O pequeno e acolhedor Hotel Victor Hugo na Rue Copernic estava em reforma quando chegamos. Tapumes e cheiro de tinta fresca. Na recepção encontramos o Jean Marc, um simpático negro da Martinica, que se divertiu muito quando lhe falei sobre a marcha de carnaval chamada Chiquita Bacana, que fez muito sucesso nos anos cinqüenta.  Aliás, todo o pessoal de serviço do hotel é composto de imigrantes indianos, africanos e outras procedências. Isso também podia ser observado em muitos restaurantes, Cafés e lojas.

               Depois de um delicioso café da manhã, com queijos deliciosos, baguetes fresquinhas, sucos e croissant e devidamente agasalhados, saíamos pelas ruas parisienses em busca de aventuras ou desventuras. A rue Copernic, homenagem ao astrônomo, tem uma placa com alguns dados do homenageado, como data de nascimento e morte e sua profissão. É assim em quase todas as ruas com nomes de personagens históricos, coisa que nossas cidades poderiam imitar, sem constrangimento.  Na Copernic, tem, também, um pequeno mercado de um indiano onde se pode comprar de tudo ou quase, como queijos, frutas, biscoitos e vinhos. As frutas parecem velhas e não tem aquele frescor das nossas quitandas e mercados. Como é uma cidade cosmopolita, tem restaurantes chineses e japoneses, além do Bistrô XVI do lusitano Antônio, que serve além de pratos franceses, alguns com um típico toque português.

               O Hotel fica a cinco minutos da estação do Metro e também muito próximo do Arco do Triunfo na Praça Charles De Gaulle, situação que permite explorar a cidade em todas as direções. Não se pode dizer que Paris seja uma cidade exemplo de limpeza, mas não a considero suja como São Paulo. Uma coisa que é facilmente observada é a quantidade de dejetos de cães pelas ruas e praças. Não vi nenhum francês passeando com seu cão munido de um saco plástico para recolher a sujeira como já é comum no Brasil ou pelo menos em São Paulo. Nos primeiros dois dias não havia percebido, pois olhava mais para o horizonte e para a peculiar arquitetura dos prédios e só me dei conta quando vi as lembranças nas solas dos sapatos.

               Fomos alertados sobre o risco de batedores de carteiras e por isso cuidávamos de colocar dinheiro e cartões em locais bem seguros. Mas durante nossa permanência não presenciamos nenhum caso de latrocínio pelas ruas. Um golpe bastante comum na cidade, que parece algo ingênuo para nós brasileiros, é o do “anel”. Consiste em uma pessoa simular que encontrou um anel no chão e perguntar para algum turista se lhe pertence. Os incautos, pensando tratar-se de algo valioso, podem oferecer uma “recompensa” para ficarem com a jóia, obviamente falsa. Em duas ocasiões fomos abordados com essa trapaça, mas fizemos de conta que não tínhamos entendido e seguimos em frente.

               Outro golpe é o do pintor aquarelista. Eles se posicionam em locais estratégicos, próximo ao Louvre e outros museus com algumas “aquarelas”, um pequeno cavalete e uma caixa de pincéis e tintas. Quando os turistas se aproximam eles dizem que estão vendendo muito barato por causa do frio e por estarem precisando de dinheiro. Dizem que são originais e que pintaram há pouco tempo. Se alguém tem dúvida sobre a originalidade, passam saliva no dedo e esfregam na pintura que desprende tinta. É óbvio que eram de impressão caseira, mas vimos turistas comprando, crentes de que eram aquarelas originais pintadas recentemente. Sem dúvidas existem vários locais em que obras de arte podem ser compradas, mas obviamente não baratas.

               O trânsito é quase tão maluco como o de São Paulo, mas menos bagunçado do que na Itália. Assim, convém, ao turista, não confiar nos motoristas ao atravessar uma faixa de pedestre. Vimos por diversas vezes, motos e carros passando com os semáforos fechados. Outro detalhe curioso em Paris, é que não existem estacionamentos públicos ou nos prédios residenciais. Os carros ficam mesmo nas ruas. Isto é explicado pelo fato dos prédios, tombados pelo patrimônio histórico, terem sido construídos no início do século passado época em que ter automóvel era ainda uma raridade. Quase em frente ao Hotel Victor Hugo, um belo Porsche passa as noites ao relento em frente ao prédio do seu proprietário.

               Enfim, de Paris, uma cidade tipicamente feminina, apesar dos seus defeitos e suas qualidades como todas as cidades, sempre guardarei boas lembranças. Sentirei sempre saudades dos seus Cafés, dos seus museus, dos seus monumentos, das suas ruas, da sua chuva, das suas belas e elegantes mulheres. “Nós sempre teremos Paris”, poderão dizer os seus visitantes quando as últimas luzes se apagarem, tal como Rick Blaine, personagem de Casablanca ao responder a sua amada Ilsa Lund, quando essa lhe pergunta na despedida: “E nós?”