NACIONALISMO MEXICANO NO SÉCULO XIX
Por Valdeir Barbosa Nunes | 16/06/2018 | HistóriaNACIONALISMO MEXICANO NO SÉCULO XIX
Valdeir Barbosa Nunes[1]
RESUMO:Este artigo apresenta uma análise do nacionalismo que ocorreu no México no decorrer do século XIX, abraçado por seus habitantes. Abordamos o que levou os mexicanos a se unirem para uma revolta contra os conservadores do período. Mostra como se formaram os movimentos populares (indígenas, camponeses e mineiros) em prol de mudanças nas áreas (econômica, política, social e no século XX a cultural).A reforma liberal tomou as terras da Igreja e de muitas comunidades indígenas e as revendeu no mercado de terra. A perda de terras e a precarização das condições de emprego e trabalho despertaram o movimento popular que se pôs em ação armada quando setores da burguesia também se manifestaram contra a continuidade de Porfírio Diaz na presidência em 1910. A população camponesa em armas queria terras para as comunidades e uma legislação trabalhista que a livrasse da escravidão dos patrões. O protagonismo dos indígenas exigiu uma profunda reconfiguração da nação e da cultura nacional e assim a revolução produziu um novo nacionalismo mexicano.
PALAVRAS CHAVE:México, Nacionalismo, Revolta.
Introdução
O presente artigo apresenta uma análise historiográfica do fenômeno sociopolítico do Nacionalismo que ocorreu no México na segunda metade do século XIX, por meio dos setores sociais majoritários como: movimentos populares Camponeses, Indígenas e Mineiros através de um projeto liberal (agrário).
A revolta popular se deu também contra o poderio da igreja católica apoiado na propriedade de grandes parcelas de terras da nação mexicana, que foram divididas e revendidaspelosgovernos liberais. Esta prática levou àuma fragmentação do poder eclesiástico feudal, e a disputas entre o conservadorismo e o liberalismo pelo poder nacional.
Nação é um conceito que envolve disputas, revoltas, movimentos de reivindicação da população de um país. As causas que desencadeiam tais mobilizações da população podem ser a experiência da opressão, as condições precárias de vida, os preconceitos sociais e políticos sofridos da parte de outros países.
Os autores que embasam este artigo como fontes são: Jorge Abelardo Ramos (2012) História da nação latino-americana; Kátia Gerab Baggio (2002) - Reflexões sobre o nacionalismo em perspectiva comparada; Júlia Rany Campos Uzun.Identidades construídas durante o porfiriato (1876-1911)&Waldir José Rampinelli.O artigo foi subdividido em trêsitens, tais como:1. Independência do México; 2. Governo de Porfírio Diaz 1876-1910; 3. Revolução do México 1910-1917.
Portanto, trata-se de entender como se deu o processo de afirmação do nacionalismo no México, e o grau de influência social deste nas revoltas populares junto á vários setores ativos e liberais nos movimentos oitocentistas. Expomos os conteúdos da pesquisa desse modo para facilitar a compreensão dos leitores.
- Independência do México:
Jorge Abelardo Ramos (2012)em “História da nação latino-americana” assinala no capitulo XV o intenso sentimento nacionalista no México acompanhado de uma série de preconceitos vindos dos europeus edos norte-americanos que julgavam o país atrasado, por causa de seu precário desenvolvimento econômico e do mau uso dos recursos naturais.
Entre outras questões que envolveram a trajetória e a expansão do capitalismono mundo, Ramos citandoEngelsafirma:
[...] As operações de anexação do território mexicano levadas a cabo pela rapinante burguesia ianque eram episódios do processo mundial de expansão do capitalismo; pairavam no seu espirito não só essas considerações, que para a época pareciam estar justificadas na Europa, mas também os próprios e clássicos preconceitos europeus sobre os povos atrasados (RAMOS, ed. 2012, pag. 404). www.scribd.com/document/344688167/Jorge-Abelardo-Ramos-Historia-Da-Nacao-Latino-Americana (Acessado dia 10/06/2017).
A expansão do projeto da burguesia no continente americano e o domínio absoluto sobre os operários mexicanos, detonando conflitos em prol da “nação” entre o norte e sul (EUA x México) durante o oitocentos. Ramos no seu capítulo XV relata a trajetória de ascensão da burguesia que teve sua gestação no século XVII. Porém, somente mostrou sua verdadeira face no século seguinte com á “Revolução Francesa de 1789” na Europa, com os movimentos de revolta assumindo os poderes do estado.
O autor, ao citar Marx e Engels, fala também das resistências da “classe” operaria em meados do século XVIII e depois com o “Manifesto do Partido Comunista” que mobilizou e gerou o ajuntamento proletário em muitos povos para confrontar com a burguesia europeia e em outros pontos na América. A partir de múltiplas revoltas, que significou vários movimentos nacionais, carregados de preconceitos.
Jorge Aberlado Ramos (2012)dá a entender no capituloXV que aquestão nacionalrepresenta uma trajetória da expansão do capitalismo que saiu da Europa em direção a outros continentes. Junto com a expansão do capital nasce um “espirito” de nação que se ampliava pela busca de uma melhoria nas condições físicas e sociaisda população que vivia na base da pirâmide social.
Isto significa que, todas as pessoas estão sujeitas a um padrão muito precário de vida em sociedade. Assim, todos os prejuízos da pobreza que sustenta as classes superiores estarão fabricando um espirito de revolta. A ideia e o movimento de nação, sempre pedirá por melhora das condições de vida, através dos movimentos de resistência dos socialmente inferiorizados. Ramos acredita que as ideias de Marx e Engels acendiam cada vez mais o fogo de liberdade da população operáriaque se expressava nas variadas formas de movimentos sociopolíticos.
Desde o início do século XIX, o México se encontrava em constante conflito com os vizinhos “Ianques” (EUA) do norte pela disputa de seu território. Esta luta representou um movimento pela sua “identidade nacional mexicana”.No primeiro período do século XIX o México teve um grande movimento nos “setores populares; camponeses e mineiros de origem indígena e mestiça”, na luta de sua independência.
No entanto esses primeiros movimentos populares foram vencidos pela “elite conservadora” que introduziu um outro “processo de constituição do novo Estado” que estava em construção. Começou com uma monarquia que durou curto período de dois anos (1821-23) até adotar-se um “regime republicano”, que não se prolongou, porque houve a queda do “ditador Antonio López de Santa Anna”, derrotado pelos norte-americanos em 1836. Este fato resultou em perda de boa parte do território mexicano (BAGGIO, 2002, p. 43).
Perdido o território do Texas para os USA, ocorreu um conflito mais amplo entre os dois países entre 1845-48, quando outra fração importante de territórios mexicanos foram apropriados (Califórnia, San Francisco, Los Angeles, Arizona, etc.)pelos Yanques, coincidentemente no ano em que se divulgou que encontraram ricas minas de ouro na Califórnia, agora já não mais mexicana.
No México entre os anos de 1854-57, abateu-se o poderio da “igreja católica” que era detentora da maior parte do território mexicano, tanto na zona rural como na urbana. A confiscação de bens e a perda de prestígio da igreja ocorreupor meio do “projeto liberal”.
Um dos motivosdeste conflitocom a Igreja aconteceu, simplesmente, por causa da perda anterior de grande parte do território nacional para os norte-americanos. A igreja se enquadrava, desde o sistema feudal, na classe alta da elite detentora de terras e poderes. No projeto dos liberais mexicanos,à única maneira estrutural para a distribuição de terras que se encontravam nas mãos da igreja foi apresentar estas reformas na “revolução de Ayutla”.
Porém,a vitória da revolução de Ayutla, na questão da reforma agrária e da fragmentação do poder da igreja não se fixou por muito tempo, porque os conservadores recuperaram o governo, mas alguns anos depois o poder retornou aos liberais:
Os conservadores conseguiram reconquistar o poder em 1864, com o apoio da França de Napoleão III e a entronização do arquiduque austríaco Maximiliano de Habsburgo, como imperador do México. A ocupação francesa prolongou-se até 1867, quando os liberais liderados por Benito Juárez expulsaram os franceses, fuzilaram Maximiliano e retornaram ao poder (BAGGIO, 2002, p. 44).
Podemos ver que, com a perda do Texas para os EUA em 1836, o México não mais dominava seu próprio território. A classe conservadora, por exemplo,a igreja tinha em seu poderio uma grande parcela de terras. Na construção do “Estado” que estava sendo montado por esta “classe”, mexeu-se com a sua população, que veio a se organizar numa revolta liberal. Esta seria a chance de mudanças na “busca por estabilidade e modernização do país”.
No México,o retorno dos liberais ao poder, após eliminar os conservadores que haviam governado no período anterior a 1864-7. O país passou por mudanças, na sua estrutura política, social e econômica, mas principalmente na cultura, como diz BAGGIO (2002):“A partir da Revolução, a presença do “povo” na vida política e cultural do país obrigou os intelectuais e artistas mexicanos a repensar a questão da identidade nacional...”. Isto significou a um novo olhar sobre a questão nacional. Foram introduzidos na cultura nacional o indígena e o mestiço como pertencentes à nação. Carregavam consigo a verdadeira cultura nacional mexicana, que foi revista a partir do século XX.
Observamos na longa trajetória desde a independência do México (1821) a questão nacional sempre esteve presente. Pode ser observada a partir dos movimentos revolucionários dos habitantes que se encontravam na extrema pobreza e em más condições de vida na zona rural e urbana, e ainda carregavam estigmas de preconceitos da parte de outras nações.
Apesar de ter perdido em 1836 e 1848 boa parte do território ao norte para os norte-americanos, a população mexicana esteve em constante briga com a “elite” nacional que possuía boa parte das terras,como a igreja católica. As elites liberais se juntaram às classes baixas da sociedade eaos setores intermediários para alcançar as mudanças da nação almejadas.
Assim a revolução liberal conduzida pelo mestiço índio Benito Juarez criou um mercado de terras com os patrimônios da Igreja, satisfez o interesse dos mais abonados que podiam compra-las, modernizando a produção agropecuária no campo. Isto também atingiu as terras comunais dos indígenas que foram vendidas em hasta pública, deixando muitas comunidades tradicionais sem as suas terras (ejidos).
A política dos liberais significou tornar mais produtivos os campos, mas deixou sem terra a muitos que antes as tinham precariamente.