NARRAÇÃO DE UM FATO INESQUECÍVEL

 ACADÊMICA: Amanda Gonçalves Bento (Letras - VI Período)

 UMA AÇÃO QUE RESULTOU EM UMA REAÇÃO (LIÇÃO) DE MORAL

 Já estava se aproximando o mês de férias em 2004 e o circulo de amizades aumentava todos os dias. Luciana, Hayla, Ramayane e Manddy quatro amigas que moravam em uma mesma rua, sempre à noite elas formavam o circulo do diálogo, momento em que todas saíam de suas casas para sentar em frente a um prédio onde as irmãs Luciana e Hayla moravam. Neste local havia um banco de madeira comprido, que foi construído bastante próximo de uma árvore e que era chamado de “Cantinho do amor”, pois quando uma delas se apaixonava por alguém era ali que elas marcavam seus encontros e permaneciam ali horas e horas com a pessoa amada. Por muito tempo, este pequeno lugar ficou marcado na lembrança de cada uma delas, e um fato inesquecível aconteceu na vida de uma delas.

Hayla e Luciana, duas irmãs que moravam sozinhas no prédio, sua mãe se ausentava por motivo de trabalho e sempre que precisava, ela viajava para Santarém e orientava-as a cuidarem da casa. Hayla sempre foi uma menina calma, reservada, sempre preferia evitar comentários que envolvesse alguma pessoa e, no mais era também uma pessoa inteligente. Mas algo surpreendente aconteceu... Ao chegar o mês das férias percebemos que ela recebia todos os dias a visita de um homem alto, branco, olhos verdes, que aparentemente demonstrava ser alguém simpático, e sempre que nos encontrávamos, ela não mencionava uma só palavra sobre o rapaz. Uma semana depois, ela estava conversando com o mesmo rapaz em frente o prédio, um sorriso pra cá, um sorriso pra lá e percebemos que algo acontecia entre eles... Troca de olhares, sorrisos constantes que realmente não deixava nenhuma dúvida: ambos estavam apaixonados.

Com alguns dias depois, quando estávamos novamente reunidas, Hayla decidiu nos comunicar sobre seu relacionamento e durante a conversa desabafou e, esclareceu que já o conhecia há muito tempo e que ele gostava muito dela, mas que nunca houvera uma oportunidade de conversarem ou de estarem juntos. Ela comentou que ele pediu a ela uma oportunidade para se conhecerem e ela pensou bastante e resolver dizer sim a esse romance. No dia seguinte, estávamos sentadas na frente da casa de Ramayane e logo vimos ao longe ele chegar, Hayla o recebeu com abraços e com muita felicidade estampada no rosto, veio até nós com ele e disse:

-Meninas, este é o Rafael.

Ficamos de pé e respondemos com o cumprimento:

-Olá Rafael, é um prazer conhecê-lo. Fique à vontade em nosso meio.

-Obrigado meninas, saibam que é uma honra conhecer vocês.

Continuamos na roda conversando e Hayla sempre atenciosa com Rafael. Algumas horas depois ele foi embora e continuamos sentadas conversando e Hayla perguntou:

-O que vocês acharam dele? Ele é bonito?

-Pra mim ele não é tão bonito, o nariz é estranho, mas dá pra levar. Respondi sorrindo para Hayla.

Luciana levantou-se da cadeira furiosa e falou alto:

-Porque você não me disse que estava namorando? Você não tem confiança em mim? 

-Calma, eu ia te falar... Você sabe como eu sou. Prefiro ter certeza antes para depois falar aos outros.

Intervi na conversa e falei:

-Vamos parar com essa briga agora! Todas aqui já haviam percebido que Hayla estava tendo algo com ele, ninguém aqui é tola a ponto de não ver o que acontece! Vamos jogar cartas que é melhor!

Todas se acalmaram, e a cada minuto surgia um comentário a respeito de Rafael... Riamos muito e Hayla se incomodava quando falávamos de algum defeito físico de seu namorado. Aproveitamos aquele momento para combinarmos os dias que iríamos para orla de Itaituba, onde estava acontecendo o festival de Santana. Em todos os anos quando chega este período, a população já sabe que o evento conta com o Parque de Diversões, muitas pessoas, comidas, bebidas e etc. E Assim fomos ao primeiro dia do Festival.

Ao chegarmos lá combinamos da seguinte forma:

-Eu ficarei próximo ao Hidroviário, e quando formos embora todas terão de estar na frente do Hidroviário no horário de 01:30 da manhã para retornamos juntas.

-Eu vou ficar no Madruga lanches e vou comprar ingressos da roda gigante, twitter e da barca, qualquer coisa eu procuro vocês. Respondeu Ramayane ansiosa.

Rapidamente, Hayla interrompeu a fala de Ramayane e disse:

-Eu e Rafael vamos estar na roda gigante e depois ficaremos no Hidroviário juntos até irmos embora.

Assim, nos separamos e cada uma foi se divertir como bem achava ser proveitoso. Fui a vários brinquedos, e com alguns minutos depois senti muita tontura e decidi me acalmar, esquecer o medo e continuar na festa. Muitas pessoas estavam presentes na orla de Itaituba, a cada volta na rua eu encontrava muitos conhecidos.

De repente encontrei uma amiga que não a via há muito tempo, seu nome é Suellem. Durante a conversa ela me chamou para sentarmos nas ferragens do Hidroviário para que assim pudéssemos ouvir melhor o que tínhamos para compartilhar. Sentamos, colocamos as pernas nas ferragens e ali ficamos por muito tempo conversando com bastante alegria.

Durante a conversa percebi que um rapaz me encarava, e quando eu olhava para o lado, meu olhar sempre ia de encontro ao dele e logo falei:

-Amiga, tem um rapaz me encarando.

-Onde? Quem Manddy? Tem muitas pessoas aqui, está um pouco escuro, não tem como eu saber! Comentou Suellem com muita curiosidade.

-Fique atenta quando eu olhar para o lado e você vai conseguir perceber.

-Ok, quando você olhar para o lado me dê um sinal para eu acompanhar.

Alguns minutos depois, cutuquei Suellem e olhei para o lado e nesse exato momento o mesmo rapaz estava olhando ao mesmo tempo para mim e fingi que não estava vendo.

-Eu vi... Ele está encostado na coluna em pé. Eu acho que ele esta vindo para cá. Afirmou Suellem apertando meu ombro com sua mão.

-O que? Como assim? Ele está vinda para cá? Sério? Perguntei desesperada.

-Sim, é sério amiga! Afirmou Suellem sorrindo.

-Eu não acredito! Respondi com muita vergonha.

Não pude me conter aos sorrisos de Suellem, comecei a rir também da situação e logo fiquei por muitos minutos com a cabeça baixar para disfarçar.

Ela logo comentou:

-Manddy, esqueci de avisar a minha mãe que estaria neste outro lado da Orla, tenho que ir, senão ela ficará preocupada.

Eu sabia que ela estava mentindo, pois sempre preferia sair sozinha, mas logo respondi:

-Ok, diga a sua mãe que mandei lembranças a ela. Respondi ainda com a cabeça baixa.

Não me restou outra saída a não ser continuar como estava antes, e logo fiquei sentada na posição em que estava, olhando para o Tapajós.

-Posso lhe fazer companhia moça? Perguntou a rapaz que já estava perto de mim.

Virei o rosto e respondi:

-Sim.

-Ele sentou no chão da área de fora do Hidroviário, próximo a mim e começou a falar sobre o festival. Minutos depois a conversa foi direcionada a perguntas que costumamos fazer quando queremos conhecer alguém, e seu nome era Josevanildo.

Na área em que estávamos, havia pouca luz, muitos casais namorando, grupos de pessoas se divertindo... E durante a conversa, por mais que tão próximo ele estava, eu conseguia apenas ver seus olhos verdes que brilhavam, não conseguia ver a cor de sua roupa, nem de seu cabelo, mas apenas os olhos.

Seus olhos verdes de alguma forma me encantaram, pois raramente vemos por ai. Conversamos durante uma hora e meia e o clima aumentava, com um tempinho depois nos beijamos. O interessante naquele momento é que eu apenas conseguia ver seus olhos e nada mais. Senti que aquele momento não acabaria apenas ali. Ele falou:

-Aceita sairmos daqui e irmos para alguma mesa para comermos algo?

-Sim! Respondi com muita ansiedade para saber como ele era e o que estava vestindo.

Ficamos em pé e saímos pelo corredor do Hidroviário de mãos dadas... O meu único interesse naquele momento era saber como ele era exatamente. E no exato momento que chegamos na saída, o ambiente estava claro, olhei para seu rosto e levei um susto ao ver que ele tinha muitas, muitas espinhas no rosto, mas seus olhos realmente eram verdes. Fiquei decepcionada, pois logo lembrei que dias atrás havia dito a Hayla que seu namorado era feio. Fiquei com vergonha, mas não tive saída e continuamos andando pela calçada da Orla de mãos dadas. Estava com muita vergonha, querendo encontrar um lugar para ficar escondida até que chegasse o horário de nós irmos embora.

                Sem perceber, Ramayane me cutucou e perguntou:

                -Quem é esse cara Manddy? O que ele faz andando de mãos dadas com você? Você reparou bem na cara dele? Questionou ela rindo de mim.

                Sem palavras para responder na hora, fiquei com vergonha e alguns segundos depois disse:

                -amiga, eu estava atrás do Hidroviário com ele, estava escuro, pensei que ele era bonito, eu apenas via seus olhos verdes. Respondi atordoada.

                Não demorou muito para que minhas amigas soubessem do que estava acontecendo e Ramayane contou para as outras.

                Quanto mais o tempo passava mais ele me abraçava e demonstrava carinhos em público, eu ficava sem jeito pelo fato de que para mim ele não era um homem atraente, devido às falhas no seu rosto. Finalmente quando chegou a hora de irmos embora, despedi-me dele e sai rapidamente do local ao encontro de minhas amigas. Durante todo o caminho elas riam de mim, de toda a situação. A única coisa que pairava na minha mente era a lembrança do que eu tinha feito a minha amiga: rir dos traços de seu rosto. Mesmo assim, Hayla foi a única que não fez comentários maldosos ou demonstrava risos, pois a sua atenção estava totalmente voltadas para Rafael.

                No dia seguinte, acreditava que tudo havia acabado e que tudo não passaria de um pesadelo apenas. A noite estava em um ensaio e retornei para casa, quando estava próximo da entrada de minha casa, minha amigas estavam reunidas e longe apenas percebia muitos risos descontrolados, eu não sabia do que elas estavam rindo, mas já imaginava que seria do fato da noite passada. Porem, ao chegar na porta de cada, dou de cara com o mesmo rapaz da noite anterior sentado no sofá falando com minha mãe, levei um susto e fiquei do lado de fora. Esperei ele sair, e quando ele foi falar comigo logo perguntei:

                -O que você faz na minha casa? Quem lhe deu meu endereço? Perguntei com muita aflição.

                -Suas amigas me deram seu endereço, e estou aqui porque gostei de você e vim pedir para sua mãe a permissão para namorar você e ela respondeu que sim. Disse ele sem se importar com que eu pensava.

                O que? Ela disse sim? Não acredito! Isso não pode estar acontecendo! Respondi alterada para ele.

                Então ele percebeu que a notícia não me agradou e, paralelamente a essa situação, minhas amigas estavam sentadas na frente da casa ao lado vendo tudo o que acontecia e rindo dos fatos. Pedi que ele fosse embora, ele não me ouviu e continuou ali, tentando me agradar.

Entrei em casa e fiquei arrasada, pois não sentia nada por ele e porque eu desejava alguém melhor para mim. A semana inteira eu tive de tolerar sua presença, seus atos. Uma semana depois, estava na casa dele, e nos momentos que ficávamos juntos eu tinha certeza de que não conseguiria gostar dele e muito menos corresponder aos seus carinhos. Retornei para casa e elas continuavam tirando sarro da minha cara, menos a Hayla que sempre mantinha sua atenção para Rafael. Não atendi mais seus telefonemas e nem me importei em falar com ele, tudo isto foi pelo fato de que para mim ele era alguém que não tinha nenhuma beleza externa. Assim, finalmente coloquei um ponto final nessa terrível história.

Um ano depois, eu estava no caixa eletrônico do Banco e não estava conseguindo completar o saque, um rapaz se aproximou e falou:

-Posso lhe ajudar moça?

-Sim. Não estou conseguindo fazer o saque. Será que este caixa está com problemas? Perguntei a ele.

Fixei o olhar para ele, um rapaz alto, forte, de olhos verdes, rosto suave, voz atraente... Pensei no exato momento que poderia estar falando com algum conhecido, mas durante o diálogo nada venho a minha mente, nenhuma lembrança, então conclui que não conhecia este rapaz. Ele me ajudou e finalmente consegui completar o saque e com gentiliza agradeci:

-Obrigada pela ajuda, se não fosse você não teria conseguido e teria feito todo o percurso em vão. Falei olhando atentamente para seus olhos e rosto e pensando no quanto ele era bonito e atraente e me despedi com um aperto de mão.

Na porta do Banco ele puxou um dos meus braços, olhei para trás e ele perguntou:

-Não lembra quem sou?

-Não. Respondi curiosa.

-Tem certeza que não sabe quem eu sou? Perguntou ele mais uma vez.

-Não. Acho que não. Respondi com muita dúvida.

-Olhe bem para os meus olhos, meu rosto, minha boca, meu corpo. Tem certeza que não se lembra de mim?

Pedi a ele que soltasse meu braço, ele soltou. Olhei atentamente para a toda a descrição que ele havia feito e nenhuma lembrança vinha a minha mente. Ele pôs a mão no meu queixo, levantou o meu rosto e falou:

-Vou lhe dizer quem sou agora... Sou Josevanildo, um rapaz que conheceu você em um festival na Orla, passeamos juntos, nos beijamos, tentei namorar você, falei com sua mãe, mas você não quis pelo fato de que eu tinha muitas espinhas no meu rosto, você talvez pensasse que eu era um malandro... Eu fiz tratamento no meu rosto, eu poderia ter melhorado para ser o que sou hoje por apenas uma única razão: você! Entretanto, eu soube o motivo pelo qual você desapareceu, não respondeu meus telefonemas. Fiquei decepcionado, você para mim era alguém especial. Relatou-o com o rosto entristecido.

-Me desculpe, sei que errei... Eu não sentia nada por você, perdoe-me por favor. Respondi com muita vergonha.

Ele respondeu:

-Tudo bem... A vida é assim: cheia de surpresas. Mas espero que você seja feliz e saiba que sempre me lembrarei de você.

Fiquei sem reação com suas palavras, ele soltou a minha mão e saiu pela porta do Banco, em seguida saí também, meditando no erro que havia feito e na decepção, pois hoje ele tinha um perfil de um homem que todo mulher procura, mas infelizmente fiz uma escolha errada. No fim voltei para casa e descrevi para minhas amigas tudo o que havia acontecido nessa tarde. Elas ficaram impressionadas e no fim todas aprenderam com seus erros e zombarias.