Ninguém é Perfeito
Por Paulo Rabelo Guimaraes Machado Diniz | 21/08/2014 | Crônicas
Existir, Não Existir e Existir
“Vôo e meu pó será o que sou”
Javez, poeta persa.
Conhecia a si mesma para ter certeza de não ser um foragido das suas culpas. Buscava sempre no âmago, do âmago e do mais âmago do seu ser as respostas existenciais. Sabia que quando se foge das culpas esconde sua consciência até sobrar nada dela.
Quando já lá na linha divisória para sair de suas culpas e encontrar a outra margem, o éden que de uma consciência sem culpas, não avançava aquele único passo necessário. O medo de uma nova queda no precipício de angustias o imobilizava. Só, triste e preso no círculo viciante da frustração veio a luz da consciência e revela ao seu íntimo: n i n g u é m é p e r f e i t o. Entrou num misterioso existir, não existir, existir; como fluindo da forma para não-forma e de volta a forma num labirinto de mundos reais e ilusórios, entrando e saindo em corredores de espelhos, vendo sua imagem indefinidamente refletindo.
Num instante, estava tranquilo do outro lado da margem e ainda podia ver a reflexão incessante do seu ser naqueles espelhos atrás de si.
Reconheceu o ser no não ser e surgiu o não existir, a não luta, o estado de iluminação. Foi como que puxado, passa pela linha fronteiriça, avança, agarra no remo de luz, monta na crista da onda e navega pelo infinito universo de si mesmo. No ápice do dinâmico sentiu-se estático, mas sem nenhuma contradição, confiante na sublime missão do seu deus interior.
Naquele insólito momento, sem perceber a passagem do tempo viu-se, em seu rotineiro banho quente.
Na água o seu mal odor esvaia-se e o seu não mais existir era levado pelas águas sujas de células mortas que, se não anulassem outras não renasceriam, e ele jamais poderia continuar a sonhar o sonho de sua existência.
Poderia, então, ser aquele banho um funeral dele mesmo pelas pequenas mortes de si somadas para aquele dia?
As insígnias para ele mesmo naquele momento eram: obrigado meu ex-eu por seu sacrifício e desculpe por ter eu levado tão longos sete vezes sete anos para perceber o ser novo a cada momento.
Já diante do espelho, se pergunta, se a incessante renovação metabólica concede-me células novas por que se envelhece? Precisa sair no meio daquele vapor da sala de banho, respirar ar fresco, mas lembra que é o oxigênio que desgasta a célula. Decidido abre a porta, ao sair esbarra numa araucária ao ceder espaço a outro pedestre, olha para cima e vê a imponência dela em seu formato de taça. Por ser de semente nua, esta árvore é tão antiga que, provavelmente sua ancestralidade vem da época dos dinossauros. Passa, velozmente um veículo, o dióxido de carbono emitido por ele deve ser absorvido por ela para devolver-me o oxigênio no seu processo de fotossíntese. Tenta imaginar como ela consegue crescer e desenvolver ao mesmo tempo sem dor e mesmo sem sair do lugar parece ser mais liberta que os humanos, pois não precisa sacrificar a vida de nenhum outro ser vivo para continuar a sua existência. Mais leve, decide compensar a rigidez dos músculos com amabilidade. Afinal, não era envelhecer e sim amadurecer e com o processo de amadurecimento ganha em doçura. Aproveitar o máximo até completar o ciclo de maturação, estar pronto para cair como caem pelos meus poros, neste instante, outras células jaz sem vida.