NOMES PROEMINENTES DA CRUZ VERMELHA BRASILEIRA
Dr. Wagner Paulon
2007

OSWALDO CRUZ

Filho do médico Bento Gonçalves Cruz e de Amália Taborda de Bulhões, Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu em 1872 e viveu em sua cidade natal, São Luís do Paraitinga até 1877, quando seu pai transferiu-se para o Rio de Janeiro.

Aos 15 anos, ingressou na Faculdade de Medicina e antes de concluir o curso já publicara dois artigos sobre microbiologia na revista Brasil Médico. Em 1892, formou-se Doutor em Medicina com a tese "A veiculação pelas águas".

Cruz embarcou em 1896 para o Instituto Pasteur de Paris, que reunia os grandes nomes da ciência da época e onde foi especializar-se em bacteriologia.

Ao regressar da Europa, Oswaldo Cruz encontrou o porto de Santos assolado por violenta epidemia de peste bubônica e logo se engajou no combate à doença. Para fabricar o soro antipestoso, foi criado a 25 de maio de 1900, o Instituto Soroterápico Federal, instalado na antiga Fazenda de Manguinhos. Na direção geral o Barão de Pedro Affonso, na direção técnica o jovem bacteriologista Oswaldo Cruz.

Em 1902, Cruz assumiu a direção do novo Instituto, que ampliou suas atividades, dedicando-se também à pesquisa básica e aplicada e à formação de recursos humanos. No ano seguinte foi nomeado Diretor-Geral de Saúde Pública e utilizou o Instituto como base de suas campanhas de saneamento. Em pouco tempo conseguiu debelar a peste bubônica através do extermínio dos ratos, cujas pulgas transmitiam a doença.

O combate à febre amarela apresentou vários problemas. A maior parte dos médicos e da população acreditava que a doença era transmitida pelo contato com as roupas, o suor, o sangue e outras secreções de doentes. Oswaldo Cruz, porém, era adepto da teoria que o transmissor da doença era um mosquito.

Assim, suspendeu as desinfecções, o método tradicional, e criou a polícia sanitária e as brigadas mata-mosquitos. Essas brigadas percorriam as casas e ruas, eliminando os focos de insetos e evitando as águas estagnadas, onde se desenvolviam as larvas de mosquitos. Sua atuação provocou violenta reação popular.

Em 1904, a oposição a Oswaldo Cruz atingiu o seu ápice. Com o recrudescimento dos surtos de varíola, o sanitarista tentou promover a vacinação em massa da população. Os jornais lançaram violenta campanha contra a medida. O Congresso protestou e foi organizada uma Liga contra a Vacinação Obrigatória. No dia 13 de novembro estourou a rebelião popular, e no dia 14, a Escola Militar da Praia Vermelha se levantou. O Governo derrotou a rebelião, mas suspendeu a obrigatoriedade da vacina. Contudo, ele acabou vencendo a batalha: em 1907 a febre amarela estava erradicada do Rio de Janeiro. Neste ano também recebeu a medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim.

Em 1909, deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública e passou a dedicar-se exclusivamente ao Instituto que agora tinha o seu nome.

Em 1913, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1915, por motivos de saúde, abandonou a direção do Instituto Oswaldo Cruz e mudou-se para Petrópolis. Ainda foi eleito Prefeito da cidade, cujo projeto político englobava um plano de urbanização que não viu implantado, pois faleceu em fevereiro de 1917, aos 44 anos, sofrendo de crises de insuficiência renal.

A TRAJETÓRIA DA PESTE

O final do século XIX viu ressurgir um flagelo que desde épocas imemoriais assolava de tempos a tempos a humanidade. A primeira verdadeira pandemia de peste, no VI século, atingiu todo o mundo romano. O grande ciclo do século XIV aniquilara um quarto da população da Europa. Este terceiro grande ciclo, iniciado na província chinesa de Yunnan com a rebelião muçulmana de 1855 e propagado lentamente pelos deslocamentos dos refugiados, atingiu Cantão e Hong Kong em maio de 1894. Os portos do sul da China passaram a funcionar como centros de distribuição da peste, que tinha agora entre suas áreas potenciais de expansão os portos marítimos do Novo Mundo. É assim que, alcançando a América do Sul pelo Paraguai e Argentina, aportou à cidade de Santos em outubro de 1899.

Mas desta vez não estava nas preces e procissões a tábua de salvação das massas desprotegidas. Ainda em 1894 tinha sido descoberto o agente etiológico em Hong Kong, primeiro pelo pesquisador suíço Alexandre Yersin, do Instituto Pasteur, que o denominou Pasteurella pestis (hoje Yersinia pestis) em homenagem ao Mestre, e pouco depois pelo japonês Shibasaburo Kitasato, discípulo de Robert Koch. O mesmo Yersin junto ao seu colaborador Henri Carré e também o médico russo W. M. Haffkine, já haviam preparado as primeiras vacinas que, embora precisassem de aperfeiçoamento, despontavam como armas profiláticas.

CRIAÇÃO DO INSTITUTO SOROTERÁPICO

Foi nessa emergência que o governo federal designou Oswaldo Cruz, recém-chegado de longo estágio em Paris, principalmente no Instituto Pasteur, para juntamente com Adolpho Lutz e Vital Brazil, designados pelo governo de São Paulo, verificar a real etiologia da epidemia de Santos. Confirmado oficialmente que "a moléstia reinante em Santos é a peste bubonica", decidiram as autoridades sanitárias instituir laboratórios para produção de vacina e soro contra a peste: Instituto Butantã, em São Paulo, e no Instituto Soroterápico Municipal no Rio de Janeiro.

O Instituto Soroterápico resultou de sugestão do Barão de Pedro Affonso - cirurgião de reconhecida competência, fundador do Instituto Vacínico, primeiro laboratório produtor de vacina antivaríolica no país - ao Prefeito do Distrito Federal, Cesário Alvim, que cedeu para instalação do novo serviço a Fazenda de Manguinhos, convenientemente situada longe do centro urbano. Tencionava o Barão contratar um especialista do Instituto Pasteur para a direção técnica, mas por indicação de Émile Roux ofereceu o cargo a Oswaldo Cruz.

De posse da lista de material a ser adquirida, organizada pelo novo diretor técnico, partiu o Barão para a Europa. Em Paris conseguiu contratar apenas o veterinário Henri Carré, colaborador de Yersin na produção da primeira vacina antipestosa; é que, o governo brasileiro só o autorizara a oferecer contratos pouco atraentes além de inoperantes, pelo prazo máximo de seis meses.

Instalados os laboratórios, iniciaram-se os trabalhos, sem qualquer cerimonial, em 25 de maio de 1900, sob o peso de ingente tarefa a ser cumprida, além dos diretores administrativo e técnico, por três profissionais - o Coronel-Médico Ismael da Rocha, bacteriologista do Serviço de Saúde do Exército; o médico Henrique de Figueiredo Vasconcellos, assistente do Instituto Vacínico; e o veterinário H. Carré - e um estudante de medicina, Ezequiel Caetano Dias. Mas logo se viu a Prefeitura impossibilitada de continuar mantendo a nova instituição, que foi transferida para a Diretoria de Saúde Pública do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, e inaugurada oficialmente em 23 de julho como Instituto Soroterápico Federal.

Pouco depois, a equipe inicial era desfalcada de dois componentes: Ismael da Rocha, chamado de volta para o laboratório do Exército, e Carré, que regressava à França com problemas de saúde, segundo uns, ou com receio da febre amarela, segundo outros. Mas a competência dos restantes já estava comprovada, sendo julgada necessária apenas a contratação de um estudante de medicina, Antônio Cardoso Fontes, e de alguns auxiliares.

Nenhum dos cinco remanescentes tinha a mínima experiência em vacina ou soro contra a peste. Apenas Oswaldo Cruz havia visitado a seção de soros do Instituto Pasteur, mas seu interesse estava no preparo da antitoxina diftérica. Tanto em relação à vacina quanto ao soro, os dados disponíveis na escassa literatura careciam de detalhes precisos que permitissem seu preparo fora dos laboratórios produtores.

PRIMEIRAS PRODUÇÕES RELEVANTES

Utilizando inicialmente o bacilo que isolara em Santos e aperfeiçoando os métodos conhecidos, conseguiu Oswaldo Cruz que o recém-criado Instituto produzisse, apenas seis meses depois de sua fundação, uma vacina e um soro que logo seriam reconhecidos internacionalmente como excelentes (segundo Émile Roux) e entre os mais eficazes então existentes (segundo W. Kolle e R. Otto, do Instituto de Doenças Infecciosas de Berlim - diretor Robert Koch). O "estado da arte" a respeito foi exposto em extenso artigo no Brazil-Medico em 1901, onde são detalhados "os argumentos e factos que orientaram o Instituto na escolha do processo que adotou", o método de fabricação, a técnica da vacinação, as vantagens da vacina e os cuidados que deviam acompanhar sua aplicação.

Entretanto, a primeira publicação do novo Instituto, também no Brazil-Medico de 1901, nada tem a ver com a peste, intitulando-se "Contribuição para o estudo dos culicidios do Rio de Janeiro, pelo Dr. Oswaldo Gonçalves Cruz (trabalho do Instituto de Manguinhos)". Revela o inconformismo do autor com a idéia de uma instituição meramente destinada à fabricação de soros e vacinas. Há menos de três anos (novembro de 1898) os italianos Amico Bignami, Giovanni Battista Grassi e Giuseppe Bastianelli haviam demonstrado a transmissão da malária por mosquitos anofelinos, devia pois o Instituto, além do absorvente compromisso que assumira, chamar a si a tarefa de reconhecer os representantes brasileiros desse grupo zoológico. O Anopheles lutzi, espécie nova descrita nesse trabalho, sabe-se hoje que ocorre do Amazonas ao Rio Grande do Sul, e também na Bolívia, no Paraguai e na Argentina. Essa publicação inaugura o estudo da entomologia médica brasileira por pesquisadores nacionais, sendo seguida por três outras, até 1907. Todas elas aparecem como trabalhos do autodenominado "Instituto de Manguinhos". Nesse ínterim são publicadas mais cinco contribuições de Arthur Neiva, Carlos Chagas e Antônio Peryassú sobre culicideos do Brasil, firmando os alicerces de uma escola altamente produtiva de entomologistas e acarologistas que se desenvolveria até os dias atuais.

A intenção de fazer do Instituto um centro de investigação científica original que fundamentasse as atividades aplicadas transparece nas publicações de Oswaldo Cruz. Com exceção de duas - "A vacinação antipestosa"(1901) e "Dos acidentes em soroterapia"(1902), assuntos inerentes à finalidade oficial da instituição e que aparecem como trabalhos do "Instituto Soroterápico Federal (Instituto de Manguinhos)", todas as demais referem apenas "Instituto de Manguinhos". Mesmo um artigo sobre "Peste", de âmbito abrangente (epidemiologia, microbiologia, transmissão, sintomatologia, anatomia patológica, diagnóstico, tratamento e profilaxia), não lidando especificamente com soros e vacinas , é "Trabalho do Instituto de Manguinhos". Essa referência continua aparecendo mesmo nas publicações posteriores à mudança do nome para Instituto Oswaldo Cruz.

Ainda durante a gestão do Barão como diretor administrativo (posto ao qual renunciou em dezembro de 1902), começam a acorrer ao Instituto estudantes de medicina, em busca de estágio ou de orientação para suas teses, então indispensáveis para a graduação. Outros temas de pesquisa foram sendo rapidamente adotados em diversos domínios: hematologia, bacteriologia, protozoologia, virologia, imunologia e helmintologia. Inicia-se então radical mudança no panorama acadêmico do Rio de Janeiro: em vez das habituais compilações baseadas na literatura corrente, surgem em número crescente monografias baseadas em pesquisas originais que só excepcionalmente versam sobre a peste. Nomes que ilustrariam a ciência biomédica nacional tiveram sua formação aperfeiçoada e direcionada sob a orientação de Oswaldo Cruz no "Instituto de Manguinhos". Entre outros, Carlos Chagas, Ezequiel Dias, Antônio Cardoso Fontes, Eduardo Rabello, Paulo Parreiras Horta, Henrique de Beaurepaire Aragão, Affonso MacDowell, Henrique da Rocha Lima, Raul de Almeida Magalhães, Arthur Neiva, Antônio Gonçalves Peryassú, José Gomes de Faria, Alcides Godoy, Arthur Moses para referir somente os autores de algumas entre as 23 teses produzidas de 1901 a 1910. O fato de constarem desta lista não apenas nomes que ingressaram no quadro de pesquisadores do Instituto, mas também outros que fora dele tornaram-se proeminentes em suas especialidades, mostra a influência do Instituto na renovação científica do país.

Além das teses, durante essa mesma fase produz o Instituto 120 publicações originais em periódicos nacionais (a grande maioria no Brazil-Medico) e em revistas internacionais altamente seletivas, como Centralblatt für Bakteriologie, Biologischen Zentralblatt, Archiv für Protistenkunde, Archiv für Schiffs und Tropen-Hygiene, Zeitschrift für Hygiene und Infektionskrankheiten, Münchener Medizinische, Annales de l’Institut Pasteur, Comptes Rendus de la Société de Biologie e Bulletin de la Société de Pathologie Exotique. Por essa época a lista de revistas científicas assinadas para a Biblioteca do Instituto ultrapassava 420 títulos.

NASCE O IOC

Até 1907, quando o Instituto foi premiado com a grande medalha de ouro do Congresso Internacional de Higiene e Demografia, em Berlim, sua produção científica, divulgada pelos periódicos mencionados, resultava do trabalho de jovens pesquisadores que nunca tinham freqüentado outro centro de investigação. Só depois daquele evento cientistas renomados como Stanislas von Prowazek, Gustav Giemsa e Max Hartmann manifestaram interesse em trabalhar nos laboratórios de Manguinhos, aqui permanecendo por longo tempo colaborando em estudos sobre varíola, citologia, soro antidiftérico, espiroquetose, ciliados, amebas, triconinfas, hemogregarinas e outros protozoários.

O impacto da premiação do Instituto foi decisivo em outros aspectos. O projeto que transformava o Instituto Soroterápico Federal em "Instituto de Patologia Experimental", adormecido há longo tempo no Congresso, foi rapidamente aprovado e sancionado pelo presidente Affonso Penna, como Decreto n° 1812, em 12 de dezembro de 1907. Ao ser aprovado pelo Governo o respectivo regimento, em 19 de março de 1908, foi oficialmente adotada a denominação "Instituto Oswaldo Cruz".

Inaugurado em 1908, o Curso de Aplicação foi a primeira escola brasileira de pós-graduação, verdadeira inovação no panorama científico nacional. Nele se ensinava e trabalhava, durante dois anos, sobre métodos de investigação e experimentação em microscopia, microbiologia, imunologia, física e química biológica e parasitologia sensu lato.

Foi assim que especificamente destinado à fabricação de soro e vacina contra a peste e à campanha contra essa endemia, o Instituto Soroterápico formou um pequeno grupo que rapidamente absorveu e ampliou o conhecimento científico e tecnológico necessário ao sucesso da empresa. De posse desse know-how, uma estrutura medíocre limitar-se-ia a uma produtividade rotineira, de grande utilidade social mas confinada à sua finalidade imediata. Quis o acaso, porém, que à frente do empreendimento estivesse alguém preparado para entender que esse bem sucedido primórdio científico e tecnológico podia ser ampliado para abranger outros campos da patologia nacional. Com um desenvolvimento científico nivelado aos mais altos padrões da época, associado à transmissão do conhecimento através do Curso de Aplicação e à produção de vários agentes profiláticos, terapêuticos e diagnósticos, já em 1909 o Instituto Oswaldo Cruz havia assumido, numa seqüência inversa, as tarefas que hoje caracterizam a moderna Universidade: ensino, pesquisa e extensão. E, para melhor assegurar a difusão do conhecimento gerado em seus laboratórios, pôs em circulação a partir de 1909 as "Memórias do Instituto Oswaldo Cruz", atualmente o mais antigo periódico biomédico da América Latina.

OSWALDO CRUZ
DIPLOMA DA CRUZ VERMELHA ALEMÃ 15 DE OUTUBRO DE 1932

Cientista brasileiro, nasceu no dia 5 de agosto de 1872, em São Luiz de Paraitinga, em São Paulo, faleceu em Petrópolis, Rio de Janeiro no dia 11 de fevereiro de 1917. Formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Aperfeiçoou-se no Instituto Pasteur (Paris), apresentou ótimo trabalho sobre toxicologia. No Rio de Janeiro foi nomeado Diretor da Liga do Soro Terapêutico em 1901. Foi nomeado Diretor do Serviço Sanitário do Rio de Janeiro em 1903; conseguiu meios de combater o carbúnculo. Graças a capacidade e a energia deste ilustre cientista, foi possível a extinção da terrível doença chamada febre amarela. Em 1907 representou o Brasil no Congresso Internacional de Higiene de Berlim. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Cavalheiro da Legião de Honra da França. Em 1908, novo flagelo público veio desafiar o ânimo do grande cientista; a epidemia da varíola. Osvaldo Cruz foi convidado a sanear a região atingida pela epidemia, graças aos seus esforços, o número de mortes foi sensivelmente reduzido. Muito deve a humanidade ao gênio desse grande cientista, que não viu sacrifícios na sua luta contra a doença. Escreveu: “A Água como Vínculo dos Micróbios” (tese de doutoramento), e “Relatório Sobre a Moléstia no Porto de Santos”, A Vacina Antepestos a”, “Dados de Acidentes em Soroterapia”. Seu nome completo é Osvaldo Gonçalves Cruz.

Oswaldo Cruz (1872-1917)

Oswaldo Cruz, óleo de Auguste Petit. Col. Ana Oswaldo Cruz Penido. Rio. GB.

O médico Oswaldo Cruz combateu várias epidemias no início do século passado.

O túmulo dos estrangeiros. Essa foi a expressão que deu fama internacional à cidade do Rio de Janeiro na passagem do século XIX para o século XX. Entre 1897 e 1906, quatro mil imigrantes morreram de febre amarela - moléstia transmitida por mosquito em áreas urbanas e silvestres - na então capital do país.

O triste dado nos remete à época da juventude de um dos maiores nomes da história da ciência brasileira: Oswaldo Gonçalves Cruz, nascido em 5 de agosto de 1872, em São Luís do Paraitinga, pequena cidade do interior do estado de São Paulo.

Oswaldo Cruz formou-se médico na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e especializou-se em Bacteriologia no Instituto Pasteur de Paris. De volta ao Brasil, em 1896, encontrou o porto de Santos contaminado por uma violenta epidemia de peste bubônica, doença que os ratos transmitem ao homem através das pulgas que os infestam, contraindo o bacilo de Yersin. Imediatamente, Oswaldo Cruz engajou-se no combate à doença.

Em 1903, o médico sanitarista foi nomeado Diretor-Geral de Saúde Pública, cargo equivalente ao atual Ministro da Saúde. Criado em 1900, o Instituto Soroterápico Federal foi a base de apoio técnico-científico para Oswaldo Cruz deflagrar suas históricas campanhas de saneamento.

O primeiro grande adversário que Oswaldo Cruz enfrentou foi a febre amarela. Do ponto de vista da saúde pública, Oswaldo Cruz venceu a batalha: em 1907, a febre amarela foi erradicada da cidade do Rio de Janeiro. Foi também o responsável pelo combate à malária na zona de construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, na Amazônia.

Além de médico, Oswaldo Cruz foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 1913, e foi prefeito da cidade de Petrópolis (RJ), em 1916. Faleceu nessa cidade em 11 de fevereiro de 1917, com apenas 44 anos de idade.

A REFORMA SANITÁRIA DE OSWALDO CRUZ

A reforma sanitária que Oswaldo Cruz comandou no Rio de Janeiro do início do século XX foi memorável. Tal iniciativa ocorreu ao mesmo tempo em que o presidente Rodrigues Alves cumpria a promessa de campanha de remodelar a capital da República. O engenheiro Pereira Passos foi o especialista encarregado de realizar a reforma da cidade.

Enquanto Pereira Passos derrubava morros para moldar uma nova fisionomia para a capital, Oswaldo Cruz enfrentava uma verdadeira batalha para salvar a população carioca de diversas doenças graves.

Inicialmente, o médico se aproveitou da reforma urbanística de Pereira Passos, recomendando que se acabassem com as favelas nos morros da cidade. Foi o primeiro choque de Cruz com a população carente.

Já no combate à peste bubônica e à febre amarela, o sanitarista criou a Brigada Mata-Mosquitos, o que causaria nova revolta da população.

A BRIGADA MATA-MOSQUITO

A Brigada Mata-Mosquitos era formada por um grupo de funcionários do Serviço Sanitário que visitava as moradias e exigia das pessoas a eliminação das poças d´água e dos recipientes que acumulavam a água da chuva, objetivando dessa forma acabar com os focos de reprodução dos mosquitos transmissores da febre amarela.

As ações desencadearam novos conflitos com a população, que dificultava a ação dos mata-mosquitos. Estes, acompanhados por policiais, constantemente forçavam a entrada nas residências.

Já no combate à peste bubônica, em virtude da imensa quantidade de roedores que infestava a cidade, Oswaldo Cruz apelou para a ajuda do povo, determinando o pagamento de um tostão para cada rato capturado e levado ao Serviço Sanitário.

Mas as epidemias não paravam de surgir. Em 1904, uma epidemia de varíola varreu o Rio de Janeiro. Depois da internação de 1.800 pessoas no Hospital São Sebastião, o governo enviou ao Congresso projeto reinstaurando a obrigatoriedade da vacinação antivariólica, recuperando a Lei de 1837, que nunca fora posta em prática. Em 31 de outubro de 1904 a Lei de Vacinação e Revacinação contra a Varíola foi aprovada.

Ao saber da aprovação da Lei, a população, junto com parlamentares e associações de trabalhadores, revoltou-se. O lema das autoridades sanitárias era: "Se não vacinar, morre!". Em contrapartida, o da população ameaçava as autoridades: "Se vacinar, mato!".

A chamada Lei de Vacinação Obrigatória previa a obrigatoriedade de atestado de imunização para candidatos a quaisquer funções públicas, para quem fosse viajar ou matricular-se em uma escola.

Os jornais lançaram violenta campanha contra a medida. Em 5 de novembro de 1904 foi criada a Liga contra a Vacina Obrigatória, por políticos de oposição ao governo.

Oito dias depois, os eventos conhecidos como a Revolta da Vacina tomaram corpo. Houve choques da população com a polícia, greves, barricadas, quebra-quebras, tiroteios. No dia seguinte, a Escola Militar da Praia Vermelha aderiu à revolta, mas os cadetes, depois de intenso tiroteio, foram dispensados.

Como resultado dos conflitos, muitas pessoas morreram e foi decretado estado de sítio. No dia 16 de novembro, o governo sufocou a revolta, mas teve de suspender a obrigatoriedade da vacinação.

Sobre o Oswaldo Cruz, leia também:
Revolta da Vacina, de José Carlos Sebe Bom Meihy e Claudio Bertolli Filho. São Paulo, Ática, 1995.
Em 1904, a população carioca reagiu duramente à campanha de vacinação contra a varíola, liderada pelo médico Oswaldo Cruz. Um livro que traça um panorama da época e dos problemas que envolveram a ação do sanitarista brasileiro.

MADEMOISELLE MARIE RENNOTTE

Cabelos loiros, olhos cinzentos, nariz reto, boca mediana, queixo redondo, 160 centímetros de estatura: a descrição padronizada que constava do passaporte concedido a mademoiselle Marie Rennotte pelo consulado belga do Rio de Janeiro, em junho de 1885, pouco diferiria daquela registrada pelos documentos das muitas outras professorinhas européias que ainda aportavam na capital brasileira no final do Império à procura de trabalho depois de uma penosa viagem que implicava, na prática, a troca da dura realidade vigente em seu tumultuado e superpovoado Velho Mundo de origem pelos sonhos de auto-realização em uma jovem e promissora América.

O que distingue essa moça de tantas outras, no entanto, é o singular percurso de sua vida nesse processo de auto-realização. Ao contrário da imensa maioria de suas colegas imigrantes, cujos nomes caíram no esquecimento, Marie Rennotte deixaria marcas profundas na São Paulo da virada do século XIX para o XX: depois de atuar como revolucionária pedagoga no interior da então província paulista dos anos 1880, iria graduar-se em medicina, instalando-se na capital paulista a partir de 1895 como obstetra e ginecologista, tornando-se pioneira entre as mulheres no exercício local da profissão médica. Em uma época em que a incipiente saúde pública limitava-se à preocupação mais imediata com o saneamento urbano, e em que a prática da medicina raramente excedia o plano da intervenção personalista nas camadas mais privilegiadas da sociedade, ela perseguia objetivos mais essenciais, inspirados nos valores libertários que haviam regido sua atuação como pedagoga.

A história dessa mulher incomum, cujo sesquicentenário de nascimento se comemorou em 2002, começa a ser resgatada, existindo ainda muito por ser esclarecido, tanto a respeito de sua vida como do complexo contexto social em que atuou — tarefa árdua que exigiria investigações em diferentes países e a observação de fontes impressas ou manuscritas que tendem a desaparecer com rapidez.

O presente trabalho, de dimensões modestas, tem, portanto, o duplo objetivo de assinalar a efeméride do sesquicentenário de Marie Rennotte e de fornecer os dados já disponíveis a seu respeito para os pesquisadores que venham a se interessar pelo esclarecimento do muito que sobre ela ainda permanece na obscuridade. Ordenamos os dados num perfil cronológico abrangente, alicerçado nas imprescindíveis indicações bibliográficas e documentais.

1908
No dia 5 de dezembro é oficializada a fundação da Cruz Vermelha Brasileira, cujo quadro inaugural conta com Oswaldo Cruz (1872-1917) como seu presidente de honra e com Marie Rennotte como organizadora da regional paulista.
1925
Comparecendo à cerimônia realizada em 26 de março na sede nacional da Cruz Vermelha Brasileira (Rio de Janeiro), durante a qual se inaugura um retrato de Ana Néri, Marie Rennotte encerra a solenidade discursando a respeito da vida e da obra da homenageada.

1932
Já com oitenta anos completados em fevereiro, a doutora Rennotte não tem mais condições de atuar diretamente no atendimento aos paulistanos atingidos pelos conflitos que se seguiram à eclosão da revolução constitucionalista e que persistirão ao longo dos meses de julho, agosto e setembro de 1932. Quem assume papel semelhante àquele desempenhado pela médica belga na revolução de 1924 é a doutora Carlota Pereira de Queiroz, que se coloca à frente da seção paulista da Cruz Vermelha para organizar um grupo de setecentas voluntárias que receberão rápido treinamento especializado para o atendimento do grande número de feridos abrigados na capital do estado.

1942
Marie Rennotte morre na madrugada ou na manhã do sábado dia 21 de novembro, e não na data até agora divulgada de 23 de novembro pelos registros do IHGSP. O corpo é velado na casa situada na rua João Moura, 427 (em Pinheiros, SP), nas proximidades do local onde estava sendo construído o moderno Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), inaugurado em 1944. O sepultamento ocorre na tarde do mesmo dia, no Cemitério dos Protestantes (da rua Sergipe, Consolação). Estamos em plena Segunda Guerra Mundial. O Estado de S. Paulo publica o primeiro necrológio no dia seguinte, em meio a um noticiário que destaca os avanços das forças aliadas no front do Pacífico Sul, e que evidencia, no Brasil do Estado Novo, os fortes vínculos existentes entre Vargas e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Em 24 de novembro, o mesmo diário paulistano publica matéria assinada por Mário Guastini com reminiscências pessoais. Em 30 de dezembro, uma reportagem do mesmo jornal é complementada pela transcrição do discurso com o qual Ana Maria de Revoredo homenageara a doutora Rennotte, em nome da Cruz Vermelha Brasileira, durante cerimônia realizada na capital paulista no início de dezembro.

Lima, João Francisco de Ana Néri: heroína da caridade. São Paulo, Nova Época Editorial, 1977. Esta biografia inclui a transcrição de elogios fúnebres e reportagens relativas ao sepultamento de Ana Néri, no Rio de Janeiro de 1880 (cap. 8, pp. 194-9); no mesmo capítulo, pp. 203-5, documenta-se a inauguração do retrato a óleo da patrona das enfermeiras do Brasil na sede da Cruz Vermelha Brasileira, em 1925, em cerimônia encerrada com um discurso da doutora Marie Rennotte.

O Estado de S. Paulo (São Paulo, 1942) Nos últimos quarenta dias de 1942, o jornal publicou uma seqüência de três elogios fúnebres. O primeiro deles, 'Dra. Maria Rennotte' (edição no 22.458, do domingo dia 22.11.1942, p. 3) não é assinado, praticamente se limitando a lembrar aos leitores quem tinha sido aquela idosa senhora falecida e sepultada na véspera. O segundo, de autoria de Mário Guastini, 'Uma grande benemérita' (edição no 22.459, da terça-feira dia 24.11.1942, p. 3) já se refere à sua atuação como médica e filantropa, chamando-a 'perdulária da bondade', pela generosidade que acabara reduzindo-a à penúria. A seqüência fecha-se com a transcrição, na edição no 22.489 (de 30.12.1942, p. 6), sob a epígrafe 'Cruz Vermelha Brasileira', de um discurso no qual Ana Maria de Revoredo recapitulava a biografia de Rennotte. Esta última matéria é acompanhada de um pequeno clichê reproduzindo aquela que deve ter sido a última fotografia da doutora.

PROFESSOR DOUTOR JULIANO MOREIRA

O Professor Juliano Moreira nasceu a seis de janeiro de 1872 na Freguesia da Sé, hoje o espaço do Pelourinho, centro histórico da cidade do Salvador, na Bahia. Seu pai, o português Manoel do Carmo Moreira Junior era inspetor de iluminação pública. Seu trabalho era verificar se os trabalhadores acendiam os lampiões de ferro pelas ruas e calçadas da cidade. Galdina Joaquim do Amaral, sua mãe trabalhava como doméstica na casa do Barão de Itapuã, Adriano Gordilho, renomado médico baiano.
São escassos em seus limitados biógrafos os dados relativos à sua infância e meninice. Desde o seu nascimento foi criado e conviveu sempre com a família do Barão de Itapuã, que se tornou seu padrinho.


BATISTÉRIO DO PROFESSOR JULIANO MOREIRA

“ Aos 16 de Outubro de 1872, baptizei e pus os Santos Óleos Juliano,pardo,nascido a seis de janeiro do mesmo anno, filho natural de Galdina Joaquina do Amaral. Foi Padrinho o Barão de Itapuã, e pos a coroa de N. Sra. Bernardimo Peres da Costa Chartinet. De que fui este e asignei. O Cônego Cura João José de Abrantes “.

(Original fotografado gentilmente cedido pelo Arquivo Publico Estadual)

Fez seus estudos iniciais no Colégio Pedro II e depois se transferiu para o Liceu Provincial na cidade do Salvador na Bahia. Em 1886 manifestando extraordinária precocidade se matriculava na Faculdade de Medicina da Bahia, berço do ensino médico no Brasil. Ainda cursando o quinto ano, em 1890, foi interno da Clínica Dermatológica e Sifiliográfica.

Conclui seu curso e logo após sua formatura (1891), apresenta a tese "Sífilis Maligna Precoce" tornando-se depois referência mundial no campo da sifiligrafia. Passa a clinicar, num curto espaço de tempo junto a Santa da Casa da Misericórdia sendo médico-adjunto do Hospital Santa Isabel. Em 15 de setembro de 1894, após concurso é nomeado preparador de anatomia médico-cirurgica, Mas neste período, sem remuneração, torna-se assistente da cátedra de Clínica Psiquiátrica e de Doenças Nervosas iniciando-se a partir daí o seu aprendizado sobre as doenças mentais. Esta fase em todos os intervalos de suas atividades diárias aprimorava seus conhecimentos de outros idiomas tornando-se um dominador na comunicação oral e escrita do francês, inglês, italiano e o alemão. Sempre conhecido desde estudante como trabalhador metódico, adepto das ações em equipe, sempre querendo saber de tudo, com detalhes, comentando e discutindo. Seu destaque no meio acadêmico, na província baiana, o faz liderar a mobilização de professores e colegas fazendo surgir a Sociedade de Medicina e Cirurgia e, a Sociedade de Medicina Legal.
Encerrando sua longa permanência naquele país segue para a Europa, onde se torna membro honorário da Sociedade de Neurologia e Psiquiatria de Berlim, da Sociedade Médica de Munich e da Cruz Vermelha Alemã. Em Hamburgo é eleito membro da Sociedade de Neurologia e Psiquiatria onde lhe é conferido pela Universidade local a Medalha de Ouro, a mais alta honraria prestada a professor estrangeiro.

CEL.FRANCISCO VIEIRA

Nasceu o sr. cel.Francisco Vieira em Itapira, a 13 de agosto de 1881, sendo filho do sr. Joaquim Francisco de Assis Vieira, já falecido e da exma sra.d.Alexandrina da Silva Vieira, aqui residente.

Seu progenitor, homem austero e para quem a honra e a dignidade constituíam verdadeira religião, fez o rebento querido palmilhar a senda segura de que era grande exemplo, plasmando-lhe o caráter sob as normas da mais escrupulosa correção, mantendo-lhe na alma os sentimentos puríssimos da fé católica e do acrisolado amor à pátria.

Sentindo grandes pendores pelos estudos, contava verdes anos quando seguiu ara o famoso Colégio S. Luis, de Itu, ali permanecendo ate 1897.Transferindo-se para a capital, matriculou-se no antigo Ginásio Paulista que, então, funcionava à Rua Conselheiro Crispiniano, concluindo os preparatórios em 1899.Ingressou no ano seguinte, na Escola de Farmácia e Odontologia, formando-se em farmácia no ano de 1903, após brilhantíssimo curso.

Portador do dignificante diploma de farmacêutico, regressou à terra natal e estabeleceu-se com farmácia em 1904.Trabalhou vários anos com inteiro sucesso, alcançando a preferência e a confiança da unanimidade de seus conterrâneos.

De índole progressista e amando carinhosamente sua terra, ingressou na política local, granjeando rapidamente invejável prestígio pelo que eleito vereador em 1910, mereceu ser escolhido por seus pares para ocupar a Prefeitura Municipal, cargo que desempenhou durante 15 anos ininterruptos.

Seria ocioso enumerar os grandes benefícios prestados nesse largo lapso de tempo, portanto ninguém ignora quão brilhante foi à atuação que desenvolveu durante a qual soube dotar a cidade de importantíssimos melhoramentos ao mesmo tempo, que mantinha rigorosamente equilibrado o erário municipal.

Sempre vigilante jamais desamparou a população e para atestá-lo basta lembrar os rasgos de abnegação que praticou durante a terrível epidemia de gripe irrompida no estado em 1918, quando lutou sem descanso tudo providenciando e indo a todos os lares, levando os socorros materiais indispensáveis e o bálsamo suavíssimo de palavras consoladoras.

O povo – juiz severo dos homens públicos - soube premiar a abnegação de seu incansável prefeito, promovendo-lhe numerosas demonstrações publicas de merecido apreço.

Exausto de tanta luta, o sr.cel. Francisco Vieira deixou o governo da cidade em 1925 quando foi eleito presidente da edilidade, função desempenhada com o zelo de sempre até 1930.

Patriota como o que melhor o sejam, o nosso biografado teve atuação destacadíssima em todos os movimentos revolucionários que convulsionaram o Estado.

Em 1924, mal surgiram os primeiros rumores de rebelião, tomou armas, colocando-se à frente de um pugilo de homens decididos, com os quais correu em defesa da lei ameaçada de menosprezo. Voltando, depois de jugulada a revolta, foi alvo de verdadeira apoteose, dando aos seus conterrâneos a suprema ventura de ouvirem – da boca do ilustre oficial do Exercito sr.major Alcides Amaral, em discurso que proferiu – a narrativa de seus feitos nos campos da luta.

Em 1930 soube como sempre se tornar o primeiro entre os primeiros merecendo calorosos elogios.Integrando a coluna Abílio Rezende, cuja bravura jamais será olvidada, internou-se no Estado de Minas, indo até Itajubá.

Finalmente, na guerra constitucionalista que nivelou S.Paulo às proporções de uma nação poderosa, o cel.Francisco Vieira, revelou-se legítimo cabo de guerra, aguerrido condutor de tropas conquistando à frente de numerosa legião de conterrâneos valorosos, os louros de triunfos que a história bandeirante conservará orgulhosamente para sempre.

Foi membro do diretório local do Partido Republicano Paulista desde 1916 a 1930 e hoje é um dos diretores no Estado do Partido Constitucionalista, posto que ocupa desde a fundação dessa agremiação política.

Numerosas associações particulares tiveram o seu concurso sempre vantajoso, dando-lhe prestígio e desenvolvimento.

Em 1917 fundou a Linha de Tiro, ao mesmo tempo em que começou a instalação da Cruz Vermelha de Itapira, presidida por sua exma. esposa.

ANA NÉRI

Ana Justina Ferreira nasceu no dia 13 de dezembro de 1814, na rua da Matriz, situada na vila Cachoeira do Paraguaçu (ou Vila de Nossa Senhora de Cachoeira), no interior da Bahia. Era filha de Luísa Maria das Virgens e de José Ferreira de Jesus. Ana casou-se aos 23 anos de idade com Isidoro Antônio Néri, capitão-de-fragata da Marinha, passando a se chamar Ana Justina Ferreira Néri.

Com o marido sempre ausente, trabalhando em alto-mar, Ana acostumou-se a ter todos os encargos da família sob a sua responsabilidade. E, devido a um infortúnio do destino, Isidoro morreria a bordo do brigue Três de Maio, no Maranhão, deixando-a viúva aos 29 anos de idade e com três filhos pequenos para educar: Justiniano, Antônio Pedro e Isidoro Antônio Néri Filho. Sozinha, ela formaria os dois primeiros em medicina e, o último, se tornaria militar.

Em 1865, com a formação da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), o País lutaria contra o Paraguai - na histórica Guerra do Paraguai - e os filhos de Ana são convocados pelo exército para lutar nas frentes de batalha. Muito sensibilizada com o fato, ela manda um ofício para o presidente da província, solicitando para si mesma um trabalho na guerra como enfermeira, alegando, basicamente, dois motivos principais: primeiro, a dor causada pela separação dos filhos e segundo, a vontade de atenuar o sofrimento dos combatentes.

Aos 51 anos de idade, e sem esperar a resposta para o seu pleito, Ana Néri viajava para o Rio Grande do Sul, e lá aprenderia as primeiras noções de enfermagem com as irmãs de caridade de São Vicente de Paulo. No dia 13 de agosto de 1865, a baiana partiria para o front de batalha, com o exército de voluntários, visando cuidar dos doentes e feridos.

Devido à sua grande coragem, desvelo, amor ao próximo e conhecimentos de fitoterapia, e a despeito da falta de condições de trabalho, Ana Néri consegue permanecer quase cinco anos no front, chamando a atenção, como enfermeira, em todas as regiões por onde passa. Cabe registrar que, além dos seus filhos, lutavam na guerra dois dos seus irmãos, os tenentes-coronéis Manuel Jerônimo e Joaquim Maurício Ferreira. Nos campos de batalha, a enfermeira perderia um filho e um sobrinho.

Com recursos próprios herdados de sua família, Ana Néri montou uma enfermaria-modelo em Assunción (capital do Paraguai) cidade que se encontrava sitiada pelo exército brasileiro.

No final da guerra, a dedicada baiana volta ao Brasil trazendo três pequenos órfãos - filhos de soldados desaparecidos nos combates - os quais educa como se fossem seus filhos legítimos. Sensibilizado com este fato, D. Pedro II lhe concede uma medalha e uma pensão vitalícia, para que tais crianças possam ter uma boa qualidade de vida.

Pelos relevantes serviços prestados aos soldados brasileiros, Ana Néri recebe, da população do Rio de Janeiro, uma calorosa manifestação de afeição, uma chuva de pétalas de rosas e uma coroa de ouro cravejada de diamantes, onde se lia gravado: À heroína da caridade, as baianas agradecidas. Essa coroa encontra-se hoje no Museu do Estado da Bahia. Ana ganha um álbum, também, com a seguinte dedicatória: Tributo de admiração à caridosa baiana por damas patriotas. E Vítor Meireles pinta o seu retrato em tamanho natural, o qual se encontra exposto na sede da Cruz Vermelha Brasileira.

No dia 5 de julho de 1870, Ana chega à Bahia, sendo condecorada com as medalhas de Humaitá e de Campanha, e vai ocupar um lugar de honra da Câmara Municipal de Salvador.

Devido à sua posição de vanguarda, o médico e professor Carlos Chagas, diretor do Instituto Osvaldo Cruz, colocava o nome Ana Néri na primeira escola oficial brasileira de enfermagem, de alto padrão. Por outro lado, o presidente Washington Luiz constituiria o Dia da Enfermeira, através do Decreto no. 2.956, em homenagem à corajosa baiana. Dentre outras homenagens recebidas, cabe ressaltar ainda que a rua da Matriz, local onde a heroína nasceu, passava a se chamar rua Ana Néri.

No dia 20 de maio de 1880, aos 66 anos de idade, Ana falecia no Rio de Janeiro, e era sepultada no Cemitério São Francisco Xavier.

Como uma justa homenagem, foi criado, na cidade de Salvador, em um dos locais mais visitados pelos turistas, o Pelourinho, o Museu Ana Néri, para divulgar os aspectos mais significativos da vida da ilustre baiana, e resgatar, ao mesmo tempo, a história da enfermagem brasileira, do século XIX até a atualidade.

DJALMA BATISTA

Nascido em 20 de fevereiro de 1916, em Tarauacá, Estado do Acre Filho de Gualter Marques Batista e Francisca Aciolly da Cunha Batista Casado com Gilda Limongi Batista.

FORMAÇÃO

Curso Primário no Grupo Escolar João Ribeiro e no Colégio São José, em Tarauacá, Estado do Acre

Curso Secundário no Colégio Dom Bosco, em Manaus (1929-1933)

Curso Médico na Faculdade de Medicina da Bahia (1934-1939)

VIDA UNIVERSITÁRIA

1.Interno do Sanatório Adriano Jorge, da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários do Leste Brasileiro, Bahia (1936-1938)

2.Orador Oficial da Sociedade Acadêmica Alfredo Brito (1938)

3.Interno por concurso de provas, da 1a cadeira de clínica médica da Faculdade de Medicina da Bahia (Serviço do prof. Armando Sampaio Tavares) (1939)

4.Assistente do Laboratório de Pesquisas Clínicas do Prof. Jorge Leocádio de Oliveira, Bahia (1939)

5.Orador da turma de médicos de 1939

FUNÇÕES DE DIREÇÃO

1.Presidente da Liga Amazonense contra Tuberculose (1940-1950)

2.Diretor do Departamento de Educação e Cultura do Amazonas no Governo Stanislau Affonso (1945-1946)

3.Presidente da Associação Médica do Amazonas (1953-1956, 1960-1961)

4.Diretor do Dispensário Cardoso Fontes (1952-1958)

5.Presidente do Ateneu de Tisiologia Clemente Ferreira (1952-1958)

6.Chefe de Clínica (1953-1956) e Diretor (1956-1957) do Sanatório Adriano Jorge

7.Diretor da Divisão de Pesquisas Biológicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) (1957-1969)

8.Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) (1959-1968)

9.Conselheiro e Vice-Presidente do Conselho Estadual de Cultura (1968-1972)

10.Vice-Presidente (1958-1959 e 1967-1968) da Academia Amazonensa de Letras

11.Presidente da Academia Amazonense de Letras (1968-1969, 1970-1971 e 1972- 1973)

ATIVIDADES DIDÁTICAS

1.Professor de Microbiologia e Parasitologia do Curso de socorristas de guerra, promovido pela Cruz Vermelha Brasileira, Seção do Amazonas (1942)


LOURENÇO JORGE

Nasceu em Hervália, Município de Viçosa, Minas Gerais, em 7 de novembro de 1899.

Aos 7 anos sua família transferiu-se para Juiz de Fora, onde fez seus primeiros estudos no Colégio Santa Cruz, posteriormente, na Academia de Comércio, terminando seus estudos preparatórios no O Grambery.

Prestou exames finais no Colégio Pedro II (1915), obtendo da banca de latim, famosa pelas reprovações e exigências, as maiores notas da época. Lia e falava correntemente francês, inglês, italiano e alemão, língua que estudou só. Conheceu bem o latim e o espanhol, além de alguns conhecimentos do grego, língua que pretendia estudar na ocasião de sua morte.

No curso médico destacou-se com brilho.Nesta época era interno residente do Hospital da Polícia Militar. Além das aulas regulares, seguia com particular interesse as aulas dos Professores Austregésilo e Miguel Couto. Apenas terminado o 4º ano médico prestou concurso para auxiliar-acadêmico da Assistência obtendo o 1º lugar.

Logo depois de sua formatura, prestou concurso para médico.Eram mais de 50 candidatos para 3 vagas.

O 1º candidato obteve nota final 8,7, Lourenço Jorge classificou-se em 2º lugar com 8,5. Ainda como 6º anista, pronunciou o discurso , por ocasião da inauguração da estátua de Francisco de Castro, na Faculdade de Medicina. Este fato foi, sem dúvida, a semente da amizade que o ligou ao Professor Aloysio de Castro, consolidada posteriormente por outros fatos afetivos.

Ingressando na Assistência Pública, trabalhou no Serviço de Pronto Socorro do Hospital Souza Aguiar de 1923 a 1930, ocasião em que passou a Chefe de Serviço da Clínica Médica.

Seu serviço funcionou na Enfermaria Almeida Magalhães, onde permaneceu até 1936 ano em que foi chamado para chefiar os Serviços de Clínica Médica do Hospital Miguel Couto, permanecendo na Unidade até 1954.

Em 1944 concorreu com a tese "Supurações Bronco-Pulmonares" à Cátedra de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas onde lecionou até a sua morte.

O Hospital Miguel Couto foi sem dúvida sua segunda casa, ali conseguindo "quase tudo" o que desejou como médico, pois seu último desejo não pôde realizar: concorrer à Cátedra de Clínica Médica da Faculdade Nacional de Medicina; sua tese para este concurso estava praticamente pronta.

No seu discurso de posse na Academia Nacional de Medicina, assim referiu Lourenço Jorge: " a esse hospital cujo nome evoca a lembrança daquele que não é só uma glória inacessível desta Academia, porque o é, também, de uma nação inteira, a que soube servir com inexcedível patriotismo, sem desamparar um instante sequer os sus deveres de médico, até a hora derradeira da sua vida.. Daí, pois, que eu transfira ao Hospital Miguel Couto, tudo o que de vós recebo. E que esta transferência se detenha aí, antes se estenda a toda Assistência Municipal, a essa admirável escola de medicina prática, de ética e de sacrifício, onde o entusiasmo pela ciência se rivaliza com o desejo de exercer o bem e tem preparado sem alarde tantas gerações de estudantes para os embates futuros da profissão"

Outros títulos:

- Orador eleito pela turma de doutorandos da Assistência Municipal em 1922. (Discurso publicado no Jornal do Brasil).

- Assistente da Fundação Gaffré-Guinle - Serviço de Sífilis Visceral e Nervosa em 1924 e 1925 (Ambulatório nº 2).

- Chefe do Serviço de Clínica Médica do Ambulatório Rivadávia Corrêa - de 1925 a 1937.

- Médico do Hospital do Carmo - de 1928 a 1942.

- Professor da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto - de 1939 a 1936.

- Professor de Clínica Médica do Instituto de Ensino da Assistência Municipal - de 1935 a 1942.

- Delegado da Assistência Municipal no Congresso Pan-Americano da Cruz Vermelha 1935.

- Representante da Prefeitura do Distrito Federal, na Comissão de Inquérito sobre alimentação no Brasil, promovido pela Liga das Nações, (sob os auspícios do Ministério do Exterior, do Brasil) - 1936.

- Membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.

- Membro de várias bancas examinadoras de concursos para internos da Assistência Municipal.

- Membro permanente da Comissão julgadora de títulos e trabalhos da Secretaria Geral de Saúde e Assistência.

- Membro do Conselho de Redação da Revista Médica Municipal ( órgão oficial ).

- Membro da banca examinadora do Concurso de Docência Livre, de Clínica Propedêutica Médica na Faculdade de Medicina do Instituto Hannemaniano em 1937.

- Diretor do Hospital Geral Miguel Couto.

- Docente Livre de Clínica Médica da Faculdade Nacional de Medicina.

- Catedrático de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas.

- Membro titular da Academia Nacional de Medicina.

- Membro da Academia Brasileira de Medicina Militar.

A respeito dele escreveu o Professor Oswaldo de Oliveira: "Bem mereciam reunidos em livro os trabalhos com que o Dr. Lourenço Jorge firmou o ótimo conceito alcançado no meio daqueles que cultivam a Medicina. Cada uma de suas publicações punha em evidência o apuro com que conduzia as observações clínicas, a justeza das apreciações, o conhecimento profundo das matérias discutidas.

Escolhidos para estudo assuntos de plena atualidade os velhos temas controversos, pôde o autor dizer o que lhe ditava a própria experiência ou o que mais acertado lhe parecia pelo cotejo dos fatos que registrara e a crítica das diversas opiniões encontradas na literatura médica. De pronto se reconheceram no clínico sua altas qualidades de observador e a grande cultura de seu espírito”

Lourenço Jorge teve seu nome concedido à Unidade localizada na Barra da Tijuca

CARLOS ALFREDO SIMCH.

Vila Teresa, município de S. Cruz do Sul, RS, 22 nov. 1880 – P. Alegre, RS, 30 jul. 1967. F.: Francisco José Simch e Ema Wild Simch. Est. prim. em S. Gabriel e secundário em P. Alegre, no Colégio Ivo Corseuil e no Instituto Ginasial Júlio de Castilhos. Farmacêutico pela Fac. de Med. de P. Alegre. Médico pela Fac. de Med. da BA, 1904. Médico em S. Jerônimo e em P. Alegre. Prefeito Municipal de S. Jerônimo por 9 anos. Membro do Conselho Administrativo do Estado do RS, até 1945. Médico da Cruz Vermelha em P. Alegre Senador pelo RS. Presidente da Caixa Econômica Federal no RS, 1948. Historiador. Membro da Soc. de Med. de P. Alegre. Irmão de Francisco Rodolfo Simch e pai de Altair Vieira Simch. Como político, pertenceu ao Partido Libertador.

Bibl.: Craniectomia, tese de doutoramento, BA, 1904. Monografia do Município de São Jerônimo, P. Alegre, 1943. História do Carvão Nacional, id, 1945. A Caixa Econômica Federal do Rio Grande do Sul em seu Jubileu de Diamente, história econômico-social, P. Alegre, Globo, 1950. A Economia: Aforramento, compêndio de M. François Laurent, traduziu da versão espanhola de Paulo J. Zena, P. Alegre, ed. da Caixa Econômica Federal do RS, 1950. Moléstia profissional dos mineiros de carvão de São Jerônimo. Manual da Economia Familiar ou Doméstica traduziu do espanhol, 1956. Águas-Banhos (Férias-Veraneios-Praias-Termas), P. Alegre, 1956. São Jerônimo (Vida do Santíssimo Santo da Igreja Católica), compilação, id, 1958. Monografia Comemorativa do 1o Centenário da Emancipação do Município de São Jerônimo, id, 1961 (obra totalmente diversa da de 1943).

OSWALDO CAVALCANTI DA COSTA LIMA FILHO

Nascimento: 26/4/1921
Profissões: Agricultor, Advogado e Servidor Público.
Filiação: Oswaldo Cavalcanti da Costa Lima e Judith Jatobá da Costa Lima
Legislaturas: 1955-1959, 1959-1963, 1963-1967, 1967-1971, 1983-1987 e 1987-1991.

Condecorações:
Medalha Cruz Vermelha, 1945.

O artigo analisa a trajetória da belga Maria Rennotte, que em 1878, mudou-se para o Brasil, onde trabalhou como preceptora, depois professora e médica. Com seus escritos e sua prática social, Maria Rennotte lutou pelo direito das mulheres a uma melhor educação, ao acesso a diferentes tipos de trabalho, à obtenção de um corpo mais saudável, à cidadania política. Pregou a participação das mulheres em entidades assistenciais, tendo fundado uma filial da Cruz Vermelha na capital paulista. Sua trajetória ilumina aspectos significativos e pouco estudados das relações entre os gêneros no período em que viveu, possibilitando levantar questões fundamentais sobre o papel das mulheres na construção da nação, através da participação em entidades assistenciais. Possibilita afirmar que apesar de desconsideradas politicamente, de não terem reconhecido os direitos civis, de possuírem limitadas oportunidades educacionais e de trabalho remunerado, e de serem identificadas basicamente como mães e esposas, as mulheres encontraram nas associações filantrópicas uma brecha para ampliar a participação na esfera pública e para efetivamente atuar da (na?) vida nacional, imprimindo sua marca nos serviços prestados à população, nas leis, na organização de instituições de ensino e de saúde e no desenvolvimento do conhecimento científico. .

A ENFERMAGEM DA CRUZ VERMELHA BRASILEIRA E A GRIPE ESPANHOLA NO RIO DE JANEIRO

Moreira (2005) identificou ainda outras iniciativas de formação de enfermeiros no Brasil: o curso de enfermeiras da filial São Paulo da Cruz Vermelha Brasileira em 1912 logo depois duas iniciativas na filial Rio de Janeiro; 1914 e 1916, fruto do impacto da eclosão da Primeira Guerra Mundial, e o Curso da Policlínica de Botafogo, em 1917. Estas iniciativas demonstram o interesse no preparo formal e laicização dosagentes de enfermagem para responderem às demandas das instituições assistenciais públicas, caritativas ou privadas, inspiradas nos modelos da Europa e dos Estados Unidos da América, onde também já existiam muitas escolas de enfermagem anexas aos hospitais e desenvolvia-se a saúde pública. Este primeiro momento de profissionalização da enfermagem é marcado pelas tentativas de dar utilidade em “uma nobre profissão” para as mulheres, como oferecer às órfãs dos recolhimentos, particularmente da Santa Casa de Misericórdia, uma oportunidade de formação e trabalho. Apesar de tão generosos esforços, a escola lutou contra muitas dificuldades: as órfãs não se adaptaram ao regime disciplinar; há sucessivas críticas que a Escola não teria funcionado regularmente até o ano de 1904/5 e ainda nova interrupção em 1908, 1913, registros contínuos só são estão disponíveis somente a partir de 1920. Em 1921, dias antes da chegada da Missão de Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem (Fundação Rockefeller) a Escola foi reorganizada e dividida em seções mixta e feminina.Há indícios também de que a enfermagem do Hospício e dos hospitais públicos para contagiosos foi uma opção de trabalho para imigrantes, na maioria, homens jovens, oferecendo-lhes ainda a vantagem de obtenção da cidadania. Rodrigues (2005). De outro modo, as escolas de enfermagem da Cruz Vermelha Brasileira e as iniciativas religiosas mantinham-se exclusivamente femininas. Sobre este aspecto, dois precursores médicos da literatura de enfermagem brasileira nas primeiras décadas do século XX, o Dr. Getúlio dos Santos, diretor da Escola de enfermeiras da Cruz Vermelha e Adolpho Possolo, médico, autor do livro texto para a Escola de Enfermeiras Alfredo Pinto afirmam suas convicções de preferência ao gênero feminino para a enfermagem em seus respectivos livros. (...) Seria perigoso abrir as portas aos homens cuja ambição não tem limites, para essa instrução theorica-Prática, embora modesta, que garante a posse de um diploma de enfermeiro, a menos que se não quisesse fomentar, desenvolver, e mais ainda facilitar a terrificante praga de “curandeiros” e charlatões que já nos assola.A mulher é mais sincera nas suas aspirações, mais constante nos surtos, de acção bem mais comedida e, portanto, mais capaz de exercer sem exorbitar, e dentro das suas atribuições, o dedicado mister de enfermeira.” (Santos, 1928:17

A ENFERMAGEM DA CRUZ VERMELHA BRASILEIRA E A GRIPE ESPANHOLA NO RIO DE JANEIRO: ATUAÇÃO E REPERCUSSÃO

Ana Paula Costa Alves∗Ana Cláudia de Souza Barboza∗∗Fernando Porto***Osnir Claudiano da Silva Junior***Wellington Mendonça de Amorim***Introdução: A Cruz Vermelha Brasileira (CVB) foi fundada em 1908, e tinha como uma de suas missões, contribuir para a melhoria da saúde da comunidade;prevenção de doenças e o alívio do sofrimento, através de programas e serviços,adaptados às necessidades e peculiaridades nacionais e regionais. Nesta perspectiva, foram criados o Curso de Enfermeiras Voluntárias, em 1914 e a Escola Prática de Enfermeiras da CVB, em 1916. Objeto: a participação das enfermeiras da CVB/RJ no atendimento às vítimas da gripe espanhola, em 1918. Objetivos: descrever as circunstâncias em que ocorreu a gripe espanhola no Rio de Janeiro; analisar a participação das enfermeiras da CVB/RJ durante a epidemia e discutir a contribuição da atuação desta categoria durante a epidemia para a visibilidade social das enfermeiras da CVB/RJ. Metodologia: Estudo histórico-social. Fontes primárias: relatório institucional/CVB e artigos da imprensa escrita e ilustrada. Foi utilizado um instrumento para a coleta dos dados. Para a triangulação dos dados, foi utilizada literatura sobre história da enfermagem e do Brasil. Resultados: Ao término da 1ª Guerra Mundial, o país foi assolado pelo flagelo da gripe espanhola e o Distrito Federal foi vitimado com centenas de pessoas. Este acometimento necessitou de atendimento além do que a saúde pública do país poderia disponibilizar. Neste sentido, foi que as enfermeiras da CVB contribuíram em um hercúleo trabalho de atendimento às vítimas nas dependências da Instituição, tanto nos cuidados de enfermagem como na distribuição de alimentos. Esse atendimento das enfermeiras da CVB teve sua repercussão na imprensa ilustrada ao divulgar fotografias das enfermeiras e do diretor da Instituição. Conclusões: A CVB vem em 1918, dizer a que veio, cumprindo seus princípios institucionais nas calamidades e em tempo de paz, por meio da bondade e caridade. Descritores: História da Enfermagem. Cruz Vermelha. Saúde Pública