Natureza Humana Corrompida

I Parte

A Corrupção da Compreensão.

Sermão pregado pelo pastor George Emanuel na sede da Igreja Congregacional Emanuel na noite de quinta-feira 17 de maio de 2007, quando descorai sobre o assunto de Hamartiologia a luz da teologia dos Puritanos.

E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.

ACF Gênesis 6:5

Introdução:

O pregador puritano Thomas Boston, disse:

- As Escrituras asseveram que através da desobediência de um homem, todos os homens foram constituídos pecadores; que em Adão todos morreram,morreram espiritualmente, perderam a vida e a imagem de Deus; que aquele pecado de Adão passaria a sua posteridade, pois Adão originou um filho à sua própria semelhança; nem seria possível que ele pudesse originá-lo de outra forma, porque "quem pode produzir uma coisa pura de uma impura?" Que, conseqüentemente, nós estávamos, assim como Adão e os outros homens, pela natureza, "mortos nas transgressões e pecados"; "sem esperança, e sem Deus no mundo", e, portanto, "filhos da ira"; de modo que todo homem pode dizer, "Eu fui moldado na iniqüidade; e, no pecado, minha mãe me concebeu"; que "não existe diferença porque todos que pecaram e carecem da glória de Deus"; daquela gloriosa imagem de Deus, na qual Adão foi originalmente criado. E, conseqüentemente, quando "o Senhor olhou dos céus para os filhos dos homens, Ele viu que todos eles haviam saído do caminho reto; que eles haviam se tornado completamente abomináveis; que não havia um justo; nem um sequer", ninguém que verdadeiramente buscasse a Deus. De acordo com isto, e o que é declarado pelo Espírito Santo, nas palavras acima citadas, "Deus viu", e quando Ele olhou dos céus, declarou: "A maldade do homem está grande sobre a terra"; tão grande que "cada imaginação dos pensamentos de seu coração era, tão somente, continuamente pecaminosa".

I.O Relato de Deus sobre a Corrupção da Compreensão.

- Este é o relato de Deus sobre a natureza humana. Do qual eu devo aproveitar a oportunidade para nesta introdução discorrer em três pontos:

1.Pretendo mostrar o que os homens eram antes do dilúvio.

2.Vamos inquirir se eles não são atualmente da mesma maneira.

3.Acrescentaremos também algumas inferências e aplicações para o nosso presente século.

·Há duas causas particulares que devem ser examinadas quando observamos o juízo de Deus no Dilúvio:

1.As uniões misturadas (vs. 2)."Os filhos do Deus",eram as posteridades piedosas de Seth e Enos, que cultuavam o verdadeiro Deus e a fé devida a Ele. Todavia, quando se casaram com "as filhas dos homens", mulheres profanas, descendentes de Caim, os filhos de Deus corromperam-se em seus caminhos e esqueceram que Deus é o nosso Deus para sempre; Ele tem que ser nosso único guia até à morte Sl 48:14. Por não temerem ao Senhor, nem as conseqüências que estas uniões trariam sobre o mundo antigo, os "filhos de Deus", encheram a terra de pecado. Não respeitando à vontade de Deus, escolheram por si e para si mesmos, mulheres belas que lhes agradassem e satisfizessem suas fantasias. E a união com estas mulheres pagãs ocasionou seus divórcios de Deus. Esta foi uma das causas do Dilúvio, praga esta que varreu o mundo com o juízo de Deus sobre aquela geração. Há de se acrescentar outros fatores secundários, como por exemplo: a deteriorização do culto ao Altíssimo e a apostasia deliberada dos filhos de Seth e Enos, levando assim, a humanidade da época ao distanciamento da graça de Deus.

2.O Juízo do Dilúvio. Foi o pagamento de Deus aos homens por causa da grande opressão que surgiu destas relações ilícitas, pois a contaminação foi geral sobre toda a face da terra (vs. 11-12). A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência.E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.

- O que os homens eram antes do dilúvio?Nós podemos nos basear completamente no relato fornecido no texto de Gn 6:5: Porque Deus o viu, e Ele não pode se enganar. Ele "viu que a maldade do homem era grande": Não este ou aquele homem: não apenas alguns poucos homens; não meramente uma parte maior, mas o homem em geral; os homens universalmente. A Palavra inclui toda a raça humana; todos os que fazem parte da natureza humana. E não é fácil para nós computarmos o número deles, para dizer quantos milhares ou milhões eles eram. A Terra, então, retinha muito de sua beleza primitiva e fertilidade original. A face do globo não era rachada e dividida como ela é agora; e primavera e verão eram bem definidos. É, portanto, provável que ela proporcionasse sustento para muito mais habitantes do que é hoje capaz; e esses deviam ser imensamente multiplicados, enquanto os homens criavam filhos e filhas, por setecentos ou oitocentos anos juntos. Ainda assim, em meio a todo este número inconcebível, apenas "Noé encontrou favor (graça) diante de Deus". Ele, somente ele e mais ninguém, foi uma exceção à iniqüidade universal, que, pelo justo julgamento de Deus pelo Dilúvio, pouco tempo depois, foi levada a terra à destruição, mas Noé foi preservado com sua família. Todos os demais foram participantes da mesma culpa, assim como, da mesma punição.

- Talvez, surja uma pergunta no seu coração: Se apenas Noé encontrou graça aos olhos de Deus, por que sua família foi salva? A doutrina dos Puritanos, responde: Deus, o instituidor da família, não nos criou para a irresponsabilidade. Sua vontade é que geremos nossos filhos legitimamente em união conjugal monogâmica, que mantenhamos nossas famílias, que criemos, protejamos e eduquemos nossos filhos para serem cidadãos dos céus e da terra. É muito triste ver tantos filhos abandonados, sem as bênçãos estruturadoras da paternidade e da maternidade. O caráter do filho forma-se e se consolida no crisol do lar monogâmico e harmônico. A Igreja digna de Cristo é a soma de famílias dignas, cuja dignidade mede-se pela fidelidade a Deus e aos parceiros conjugais. Sobre os filhos de pais crentes, diz assim, aBíblia: A promessa é para nós e para os nossos filhos (At 2. 39 cf Rm 4. 16; Gl 4.28). Os que Deus chamou, salvou e santificou, também os uniu em matrimônio e lhes deu filhos; tudo dentro do contexto da Aliança e segundo a soberana vontade do Redentor. Assim, pode-se entender a declaração paulina de que o cônjuge santo santifica o descrente, isto é, qualifica espiritualmente a união para que os filhos sejam santos: Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos (I Co 7. 14). Ora, se o batismo, sendo sinal da Aliança e da purificação, logicamente a criança, filha de pais crentes, deve ser apresentada a Deus na igreja, e no devido tempo batizada, pelos fatos da eleição em Cristo, da Aliança e da geração abençoada da família da fé. Filhos de crentes verdadeiros, qualificados como puros e santos pela Palavra de Deus (a autoritativa revelação), devem ser apresentados e batizados. Eles são santos por nossa causa e porque estão em nós como partes de nós mesmos e do corpo familiar (Cf Js 24. 15; At 16. 31-33). Nas Escrituras o chefe do lar responde perante Deus por sua família. Todos os descendentes e agregados uniam-se a ele, o sacerdote do lar. Isto explica a circuncisão de toda a grande família de Abraão, eleito de Deus, inclusive seus escravos (Gn 17.10-13). Aqueles pelos quais o patriarca era responsável recebiam o sinal da Aliança. O princípio da autoridade do patriarca levou Josué a declarar, respondendo por sua casa: Eu e a minha casa serviremos ao Senhor (Js 24.15, in fine). No Novo Testamento, famílias inteiras foram batizadas pela declaração de fé do líder do lar, como aconteceu com o carcereiro de Filipos (At 16. 33,34), com Lídia (At 16. 14-16), com Crispo (At 18.8) e com Cornélio (At 10). Tal doutrina é verdadeira e digna de inteira aceitação, levando-nos a uma maior certeza de que o Senhor cumprirá todos os seus maravilhosos desígnios em nossa vida e família. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12:3).

- Retornando a questão da Corrupção Humana, diz o texto: "Deus viu todas as criações dos pensamentos de seu coração"; de sua alma, de seu homem interior, o espírito dentro dele, o princípio de todos os seus movimentos internos e externos. Ele "viu todas as criações": Não é possível encontrar uma palavra de um significado mais extensivo. Ela inclui o que quer que seja formado, feito, e fabricado dentro; tudo que existe ou se passa na alma; toda inclinação, afeição, paixão, apetite; todo temperamento, desígnio, pensamento. Deve-se, em conseqüência, incluir toda palavra e ação, como fluindo naturalmente dessas fontes, e sendo tanto boa quanto má, de acordo com a fonte de onde ela severamente flui. Deus viu, agora, que tudo isto, o todo disto, era mal; contrário à retidão moral; contrário à natureza de Deus, que necessariamente inclui todo bem; contrário à vontade divina, o padrão eterno de bem e mal; contrário à imagem pura e santa de Deus, onde o homem foi originalmente criado, e, onde ele permaneceu, quando Deus, inspecionando as obras que havia criado, viu, então, que tudo era muito bom; contrário à justiça, à misericórdia, à verdade, e às relações essenciais que cada homem tem com seu Criador e seu próximo.

- Aplicação da doutrina.

1.Mas não havia bem misturado com o mal? Não havia luz misturada com a escuridão? Não; nenhuma afinal: "Deus viu que o todo da imaginação do coração do homem era tão somente mau". E de fato, não se pode negar que muitos deles, talvez, todos tivessem boas intenções, colocadas em seus corações; uma vez que o Espírito de Deus também "empenhava-se com o homem" se, por acaso, ele pudesse arrepender-se, mais especialmente, durante aquele gracioso adiamento temporário, de cento e vinte anos, enquanto a arca estava sendo preparada. Mas, ainda assim, "em sua carne não habitava nenhuma coisa boa"; toda sua natureza era puramente má. A corrupção era totalmente consistente consigo mesma, e não misturada com qualquer coisa de uma natureza oposta.

- No entanto, ainda pode ser o caso de se perguntar: "Não havia intermissão deste mal? Não havia intervalos lúcidos, em que alguma coisa boa pudesse ser encontrada no coração do homem?".Nós não vamos considerar aqui o que a graça de Deus poderia ocasionalmente operar em sua alma; e, abstraídos disto, nós não temos motivos para acreditar que houvesse alguma intermissão daquele mal. Porque Deus, que "viu que o todo da imaginação dos pensamentos de seu coração era tão somente mau", viu, igualmente, que ele sempre foi o mesmo; que ele "era mau, continuamente"; cada ano; cada dia; cada hora; e cada momento. Ele nunca se desviou para o bem.Como Isaias 1:6, concernente ao povo peculiar de Deus, (e certamente os ateus não estavam em melhor condição): "Toda a mente está doente; e todo o coração desfalece.Dos pés à cabeça, não existe sanidade; mas machucaduras, e injúria, e feridas pútridas".O mesmo relato é dado por todos os Apóstolos; sim, através de todo o teor dos oráculos de Deus. De tudo isto, nós aprendemos, concernente ao homem em seu estado natural, não auxiliado pela graça de Deus, que "cada imaginação dos pensamentos de seu coração" é ainda "mau"; "tão somente mau", e "continuamente mau".

- O relato sobre a raça humana é tão autêntico, que Deus que conhece o que está no âmago dos homens; que sonda os corações e testa as afeições, tem deixado para nossa reflexão e instrução, o registrado desta condenação.

- Eram tão pervertidas todas as faculdades os homens, que Deus trouxe o Dilúvio sobre a terra. E isto é certo, as Escrituras não nos dão motivo para pensar de alguma forma diferente delas. Do contrário, todas as passagens das Escrituras citadas acima se referem àqueles que viveram depois do Dilúvio. Acima de mil anos antes que Deus declarasse, através de Davi, com respeito aos filhos dos homens: Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um (Sl 14:3).

2.O que é mais natural para nós, do que buscar felicidade na criatura, em vez do Criador? A humanidade em nada mudou, pois sua busca por satisfação nas obras de suas mãos é o que é mais natural a cada endividou deste condenado planeta, o "desejo da carne" continua sendo o inimigo intimo do ser humano. Ou seja, o prazer do sentido de todo tipo. Os homens, de fato, falam magnificamente de despirem-se desses prazeres inferiores, particularmente, os homens de aprendizado e educação. Eles simulam se libertarem da gratificação desses apetites, em que eles se situam no mesmo nível que as bestas que perecem. Mas é mero fingimento; porque cada homem é consciente de que, neste aspecto, ele é, pela natureza, a mesma besta. Apetites sexuais, até mesmo aqueles do tipo mais inferior, têm, mais ou menos, um determinado domínio sobre ele. Eles o conduzem cativo; eles o arrastam para um lado e para o outro, a despeito de sua razão ostentada. O homem, com toda sua boa educação, e outros complementos, não tem primazia sobre um animal: mais ainda, é para se duvidar, se a besta não tem primazia sobre ele.Certamente, ele tem, se nós podemos ouvir atentamente a algum dos seus oráculos modernos, quem muito decentemente nos diz: "Numa determinada época, as bestas também provam do amor; apenas a besta da razão é sua escrava, e, nesta insensatez, ocupa-se o ano todo".

- "O desejo dos olhos"; é outro sintoma da corrupção humana.O desejo dos prazeres da imaginação. Esses surgem tanto dos grandes, quando dos objetos bonitos e incomuns; se os dois primeiros não coincidem com o último, visto que, talvez, possa parecer, numa sindicância zelosa, que nem os objetos grandes, nem os bonitos agradam mais do que aqueles que são novos; quando a novidade deles acaba, a maior parte, pelo menos, do prazer que eles proporcionavam termina; e na mesma proporção que eles se tornam familiares, eles se tornam vazios e insípidos. Mas mesmo que experimentemos isto tão freqüentemente, o mesmo desejo irá ainda permanecer. A sede inata continua fixada na alma; mais do que isto: quanto mais temos indulgência, mais ela aumenta, e nos incita a seguir atrás de outro, e outro objeto mesmo assim; embora deixemos cada um com uma esperança fracassada, e uma expectativa iludida.

3.O terceiro sintoma dessa doença fatal é "o orgulho da vida"; o desejo do reconhecimento, da honra que vem dos homens. Os maiores admiradores da natureza humana admitem que isto seja estritamente natural; tão natural quanto ver, ouvir, ou qualquer outro dos sentidos externos.

- E será que eles estão envergonhados disto, mesmo os homens letrados; homens refinados e de grande entendimento? Muito longe disto, eles se gloriam neste sentido! Eles aplaudem a si mesmos, por causa do seu amor próprio! Sim; "cristãos" eminentes, assim chamados, não têm dificuldade em adotar o dizer do velho ateu vaidoso: "Não considerar o que os homens pensam sobre nós, é a marca de uma mente enfraquecida e abandonada". Assim, ir com calma e equilibrado, através da honra e desonra; através de um relato bom ou ruim, é, para eles, sinal de alguém que não está, na verdade, adequado para viver: "Fora da terra com tal disposição". Mas alguém imaginaria que esses homens ouviram de Jesus Cristo ou de seus Apóstolos; ou que eles soubessem quem foi que disse: Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? (Jo 5:44). Mas, se isto é realmente assim; se for impossível acreditar, e conseqüentemente agradar a Deus, por quanto tempo recebemos ou buscamos a honra de uns dos outros, e não a honra que vem de Deus apenas, então, em que condição está à humanidade! Os cristãos, assim como os pagãos; uma vez que todos buscam honra um do outro! Uma vez que seja natural para eles procederem desta forma; sendo eles mesmos os juízes; assim como é natural ver a luz que toca seus olhos, ou ouvir o som que entrar por seus ouvidos; sim, uma vez que eles consideram isto um sinal de uma mente vitoriosa, contentar-se com a honra que vem de Deus apenas é praticamente uma afronta ao homem contemporâneo. Mas, assim diz o Senhor: Aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados (1 Sm 2:30).

- Chegando ao final deste tópico, o relato de Deus sobre corrupção humana, pode-se aprender uma grande e fundamental diferença entre o Cristianismo, considerado como um sistema de doutrinas, e a maioria do refinado Ateísmo.

John Wesley, disse:

Muitos dos antigos ateus têm descrito largamente a tendência habitual condenável de homens específicos. Eles têm falado muito contra a avareza, crueldade, luxúria, e prodigalidade deles. Alguns se atreveram a dizer que "nenhum homem nasce sem essa tendência condenável, de uma espécie ou de outra". Mas como ainda nenhum deles foram avisados da queda do homem, então, nenhum deles sabe de sua total corrupção.

·"Eles não souberam que todo homem foi esvaziado de todo bem, e preenchido com toda forma de mal. Eles são totalmente ignorantes da completa depravação de toda natureza humana, de cada homem nascido no mundo, em toda faculdade de sua alma; não tanto devido àquelas tendências específicas, que reinam em pessoas específicas, como por meio da inundação geral de ateísmo e idolatria, do orgulho, da vontade própria, e amor do mundo".

Isto, por conseguinte, é o primeiro grande ponto de distinção entre Ateísmo e Cristianismo.

Um reconhece que muitos homens estão infectados com muitos vícios, e, até mesmo, nascem com uma propensão a eles; mas supõe, além disto, que em alguns o bem natural contrabalança em muito o mal.

·"O outro declara que todos os homens são concebidos no pecado, "e moldados na maldade", que, conseqüentemente, existe em cada homem uma mente carnal que é inimiga de Deus; que não é, nem pode ser, objeto de sua lei; e que assim infecta toda a alma; que habita nele, isto é, em sua carne, em seu estado natural não existe nenhuma coisa boa, mas cada pensamento de seu coração é mau,e tão somente mau; e isto, continuamente".

Assim acontece com o homem não-regenerado. Ele tem as mesmas faculdades físicas e mentais que o homem regenerado possui para empregar no serviço e nas coisas de Deus, mas não tem amor por elas. "Adão... gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem" (Gn. 5:3). Que terrível contraste há aqui com o que lemos dois versículos antes: "... Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez". No intervalo entre esses dois versos, o homem caiu, e um pai caído pode gerar somente um filho caído, transmitindo-lhe a sua própria depravação. "Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? (Jó 14:4). Por isso nós encontramos o salmista de Israel declarando: "Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl. 51:5). No entanto, apesar de por natureza Davi ser um monte de iniqüidade e pecado (como também fomos nós antes de Deus nos alcançar com regeneração), mas tarde a graça fez dele o homem segundo o coração de Deus. Desde que idade essa corrupção da natureza aparece nas crianças? "Até a criança se dá a conhecer pelas suas obras" (Pv. 20:11).

A corrupção do seu coração logo se manifesta: desobediência, orgulho, vontade própria, vaidade, mentira, aversão ao que é bom, são frutos amargos que cedo brotam no novo, mas corrupto, ramo.

I.A CORRUPÇÃO DA COMPREENSÃO.

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A IMAGEM DE UM SOFISTA1

Thomas Boston, disse:

- A corrupção do homem está na completa escuridão em que se encontra o seu intelecto. Essa importante faculdade da alma foi destituída da sua glória original, e coberta de confusão. Tanto a mente como a consciência está corrompida: "Não há quem entenda" (Rm. 3:11). O apóstolo solenemente lembra os santos, "Pois outrora éreis trevas" (Ef. 5:8), não somente estavam "em trevas", mas eram as próprias "trevas". O pecado fechou as janelas da alma e a escuridão se estendeu por todo o lugar: ela é a região das trevas e da sombra da morte, onde a luz é como a escuridão. Lá reina o príncipe das trevas, onde não se pratica nada além das obras das trevas. Nós nascemos espiritualmente cegos, e não podemos ter essa visão restaurada sem um milagre da graça. Esse é o seu caso quem quer que você seja, se ainda não nasceu de novo. "São filhos sábios para o mal, e não sabem fazer o bem (Jr. 4:22)". "O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar" (Rm. 8:7). Existe no homem não regenerado uma oposição e uma aversão pelas coisas espirituais. Deus revelou a Sua vontade aos pecadores no tocante ao caminho da salvação, contudo eles não trilharão esse caminho. Eles sabem que somente Cristo é capaz de salvá-los, no entanto eles recusam se separar das coisas que obstruem os seus caminhos até a Ele. Eles ouvem que é o pecado que mata a alma, no entanto o afagam em seu peito. Eles não dão ouvidos às ameaças de Deus. Os homens acreditam que o fogo há de consumir-lhes, e estão em grande tormento para evitá-lo; contudo, mostram com suas ações que consideram as chamas eternas como se fossem uns meros espantalhos. O mandamento divino é "santo, justo e bom"( Rm 7:12), mas os homens o odeiam ( Dt 7:10), e só o observa enquanto a sua respeitabilidade é promovida entre os homens ( Mc 7:7).

- A compreensão é uma das principais faculdades da alma, mas ela está despojada da nossa glória original e está coberta de confusão e escuridão. Nós caímos nas mãos dos Filisteus, assim como Sansão, e fomos privados dos olhos da verdadeira compreensão espiritual. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus (Rm 3:11).Antes o seu entendimento e consciência estão contaminados (Tt 1:15).Quando o homem natural faz alguma apreensão das coisas divinas, ainda assim é corrompida. O salmista diz:Estas coisas têm feito, e eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te argüirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos (Sl 50:21). Suas atitudes estão corrompidas, seu julgamento não pode ser perfeito, seus olhos são maus, conseqüentemente as Escrituras mostram que tudo que o homem natural faz é errado, pois sem Deus para Reinar sobre ele, cada um faz o que parecia bem aos seus olhos (Jz 17:6; 21:25). Se quisermos ser moldados e dirigidos pelo poder da Palavra de Deus, torna-se sine qua non ao nosso bem estar espiritual e a umaverdadeira compreensão espiritual, de quem somos ede quem Deus é, deixarmos as Escrituras destruir os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo (II Co 10:5). Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas e sofisma (II Co 10:4). Mostrarei mais pormenorizadamente o que indica esta corrupção da mente e compreensão da humanidade que está morta em seus delitos e pecados, considere comigo os seguintes casos:

1.Analisaremos as palavras "altivez, fortalezas e sofismas".

- Altivez: vem do grego(evpairo,menon);aquilo que é levantado, exaltado, alto. O verbo está no particípio presente médio, isto indica que paredes e torres, como uma Fortaleza da antiguidade, foram levantados com um propósito pré-estabelecido de fazer oposição a todo e qualquer inimigo. A Torre de Babel (Confusão) é um bom exemplo disso: (Gn 11:3-5) E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.Então desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam.

Tanto a metáfora que Paulo utiliza em "II Corintios 10" quanto à idéia expressa por Ninrode em "Gênesis 10" para que os homens construíssem uma grande torre que desafiaria os seus inimigos nos combates militares, expressam a exaltação humana contra a Soberania de Deus. João Calvino, disse: A mente do homem é como um depósito de idolatria e superstição; de modo que, se o homem confiar em sua própria mente, é certo que ele abandonará a Deus e inventará um ídolo, segundo sua própria razão.Portanto, estas Fortalezas foram levantadas como ídolos contra a Majestade de Deus e contra Seu Cristo. Paulo, no contexto, estava acusando aos falsos apóstolos de estarem levantando doutrinas perniciosas, como por exemplo, o legalismo, a sabedoria humana, a religião, e as demandas que exaltavam os homens em detrimento da verdade de Deus e da doutrina de Cristo, bem como, a exaltação, o orgulho, a busca por vantagens matérias, o desejo do conforto, e tudo mais. Isto são Fortalezas que os homens levantaram em seus proprios raciocínios contra o verdadeiro conhecimento de Deus. Sendo assim, estas coisas são empreendimentos humanos contra Deus, tornando-se obstáculos contra a Palavra de Deus. Entretanto, o poder da Palavra de Deus é tão tremendo que joga por terra todos os empecilhos que tentam atravancar a obra de Deus. Foi assim no principio (Gênesis), é hoje, e será eternamente (Sl 9:7). As armas espirituais da fé, da esperança e do amor de Deus, sempre prevaleceram contra todos os obstáculos da vida cristão, de fato, toda altivez é um tipo de soberba contra Deus, e deve ser punida pelo juízo preciso do Altíssimo e de seus santos que os servem. E até Nabucodonosor, quando se exalta deve ir comer capim junto aos jumentos monteses (Dn 5:21).

- Fortalezas: no grego(ovcu,rwma);ochuroma: "fazer prisioneiros, prender, colocar em sujeição". O termo aponta para um lugar onde os prisioneiros de guerra são levados para serem manietados e torturados. No combate cristão devemos tomar cuidado com o diabo que por vezes leva prisioneiro os pensamentos dos pecadores e dos "cristãos fracos na fé". Nossos pensamentos devem estar cativos a Cristo e a Sua palavra. Paulo deseja que venhamos a entender que os demônios possuem Q.Gs espirituais que se opõem continuamente às verdades do Evangelho. Existe uma guerra que está sendo travada na mente dos homens e os demônios estão ávidos para sujeitar as faculdades da alma humana aos desígnios malignos de Satanás.

Quando em Abril de 1521, Martinho Lutero declarou diante o tribunal de Worms:

- "É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou labutando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente; não posso confiar em decisões de concílios ou de papas, pois é claro que eles não somente estão errados, mas estão se contradizendo uns aos outros. A minha consciência está cativa a Palavra de Deus, e não é seguro nem honesto agir contra a consciência de alguém. Não posso fazer de outro modo. Mantenho o que escrevi. Que Deus me ajude. Amém".

- Lutero havia pregado e publicado com ousadia e convicção sobre os abusos, erros e pecados da igreja romana. Por estas e outras razões o Papa e outros líderes da igreja Católica queriam a sua morte. Suas Noventa e Cinco Teses afixadas à porta da igreja em Winttenburg em 31 de outubro de 1517 iniciaram a maior revolução na história da Igreja Cristã: a Reforma Protestante. Lutero deixou muito claro que sua consciência estava cativa a Palavra de Deus e não aos dogmas humanos, e que apenas a humildade de reconhecer a Cristo como Senhor absoluto de sua vida, bem com a coragem e um cuidadoso exames das Escrituras poderiam oferecer o único caminho seguro para a salvação do homem.

Para Lutero: "Toda fortaleza doutrinaria sem o amparo das Escrituras, devem ser explodidas pelo poder da Palavra de Deus".

  • Napoleão Bonaparte, disse: "A Bíblia não é um mero livro, mas uma criatura viva, com poder para conquistar todos os que se opõem a ela".

- Quando confundimos inimigos espirituais com oponentes humanos (Ef 6:10), as estratégias saem erradas e as armas se tornam ineficazes. As fortalezas demoníacas da incredulidade, da facção, da pecaminosidade humana, das contendas, das heresias, e de toda tranqueira que Satanás levanta contra a Igreja só será destruída quando utilizamos os métodos de Deus. E tais métodos requerem que utilizemos "armas espirituais" e não carnais. Quando não damos muita importância a Palavra de Deus os demônios escravizam as mentes (II Co 4:4) e levam os homens a cometerem atrocidades e abominações diante de Deus. Porém, quando damos valor a Palavra de Deus e nos submetemos aos seus preceitos, os inimigos se redem e sucumbem as poderosas revelações de Deus. Porque o Senhorabaixará as altas fortalezas dos seus muros; abatê-las-á e derriba-las-á por terra, até ao pó (Is 25:12), e quanto ao cristão convicto de que a mão do Senhor descansa sobre ele (Is 25:10), este receberá a bênção do SENHOR e a justiça do Deus da sua salvação. (Sl 24:5) Porque a rocha deles não é como a nossa Rocha; e os próprios inimigos o atestam (Dt 32:31).

- Sofismas: vem do grego:(sofi,a), embora a palavra que apareça no texto original seja (logismou,j);raciocínio, reflexão, ou pensamento pragmático e humano. A palavra colocada pelos tradutores equivale virtualmente à expressão original utilizada por Paulo, para se referir às falácias ou aos circunlóquios teológicos dos falsos mestres de Corinto, estes se passavam por verdadeirosapóstolos de Cristo, sendo antes ministros de Satanás (II Co 11: 14-15).A palavra sofisma foi utilizada por Platão e Aristóteles para se referirem aos "sofistas", uma seita filosófica do séc. V a.C. que utilizavam falsos argumentos para enganar e ludibriar as pessoas. O objetivo final do sofisma é fazer alguém abandonar qualquer busca seria pela verdade, supondo que se realmente existisse ao veraz, não disporíamos de meios para sondá-lo e descobri-lo. Todo sofista é um Ateu ou Agnóstico, e em certo sentido eles foram os primeiros professores universitários, porquanto vendiam os seus "conhecimentos". Sendo também os precursores dos advogados os sofistas eram oradores cheios de retórica e educação. Protágoras, Pródico, Hipias, Górgias, Lícrofon, Trasímaco, Cálicles, Antífom, Crítias e Crátilo foram alguns dos principais sofistas da época. Portanto, Paulo estava combatendo as especulações intelectuais dos mestres gnosticos que se levantaram contra a verdade de Deus. Seus argumentos filosóficos estavam desviando os novos convertidos da igreja de Corinto, afastando-os da verdade de Cristo e do conhecimento de Deus. Estes raciocínios sofismaticos deveriam ser considerados letais para a verdadeira fé cristã e o autentico conhecimento espiritual, pois estavam tornando os homens nulos e obscurecidos, corrompendo a mente e o coração deles, afastando-os da simplicidade e pureza de Cristo, pelo engano astuto do diabo; que assim como usou a serpente para enganar a Eva, estava usando também os "mestres em conhecimento e da espiritualidade" para enganar os crentes em Cristo (Rm 1:21); (II Co 11:3).

J.I. Packer, no prefacio do seu livro "O Conhecimento de Deus", nos adverte com as seguintes declarações:

Escrevi este livro com a convicção de que a ignorância sobre Deus, ignorância tanto de seus recursos como da prática da comunhão com Ele, tem relação direta com a fraqueza da igreja moderna, isto é, com a compreensão a respeito de Deus.

Duas tendências infelizes parecem ter produzido este estado de coisas.

A primeira tendência é que a mentalidade cristã adaptou-se ao espírito moderno, ou seja, o que gera grandes idéias humanas e deixa espaço apenas para pequenos pensamentos sobre Deus. A atitude atual em relação a Deus é deixá-lo à distância, quando não o nega completamente. A ironia disto é que os cristãos modernos, preocupados em manter as práticas religiosas em um mundo sem religião, têm, eles mesmos, permitido que Deus se torne distante. Pessoas com uma visão mais clara das coisas, percebendo esta situação, são tentadas a se afastar da igreja, um tanto desgostosas, para buscara Deus por si mesmas. Ninguém poderá culpá-las totalmente, pois os cristãos que buscam a Deus usando, por assim dizer, os lados errados do telescópio, reduzindo-o à proporção de um pigmeu, não podem esperar concluir seus dias senão como cristãos pigmeus. As mais esclarecidas querem naturalmente alguma coisa melhor. Além disso, pensamentos sobre a morte, a eternidade, o juízo, a grandeza da alma e as conseqüências duradouras das decisões temporais são ultrapassados para os modernistas. O triste é que a Igreja cristã, em lugar de levantar a voz para lembrar ao mundo o que está sendo esquecido, adquiriu o hábito de também menosprezar esses temas. Estas capitulações ao espírito moderno são realmente suicidas quando se referem à vida cristã.

A segunda tendência é que a mentalidade cristã vem sendo confundida pelo ceticismo moderno. Por mais de três séculos o fermento naturalista da perspectiva renascentista tem agido como um câncer no pensamento ocidental. Os arminianos e os deístas do século XVII, assim como os socinianos no século XVI, negavam, em oposição à teologia da Reforma, que o controle de Deus sobre o mundo fosse direto ou total. Desde então,a teologia, a filosofia e a ciência têm em grande parte se unido para sustentar essa negativa. Como conseqüência, a Bíblia está sob fogo cerrado, assim como muitos outros marcos do cristianismo histórico. Os fatos fundamentais da fé são questionados. Deus se encontrou com Israel no Sinai? Jesus foi mais que um homem muito espiritual? Os milagres dos Evangelhos realmente aconteceram? O Jesus dos Evangelhos não será, em grande parte, uma figura imaginária? E assim por diante. E isso não é tudo. O ceticismo a respeito da revelação divina e dos fundamentos cristãos deu margem ao questionamento mais amplo que abandona toda idéia da unicidade da verdade, e com isso qualquer esperança de unificar o conhecimento humano. Assim, é comumente aceito que minhas percepções religiosas não mantêm relação com meu conhecimento científico das coisas externas, porque Deus não está lá fora. No mundo, mas apenas aqui dentro na psique. A incerteza e a confusão a respeito de Deus, características de nossos dias, são piores que qualquer ataque desde a tentativa da teosofia gnóstica de absorver o cristianismo no século II. É comum dizer-se hoje em dia que a teologia está mais forte que nunca, e em termos de especificação acadêmica, ou na qualidade e quantidade de livros publicados, isto talvez seja verdade. No entanto, faz muito tempo que a teologia não se apresenta tão fraca e inábil na tarefa básica de manter a Igreja dentro das realidades do Evangelho.

Em 1887, Charles Haddon Spurgeon descreveu como "declínio" as vacilações observadas então entre os batistas a respeito das Escrituras, da expiação e do destino humano. Se ele pudesse avaliar o pensamentoprotestante a respeito de Deus nos tempos atuais, creio que falaria em afundamento!Ponham-se na encruzilhada e olhem; perguntem pelos caminhos antigos, perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descanso. (Jr 6:16). Eis o convite deste livro, intitulado de "O Conhecimento de Deus". Não se trata de uma crítica aos novos caminhos, a não ser indiretamente; pelo contrário, é um chamado direto às sendas antigas, pois, o bom caminho é ainda o mesmo.

2.Para indicar ainda mais esta corrupção da compreensão mais particularmente, consideraremos ainda os seguintes tópicos:

a)Há uma fraqueza natural, uma corrupção nas mentes dos homens com respeito às coisas espirituais (At 17:27); (II Pe 1:9); (Os 12:10); (Is 28:10). Vemos que os homens estão "tateando" a procura de Deus. A palavra "tatear" (yhlafa,w);pselaphao; apalpar, sentir, ou tocar. É empregada na Septuaginta (tradução grega dos originais hebraicos do Antigo Testamento, feita aproximadamente em 200 a.C. por 72 anciãos judeus) para indicar o ato de tatear no escuro. Platão utilizou este termo para referir-se a tentativa vaga de acertar com a verdade. A figura de linguagem mostra um homem cego estendendo as mãos aleijadas, destituídas de fé, tateando aquilo que ele pensa em seu pálido intelecto ser deuses. O Deus que Paulo proclamava não poderia ser colocado no panteão nem somado aos outros deuses gregos, pois, se, de fato, aqueles homens estivessem a fim de conhecer a verdadeiro Deus a quem eles ignoratemente cultuavam como "o Deus Desconhecido" deveriam imediatamente abandonar as religiões e as especulações filosóficas, passando a cultuar o único e verdadeiro Deus por meio de Jesus Cristo. O apostolo proclama a aproximação de Deus, não somente para com a sensibilidade da sua criação mais também para a manutenção dela (At 17:28). Entretanto, estas palavras não conseguiam vibrar de forma adequada nos corações e mentes daqueles filósofos epicureus e estóicos, pois eles não queriam ouvir outra coisa se não seus sistemas de raciocínios débeis e contraditórios com a verdade de Deus. O beneficio da Revelação Natural estava a favor deles, todavia estavam cegos por causa dos seus pecados.

b)Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucose mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém (Rm 1: 20-25).

·Sêneca, filósofo grego e adepto do estoicismo, disse: "Deus está perto de ti; ele está no teu intimo".

- Embora o conceito do estoicismo a respeito de Deus seja Panteísta, a primeira frase de Sêneca estava certíssima: "Deus está perto de ti", mas o fato é que os homens ignoraram o conhecimento a respeito da Revelação de Deus. Então, o problema permanece o mesmo: a distancia que os homens estão de Deus é por causa do efeito ofuscante do pecado que cega à consciência do homem para com a revelação natural de Deus na criação. Porém, não estamos insensíveisàs ações diretas de Deus no intimo do nosso ser, Deus faz com que Sua presença venha, não somente, ser inquirida pelos homens, mas ser sentida por eles; embora nunca encontrada, salvo, por uma ação soberana de Deus a favor dos pecadores. E era exatamente visando este fim que Paulo estava notificando aos filósofos que, buscar a Deus é o dever moral de todo homem, e, que só encontraram a verdade de Deus no dia em que se arrependerem de seus pecados (At 17:30) e aceitarem a Jesus Cristo, Aquele a quem Deus constituiu Senhor dos vivos e dos mortos para julgar toda a humanidade (At 10:42; 17:31).

- Eles não consideram aquelas muitas vantagens recebidas por Deus (At 17:25), o Deus que abençoou toda a generalidade da humanidade (Gn 1:28). Eles são os que tiveram os benefícios da instrução, de boas instruções; sim, das benções recebidas pela graça comum, a luz da graça raiou sobre cada um deles na medida divina, sempre dada pela providência de Deus (Mt 5:45) e distribuída pelos santos que estão sobre a terra (II Co 9:9). Contudo, embora possuindo uma parcela do conhecimento divino (Rm 1:21), tornaram-se ignorantes e cheios de confusões em suas mentes egoístas, deixaram-se seduzir e foram vencidos pelo engano do pecado (Hb 3:13) e se tornaram brutos irracionais (II Pe 2:12). Apostataram da verdade e passaram a ser pedras de tropeço (Mt 18:6) para os pequeninos do Senhor. Não respeitando mais nenhuma autoridade superior, vivem em difamações, invejas, e contendas; e, quanto a tudo o que compreendem apenas por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corromperam, tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando as almas inconstantes, seus corações estão sempre exercitados na avareza, tornaram-se filhos malditos (II Pe 2:14). Que erros e delitos perigosos são encontrados na mente dos homens, nos interesses dos seus pensamentos, nas fantasias e elucubrações de sua alma que por vezes prevalecem contra eles!Suas mentes estão pervertidas e privadas da verdade (I Tm 6:5).E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé (II Tm 3:8). A advertência Paulina permanece para os dias atuais: E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente (Ef 4:17).

- O homem natural não tem integridade, ele é como uma mulher grávida cujo útero está cheio de maldade, seus pecados são como filhotes de víboras, seus planos como teias de morte, suas mãos, pés e pensamentos estão envoltos na escuridão da violência e do mal. Ninguém há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniqüidade. Chocam ovos de basilisco, e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e, quebrando-os, sairá uma víbora. As suas teias não prestam para vestes nem se poderão cobrir com as suas obras; as suas obras são obras de iniqüidade, e obra de violência há nas suas mãos. Os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; destruição e quebrantamento há nas suas estradas (Is 59:4-7).

- Os homens são vácuos do conhecimento da salvaçãonão conhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; e todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz. (Is 59:8). Isaías, também diz: Todas as nações são perante Ele (Iavé) como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo (40:17).E quanto às coisas espirituais, as nações estão em estado de cegueira total. Por causa dos seus próprios pecados os homens estão debaixo da condenação de Deus. O resultado é trevas, frustração, ausência de liberdade, consciência da culpa, mas não arrependimento dela; e o espectro da morte permeia a mente deles, pois estão sempre ouvindo sussurros de falsidade e o engano de seus corações corruptos.Apalpamos as paredes como cegos, e como os que não têm olhos andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como nas trevas, e nos lugares escuros como mortos.Todos nós bramamos como ursos, e continuamente gememos como pombas; esperamos pelo juízo, e não o há; pela salvação, e está longe de nós. Porque as nossas transgressões se multiplicaram perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; porque as nossas transgressões estão conosco, e conhecemos as nossas iniqüidades; como o prevaricar, e mentir contra o SENHOR, e o desviarmo-nos do nosso Deus, o falar de opressão e rebelião, o conceber e proferir do coração palavras de falsidade (Is 59:10, 12-13). Há na mente dos homens uma polarização natural para o mal, por meio do qual passam privações e por inúmeras dificuldades, pois eles não encontram prazer nas veredas da justiça, e quando agem em busca das coisas espirituais, sempre tem suas inclinações voltadas ao misticismo e ao paganismo.Deveras o meu povo está louco, já me não conhece; são filhos néscios e não inteligentes; sábios são para mal fazer, mas para bem fazer nada sabem (Jr 4.22).

  • IMPLICAÇÕES CONCLUSIVAS:

Qual é a Solução de Deus para que venhamos a ter uma compreensão (mente) sadia e cheia do Espírito Santo?

1.Devemos nos lembrar que uma mente corrupta é tão ruim aos olhos de Deus quanto uma vida depravada.

- Mat. 12:34, "... Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca".(Mat. 15:18); I João 2:16 - todo pecado é concupiscência (Mat. 5:28); Tiago 1:14, 15, "Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; ..." (Rom 1:21,28)

- Deus olha para o coração (I Sm 16:7). Tenha cuidado com aquilo que você estuda sobre Deus e o que você aceita como sendo a verdade.Isso influi muito na mente e assim nas ações.Não se pode agradar a Deus com o erro.Para Ele "importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade". (João 4:24).

2.Devemos aceitar a verdade a nosso respeito com temor, e anuir à verdade a respeito de Deus com amor e adoração constante.

- Ef 4:11-16, edificados "para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens... antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em... Cristo". Quem ama a verdade de coração, não aceita facilmente o erro em sua mente (Col 3:16). Considere que qualquer que seja o erro em sua vida, ele só trará destruição: I João 3:4 "pecado é iniqüidade", Rom 6:23, "salário do pecado é morte", I Cor 3:11-15, "pelo fogo será descoberta... sofrerá detrimento"Ec 12:14, tudo será julgado no fim.

- Guarde (pratique) a verdade - Provérbios 4:23, II Tm 1:13, Conserva o modelo das sãs palavras", Tt 1:9, "Retendo firme a fiel palavra". Só é possível segurar o erro se primeiramente soltar a verdade.Então, não solte a verdade, nem um pouco."Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração", Sal 19:8, porque então namorar com o erro? É melhor perder os parentes, favor, bens do que a verdade de Deus.Seja humilde: Sal 25:9, "Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho". As pessoas guiadas e ensinadas por Deus, verdadeiramente não vão cairão tão facilmente no erro. Pv 15:33, "... precedendo a honra vai a humildade". Pelo conhecimento as filosofias geralmente fazem a soberba aumentar (I Cor 8:1, "... A ciência incha, mas o amor edifica").

- Considere o seu passado, lembrando-se o que o erro produziu em sua relação com Deus. Considerem os cegos de coração o que o erro tem feito, a tristeza semeada no mundo, os túmulos cheios, os corações quebrados, a honra vencida, a beleza danificada, os corpos cicatrizados, os juízes pervertidos, as mentes corrompidas, as famílias fragmentadas, as boas intenções rompidas, etc. tudo por causa da corrupção da compreensão.A consideração desses erros deve incentivar-nos a termos um desgosto do erro tamanho que busquemos a Deus pedindo a Sua misericórdia para nunca mais cair nas armadilhas de Satanás. Sal 73:17-28.

3.As Defesas constantes do Crente: #Tenha a verdade na mente. Fp. 4:8, "nisso pensai", Cl 3:2, "Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra"; Sl 1:2, 3, "Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.' Só é possível adorar a Deus corretamente através da verdade,João 4:24 #Estude a Palavra de Deus para ser dirigido por ela constantemente: Sl 119:11 "Escondi a Tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti".

- Pela compreensão da mente regenerada e cheia da Palavra de Deus, e, principalmente pelo serviço fiel a Deus: Cristo é exaltado, Deus é adorado da maneira que convém (João 4:24).

·O pecado é reprovado, a carne é dominada, o mundo é evangelizado, nossos medos são apaziguados, é dado conforto às almas, os ímpios são avisados, o Espírito Santo torna-se real a nós e os nossos corações são refrigerados pela graça de Deus. Jer 15:16, "Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração"; Veja o exemplo de Cristo: Heb 12:2, "pelo gozo que lhe estava proposto".

·Cristo estava em plena intimidade e obediente ao Pai.Pense em todo o que Cristo passou por você Hb 12:2-4.

·Pensando em tudo o que Cristo já passou para nos dar uma oportunidade de servi-lo faz com que tudo o que passamos seja em tudo sem comparação. "Suportou a cruz... afronta... contradições..." Is 53:4-11, "enfermidades, dores, aflito, ferido, moído, castigo, pisaduras, oprimido, afligido, opressão, juízo, cortado da terra dos viventes, enfermar, trabalho da sua alma"

4.Sobre o discernimento espiritual em nossa cultura:

o1 Co 2:14-16 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do SENHOR, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.

- Um dos problemas que confrontamos nas primeiras reflexões sobre a corrupção da compreensão é que a visão da sociedade secular tende a classificar como "cultura" tudo o que caracteriza uma sociedade, considerando essas formas de expressão como moralmente neutras. Ou seja, tudo que um povo produz é considerado "cultura", seja ela erudita ou popular. Não existe o certo ou o errado, quando se trata de cultura, é apenas uma questão de usos e costumes. Essa compreensão não é bíblica.

- O crente tem que ter sempre o discernimento espiritual e moral para separar as formas comportamentais que não condizem com a Palavra de Deus, independentemente se é classificado como "cultura", como algo popular ou não. Muitos líderes evangélicos têm também aceito esse conceito mundano e procuram uma adaptabilidade total da fé cristã. Qualquer tentativa de correção de aspectos culturais é rotulada de "ocidentalização do evangelho", ou violência cultural. Chega-se a ponto de se dizer que temos que ter "teologias regionais", ou seja – uma teologia sul-americana, uma outra africana, e assim por diante – como se os princípios descritivos revelados de Deus não tivessem uma fonte única e imutável – a Sua Palavra.

- Não podemos, portanto, simplesmente aceitar uma civilização como ela é sem termos a visão clara do que ela tem contrário à palavra de Deus. O apóstolo Paulo, o maior "missionário transcultural", não hesitou em fazer observações que, nos dias de hoje seriam consideradas "politicamente incorretas" sobre os habitantes da Ilha de Creta – cultura na qual estava inserido o jovem pastor, Tito. Paulo, citando um próprio poeta daquele povo (Epimênides) diz em Tito 1: "Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos, e enganadores, especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância. Foi mesmo dentre eles, um seu profeta que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. Tal testemunho é exato. Portanto repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé".(v. 10-13).

- Por outro lado, existe a cultura verdadeira. O resultado do conhecimento aplicado no caldeirão das peculiaridades e diversidades operadas por Deus em todos os povos. Enquanto muitos crentes não exercitam discernimento e aceitam tudo que é classificado como "cultura" sem se preocupar com a adequação moral e bíblica do que é apresentado, outros têm a compreensão que qualquer coisa produzida fora da igreja, sendo do campo "secular" não deveria ser apreciada. Qual deve ser a abordagem equilibrada desta questão? O que tem a Palavra de Deus a nos ensinar? O Salmo 24 nos diz, "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam". A verdade é que a visão bíblica não faz uma separação entre o secular e o sagrado. Todas as coisas pertencem a Deus. O diabo tem atuado temporariamente na terra, mas ele é um usurpador, ele não é o príncipe deste século por direito. Sabemos que um dos sinais da vitória final de Jesus Cristo é que Deus o exalta, "… para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra" (Fl 2.13). As demandas de Deus caem sobre todos os homens, crentes e descrentes. Seus mandamentos são válidos em todas as ocasiões e situações. Deus é a fonte de tudo que verdadeiramente tem valor e de todo o desenvolvimento veraz do conhecimento e da boa compreensão humana.

5.Sobre a Fé a e Compreensão Humana: O elemento intelectual da fé envolve a compreensão, a razão, o conhecimento. Há uma crença na revelação de Deus, mesmo que seja a revelação natural, mas principalmente nos fatos históricos das Escrituras e nos seus ensinos, particularmente os essenciais sobre o pecado e a necessidade de arrependimento.

oNuma aula de Filosofia da Religião certo aluno perguntou ao seu professor: É possível um débil mental ter fé? Sua resposta foi: "Vá perguntar a ele". Quando o aluno estranhou sua resposta, ele a ampliou: "Se ele não consegue responder no que crê, então não crê". Crer é um ato de fé, mas envolve razão, por mais limitada que seja a pessoa. "Eu sei em que tenho crido", diz Paulo (2Tm 1.12). Não é preciso ser um gênio, mas a pessoa precisa saber no que está crendo. Este elemento intelectual não tem sido levado a sério em muitas pregações contemporâneas, muito voltado para as emoções, mas deve ser ressaltado em nosso estudo no decorrer desta matéria. A fé também é compreensão. A crise de fé de Asafe, no Salmo 73, terminou quando ele compreendeu: "então percebi" (v.17). Numa frase que é título de um livro de John Stott, "crer também é pensar". Quanto a respeito do débil mental, a Bíblia diz: Is 35:8E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão. Cristo, com toda a certeza e eficácia aplica e comunica a salvação a todos aqueles para os quais ele a adquiriu. Isto ele consegue, fazendo intercessão por eles e revelando-lhes na palavra e pela palavra os mistérios da salvação, persuadindo-os eficazmente pelo seu Espírito a crer e a obedecer, dirigindo os corações deles pela sua palavra e pelo seu onipotente poder e sabedoria, da maneira e pelos meios mais conformes com a sua admirável e inescrutável dispensação. João 6:37; 39 e 10:15-16; I João 2:1; João 15:15; Ef. 1:9; João 17:6; II Cor. 4:13; Rom. 8:9, 14 e 15:18-19; João 17:17; Sal. 90:1; I Cor. 15: 25-26; Col. 2:15; Lc. 10: 19.

6.Deus governa a compreensão dos maus em favor dos seus escolhidos: Agostinho, disse: O esmerado estudo da Escritura mostra que Deus não somente dirige para as boas ações e para a vida as boas vontades dos homens, que ele torna boas, embora sejam más, como também mantém sob o seu poder todas as vontades em geral. Ele as inclina como quer e quando quer, seja para prestar favores a uns, seja para infligir castigos a outros, de acordo com Sua vontade, obedecendo a desígnios que são certamente ocultos, mas sempre justos. Deparamos, por exemplo, com alguns pecados que são castigados de outros pecados, como os vasos de ira, prontos para a perdição, como diz Paulo (Rm 9.22). Assim foi o endurecimento do Faraó, cuja razão foi à necessidade de o Senhor manifestar-lhe seu poder (Êx 7.3; 10.1). Assim foi a fuga dos israelitas na presença de seus inimigos da cidade de Ai (hb: Ruína) foram tomados pelo medo e fugiram. Isto lhes aconteceu como vingança do pecado com as circunstancias com que merecia ser vingado. Refletem o fato as palavras do Senhor a Josué: Israel não poderá ter-se diante de seus inimigos (Josué 7.4-12). O que significa: não poderá ter-se? Por que não puderam resistir pela força do livre-arbítrio e, com a vontade enfraquecida, fugiram tomados de medo? Não seria porque Deus domina até as vontades humanas e deixa serem invadidos pelo temor aqueles que Ele assim quer quando cheio de ira? Os inimigos de Israel não lutaram por vontade própria contra o povo de Deus conduzido por Josué? No entanto, diz a Escritura: Porque tinha sido desígnio do Senhor que os seus corações se endurecessem e combatessem contra Israel, e que fossem derrotados (Josué 11.28).

- Aquele malvado filho de Jêmini não maldizia o rei Davi por sua própria vontade? Contudo, o que disse Davi, cheio de verdadeira, sublime e piedosa sabedoria? Que importa a mim e a vós, filhos de Sárvia? Deixai que amaldiçoe, porque o Senhor lhe permitiu que amaldiçoasse Davi, e quem se atreverá a dizer: Por que ele fez assim?Em seguida, a Escritura, elogiando o sentimento do rei e como que repetindo desde o princípio, diz: E o rei disse a Abisaí e a todos os seus servos: eis que meu filho, que eu gerei das minhas entranhas, procura tirar-me a vida; quanto mais agora um filho de Benjamin! Deixai-o maldizer, conforme a permissão do Senhor; talvez o Senhor olhe para a minha aflição, e me dê bens pelas maldições deste dia (2 Samuel 16.5-12).

- Qual a pessoa inteligente que chegue a entender como o Senhor disse a esse homem que amaldiçoasse Davi? Não o disse mandando, caso em que deveríamos louvar-lhe a obediência. Mas porque Deus, por um desígnio oculto e justo inclinou Sua vontade já dotada de maldade, está escrito: O Senhor lhe permitiu. Se Deus tivesse mandado e ele tivesse obedecido, mereceria louvor e não castigo, o qual, conforme sabemos, sobreveio-lhe posteriormente. E sabemos também a causa de o Senhor que maldissesse Davi, isto é, a causa de tê-lo feito cair nesse pecado: Talvez o Senhor olhe para a minha aflição e me dê bens pelas maldições desse dia.

- O episódio revela que Deus se serve dos corações dos maus para louvor e ajuda aos bons. Assim procedeu ao servir-se de Judas para trair a Cristo, e dos judeus, para a sua crucificação. Deus se utiliza também do próprio demônio, mas para o bem, a fim de exercitar e provar a fé e a piedade dos bons. Esse proceder em nada favorece o Senhor, que tudo conhece de antemão, mas a nós necessitados de que essas coisas aconteçam. Absalão não escolheu livremente o conselho que não o favoreceu? Mas ele o fez porque o Senhor ouvira a oração de seu pai, que assim suplicara. Por isso diz a Escritura: Por disposição do Senhor foi abandonado o útil conselho de Aquitofel, para que o Senhor fizesse cair o mal sobre Absalão (2 Samuel 17.14). Disse conselho útil, porque no momento favorecia a causa, ou seja, a luta contra o pai, contra o qual se rebelara.

- Seguindo o conselho de Aquitofel, conseguiria exterminar o pai, se Deus não o tivesse inutilizado, atuando no coração de Absalão para rejeitar tal conselho e preferisse outro que não o favorecia. Desta forma, vemos que Deus controla todas as coisas misteriosamente, fazendo como que Aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é Ele que segundo Deus intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou (Rm 8:27-30).

7.Jonathan Edwards: Sondando a Própria Compreensão, Como examinar a si mesmo?Somos totalmente conscientes dos nossos atos. Instantaneamente sabemos tudo o que acontece conosco, e tudo o que fazemos?Mas, em alguns aspectos, é mais difícil obter um conhecimento verdadeiro sobre nós mesmos do que sobre quase qualquer outra coisa. Portanto, devemos investigar diligentemente no segredo do nosso coração e examinar cuidadosamente todos os nossos caminhos e condutas.

Aqui estão algumas diretrizes para ajudar neste processo:

- Em primeiro lugar, sempre una a auto-reflexão com a leitura e o ouvir da Palavra de Deus.(2Tm 3.16,17). Portanto, quando ler os mandamentos dados por Cristo e seus apóstolos, pergunte-se: Vivo de acordo com essas regras? Ou vivo de maneira contrária a elas?

- Em segundo lugar, se você faz coisas que geralmente são evitadas por cristãos perspicazes e maduros, tenha um cuidado especial em questionar-se se tais atos podem ser pecaminosos. Talvez você tenha argumentado consigo mesmo que tal prática é lícita; você não vê mal algum nela. Porém, se a coisa é geralmente condenada por cristãos piedosos, com certeza isso deve lhe parecer suspeito. Será prudente de sua parte considerar conscientemente se isso desagrada a Deus. Se uma prática não é aprovada por aqueles que em tais casos, em geral, provavelmente são mais corretos, você deveria considerar, com o maior cuidado, se a coisa em questão é lícita ou ilícita. 1 Co 10:23 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.

- Em terceiro lugar, pergunte a si mesmo se no seu leito de morte terá lembranças agradáveis em relação à maneira que viveu. 2 Peter 1:14-16 Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado.Mas também eu procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas. Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.Solenemente pergunte a si mesmo e veja se está fazendo algo agora que pode trazer boas lembranças ou vergonha e problemas quando você estiver no leito de morte. Pense nos seus caminhos e examine-se com a expectativa sensata de logo partir deste mundo para a eternidade. Empenhe-se com sinceridade para julgar imparcialmente as coisas com as quais você terá prazer no seu leito de morte, bem como as que você vai desaprovar e desejar deixar. Gn 50:24 E disse José a seus irmãos: Eu morro; mas Deus certamente vos visitará, e vos fará subir desta terra a terra que jurou a Abraão, a Isaque e a Jacó.

- Em quarto lugar, considere o que outros podem dizer sobre você, principalmente os domésticos da fé (Pv 27.6). Embora as pessoas estejam cegas quanto às suas próprias faltas, facilmente descobrem os erros dos outros e consideram-se aptas o suficiente para falar deles. Algumas vezes, as pessoas vivem de maneira que absolutamente não são adequadas, porém estão cegas para si mesmas. Não vêem seus próprios fracassos, embora os erros dos outros lhes sejam perfeitamente claros e evidentes. Elas mesmas não vêem suas falhas; quanto às dos outros, não podem fechar os olhos ou evitar ver em que falharam. Alguns, por exemplo, são inconscientemente muito orgulhosos. Mas o problema aparece notório aos outros. Alguns são muito mundanos ainda que não sejam conscientes disso. Alguns são maliciosos e invejosos. Os outros vêem isso, e para eles lhes parecem verdadeiramente dignos de ódio. Porém, aqueles que têm esses problemas não refletem sobre eles. Não há verdade no seu coração e nem nos seus olhos em tais casos. Assim devemos ouvir o que os outros dizem de nós, observar sobre o que eles nos acusam, atentar para que erros encontram em nós, e com diligência verificar se há algum fundamento nisso. Se outros nos acusam de orgulhosos, mundanos, maus ou maliciosos, nos acusam de qualquer outra condição ou prática maldosa, deveríamos honestamente nos questionar se isso é verdade. A acusação pode nos parecer completamente infundada, e podemos pensar que os motivos ou o espírito da acusação é errado. Porém, a pessoa perspicaz verá isso como uma ocasião para um auto-exame. Deveríamos especialmente ouvir o que os nossos irmãos em Cristo dizem para nós e sobre nós. É imprudente, bem como não-cristão, tomar isso como ofensa e se ressentir quando os outros apontam nossas falhas. "Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeiam são enganosos" (Pv 27.6). Deveríamos nos alegrar que nossas máculas foram identificadas. Mas, também deveríamos atentar para as coisas sobre as quais os nossos inimigos nos acusam. Se eles nos difamam e nos insultam descaradamente, até mesmo com uma atitude incorreta, deveríamos considerar isso como um motivo para uma reflexão no íntimo, e nos perguntar se há alguma verdade no que está sendo dito. Verdade é que os nossos inimigos provavelmente nos atacam onde somos mais fracos e mais defeituosos; e onde demos mais abertura para a crítica. Tendem a nos atacar onde menos podemos nos defender. Aqueles que nos insultam, embora o façam com um espírito e modos não-cristãos, geralmente identificarão as genuínas áreas onde mais podemos ser achados culpados. Assim, quando ouvirmos outros falando de nós nas nossas costas, não importa o espírito de crítica, a resposta certa é a auto-reflexão e uma avaliação quanto à verdade da culpa em relação aos erros de que nos acusam. Com certeza essa resposta é mais piedosa do que ficar furioso, revidar ou desprezá-los por terem falado maldosamente. Desse modo talvez tiremos o bem do mal, e esta é a maneira mais certa de derrotar o plano dos nossos inimigos, que nos injuriam e caluniam. Eles fazem isso com motivação errada, querendo nos injuriar. Mas, dessa maneira converteremos isso em nosso próprio favor.

- Em quinto lugar, quando vir os erros dos outros, verifique se você tem essas mesmas deficiências. Muitos estão prontos para falar dos erros dos outros, apesar de terem as mesmas falhas. Nada é mais comum para orgulhosos do que acusar o orgulho de alguém. Semelhantemente, é comum para o desonesto reclamar de ter sido enganado por outra pessoa. As características ruins e os maus hábitos dos outros parecem muito mais odiosos nos outros do que em nós mesmos. Facilmente podemos ver quão desprezíveis é este ou aquele pecado em outra pessoa. Vemos muito prontamente nos outros como o orgulho é detestável, ou quão má a malícia pode ser, ou quão pernicioso é o erro dos outros. Mas, embora vejamos facilmente muitas imperfeições nos outros, quando olhamos para nós mesmos essas coisas ficam obscurecidas por um espelho de ilusão. Entretanto, quando você vê o erro dos outros, quando percebe quão impróprios são os atos de alguém, que atitudes rudes eles mostram, ou quão inadequado seu comportamento é, quando ouve outros falarem sobre isso, ou quando vê erros no tratamento deles em relação a você, será bom refleti! Avalie se não há algum erro semelhante na sua conduta ou atitude. Perceba que essas coisas são tão inconvenientes e ofensivas em você como são nos outros.

- Em ultimo lugar, avalie como os outros são cegos em relação aos próprios pecados, e pergunte a si mesmo se você sofre do mesmo tipo de cegueira. Lc 6:39-42 E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova? O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre.E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão.

- Finalmente, sonde sua compreensão buscando os pecados secretos. Examine a luz do poder do Espírito Santo os segredos do seu coração. Você negligencia algum dever que somente você e Deus conhecem? Você aceita alguma prática secreta que ofende os olhos de Deus que tudo vêem? Examine-se a si mesmo em relação às responsabilidades básicas: leitura da Bíblia, meditação, oração secreta. Você cumpre totalmente todos esses deveres?Você os cumpre de uma maneira irregular e desatenta? Como é o seu comportamento quando está escondido dos olhos do mundo, quando você não tem limites além da sua consciência? O que ela lhe diz? Lc 24:45 Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras.

Notas______________________________

1. O sofista sustenta o relativismo prático, destruidor da moral. Como é verdadeiro o que tal ao sentido, assim é bem o que satisfaz ao sentimento, ao impulso, à paixão de cada um em cada momento. Ao sensualismo, ao empirismo gnosiológicos correspondem o hedonismo e o utilitarismo ético: o único bem é o prazer, a única regra de conduta é o interesse particular. Górgias declara plena indiferença para com todo moralismo: ensina ele a seus discípulos unicamente a arte de vencer os adversários; que a causa seja justa ou não, não lhe interessa. A moral, portanto, - como norma universal de conduta - é concebida pelos sofistas não como lei racional do agir humano, isto é, como a lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um empecilho que incomoda o homem. Desta maneira, os sofistas estabelecem uma oposição especial entre natureza e lei, quer política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado, mortificador, uma pura convenção, e entendendo por natureza, não a natureza humana racional, mas a natureza humana sensível, animal, instintiva. E tentam criticar a vaidade desta lei, na verdade tão mutável conforme os tempos e os lugares, bem como a sua utilidade comumente celebrada: não é verdade - dizem - que a submissão à lei torne os homens felizes, pois grandes malvados, mediante graves crimes, têm freqüentemente conseguido grande êxito no mundo e, aliás, a experiência ensina que para triunfar no mundo, não é mister justiça e retidão, mas prudência e habilidade. Então a realização da humanidade perfeita, segundo o ideal dos sofistas, não está na ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos homens. Esse domínio violento é necessário para possuir e gozar os bens terrenos, visto estes bens serem limitados e ambicionados por outros homens. É esta, aliás, a única forma de vida social possível num mundo em que estão em jogo unicamente forças brutas, materiais. Seria, portanto, um prejuízo a igualdade moral entre os fortes e os fracos, pois a verdadeira justiça conforme à natureza material, exige que o forte, o poderoso, oprima o fraco em seu proveito. Quanto ao direito e à religião, a posição da sofística é extremista também, naturalmente, como na gnosiologia e na moral. A sofística move uma justa crítica, contra o direito positivo, muitas vezes arbitrário, contingente, tirânico, em nome do direito natural. Mas este direito natural - bem como a moral natural - segundo os sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Então, o direito natural é o direito do mais poderoso, pois em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível. A respeito da religião e da divindade, os sofistas não só trilham a mesma senda dos filósofos racionalistas gregos do período precedente e posterior, mas - de harmonia com o ceticismo deles - chegam até o extremo, até o ateísmo, pelo menos praticamente. Os sofistas, pois, servem-se da injustiça e do muito mal que existe no mundo, para negar que o mundo seja governado por uma providência divina.