Já não consigo mais entender o sentido da existência deste mundo injusto e desigual em que vivemos, onde para se dar bem, muitos chegam a ignorar as regras da honestidade e principalmente do amor ao próximo, do qual tanto falam na prática das suas religiosidades, pois na verdade cada um enxerga apenas a sua vida, e a vida dos que lhe são caros. Enxergam apenas a sua carreira promissora que poderá leva-los à riqueza e a uma vida maravilhosa, que lhes permita desfrutar das glórias efêmeras que só o dinheiro pode proporcionar. Pouco se lhes dá a sorte dos menos favorecidos que cruzam os seus caminhos. Na gangorra deste mundo injusto, do lado oposto dos que crescem e sobem, diminuem e descem os que a sorte lhes virou o rosto. São os que não tiveram a graça de nascer num lar abençoado, amoroso e farto, os que não tiveram força para lutar nem tiveram ajuda daqueles que podiam lhes estender a mão e não o fizeram, pois o egoísmo só os fazia enxergar a si mesmos e os seus objetivos. Então essas pessoas desafortunadas e sem oportunidades, começam a destruir-se lentamente, sucumbidas pela amargura das suas vidas sem sentido e nessa queda vertiginosa tornam-se cada vez menores, até se desfazerem na névoa da insignificância social e do anonimato que as levará ao fim.

A falta de auto estima que uma pessoa sente em decorrência de seu insucesso e de sua insignificância, faz com que ela gradativamente vá se auto destruindo de tal forma que a certa altura da vida, ela já não reconhece mais a si mesma como um ser humano digno sequer de seu próprio respeito. É quando ela começa afundar-se no lodo da miséria, dos vícios e do desrespeito a si mesma, tamanha é a dor que lhe corrói a alma por sentir-se um zero à esquerda da vida e não saber lutar.

A origem de tanta desventura, procuro em todas as tão apregoadas regras de fé e amor que conheço mas não encontro. Acredito que esse auto desprezo que as impele à uma total exclusão social, procede da diferença que uma pessoa sente existir entre ela e outras mais beneficiadas pela sorte, que sendo semelhantes a si, conseguiram chegar a um nível que ela nunca atingiu porque não soube lutar, não teve forças, pois forças maiores e maléficas destruíram a sua capa idade de agir. Muitas se tornam delinquentes e perniciosas à sociedade. Outras, completamente sem estímulo já não conseguem mais lutar nem pela sua própria sobrevivência física.Tornam-se autômatos ou fantoches em mãos inescrupulosas, e como objetos impelidos pelo vento, rolam a esmo à margem da vida, valendo-se até mesmo do ilícito moral para sobreviver. Completamente ignoradas pela sociedade, passam a viver à mercê da caridade alheia. Apenas passam ao largo do caminho, ninguém as conhece, e os poucos que as reconhecem as evitam, já que nada de bom elas poderão lhes acrescentar. Já não têm mais nome, e nem de si mesmas se apiedam, pois já não vivem, já não existem, nada mais têm a perder pois nada têm, nunca tiveram e nunca terão, a não ser os dias tristonhos e solitários que as aguardam até o final.

Enfim, que sentido há para a existência deste mundo, de uma sociedade tão desigual e cruel? Por mais que eu tente, nunca conseguirei entender.

Autora: Junia - em 07/10/2015