faz parte do Udh objeto da pesquisa.

O desemprego tem causado um grande dano aos mais jovens, a falta de oportunidade faz com que a sociedade perca ótimos aprendizes para construção da mesma e conseqüentemente transformação do espaço estudado, pois muitos desses jovens irão para criminalidade, visto que ela proporciona-lhes oportunidade que geralmente lhe é negada pelo poder público. Os pilares em que está estabelecida a sociedade brasileira não são os melhores, motivos pelo quais a violência impera no meio social. Desde sua formação o país tem dificuldade em manter um relacionamento harmonioso com a maioria de sua população que não dispõe de meios dignos para sua sobrevivência permitindo dessa maneira um crescimento sem ordenação desencadeando a tendência natural a violência. Podemos também colocar como falta de "fé" de uma sociedade cada vez mais ligada ao meio de consumo onde as pessoas valem o que tem; fé em acreditar quando se foi enganado diversas vezes por pessoas e autoridades que só fizeram promessas de melhorias, sendo os mesmos culpados pela corrupção.

A lei brasileira parece ser feita com o objetivo de deixar espaços para a indefinição de sentidos e interpretação em que os profissionais da área jurídica se aproveitam para dar liberdade a pessoas que não merecem permanecer livres dentro da sociedade, pois apenas contribuem para o caos social por sua indiferença e sua corrupção e desrespeito ao próximo. Desta forma a lei como deve existir deixa de ser considerada.

Outra questão evidente é o desrespeito ao próximo, por puro preconceito pessoas que pertencem a grupos menores dentro da sociedade são humilhados por pensarem de modo diferente da maioria e conseqüentemente gera mais violência, Existe uma necessidade premente de consideração pelo diferente e é oposto aos impostos pela sociedade, e isto sem desrespeito ao semelhante, o que não deveria acontecer, pois somos de uma mesma espécie.

Como a comunidade faz parte da Zeis (Zona Especial de Interesse Social) de Casa Amarela, o poder público deveria estar mais presente para disponibilizar cursos para desenvolver o aspecto profissional em cada jovem do espaço estudado, o bairro é um dos que tem a menor renda do município.

Segundo CASTORIADIS (1938:22) A liberdade numa sociedade autônoma exprime-se por estas duas leis fundamentais: sem participação igualitária na tomada de decisões não haverá execução; sem participação igualitária no estabelecimento da lei, não haverá lei. Uma coletividade autônoma tem por divisa e por autodefinição; nós somos aqueles cuja lei é dar a nós mesmos as nossas próprias leis.
Denota-se que a propensão de um território onde a desigualdade é fato vivenciado pela maioria destina os formadores do mesmo à tomada de decisões diferenciadas da lei formal, pois a vida e a característica desse território não são feitas de acordo com as leis oriundas de uma parte da sociedade que não vive a realidade desse território.

A questão é verificada no recorte territorial exposto nessa monografia. As realidades dos menos afortunados independem do poder associado à lei vigente, já que nesse território a lei só chega depois do delito efetivado.

A apresentação de forças oriundas faz-se presente na pessoa do miliciano, do traficante, do vendedor de drogas, do "dono" das prostitutas, tendo ambas as funções interdependência e correlação com chefes, atores protagonistas desses atos efetivados a margem da lei formal, mas que não deixa de ser lei para a população circunscrita naquele território.

A conseqüência desse fato é a manifestação da violência e do crescimento da mazelas sociais, não por falta de leis, mas por causa da não participação desta parcela da sociedade.

Os estudos das formas de como se desenvolveu economicamente o recorte do bairro leva-nos a conseqüência da atual violência, assim como o desemprego, coloca-nos a lei como distintas dos que tem forma de vida miserável o que leva os indivíduos a não praticá-las de onde se originará as redes territorializadas no espaço pesquisado.

4.3 Redes

Entende-se que o conceito de rede, é uma qualificação não nova, não existindo a preocupação de entender seus efeitos em cima da organização territorial, Mostra-se o inicio sob olhar atual embora seja deformada, ou seja. É um conceito chave segundo Saint Simon, o qual formulou a moral da sociedade nova ocasionando sustentação a escola socialista;

A rede tem uma conexidade e em seu projeto o mesmo objetivava o sistema geral de comunicação, ou seja, uma articulação ou ainda uma integração dos sistemas existentes, tendo papel importante no desenvolvimento de qualquer região quanto mais diversificada a rede se torna útil para o progresso macro ou micro de uma região ou país. Pra exemplificar redes podem ser: redes estratégicas, redes de universidades, redes de energia e redes de informação, estando à mesma ligada ao planejamento territorial de um lugar.

As redes emergiram a partir do momento em que a sociedade se desenvolveu no campo informacional por causa de suas qualidades de simultaneidade e instantaneidade no bojo do processo histórico, o que se comprova com a integração produtiva, integração de mercados, integração financeira durante o século passado, sendo mais notada na área de comunicação.

A pesquisa remete-nos a situação de que forma as redes podem se originar e de como podem influenciar nas diversas partes de estruturas etárias nos quais elas agem e com a conexidade das mesmas podem atingir o recorte estudado assim como um bairro e suas adjacências e até mesmo uma cidade assim como um país, como é o caso da prostituição infanto-juvenil. (Figura 8).

4.4 Prostituição infanto-juvenil





Figura 8: Local usado pela rede miliciana em prostituição e uso de drogas. Acesso a Nova Descoberta, 25L 0287719. UTM: 9113054; Foto: Dario Galdino, (2010)
Verifica-se que o sistema capitalista não é coerente com a diversidade espacial vigente, pois não permite a utilização de todos no processo produtivo assim causando a marginalização de parte expressiva da camada populacional do recorte estudado assim como de regiões onde se observa a mesma caracterização, coloca o homem a mercê dos capitalistas que detém os meios produtivos, o que permite deixar muitos na margem do processo vivendo de subempregos.

Prostituição infanto-juvenil através da qual os menores inseridos nesse recorte do bairro e de suas adjacências são colocados a disposição de quem pode tirar proveito da miséria alheia, os mais idosos, ou seja, os aposentados que dispõem de uma renda efetiva todos os meses, os comerciantes que trabalham constantemente com dinheiro, os vendedores de drogas que as usam como moeda de troca, os milicianos que abusam do poderes atribuídos aos mesmos muitas das vezes com cobertura oficial (Estado), alguns parentes que sabendo dessa situação não denunciam por medo da violência ou por necessidade. É a miséria instituída nos bolsões de pobreza das periferias do Recife.

Os aposentados por disponibilizarem de recursos constantes podem assumir as despesas das menores que apelam por ajuda para suster a família, o vicio, o filho e muitas vezes o cônjuge que não dispõe de trabalho, a moralidade é feita ou percebida de maneira diferente em que a miséria prevalece, não é possível buscar moralidade no pauperismo, o alcance não se faz com leis, mas sim com justiça social, os cidadãos acima citados também são tão vítimas quanto as que eles fazem hoje, pois assim foram educados pelas gerações passadas.

Segundo Milton Santos os troços formam a rede em momentos variados e dão origem as características do bairro pesquisado e essas mesmas características farão com que o elemento formador delas seja o atuante em sua deformação e concretude. Daí então os resultados observados com as citações de Milton Santos:

As redes são formadas por troços, instalados em diversos momentos, diferentemente datados, muitos dos quais já não estão presentes na configuração atual e cuja substituição no território também se deu em momentos diversos (?) mas a rede é também social e política, pelas pessoas, valores que a freqüentam. (SANTOS, p.209)

"O elemento popular "sente", mas nem sempre compreende ou sabe; o elemento intelectual "sabe",mas nem sempre compreende e,muito menos,"sente".(?) O erro do intelectual consiste em acreditar que se possa"saber"sem compreender e, principalmente,sem sentir e estar apaixonado".(GRAMSCI,1966,p138?139)

Os comerciantes por sua vez tendo as benesses do dinheiro do movimento de seus comércios ajustam preços pelas garotas de idade púbere, em locais diversos do recorte pesquisado. Na localidade da Avenida Norte em cruzamento com a entrada do bairro de Nova Descoberta, há um estabelecimento comercial que funciona em horário noturno, lugar onde se noticia abusos de menores de idades, mesmo com as rondas da policia, segundo entrevista oral houve ocaso de uma menina não tendo compleição física ao relacionar-se com um homem mais velho fez-se necessário as mesma recorrer à operação para reconstrução de seus órgãos genitais, a atitude desses homens não é estranha, pois segundo Gilberto Freyre em sua obra Casa Grande e Senzala são comuns na história do país, meninas moças casadas em tempo pretérito. A reeducação se faz necessária para os mesmos além da coerção legislativa.

Os vendedores de drogas, por possuírem as mesmas, podem usufruir dos viciados menores além da conivência dos policiais que vez ou outra recebem a sua parte na venda das drogas. O menor infrator não se assusta por ter proteção da legislação ele é apenas pode ser apreendido por isso é muito mais solicitado na venda e transporte do material ilícito, a droga também gera capital que ajuda no sustento das famílias desamparadas nas periferias, pois muitos saem de seus bairros de classe média para comprá-las nas periferias, A droga esta associada ao Crime de Mando e a prostituição, assim como aos constantes crimes efetivados por milicianos, a droga tem causado uma destruição muito grande dos jovens moradores do recorte estudado e de suas adjacências, pois esse fato extrapola o recorte pesquisado.

Os milicianos encontram-se envolvidos em quase todo tipo de negócios escusos, desde roubo tramado até mesmo a homicídios dos que ousam roubar, traficar ou tomar decisões que não sejam corroborados com eles, os mesmo tem uma "aparência" de que são da ordem e estão com a lei embora, eles sejam usados como eliminadores dos inconvenientes da periferia, O uso de força e seu abuso são as formas mais usadas por essas forças paramilitares que estão instaladas na periferia da cidade de Recife, causando terror ao cidadão que não lhes obedece.

Há uma associação com os polícias militares da ativa que usam de seus conhecimentos para assegurar a impunidade de tais forças e que muitas vezes são os donos das milícias, segundo relato de um entrevistado quando as coisas ficam demasiadamente "pesadas" na periferia os comandantes da Organização Policial Militar (OPM) ordenam a eliminação desses meliantes para receberem assim sua promoção é a efetivação do homicídio dentro da lei. Todas as características acima citadas são encontradas em rede na área do recorte pesquisado.

A prostituição é a fórmula de sobrevivência de muitas crianças, conseqüência do abandono, do abuso sexual, maus tratos. Os comerciantes dispõem de meios para se aproveitarem da miséria alheia, os aposentados carregam já em si o que nos transmite Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala que nossas crianças sempre passaram por esses tipos de exploração. Pensa-se que pode ser um resquício cultural, o vendedor de drogas é o sujeito violento por parte de sua atividade o que faz com que o mesmo possa explorar as que usam drogas, e o miliciano que detém o poder das armas e às vezes da lei, pois alguns fazem o mesmo ocorrente no Rio de Janeiro.
4.5 Ação da milícia no bairro

Os grupos formados por policiais e ex-policiais unem-se para pseudodefesa dos cidadãos oprimidos ora por marginais, ora por homens formadores das milícias que em tese serviriam para defesa dos oprimidos por não possuírem defesa do Estado, assim com afirma a citação:
"Milícia aparece como uma palavra de perfil mais neutro ou, inclusive, levemente positivo. Com efeito, o dicionário Aurélio define o termo como ?Tropas auxiliares de segunda linha?. Em outras línguas a palavra é usada para designar os componentes do exército que não são militares profissionais, isto é, combatentes do povo. Essa linha semântica encaixa perfeitamente na tentativa de apresentar a milícia como um grupo de pessoas que se une para se defender contra uma ameaça externa, no caso o tráfico." Chaves ? 2010 ? p.1.

As milícias apresentam as seguintes características:

? Controle do território e da população que nele habita por parte de um grupo armado irregular;
? Caráter em alguma medida coativo desse controle dos moradores do território;
? Ânimo de lucro individual como motivação principal dos integrantes desses grupos;
? Um discurso de legitimação referido á proteção dos habitantes e instauração de uma ordem que, como toda ordem, garante certos direitos e excluem outros, mas permite gerar regras e expectativas de normatização de conduta;
? A participação ativa e reconhecida de agentes do estado como integrantes dos grupos.

Os milicianos geralmente estão associados aos donos de estabelecimentos comerciais com seguranças, legitimando suas ações com o discurso que a segurança pública não é suficiente. Uma parcela significativa dos participantes das milícias é de policiais militares em dia de folga.

Percebe-se que as milícias são conseqüências da falta de gerencia da segurança publica e do serviço prestada à população de baixa renda, é também um resquício da quartelada de 1964, época em que o estado de direito não era respeitado. O cidadão é visto como um ser que não dispõe de direitos, além do despreparo do policial militar, assim como do policial civil e de todo o aparato da segurança pública pernambucana e brasileira.

O espaço pesquisado é resultado de uma ocupação desordenada que nos remete aos anos 40 do século passado, onde as pessoas que tinham mocambos no centro da cidade foram despejadas daquele espaço para urbanização e se viram obrigados a irem em direção aos morros da zona Norte do Recife. O desenvolvimento do bairro de Nova Descoberta atendeu a essa lógica e se formou com parcela significativa da cidade que em outrora se situava em uma população marginalizada.

Existe uma associação de profissionais de distintas áreas relacionados com a contravenção ou cooperação para a mesma na área pesquisada, exemplo disso são os taxistas que operam com os milicianos.

Para o Prof. Milton Santos (2002:115: 123), o morar na periferia é condenar duas vezes á pobreza, gerada pelo modelo econômico, segmentador do mercado do trabalho e das classes sociais, supõe-se a pobreza gerada pelo modelo territorial. Há desigualdades sociais que são em primeiro lugar desigualdade territoriais, porque deriva do lugar onde cada um se encontra. Seu tratamento não pode ser alheio ás realidades territoriais.

A evolução do bairro passou por distintas fases, mas o trabalho de segurança pública não se modificou para melhor. O único comissariado desse espaço era o chamado comissariado do Brejo, hoje conhecido como Avenida Vereador Otacílio de Azevedo. Em nenhum outro momento houve mais de um representante das instituições policias no âmbito do espaço pesquisado, além da presença da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) em pontos como o sitio de origem, e espaços que extrapolam a área da pesquisa foram beneficiados com a presença da mesma.

A forma de policiamento executado pela instituição policial é defeituosa e não alcança o fim desejado, deixando dessa maneira o cidadão sem a devida proteção de um órgão tão precioso a população, pois em momentos distintos o serviço policial é substancialmente eficiente e consegue atender o desígnio para o qual existe.

As dificuldades existentes no relacionamento entre população e a segurança pública deve ser trocada por uma cooperação mútua, que é o modelo adotado em alguns estados da federação e tem trazido benefícios para a Instituição policial e a segurança pública no desenvolvimento de sue trabalho junto ao cidadão.

A construção de postos dentro da comunidade inibe a ação do banditismo, exemplo do recém construído. (Figura 9)


Figura 9: Posto policial; Recém inaugurado em Nova Descoberta. 25 L.0287732. UTM: 9113182; Foto: Dario Galdino (2010):

De toda forma, observa-se que em momentos passados de greve policial o posto policial foi destruído, outro posto foi construído, porém, não é usado pela policia de maneira constante.

O que se constata é uma falta de compromisso dos órgãos oficiais com a segurança da área objeto da pesquisa, pois a segurança é efetivada com as milícias formadas por policiais e ex - policiais e muitas vezes indivíduos não comprometidos efetivamente com a segurança pública, a exemplo pessoas de conhecida índole violenta, financiadas pelos potentados do local, pois onde o estado não apresenta ações efetivas para a sociedade local, para fazer valer o seu papel é onde as milícias ocupam o espaço destinado à segurança institucional. Ainda como conseqüência da presença miliciana há o desaparecimento de pessoas ligadas às drogas, tais como desordeiros de diversas origens, segundo as informações locais os milicianos agem como se fossem os militares do Serviço Nacional de Informação (SNI) no auge da ditadura militar. A vantagem da milícia em relação ao SNI é que até o momento as ações milicianas são desenfreadas junto à população.

O policial militar associado à milícia ordena e resolve os problemas ocorridos no local, a não ser que os órgãos oficiais sejam avisados, pois os mesmos agem de como acordo com alguns dos homicidas encontrados na área da pesquisa. Portanto, quando a viatura chega ao local onde existe a presença da milícia a ocorrência tem a tendência de ser no próprio local resolvido, o que deixa o cidadão de menor poder aquisitivo em desvantagem para com o conhecido do miliciano, pois o integrante da milícia é pago particularmente para ter a segurança privada e quem paga mais recebe logicamente maior proteção.

Os profissionais autônomos são envolvidos com a milícia local ora servindo de testemunhas em favor dos mesmos, ora financiando, ou servindo de meio de transporte para os diversos fins. As ligações (conexidade, simultaneidade) e as redes estão conectadas em todo seguimento da sociedade local, porém o que tem maior influencia é o policial militar graduado ou não.




4.6 TRÁFICO DE DROGAS

O problema das drogas existe em todo o planeta, seja nas nações sul-americana, território nacional ou nos países mais centrais e desenvolvidos. No entanto, em Nova Descoberta há uma ausência significativa do Estado frente a essa problemática, pois, as principais instituições de combate ao tráfico coíbem até determinada fase o desenvolvimento desse comércio nefasto.

Verifica-se que desde tempos passados o homem usa drogas. Na China o ópio, depois heroína, LCD, lança perfume, maconha, cocaína, pílulas e uma das mais danosas o crack. Essa ultima substância tem causado dano incomensurável à sociedade na qual o território pesquisado está inserido. Constatam-se o número de vidas que tem sido destruída com o comércio e distribuição das drogas todos os dias. As residentes assistem o seu uso e nada podem fazer, pois nem mesmo as autoridades constituídas atuam com a energia esperada pela sociedade.

Crianças, adolescentes, jovens, mulheres homens de todas as classes sociais estão sendo exterminados pelo tóxico, pois quem não participa tem por obrigação permanecer "amordaçado" pelo terror imposto pelos traficantes do local objeto da pesquisa.

Conforme afirma Scivoletto (2002) em seus estudos acerca do tratamento psiquiátrico de adolescentes usuários de drogas e do papel da família neste tratamento, o núcleo familiar geralmente se encontra assustado e desorientado quanto à abordagem do problema, Nery Filho e Torres (2002 p.29) completam dizendo "... Além de sentimentos de angústia, desespero e impotência nos familiares, busca-se um culpado para o que, em geral, passa a ser um drama familiar".

A psiquiatria no tratamento dos drogados é um paliativo, pois não combate o mal que está enraizado no lugar em que o indivíduo tem ligação afetiva. Enquanto a família não pode combater de frente o traficante por motivos vitais, é na abordagem familiar se dará de forma conflituosa na abordagem com o viciado e na família as pessoas muita vezes desconhecem o universo do drogado o que incide em novo problema na tentativa de resolução do fato, verdade é que seria necessário a educação familiar para tal enfretamento.

As autoridades deveriam se empenhar para exterminar em um pequeno território como esse estudado o uso e disseminação das drogas, pois o mesmo já se tornou um problema de saúde pública.

O fato é que o uso da mesma gera índices alarmantes de violência, como homicídios, estupros, roubos, perdas de vidas preciosas os quais poderiam ser usadas na sociedade, pois em cada adolescente morto existia a perspectiva de um profissional que poderia transforma a sociedade para melhor.

Mulheres e homens que emprestam seus filhos para o traficante para terem o beneficio da droga, a falta de perspectiva da maioria da população residente não permite a saída do uso das mesmas. Porém o tratamento dado ao usuário do espaço pesquisado mostra-se diferenciado quando a relação é com um usuário de classe abastada.

O planeta, o continente, o país, o estado, a cidade o bairro, o recorte estudado estão sob o controle das drogas e do dinheiro gerado por ela. Algumas pessoas podem achar normal, mas quando há pessoas de sua família envolvida a orientação muda, pois a droga tem o poder de destruir lares e se assim continuar causando destruição, sem ser tomado um efetivo controle.

É possível que um controle melhor fronteiriço a que possa diminuir a entrada de entorpecentes no país, diminuição da corrupção de alguns segmentos oficiais, juntamente na apuração dos fatos ocorridos, leis aplicadas como devem ser, verificação da legislação evitando brechas jurídicas e tratamento adequado com assunto tão insidioso.

Apesar das apreensões feitas pelas autoridades, o comércio perdura forte junto à comunidade e conseqüentemente às mortes das crianças e adolescentes no recorte pesquisado, fato esse noticiado nos jornais de grande circulação, Jornal do Comércio, Diário de Pernambuco, Folha de Pernambuco, veículos nos quais se registram os fatos aqui relatados.

Os resultados observados na pesquisa identificam os conflitos gerados por problemas referentes ao uso de drogas no recorte estudado, e mostra a falta de órgãos públicos preparados para atendimento dos usuários das mesmas, na área objeto do estudo como se verifica o quantitativo desses adiante. Único posto de saúde do recorte pesquisado (Figura 10)


Figura 10: Posto de Saúde Dr.Mario Monteiro em Nova Descoberta; 25 L. 0287742. UTM: 9113176; Foto: Dario Galdino (2010)

Os serviços dos órgãos estaduais são o básico ou mínimo encontrado no recorte territorial objeto da pesquisa, dispondo de um posto de saúde pública. Dr. Mario Monteiro (PMR).

A Escola estadual Gilberto Freyre (Figura: 11) oportuniza pouca realização educacional dentro do estudado por ser um local com dificuldades extremadas já apontadas nesse trabalho.
A pesquisa encontrou dificuldade para saber o motivo de uma parte tão significativa do bairro dispor de pouca atenção dos órgãos envolvidos nos direitos cidadãos.

Figura 11: Escola Gilberto Freyre em Nova Descoberta, 25 L. 0288805. UTM: 9113846; única da rede estadual na área pesquisada. Foto: Dario Galdino (2010)

A Escola municipal Deputado Fernando Sampaio (Figura 12) mesmo tendo dois anexos, a quantidade de vagas é insuficiente para o atendimento da população, pois a escola atende áreas do entorno ficando dessa maneira com uma má prestação de serviço populacional. Principalmente para as mulheres que trabalham.

A falta de creches é verificada na pesquisa, o uso de tais estabelecimentos permitiria que as mulheres daquelas cercanias tivessem onde educar seus filhos desde a mais tenra idade, deixando-os em local idôneo o que não permitiria aos criminosos envolvê-los em atividades delinqüentes, conseqüentemente essas crianças não deixariam a área de estudo para prática criminosa nos bairros adjacentes.

Figura 12: Escola Municipal Fernando Sampaio em Nova Descoberta, 25 L. 0287739. UTM: 9113986; única na área pesquisada, Foto: Dario Galdino (2010)

Seriam necessários projetos de cunho social para o aumento de entidades públicas para fins educativos, de saúde, de lazer e profissionalizantes além de emprego para os despreparados que residem na área pesquisada.

Assim, está resumido o serviço prestado dentro do objeto da pesquisa pelos órgãos públicos, estadual e municipal com a agravante de não existir nenhum serviço público no âmbito Federal.

4.7 OS ESPAÇOS USADOS PELAS REDES DE PROSTITUIÇÃO INFANTO-JUVENIL, DROGAS E MILÍCIAS.

Cada um dos pontos fotografados demonstra onde ocorrem os crimes efetivamente vivenciados pela comunidade local. Na foto abaixo o espaço fotografado é território de vendas de drogas, maconha e crack o que ocasiona ser um dos locais mais violentos do recorte estudado. Confluência entre a Rua Maraú e a Primeira travessa Maraú; espaço usado pelo tráfico durante o dia e noite, servindo por vezes para prostituição infanto juvenil. (Figura 13)

Figura 13: Local usado para o tráfico de drogas. Rua: Maraú em Nova Descoberta, 25 L. 0287935. UTM: 9114014; Foto: Dario Galdino, (2010)


O espaço fotografado faz parte da rede onde predomina o tráfico de drogas, sendo a área utilizada por usuários das mesmas e de onde observam a chegada das autoridades policiais. Constata-se que na Rua: Rita Antonio Felix é local onde termina o recorte da pesquisa, Espaço delimitador, Divisor de água para Rio Morno afluente na margem direita do Rio Beberibe. (Figura 14)

Figura 14: Local que delimita a área da pesquisa. Rua: Alto Antonio Felix em Nova descoberta, 25 L. 0287898. UTM: 9114036; Foto: Dario Galdino, (2010)
Os mercados e comércio locais (Figura 15) se protegem com a milícia já que o poder constituído pouco pode fazer para deter a onda de assaltos e desconhecem o espaço geográfico para a incursão necessária quando no encalço dos meliantes. Como esses comércios existem outros na mesma situação.


Figura 15. Mercadinho mini-preço, local onde se fixam os milicianos. 25 L.0287884. UTM: 9113878; Foto: Dario Galdino (2010).
Normalmente as milícias agem como segurança de mercadinhos ou com apoio de seus donos, para fazer "justiça".
A fotografia corresponde a um dos espaços servidores de pontos comerciais de drogas, pois faz ligação com a Rua principal (Francisco Passos) o, que é desconhecida das autoridades facilitando o exercício criminoso. (Figura 16)



.Figura 16: Rua: Autazes. Em Nova Descoberta. 25 L.0287742.UTM : 9113728 ; Local usado para consumo de drogas, Foto: Dario Galdino (2010).

O encontro entre a Rua: Autazes com segunda travessa alto do buriti é espaço usado para homicídios e uso sistemático de drogas. O espaço serve como ponto de distribuição de drogas, pois nele existe saída para outras localidades e bairros adjacentes o que não permite a utilização de viaturas para e perseguição dos meliantes.


Figura 17: Rua Francisco Passos, em Nova Descoberta, 25 L. 0287660. UTM: 9113636; local por onde trafegam os traficantes e usuários. Foto: Dario Galdino, (2010).


Em cada foto está representado um espaço onde ocorre ação criminosa, sendo também um território onde se prolifera o comércio de drogas e muitas vezes sendo usado para fins aqui pesquisados. O não conhecimento das autoridades constituídas da Geografia espacial da área em questão permite uma ação pontual dos criminosos estabelecidos. O tráfico de entorpecentes, a exploração de crianças, a associação dos milicianos com os mesmos faz com que a área da pesquisa seja um dos mais violentos da cidade recifense

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A apresentação do bairro é longitudinal em seus primeiros quilômetros, ou seja, no recorte pesquisado do bairro, o que permite uma observação melhor das problemáticas apontadas na pesquisa e que uma ação organizada, integrada e preventiva poderá criar um conjunto de possibilidades para o recrudescimento das atitudes marginais encontradas.

Desde a origem de Nova Descoberta como parte da floresta atlântica passando por um processo de ocupação e urbanização. Na região constata-se o aumento da erosão em suas colinas o que provocou diversos desastres com muitas vitimas fatais o fenômeno poderia ter sido evitado se a ocupação fosse ordenada e planejada por organismos públicos de planejamento estrutural.

Ao pesquisar a área observa-se a carência da mesma, em infra-estrutura e bens culturais e sociais. A forma desordenada da ocupação espacial e os porquês dos acidentes pretéritos em suas encostas que deslizaram, assim como em sua parte de ocupação mais recente e como essa forma coopera para a violência dos aspectos incisivos dessa pesquisa.

O território do morro, sua ocupação, a falta de órgãos para gestar suas necessidades, o desalinho de suas ruas, seus canais com lixos, sua educação de baixa qualidade fazem parte do cotidiano espacial local desde o inicio da Rua Nova descoberta, até seu término na Avenida Vereador Otacílio de Azevedo.

As instituições estabelecidas foram desde a formação do bairro, sua fonte de educação e profissionalização, assim como de cidadania e aprendizado democrático, e efervescência política durante o regime militar. A ajuda a mulher a conscientização da legislação e seus direitos foram ensinados por essas instituições estabelecidas no bairro.
Atualmente a área pesquisada é um local de índice alarmante de violência urbana com uso constante de drogas, ação de milícias na ordenação de seu espaço e na gerência da "lei" nos locais onde as autoridades não estão presentes cotidianamente por falta de ruas e pela dificuldade de acesso, fato que reverbera na economia local.

A organização do espaço e sua administração são efetuadas por pessoas que reivindicam para si o papel designado ao estado formado assim as redes geográficas estabelecidas com sua diversificada atuação na forma de como deve a "Lei" ser estabelecida e com o uso de território com distintos usos de acordo como os horários estabelecidos pelos mesmos.

A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma constante nas diversas ruas que dão acesso ao bairro e ao espaço pesquisado, em horários que divergem de acordo com o do dia da semana e de forma diversificada na exploração das mesmas. Os comércios de bares na madrugada em locais de difícil acesso colaboram para a infâmia praticada por alguns elementos da comunidade, sendo assim meninos e meninas são abusados por miserabilidade ou por serem usuários de drogas ou informantes dos milicianos.

A milícia tem um poder e um acordo tácito com o comércio local através dos quais os primeiros fazem o dever do estado no policiamento e os segundos cooperam com armas e trabalho para os que servem aos milicianos, fazendo uma dupla de ação contra o criminoso local, mas também contra qualquer que queira se insurgir conta os mesmos fazendo com que a população viva em constante assombro. Muitas vezes com o apoio de pessoas ligadas a lei de forma institucionalizada.

As drogas são fator de desagregação em todo ambiente e espaço pesquisado incidindo quando de sua presença no aumento de crimes, outro fator associado à mesma é como ela pode se mescla as outras atividades delituosas no espaço da pesquisa e no bairro como toda sua ação é perigosa e exige uma atenção especial das autoridades na área em que a pesquisa foi realizada por exercer forte pressão sobre os mais jovens e sua famílias, conseqüentemente se tona um caso de saúde pública.
As fotos representam os espaços e territórios onde ocorrem os crimes observados na pesquisa o que permite estudos posteriores em aplicação da legislação nos ocupantes dos mesmos. Igualmente, a pesquisa pode constatar a inoperância da segurança publica a falta de profissionais de saúde, a falta de espaços para lazer, a falta de perspectivas na população mais jovem, que tem no traficante o profissional bem sucedido assim como o exemplo do funcionário corrupto que coaduna sua ação com os criminosos.
A busca de soluções deve ser uma constante e a união das distintas partes da sociedade é necessária para o combate efetivo dos males ali observados, pois a educação deve ser o meio ainda indicado para dirimir os problemas do recorte estudado.

A pesquisa realizada tem importância ímpar para o desenvolvimento do bairro e no combate aos entorpecentes, assim como na luta contra a exploração de crianças e adolescentes e na desarticulação das milícias implantadas.
A ciência geográfica cooperou com suas definições e conceitos de como é construído o espaço e o trabalho realizado nele, como se dá a relação entre as distintas partes da sociedade. Tendo seu uso como "alfabetizador" da sociedade com relação ao espaço e a utilização do mesmo de maneira coerente.
A busca constante de um uso melhor do espaço na sociedade deve ser uma constante na lide profissional de um geógrafo e da ciência geográfica, sendo aproveitada para esse fim a experiência pretérita de renomados geógrafos e de sua utilização da ciência em pauta em todo o campo onde ela possa combater melhorar o dinamismo espacial, educar o homem e sua ação sobre o espaço territorializado.



REFERÊNCIAS


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Moradores antigos. (Entrevistados)
Nadir e Natércio de Lima Cabral ? moradores da Rua Nova descoberta Nº 51
Iranildo, Professor de Historia e Geografia graduado pela UFRPE e pós-graduado nas mesmas disciplinas acima citadas e mestrando nas disciplinas, pela mesma instituição
Luiz Bazante da Hora - morador da rua nova descoberta N°1098. (Falecido)