INTRODUÇÃO

O Apóstolo conseguiu suportar essa pressão externa e interna, “Pois, quando chegamos à Macedônia, não tivemos nenhum descanso, mas fomos atribulados de toda forma: conflitos externos, temores internos”. (2 Coríntios 7.5 - NVI). A reação às pressões produzidas pelo ambiente tem relação com a construção subjetiva do psiquismo internamente, dai que numa mesma circunstância as reações são diferentes, a proporção de sofrimento é quantitativa a forma como a pessoa internalizou sua imagem narcísica e sua relação objetal, ou seja com o outro.

ENTRE O IDEAL DE EU E A BAIXA ESTIMA 

Paulo tinha internalizado um equilíbrio entre “sua imagem” (narcisismo) o que pensava sobre si e suas limitações, ou seja, a percepção de si “da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível”. (Filipenses 3.5,6). Se por um lado tinha um “narcisismo” forte, produzia uma estima suficiente para lidar com as pressões, por outro lado, seu EU redirecionava parte de sua libido para o objeto (relação objetal) de fé, assim, esvaziava um pouco do seu Eu: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo”. Dessa forma, o apóstolo fazia o que Freud (2014. p.29) escreveu no texto Introdução ao Narcisismo:

“A psique tem necessidade de ultrapassar as fronteiras do narcisismo e pôr a libido em objetos, isso porque, quando o investimento do Eu com libido supera uma determinada medida, um forte egoísmo protege contra o adoecimento, mas é preciso começar a amar, para não adoecer, e é inevitável adoecer, quando, devido à frustração, não se pode amar”.

O narcisismo é essencial para a proteção contra o “adoecimento”, isso porque, oferece suporte para superar as frustrações, perdas, elaborar lutos, contudo, há limites para esse “amor a si”, visto que “a psique tem necessidade de ultrapassar as fronteiras do narcisismo”. O narcisismo que “protege” é o mesmo que “se não começar amar pode adoecer”. O apóstolo exortou “sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”. (1 Coríntios 11.1), uma pessoa que não tem um narcisismo forte, não faria tal exortação, contudo, ele redirecionava parte do seu narciso (mEUs) para o objeto: “por amor (d’Ele) do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo”. (Filipenses 3.8). O apóstolo não apresentou regras, mas mostrou que é preciso ter capacidade de fazer uma autoanálise sobre o ideal de eu que cada um internaliza ao longo de suas relações: “ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu”. (Romanos 12.3).

Umas das razões pelas quais muitas pessoas sofrem está em querer preservar a idealização do seu EU, uma imagem que satisfaz o desejo do outro, contudo, lhe traz angustias, anula seu próprio desejo. Por outro lado, há os que por ter uma idealização muito frágil do seu EU, se entregam demais aos desejos do outro, anulando seu EU, sofre humilhações por se achar incapaz de suportar a ausência do outro, por ter um conceito muito baixo de si mesmo. É preciso um narcisismo suficiente para suportar o ambiente externo que pressiona o interno, ao mesmo tempo, flexível para redirecionar ao outro, parte da sua libido. Freud adverte: “e é inevitável adoecer, quando, devido à frustração, não se pode amar”. O Apóstolo havia percebido essa realidade ao falar sobre o amor: “Tudo sofre”. (1 Corintios 13.7), essa capacidade de sofrer está em que, “alguém que ama perdeu, por assim dizer, uma parte do seu narcisismo, e apenas sendo amado pode reavê-la”. (FREUD 2014. p.46).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Apostolo Paulo tinha uma estrutura capaz em lidar com a pressão em ambiente externo e interno em sua subjetividade. Ele conseguia ter  uma relação de equilíbrio entre o seu ideal de EU e o redirecionamento de parte da sua libido para o objeto.  O Apóstolo conseguiu fazer o que só no século XX foi possível  colocar numa metodologia com a teoria do narcisismo de Freud. Embora um forte investimento libidinal no Eu atua como proteção  é preciso um limite para que o excesso não leve ao adoecimento, foi possível entender que a  capacidade de cada um está intimamente relacionada em conseguir equilibrar a idealização do Eu com a capacidade de redirecionar parte da libido ao outro objeto de amor. Amar pode causar sofrimento, contudo, é inevitável adoecer, quando, devido à frustração, não se pode amar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIA Online. Nova Versão Internacional. (NVI). Disponível em https://www.bibliaonline.com.br/nvi

___________.  Almeida Revista e Atualizada (ARA). Disponível em https://www.bibliaonline.com.br/ara

FREUD, S. Introdução ao Narcisismo, Ensaios de Metapsicologia e Outros Textos (1914-1916). In: Obras Completas, Vol. XII. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.