Meus avós têm mais de oitenta anos e já os conheci velhinhos. Cresci, até onde vão minhas lembranças, viviam para os filhos. Enfrentavam com abnegação a lida diária. Juntos criaram os filhos, enfrentaram dificuldades, as quais sempre relembravam maldizendo o tempo passado, quando a fome e sede era o quinhão diário.

O tempo passou, os filhos foram para longe, restando apenas os velhos, esperando pela visita anual dos filhos. Na verdade, nem todos foram embora, resta uma filha exercendo a função de cuidadora.  A pessoa idosa sofre, além da negligência da família, a fragilidade do corpo, doenças comuns da idade como hipertensão, diabetes, etc. O convívio familiar, ou melhor, a vida dos velhos, é muito estressante. Ou ficam presos a um mudismo, ligados a tela ou quando conversam, é desfiando um rosário de queixas e acusações. Além do ciúme doentio e medo de serem separados.  

Não poderia ser diferente para o casal a qual conheço. Ele já completou noventa anos e vive sofrendo as sequelas de um AVC. Depende de medicamentos controlado, que o deixa apático. Ela que sempre foi uma mulher  trabalhadeira, sofre de diabete e problemas cardíacos. Também toma medicamentos e sua alimentação precisa ser controlada e vive constantes crises de bulimia ou anorexia.

Como cuidar? Esta é realmente uma pergunta muito difícil. A filha do casal a qual me referi não possui nenhum preparo técnico para cuidar de idoso, mas é guiada pela responsabilidade, incertezas e muitas vezes profunda angústia. Estes sentimentos, na maioria das vezes, recaem sobre o fato de não saber lidar muito bem com o próprio idoso, não conhecer muito bem a evolução das suas doenças e principalmente, sobre o sentimento de impotência frente a finitude da vida. A arte de cuidar (sim, isso é uma arte) está em saber até que ponto ir. Sem fazer pelo idoso o que ele ainda consegue fazer e com isso preservar ao máximo a funcionalidade que lhe resta. Saber respeitar ao máximo a sua individualidade sem a necessidade de impor algo que vá contra os seus princípios e vontades. Saber se adaptar as necessidades de cada situação e de cada pessoa cuidada. Nesta situação o agente de saúde é um forte aliado pois, faz visitas, orienta, ajuda no controle do medicamento, estar sempre bem informado, e informar aos demais membros da equipe, sobre a situação da família acompanhada, entre outras ações. Principalmente chama a atenção para possíveis lesões, equimoses, úlceras de decúbito, desidratação. É necessário estar atento para o que o idoso fala ou não fala, como se comporta, seus gestos, suas expressões faciais.

O agente de saúde precisa de muita paciência para assistir os idosos, que as vezes recusam a visita.