Neopsicanalistas: Carl Jung

Os neopsicanalistas eram dissidentes da teoria freudiana. Identificam-se pela oposição à importância dada, por Freud, aos instintos como geradores do comportamento humano e à visão determinista da personalidade. Carl Jung estendeu a personalidade para além da sexualidade e defendeu que aquela é moldada, não somente pelo passado, mas também pelo futuro. Inclusive, atribuiu à meia-idade a principal responsabilidade pela consolidação da personalidade.

Assim como Freud, embasou os trabalhos em suas experiências pessoais – talvez, eteja aí a resposta ao relativo esquecimento da sexualidade, tendo em vista que sua vida sexual era extremamente satisfatória, diferentemente da frustrada do Dr. Sigmund –, estudou seus sonhos e enriqueceu a pesquisa com relatos de seus pacientes. Sua teoria é centrada no crescimento interno individual, uma vez que teve uma vida solitária.

Utilizou-se de vários conceitos da Física. Definiu a libido como uma forma abrangente de energia psíquica, que alimenta a psique (termo identificado à personalidade). A vida das pessoas varia de acordo com a quantidade de energia psíquica direcionada a determinados objetos escolhidos pelo sujeito (chamada de valor psíquico). São aplicados os princípios dos opostos – que se refere às polaridades de energias existentes no universo aplicadas à energia psíquica, de forma que o conflito entre opostos é diretamente proporcional à energia emanada – ,  da equivalência – o qual implica a conservação da energia psíquica, que, quando gasta, nunca é perdida, apenas transferida (transpondo, inclusive, as barreiras entre o consciente e o inconsciente) – e da entropia – que diz respeito à equalização das diferenças de energia –. O equilíbrio ideal corresponde à igual distribuição a energia psíquica por todas as estruturas da personalidade. Entretanto, tal ideal (como expresso na própria palavra) nunca poderá ser alcançado, caso feito, significará o fim da energia psíquica.

Quanto aos seus sistemas de personalidade, instituiu o ego – responsável pela consciência, pela direta comunicação com a realidade pelo raciocínio, sensações e lembranças – o inconsciente pessoal – assemelhado ao pré-consciente de Freud, está para o que já fez parte do consciente mas fora esquecido/ reprimido; comparado a um arquivo – e o inconsciente coletivo – nível menos acessível da psique; é o centro comum de acumulação das experiências da humanidade (espécie), comportando as lembranças e experiências ancestrais –. Este é o aspecto mais desenvolvido por Jung, uma vez que acreditava que as experiência universais repetidas e inalteradas por gerações são importantes à constituição da personalidade; para ele, “passado” não significa apenas “infância”.

As reminiscências citadas se manifestam por intermédio de arquétipos. Dentre os mais abordados estão o de persona – face pública –, de animus – traços masculinos na personalidade feminina –, de anima – traços femininos na psique masculina –, o de sombra – instintos primitivos imorais e animais que também são responsáveis pela criatividade e vitalidade; são controlados pelo ego para não se tornarem destrutivos nem se reprimirem por completo – e o de self. O último representa unidade, interação (harmonia da personalidade total). O deslocamento do self do ego para um ponto de equilíbrio equidistante ao consciente e ao inconsciente é a meta primordial à vida. O arquétipo do self só começa a emergir a partir da meia-idade – fase em que todos os sistemas da psique estão desenvolvidos – em que ocorrem as crises e mudanças de personalidade (focos e interesses). O desenvolvimento da personalidade culminará na individuação.

Identificou, ainda, atitudes (extroversão e introversão) e funções psicológicas – pensamento e sentimento (funções racionais), sensação e intuição ( funções irracionais, não constatam experiências nem as avaliam) – bem como, utilizou-se de análise combinatória para formar os tipos psicológicos entre os componentes anteriores.  Suas avaliações eram o tanto quanto objetiva e mística, que basicamente envolviam a associação de palavras (resposta à palavra de estímulo com a que lhe vier à cabeça), a análise dos sonhos (interpretação dos sonhos para desvelar o inconsciente) e o Indicador de Tipos Myers-Briggs (atitudes e tipos psicológicos).