'Não Basta Que Eu Seja Espírita, Tenho Que Parecer Espírita'
Publicado em 01 de abril de 2008 por Marco Rezende
"Não basta que eu seja espírita .Tenho que parecer espírita."
Marco Aurélio Faria Rezende
"Bem-aventurados os que choram,pois que serão consolados.
Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça ,pois
que serão saciados . Bem-aventurados os que sofrem
perseguição pela justiça , pois que é deles o reino dos céus."
(Mateus ,cap. V , vv.5,6 e 10)
Uma das práticas mais sadias que adquiri desde que venho me assumindo espírita cristão é a do estudo do Evangelho em casa com os meus familiares. Primeiramente , quero registrar que não vem sendo muito fácil reunir todas as pessoas da casa – alguns não participam por opção,outros já participaram , estando agora fora e atualmente compomos o nosso pequeno grupo de três encarnados , o que convenhamos , no nosso caso é muita gente , pois houve ocasião em que me reunia apenas com as minhas cadelinhas. Mas não é sobre a disposição dos meus familiares que quero refletir e sim do que estamos estudando nos últimos encontros . Ao invés de abrir ao acaso , preferimos estudar o Evangelho de forma seqüencial e , já há algumas semanas estamos estudando os capítulos que falam das bem-aventuranças . Muito já se falou e escreveu sobre o Sermão do Cristo e portanto não tenho nenhuma pretensãode deitar falação sobre qualquer das partes dessa maravilhosa herança que recebemos . Mas , quero dividir com os meus companheirosesse aspecto bem peculiar do Sermão do Nosso Mestre. Se concordamos que somos herdeiros desse legado divino , somos também responsáveis em trazê-lo para o nosso dia-a-dia , em cada oportunidade que tivermos para praticá-lo. Mais ainda , se estamos tendo essa oportunidade ao longo das muitas encarnações que tivemos , precisamos parar para pensar exatamente sobre esse aspecto. Ou será que achamos que poderemos continuar a (re) encarnar eternamente sem nenhuma necessidade de refletir sobre a questão? Afinal , se já compreendemos que o céu colocadono Sermão é alegórico, se cremos verdadeiramente que a conquista das bem-aventuranças tem exclusivamente a ver com a nossa disposição para alcançá-las ,podemos concluir que é a nossa transformação que nos levará a esse caminho .
Assim , é exatamente por isso que venho acreditando cada vez mais no Sermão do Cristo como o Caminho das Pedraspara a nossa tão faladareforma moral. Falamos muito e trabalhamos tão pouco para alcançá-la. Estou falando verdadeiramente . Não vale pensar só no trabalho que realizamos na Casa Espírita . Devemos lembrar que estamos ali pela misericórdia do Nosso Paie somos os maiores beneficiários dessa nossa ação. Acredito verdadeiramente que é a nossa atitude que nos faz sujeitos da nossa intenção .Por isso vamos falar nas nossas atitudes. Vamos,por exemplo, pensar nos motivos das nossas aflições . Mas , pensemosnas nossas , como as de todos e não somente nas nossas como a minha ou a sua. Será que ainda olhamos com um olhar diferenciado para os nossos irmãos – familiares , amigos , vizinhos e inimigos ? Seainda não é assim , vejamos. O nosso cuidado e a nossa atenção já são verdadeiramente (?) espíritas quando nos deparamos com as aflições alheias e fazemos clara e calmamente uma imediata correlação com possíveis faltas ou falhas pretéritas ou atuais , mas quando precisamos exercitar em nós a aceitação e a resignação , achamos quenão merecemos esse rigor da parte de Nosso Pai . Compreendemos bem, que os nossos irmãos são os únicos responsáveis pelos seus infortúnios , pelas suas desgraças , pelos excessos , pelas vaidades , pela infelicidade familiar , por fraquezas , pelo egoísmo , etc e até por doenças graves . Mas será que são só eles? Será que já praticamos esse entendimento em nós?Ou será que já estamos nos percebendo como seres angélicos? Falamos com tanta clareza e a toda hora que vivemos num mundo de prova e expiação e , no entanto , já somos pretensiosos em nos achar os primeiros escolhidos da Criação Divina para a próxima era planetária. É , somos e nos achamos os máximos .Todos nós. Mas , no entanto esquecemos que a expiação que ainda é comum a todos nós , serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação . Estáno Evangelho . E , no nosso caso serve para nos esclarecer que todos nós estamos na mesma condição evolutiva. Nenhum de nós está em posição de destaque .Muitos de nós , que nos julgamos o máximo , estamosem oportunidade compulsória .
A Bondade Divina está a todo o momento nos orientando para o caminho de volta que empreendemos para a nossa verdadeira casa – a Casa do Pai e tem nos favorecido com o livre-arbítrio , o esquecimento de faltas e dívidas e o consolo das nossas dores. E nós, do alto (?) da nossa condição evolutiva jáfazemos assim também com todos os nossos irmãos? Se recebemos de Nosso Pai , a força para a nossa própria melhora ,para o alcancedo nosso resgate , porque não podemos fazer também dessa forma com os nossos desafetos?Afinal , se já começamos a nossa transformação , e recebemos todo o estímulo mesmo quando ainda erramos , porque não podemos começar a pensar em fazer o mesmo no nosso dia-a-dia? Afinal , se somos firmes e perseveramos , se alimentamos verdadeiramente a nossa crença e a nossa fé no Nosso Pai, porque não acreditamos também no nosso irmão , independente da sua condição ou vínculo junto a nós?Se nós , quando rogamos pela Providencia Divina , justificamos as nossas falhas e erros pela nossa condição de eternos endividados , porque não consideramos essa mesma condição dos nossos irmãos quando o julgamos e criticamos?Será que estamos exercitando a nossa tolerância? Na verdade , a nossa condição ainda nos impede de ver o outro com o olhar que pedimos ao Nosso Pai que nos ampare. Ainda falta muito, mas temosclareza que precisamos verdadeiramente recomeçar a nossa caminhada.
Para isso , é imperioso que testemos a nossa humildade e o nosso orgulho .Em muitas ocasiões , durante o convívio necessário a nós,somos colocados em prova nessas virtudes. Nesta hora , podemos lembrar , muito a contragosto , das inúmeras situações em que já nos colocamos em posição e condição superior a muito(s) de nosso(s) irmão(s). E mais , em muitas dessas situações acabamos por justificar , quase que naturalmente essa nossa posturatomando por base a nossa vantagem em um ou mais atributos que temos em relação ao(s) outro(s) . Nos dias de hoje , penso eu , se ainda temos essa atitude , rapidamente repensamos a nossa postura porque já começamos a compreender que não temos nem possuímos nenhuma vantagem com relação ao(s) nosso(s) irmão(s) e que a verdadeira riqueza - a que podemos entesourar e que não se perde nunca , cabe no nosso coração. Mas é sempre bom lembrar que já fomos duros e brutos , que a nossa preocupação guardava uma direta relação com a nossa incapacidade de perceber o(s) outros(s) como iguais. Já valorizamos muito a riqueza material ,já sentimos muita alegria e orgulho da nossa capacidade de ter em detrimento da nossa possibilidade de ser . Hoje , já começamos a despertar eentendemos que a outra possibilidade- a da generosidade , é mais prazerosa e nos sustentará na caminhada da volta.
É certo que já constatamos que precisamos ultrapassar da condição de espíritas em uma casa espírita para sermos espíritas atuantes . Precisamos parecer espíritas . Precisamos ter atitude espírita. Precisamos utilizar essa nossa condição para o nosso bem e para o bem de todos que nos cercam e que se aproximam de nós. Penso , sem nenhuma atitude piegas , que esse é o nosso verdadeiro propósito daqui para frente . Ou seja ,compreendo que ainda precisamos melhorar muito , mas vejo que será assim , nesse exercício de muitos acertos e erros que estaremos colocando a nossa capacidade de cair , mais que levantar ,de perdoar mais que ser perdoado , de ajudar mais que ser ajudado e de fazer mais que cobrar, a serviço da nossa redenção. Acredito também que temos em nós, guardado no fundo as nossas melhores possibilidades. O Evangelho do Cristo nos instrui muito claramente acerca delas : temos queser puros e simples de coração. E nos alerta da nossa condição de crianças espirituais .É dessa forma que começaremos a resgatar o nosso melhor para assimdividi-lo com o(s) nosso(s) irmão(s) . É assim que deixaremos a nossa condição de transgressores por pensamentos , palavras e atos para experimentarmosa pureza e a simplicidade nas nossasatitudes e no nosso coração. Aprenderemos e valorizaremos muito mais a possibilidade de encontrar em nós mesmos a resposta para as nossas angústias e apreensõese deixaremos de lado a busca externa que fazemos ao Nosso Pai porque o encontraremos dentro de nós .Por enquanto , aindasentimos essa possibilidade muito distante de nós, mas já identificamosa imperiosa obrigação de nos prepararmos para ir ao seu encontro . Já deixamos muito tempo de lado . Precisaremos fazer mais uso de novas virtudes . Teremos a brandura , a moderação , a afabilidade e a paciência para balizarmos as nossas relações. O nosso ouvir vai estar carregado decomoção . O nosso olhar vai estar impregnado de doçura. As nossas atitudes não terão mais nenhuma violência e não sentiremos nenhuma vontade de explorar o nosso irmão,nem sofreremos por nenhuma injustiça . Aprenderemos a viver no Bem, porque já estaremos cultivando o Bemhá muito tempo entre nós . Para tal , precisamos começar agora , já , a responder sempre com o Bem e a desejarsempre o Bem a todo(s) o(s) nosso(s) irmão(s).
Por isso , precisamos começar a praticar mais e melhor atitudes mais positivas . Precisamos (re) aprender a exercitar o perdão e ater grandeza em nossas ações . Avançaremos no nosso propósito na medida em que começarmos a deixar de lado atitudes mesquinhas carregadas de ego , vaidade e orgulho ferido e trabalharemos em nós a única forma de perdoar – a incondicional.Seremosgrandes , nobres e generosos porque seremos humildes .É necessário que (re) iniciemos o nosso caminhosendo mais indulgentes com o(s) nosso(s) irmão(s) , olhando-o(s) mais fraternalmente, deixando que a compaixão e a beneficência inspirem os nossos pensamentos e o nosso coração . Assim , estaremos verdadeiramente sendo mais caridosos com os que nos cercam e procuram e estabeleceremos uma ligação mais profunda com cada um baseada noverdadeiro amor que respeita , cuida , ampara e não cobra. Aprenderemos que quanto mais pensarmos e agirmos assim , mais estaremos atraindo para nós boas vibrações e elevaremos cada vez mais a nossa sintonia.
O Evangelho nos aponta que precisaremos praticar a caridade , tê-la no coração e reparti-la com o próximo , como a fazemos conosco para então podermos dizer que amamos a Deus , o Nosso Pai . Acreditaremosque isso é verdadeiramente possível porque estaremos verdadeiramente comprometidos com essa tarefa – a do nosso progresso ,do progresso do(s) nosso(s)irmão(s) e de todo o planeta . Nós , se pensarmos e agirmos como verdadeiros espíritas, passaremos a incorporar naturalmente no nosso dia-a-dia esses ideais de justiça e renovação ,porque acreditaremos que os mesmos guardam a natureza divina adormecida em nós. Então , passaremos ao entendimento universal ,destruindo as últimas sementes de injustiça , discórdia e desunião . Construiremos , a partir daí uma nova ordem social que estará alicerçada na indulgência , no respeito , na união , e na harmonia geral entre todos nós .
Ao terminar a minha reflexão , pensoque a nossa transformação nos levará naturalmente ao encontro da probidade e da igualdade . A nossa defesa se levantará a favor da prática desinteressada da fraternidade, da esperança e da paz . A nossa nova e verdadeira condição nos colocará com sujeitos atuantes e semeadores do Bem pelo Bem . Responderemos- junto com muitos outros , pelo estado renovado das coisas , porque teremos contribuído com o(s) nossos suores e trabalho para tal alcance. Todos nós seremos chamados ditosos , porque trabalhamos no campo sagrado de Nosso Pai . E todos nós , colheremos o produto dos nossos esforços e o colocaremos no banquete preparado pelo Nosso Pai e o compartilharemos entre todos. O Espírito de Verdade nos lembra que é chegada a hora em que Nosso Pai , procede à identificação dos seus servidores mais fiéis , marcando a cada um com o dedo e separando aqueles cujo devotamento é apenas aparente dos mais animosos e ao final cumprir-se-ão estas palavras : "Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus." Então , a escolha é nossa . Arregacemos as nossas mãos e vamos (re) começar o trabalho...
Mafr.