Na roda O ônibus sacolejava na estrada. Maria tinha em seu colo um menino de dois anos. Era seu amado Pedrinho. Ela acariciava seus cabelos e beijava-o repetidas vezes. Ao senti-lo agitado, cantou uma melodia que o acalmava sempre e fazia com que adormecesse. Assim que viu o menino tranqüilo, em sono profundo, Maria não conseguiu mais controlar sua emoção. Começou a chorar. Lembrou como Pedrinho fora desejado. Seu primeiro banho, a queda do umbigo, que guardou numa caixa com formol para mostrar-lhe quando fosse maior. Suas primeiras palavras. .Ao engatinhar, mexia em tudo. E a maior glória foi quando ele levantou-se e deu os primeiros passos sozinho, correndo para seus braços. As imagens se sucediam uma após a outra. Deixá-lo na creche foi uma dificuldade. Tinha que ficar junto, pois ele não queria que ela saísse de perto. Foram semanas e várias tardes de adaptação. Que angústia em dose dupla: sentia pena em deixá-lo, mas precisava trabalhar para dar-lhe o conforto necessário. Recomeçou num choro convulsivo, recordando as noites de insônia passadas com o menino no colo, quando ele teve uma pneumonia, com muita febre e dificuldades respiratórias. Que dor ao vê-lo sofrer assim. Em meio aos seus pensamentos, Maria esboçou um sorriso. Recordou a primeira vez que o levou à pracinha. Colocou-o num balanço que empurrava com ternura. Ele gritava de alegria e pedia: “mais, mais alto, quero alcançar o céu.” Na comemoração de seu segundo aniversário, Pedro era só felicidade. Junto com os amiguinhos, cantou parabéns e conseguiu num sopro, apagar as velinhas. Que satisfação para ambos. Novamente, Maria chorou. Dessa vez em silêncio. Tapou a boca com as mãos trêmulas, para não gritar. Fez todo o esforço possível para que ele não acordasse. Não queria lembrar mais nada. Seu único desejo era de afagar a criança, mantê-lo junto ao seu corpo, num abraço que não acabasse mais. Na parada seguinte, teria que desembarcar. Chegara ao destino. Com o maior carinho levantou com o menino que ainda dormia, pegou uma maleta e desceu. Vem ao seu encontro uma mulher. Estende as mãos e pega Pedrinho. Diz cabisbaixa─ Perdoe-me── afastando-se em seguida com o menino. Desesperada sem olhar para trás, Maria corre em direção a um ônibus que passava em alta velocidade, atira-se na frente do mesmo, que não consegue travar.