Nas culturas mais antigas, onde não ocorreram influências de outras de forma muito intensa, os nomes são escolhidos em função dos significados. No Japão, China e outros países orientais a escolha dos nomes tem um sentido relacionado à origem, natureza, o momento do nascimento dentre outras formas. Nas culturas ocidentais a maioria dos nomes são escolhidos em razão da sonoridade ou da moda. Muitos por serem nomes de artistas famosos que estão em destaque nas novelas ou em seriados enlatados. Por isso temos muitos nomes contraditórios como, por exemplo, Bruna, cujo sentido indica uma pessoa escura, mas muitas Brunas são brancas e algumas até louras. Não é incomum, também, o registro de Bianca (branca em italiano) usado por pessoas negras ou pardas no Brasil. Conta o cantor Gilberto Gil que teve dificuldade em registrar sua filha como Preta, pois o escrevente do cartório disse que o nome não ficava bem.

O meu nome é latino com o significado de  renascido, possivelmente numa referência a Cristo. Mas minha mãe não sabia o significado quando escolheu o nome para mim e meu nascimento foi por um parto normal, nada de renascido.  Foi tudo apenas por causa do filho de uma prima grã-fina que tinha esse nome e ela achou bonito.  Um nome latino que tem um significado estranho é Claudio, aquele que manca. Imagino que ninguém em sã consciência colocaria esse nome num filho se soubesse de antemão o significado. Enfim, muitos nomes pouco ou nada representam para as pessoas que o carregam.

Mas para os brasileiros descendentes de europeus ou asiáticos, o problema é apenas no nome ou prenome, pois os nomes de família continuam incorporados às identidades, indicando o país originário dos seus antepassados.

Os povos indígenas segundo a tradição utilizavam nomes retirados da natureza, mas por força do colonialismo sempre foram registrados com nomes ocidentais, de origem bíblica. O pior é que são colocados sobrenomes de origem portuguesa que não tem nenhuma relação com a cultura ameríndia, muito pelo contrário. Foi o povo colonialista que escravizou e quase aniquilou os povos nativos do Brasil e no restante da América.  Como a igreja Católica era ligada ao estado brasileiro, era imposta essa condição na pia batismal. Com o advento da república, essa prática não fez mais sentido, mas foi mantida.

Os africanos, trazidos para cá como escravos, não tiveram melhor sorte e foram obrigados a adotar nomes também portugueses, na maioria das vezes dos seus senhores, ignorando sua cultura e suas tradições. A maioria dos africanos escravizados teve que adotar os nomes mais comuns tanto em Portugal como no Brasil e assim temos uma profusão de Silva, Santos, Souza etc.

No caso dos índios e africanos escravizados que sofreram, além da exploração, assassinatos e tortura, a negação dos nomes que identificavam suas origens, culturas e tradições.  Houve nesse caso um genocídio cultural, obrigando os dois grupos étnicos a carregarem os nomes daqueles que os escravizaram.

O Brasil poderia dar a oportunidade para que os índios e seus descendentes, como também para os africanos escravizados para que possam resgatar os nomes que tenham algum significado para sua origem. É óbvio que seria impossível resgatar os nomes originais, pois os colonizadores não respeitaram a preservação de suas culturas. Entretanto, seria possível, através de pesquisas históricas, identificar por aproximação, a região de origem e assim os descendentes de índios e africanos poderiam escolher nomes que possam dar algum significado as suas etnias de origem.

Um projeto de lei por iniciativa do congresso ou do próprio governo poderia facultar para aqueles que assim o desejem, acrescentar em cartório ao sobrenome atual, outro que represente a sua etnia, sem nenhum custo.  Antropólogos especializados nas duas culturas poderiam disponibilizar relações de nomes, origem e significado para que esses brasileiros possam resgatar sua identidade.

Assim como os imigrantes japoneses, árabes, chineses, coreanos, africanos subsaarianos etc. são registrados com os seus nomes de origem, por que negar isso aos brasileiros descendentes de africanos que para cá vieram como escravos ou de povos indígenas não podem ter esse direito?