Nossas necessidades

Marcos 3.7-12

Multidões são atraídas quando necessidades humanas encontram satisfação.

Jesus as satisfazia.

Mas o que motivava esta multidão procurar Jesus?

v.8: ...uma grande multidão, sabendo quantas coisas Jesus FAZIA, veio ter com ele.

- Qual é a maior necessidade do ser humano?

Palavra necessidade, ampla gama ... atende a muitas necessidades.

1. Necessidade como hipérbole para desejo

Por um lado, necessidade é às vezes uma maneira caprichosa de expressar um desejo. Por outro lado, a idéia de satisfazer desejos se sobrepõe à de suprir necessidades biológicas.

2. Necessidades biológicas (básicas) Mt 6.25-34

Temos necessidades que precisam ser supridas para não morrermos fisicamente (comer, beber, vestir, morar...)

3. Necessidades psicológicas - Jo 4

Assim temos também necessidades psicológicas que precisam ser satisfeitas para não nos tornarmos psicologicamente debilitados.

Felicidade, estabilidade psicológica e comportamento social construtivo dependem da satisfação dessas necessidades. A lista das supostas necessidades psicológicas pode ser longa, mas geralmente contém desejos vinculados a como avaliamos a nós mesmos ou ao que obtemos por meio do relacionamento com outros: significado, aceitação, respeito, admiração, amor, pertencer, auto-estima, e assim por diante.

4. Necessidades espirituais

Necessitamos de justiça e santidade. Necessitamos de perdão e poder para mudar. Necessitamos de Jesus. Necessitamos de Sua graça redentora e sustentadora para podermos viver. Somos pessoas desesperadas e necessitadas – quer o saibamos ou não. Somos completamente incapazes de pagar a Deus o preço dos nossos pecados e, por nós mesmos, somos incapazes de agradá-lO e alcançá-lO (Rm 3.10-12).

De fato, a essência da fé é a consciência de que temos necessidade de Deus e dependemos dEle:

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6).

5. Necessidade de restauração da imago Dei

 Deus é uma pessoa e nós também somos pessoas. Ser uma pessoa significa ter anseios profundos por relacionamento: “Todos temos um anseio que Deus colocou em nós quando nos criou: gozar relacionamentos livres de tensões, caracterizados por uma terna aceitação mútua e por oportunidades de sermos importantes para outrem”.

Anseios profundos são a essência que define tanto Deus como o homem. Por sua vez, esses anseios não são meros sentimentos. São definidos como uma experiência subjetiva, mais profunda que a emoção.   

Quanto a Deus, significa que Ele existe em relacionamento harmonioso consigo mesmo - Pai, Filho e Espírito Santo. Também significa que Ele “anseia pela restauração do relacionamento com Seu povo”. (Jo 17.20-21)

Quanto a nós, esse anseio é mais passivo. Ele significa que “cada um de nós deseja fervorosamente que alguém nos veja da forma exata como somos, com todos os nossos defeitos, e ainda nos aceite”. (Rm 8.32) 

Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente.

6. Necessidade de “bênçãos” por parte de Deus

Desde a queda de Adão o homem procura satisfazer os próprios desejos em lugar de buscar a Deus. Os anseios básicos são a explicação principal para os sentimentos e o comportamento do homem. Como lidar com os anseios é a pergunta fundamental da psique humana, e esta pergunta é respondida de duas maneiras.

A. As pessoas (inclusive cristãos) agem independentemente de Deus e buscam satisfação por conta própria em outros objetos ou pessoas (naquilo que elas pensam serem suas maiores necessidades, ainda que seja apenas satisfazer meros desejos da alma humana), ou

B. Olham para Cristo em atitude dependente e encontram nEle satisfação plena dos anseios mais legítimos do nosso ser (em grau de importância: relacionamento com Deus, com o próximo, satisfação pessoal e necessidades materiais) –

Mt 11.28-30

Então, qual é a nossa necessidade real?

Em nenhum lugar as Escrituras dizem que necessitamos de relacionamento para satisfazer desejos. Muito menos que temos um anseio por significado e valor dado por Deus.

As Escrituras mostram que necessitamos de Deus, mas necessitamos dEle como imagem que devemos refletir, necessitamos dEle porque temos necessidades espirituais, e necessitamos dEle para o próprio fôlego de vida.

As Escrituras também mostram que necessitamos uns dos outros, mas não para preencher um vazio. Necessitamos uns dos outros para refletir a glória de Deus, visto que a comissão que Ele deu a Seu povo deve ser cumprida corporalmente (Rm 12.5; I Co 12.12-27).

A busca desesperada desta multidão em Mc 3.7-10 era por cura física sim, mas motivada pelo anseio de livrar-se do castigo de estar sob maldição divina (v.10: enfermidade = flagelos, mastiga no grego), fruto de uma interpretação distorcida do AT. As maldiçoes contidas na quebra da aliança eram aplicadas individualmente: “se a pessoa sofre com pobreza ou alguma enfermidade é porque ela tem pecado”. O oposto também era pregado: “saúde e riqueza significava paz com Deus”.

Traço desta teologia equivocada das Escrituras também é notado em nossa cultura gospel atual. O problema hoje, porém, é mais grave porque há orientações muito mais claras no NT sobre o proceder cristão: seja pessoal, seja interpessoal, entre seres humanos ou com Deus, segundo ensinos e exemplo do próprio Jesus (ver, por exemplo, passagem paralela em Mt 12.14-21).

Quando o anseio é unicamente por cura física, prosperidade material e bem estar pessoal, demonstra quão debilitados em conhecimento e comunhão, e quão longe do plano e perspectiva de Deus estão estes ditos cristãos (I Co 3.1-3).

Deveríamos ter uma visão de vida muito mais sublime, pois já nos foi revelada; um alvo muito mais elevado e nobre a perseguir (Fp 3.12-14). Se não o fazemos é porque ainda persistimos em olhar apenas para nosso umbigo e nada além de nós. Manifestamos, assim, muito mais as obras da carne com nossas vidas do que o fruto do Espírito.

Neste sentido, Deus existe apenas para servir meus desejos e suprir minhas necessidades. Nada mais.

Outro perigo: o sentimento de que na abastança somos abençoados por Deus porque o agradamos. E por estarmos supridos física e materialmente, um sentimento de satisfação pessoal inunda nosso ser, pois atingimos a plenitude que nossa carne tanto almeja. Alguns insistem pregar que estas são as “promessas de Deus” que devemos agarrar.

Esta falsa idéia de benção divina fatalmente nos leva a um calamitoso afastamento de Deus, ainda que um sentimento de gratidão pela saúde e riqueza material persista em nos iludir, mas que prova apenas uma coisa: que realmente nossa idéia é que Deus está aí para me servir.

Qualquer pessoa que busque a Deus por qualquer motivo que não seja Ele mesmo, poderá encontrar qualquer coisa que desejar. Menos a Deus.