Uma máxima é falada nos arredores dos quatros cantos da Região Nordeste. Aprendemos com nossos avôs, e aí passa de “Pai para Filho”. Uma geração que já perdura por mais de um dois séculos. Entendo, pois, que existe também em cada região com seus trejeitos e dialetos.

Assim é nossa tradição na fé com as jaculatórias que repassamos e aprendemos desde criança.  Minha vozinha quando viva, já com as vistas embasadas, prostada pela idade avançada em uma enorme cama, pedia para aproximar-me, segurava minha cabeça e fazia o “Pelo Sinal em nossa testa”. Repetia em todos os netos que o visitava. E falava:

- Deus te cubra de benção! Deus te abençoe! E te livre de todo o Mal!

Ao saí, quando íamos embora para nossa casa, outro prefixo dizia ela:

- Deus te acompanhe e te guie! Te proteja de todo perigo! Vá com Deus!   

- Confesso que naquela época, ignorava e não sabia o verdadeiro significado!

E, falando de “Pai para filho” lembrei do Filme de Luiz Gonzaga, cantor e compositor nordestino, natural da Cidade de Exu, conhecido internacionalmente como o “Rei do Baião”.

Luiz, quando jovem, decide mudar seu destino e foge de casa para a cidade grande. Sua vida faz uma reviravolta e já famoso volta para casa de seu pai, no interior do Nordeste. Ao chegar lá pelas altas horas, já de madrugada, bate na porta e ninguém atende. Chama uma, duas, três vezes e ninguém vem atender. Aí ele, Luiz Gonzaga se lembra da jaculatória (prefixo, senha) que os nordestinos costumam dizer para os seus. E lá vai o prefixo:

- Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

- Uma voz lá de dentro responde:

- Seu pai, Januário responde num tom grave.

- “Para sempre seja louvado”

 Ele conta até nas modas quando fez dueto com Dominguinhos em uma de suas músicas.

E essa jaculatória (Oração curta e fervorosa) é característica do povo nordestino em relação a demais regiões do Brasil. Digo na ousadia de ser um povo arraigado, fervoroso, temente a Deus. Não desmistificando as demais regiões, mais friso como um estereotipo de nossa região. 

Ao chegarmos à casa de um familiar, de um compadre, de um amigo, parente, comumente usamos esse prefixo para identificar nossas crenças, nossas raízes, nossa gente. E o Rei do Baião deixou sua marca que repercutiu e virou moda em uma de suas visitas a casa de seus pais, após ter fugido de casa devido uma surra que levou de seus pais, por uma apaixonite proibida (coisa de adolescente) a uma linda moça rica.

Mas, em outras regiões de nosso país encontramos prefixos (dialetos, modos, costumes) entre os povos de cada localidade. O povo Gaúcho, o Carioca, o Baiano, o Mineiro, o Pernambucano, o Capixaba... Costumeiramente nas conversas já percebemos e identificamos que esse ou aquele é de outra região.

Um dia desses, em viagem a outra região do Brasil, fui retrucado por um taxista com alto tom. Perguntou-me de onde era. E com ousadia, após minha identificação, disse-me:

- O povo do Ceará fala cantando. Sorridente, trocamos duas ou três palavras.    

Eita, Brasil bom das diversidades bem definidas. E cada povo com seus dialetos que aqui o defini como “Prefixo”.  

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José Wilamy é professor, poeta, escritor, memorialista, pesquisador e historiador. Formado em Direito pela FLF em Sobral- Ceará. Pós-graduado em Ciências (Matemática) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-Ceará.