Ninguém saia sem antes tomar um cafezinho

Eu fui criado frequentando a Igreja Batista de Mantenópolis. Além dos cultos na sede, muitas vezes também subi na carroceria de caminhão para ir às reuniões dos irmãos que moravam na roça. No momento me lembro dos cultos nas casas de Altivim Nunes, Geraldo Bareia, Isaltino Romualdo, do Natal, Zé Salumeia, dos Prazeres, etc. Eu queria que a reunião terminas...se logo, mas sempre tinha alguém pedindo para cantar mais um hino. A minha pressa era por que no final o dirigente dava a palavra ao dono na casa para os agradecimentos. A frase parecia padrão: eu quero agradecer aos irmãos pela presença e que ninguém saia antes de tomar um cafezinho. O bom ė que o café sempre vinha acompanhado de broa de arroz, de melado, de fubá e biscoito de polvilho. O leite às vezes era queimado. Tudo mudou quando surgiu o biscoito maria e o k-suco. Eu detestava quando me esforçava para ir ao Córrego Frio e no final o café não tinha aquelas coisas assadas no forno a lenha, mas sim as bolachas compradas em caixas de dois quilos. Um envelope de pó vermelho e ficava pronto um balde de refresco de uva ou de groselha. Os cultos na roça nunca foram os mesmos. Eu posso afirmar que o numero de frequentadores diminuíram assustadoramente. Não sei se a fé diminuiu ou se é por causa da ausência das broas. Quando não podia ir a pessoa perguntava no outro dia se a reunião foi boa. Eu respondia que foi ótima, teve broa que não acabava mais. Até em velório era comum distribuir alguma coisa para comer. O Joao Meireles gostava de dizer que a coisa começa assim, mas pode piorar. A coisa piorou com a proliferação dos refrigerantes baratos: picolino, maracanã e todas as tubaínas. Antes, quando não era o refresco, o refrigerante servido só podia ser Coca-Cola, Pepsi, Fanta, mirinda ou guaraná antártica. Nem mesmo o bolo confeitado substitui uma broa de melado com as beiradinhas tostadas. Eu detesto glace e me trazem logo aquele pedaço do canto: três lados daquele doce branco enjoativo e uma parte de bolo. Com todo o respeito ao Joao Erides, Josemar e outros familiares, a coisa ficava tensa quando a oração final era entregue ao irmão Joao Goncalves. Aconteceu de eu cochilar e quando acordava a oração estava longe de terminar. Para terminar, a vó Argentina foi a única que nunca abandonou o forno a lenha. Vez ou outra ela estava fazendo biscoito de polvilho e broa. Todavia, até ela se rendeu aos biscoitos e a rosca seca. A igreja, além de local de culto e adoração, sempre foi um lugar de interação, de socialização.