NÃO TENHO MAIS CORPO
O homem se prende a ambição
A uma ambição alucinada
Vive a vida sem emoção
E termina a vida sem nada
Os necessitados se sacrificam
Em busca de uma conquista
O suor dos corpos que ficam
Não são perfeitos perante as vistas
Nosso sorriso é uma tristeza
Quando a beira do calvário
Com a comida fora da mesa
Operário devora operário
Nossa roupa cor do chão
Nosso esforço abalado
Com força e determinação
O peão luta desesperado
Aumenta a carga horária
Piora a alimentação
Com essa força contrária
O homem se arrasta ao chão
Perdido nesse inferno
Treze horas por dia
O operário permanece interno
E faz do inferno sua moradia
Seu direito passa para firma
Seu descanso se torna cansaço
Nessa hora ele confirma
Que seu corpo está no bagaço
Ouve-se uma voz destemida
Dizendo que a coisa está preta
Se isso é minha vida
Minha morte eu tiro de letra
Meu tempo acabou
Sequer vejo minha família
Meu corpo se esgotou
E eu não segui minha trilha
Não sei o que aconteceu
Sei que com isso nada ganho
Nem sei mais quem sou eu
E em casa me sinto estranho
Hoje vivo aqui dentro
Vivo feito um morto
No final do mês levo o sustento
No final do dia não tenho mais corpo