Noites infindas... Olho para os ponteiros do relógio de parede, E percebo que eles marcam a proximidade das três horas da madrugada. Sem sono, pego o celular e começo a escrever, Sem saber direito o que pretendo dizer. De uns tempos pra cá, A vida tem se apresentado vagarosa, monótona... A mulher amada, companheira de todas as horas, Já não está mais aqui... As noites parecem que faleceram juntas... A Dona Maria, minha vizinha de mais de doze anos, faleceu. Ela morava sozinha, e não aparentava mais a mesma alegria, desde que o “Manel”, seu filho único, faleceu. Dona Maria criava muitas galinhas, e muitos gatos. À noite, parece que os gatos escolhiam para namorar, Eles faziam um barulho danado, com miados prolongados, lancinantes... Depois do barulho dos gatos, começava o barulho das galinhas, Anunciando um novo alvorecer. O galo reinava absoluto. Vez por outra, batia as asas e cantava, Como a querer demarcar o seu território... Hoje a casa da Dona Maria está vazia, vive fechada... O dono de uns apartamentos próximos comprou o imóvel para fazer garagem... Já não ouço mais o miado prolongado dos gatos namorando. O barulho das galinhas e do galo cacarejando, também cessou... A escuridão e o silêncio prevaleceram, inibindo o rebuliço da vida. O quarto de casal onde vivi momentos inesquecíveis, perdeu o aconchego, Na ausência da mulher virtuosa que suavemente me ladeava, E a cama, onde a felicidade tantas vezes transbordou, está fria... Parece grande demais pra mim...