PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 12.06.2012, horário: 16:10 horas:

Estava na Corregedoria (PC) e o Delegado Douglas Marreiros Junior veio até minha sala parecendo um “endoidecido-emfurecido-magoado-ferido, e foi me dizendo:

- “Conversei com o Delegado Jefferson  (Corregedor da Polícia Civil), fui até a sua sala e disse tudo que era para ser dito, vou embora. Mas o 'J’ comentou que não foi ele quem pediu a nossa cabeça, ele disse que veio de cima...”.

Respirei aliviado enquanto Douglas emendou:

- “Então eu disse: ‘bom se isso que tu tais dizendo é verdade ou tu ou o homem lá em cima está mentindo’. Ah, eu disse! Em falei prá ele: ‘um de vocês dois está mentindo porque o Aldo disse que fostes tu que pedisse a nossa cabeça’. Olha, Felipe, eu não quero nem saber, vou passar meus procedimentos, vou para a ‘Polinter’ e no final do ano vou pedir minha aposentadoria, em dezembro, não quero mais nem saber. Ah, eu não quero mais abrir o e-mail da ‘Polícia Civil’, não me peçam isso, por favor! Não quero mais saber de nada’. Quando eu conversei com o Aldo eu disse para ele: ‘A minha lotação é na tercdeira ‘DP’ da Capital, é para lá que eu vou, só tem um problema, vou trabalhar com ‘agenda’. Aí o Aldo me interrompeu e perguntou: ‘Ah, é mesmo? Tu vais trabalhar com aquele teu sistema de agenda?'  Eu disse que sim, vou agendar as audiências como fazem no Judiciário. Bom, ficou decidido que eu vou para a ‘Polinter’...”. 

Interrompi:

- “Eu acho que a ‘Polinter’ vai ser uma boa, estão lá o Optemar, a Sandra Andreatta...”.

Douglas me interrompeu:

- “Não, o Wanderlei Redondo também está lá!”

 Argumentei:

- “Não, o Redondo é Diretor de Combate à Pirataria, está lá com o ‘Paulinho Bornhausen’ noutra Secretaria, ele não não está mais na ‘Polinter’. Depois falamos no Wilmar Domingues que faleceu e também estava na ‘Polinter’, que aquele local mais parecia um ‘cemitério’ de Delegados, um bom lugar para esperar a hora de partir... Aproveitei para concordar em parte com o que o Dr. Jefferson havia dito, ou seja, que as nossas cabeças foram pedidas lá por cima e que ele apenas estava sendo figurante. Lembrei os artigos que escrevi questiononando o “Ministério Público”, as cobrancas da direção da Adepol e da cúpula da Polícia Civil quanto ao acompanhamento de projetos na Assembléia Legislativa..., e  por último, a criação da “Defensoria Pública”. 

Douglas me interrompeu e comentou:

- “Sabe, Felipe, eu sinto orgulho. Nós dois aqui somos os únicos que  realmente mostramos não ter medo, ter personalidade, enfrentar, dizer o que  se pensa, escrever o que é para ser escrito. Eu me sinto muito orgulhoso, nos meus procedimentos disse o que tinha para dizer, pedi a cabeça até do ‘Renatão’. Eu e você somos os únicos aqui dentro a ter esse tipo de conduta, só que isso incomoda muita gente lá encima”.

Horário: 08:35 horas:

Depois daquela  conversa com Douglas resolvi ir até a cozinha da Corregedoria no andar térreo onde encontrei algumas policiais sentadas tomando café.  O Delegado Jefferson permanecia de pé. Logo em seguida chegou Douglas e Jefferson ficou bem no nosso meio. Depois de me servir de café, me dirigi para o Corregedor-Chefe e disse:

- “Puxa, te colocaram numa saia-justa, heim?”

Jefferson não comentou nada, apenas deixou escapar um sorriso discreto e assim permaneceu em silêncio. Douglas deixou externou um olhar irônico, enquanto a Escrivã Ariane e mais outras policiais se retorceram junto a mesa ao mesmo tempo em que olharam na nossa direção, todas rindo da situação, especialmente dos trejeitos de Douglas que sapateava tenso de uma lado para outro, deixando no ar um flash de algo surreal que estavam testemunhando. Não comentei mais nada, pedi licença e fui terminar o café na minha sala.

Horário: 19:40 horas:

Depois disso fiz uma relato para minha secretária (Escrivã) sobre tudo o que havia ocorrido naquele dia, já que até então não tinha ainda relatado a verdade (apenas que Aldo havia me chamado para pedir que presidisse o processo disciplinar do Delegado Cláudio Manteiro, o que não era verdade...). Ouvi que o clima na Corregedoria estava terrível, os policiais ostentavam "medos " em seus semblantes, ninguém estava mais sabendo o que iria ocorrer, considerando a saída de Delegado Nilton Andrade da direção do órgão correcional já que era um pacificador. Naquele novo momento as coisas começaram a tomar um rumo incerto, não era mais como antes, o ar parecia carregado...

Data: 14.06.2012, horário: 20:00 horas:

Tinha acabado de chegar na cidade de  Curitibanos e quando estava na frente do Restaurante e Pizzaria Calábria, como das outras vezes, encontrei o “Delegado Toninho” (Antonio Carlos Pereira, Corregedor de Polícia do oeste junto à Diretoria de Polícia do Interior) me aguardando. ‘Toninho’ surgiu da escuridão, vindo do sentido contrário e mais parecia um vulto  quase sinistro caminhando na penumbra. Na medida que fui de encontro percebi que era ele que ao me cumprimentar foi dizendo:

- “Puxa, tu és bom mesmo, conheces tudo”.

Fiquei me perguntando:

- “Conheço o quê? ‘Toninho’ tu não tem jeito mesmo, tivemos quantas vezes neste local, heim!” 

Logo que nos sentamos à mesa para degustar frango a passarinho, fígado com um tempero verde, queijos, pizzas o assunto inicial foi a sindicância do Delegado Bada. Toninho comentou que “Bada” estava nervoso, preocupado porque eu estava ouvindo um monte de gente e que eu queria “foder com ele”.

Achei engraçado aquela conversa e aproveitei para relatar:

- “Olha, ‘Toninho’, na época do Sérgio. L. Monteiro (pai do Claudio) que era Delegado Regional de Chapecó e eu presidente da Federação dos policiais civis, nós estávamos naquela empreitada para vender rifas para custear a construção da sede balneária lá do Campeche, dois apartamentos no centro de Florianópolis e da sede da Associação dos Policiais Civis de Chapecó, não sei se tu conheces? Bom, quando eu ia a Chapecó fazer prestação de contas os policiais me chamavam num canto e me pediam pelo amor de Deus que eu fizesse alguma coisa porque daqui a pouco iria estourar alguma coisa contra o ‘S.’. Moral da história, Toninho: eu não fiz absolutamente nada para delatar o Sergio que vivia na noite..., mas o caso acabou estourando. Depois veio o Brasiliano, lembra? Pois é, eu chegava para reunião em São Bento do Sul, e ele me atacava pedindo que eu não fizesse reunião alguma com os policiais, que eu poderia ficar tranquilo porque os blocos de rifas seriam todos vendidos. Eu dizia para o Brasiliano que tinha autorização do Superintendente da Polícia Civil para estar ali e que conversaria com os policiais de qualquer maneira. Depois da reunião os policiais me procuravam e pediam que eu fizesse alguma coisa urgente, pois o DRP estava viciado em jogos, havia irregularidades no setor de trânsito e que logo iria estourar alguma coisa... De fato, depois veio a bomba, mas me pergunta se eu delatei ele? Claro que não! E temos outros casos mais recentes, como a ‘J’, o ‘M’, o ‘G. C. e S.’. como eu me arrependo, deveria ter delatado todos eles, só que na época eu estava na condição de líder classista...  Então, imagina, eu na minha condição não vou me omitir com relação ao caso do Bada.  Vou ouvir todo mundo, não quero nem saber, é melhor assim, tem que existir um peso moral sobre ele, é melhor assim do que ele acabar como os outros Delegados que citei. Vou ser duro com ele na apuração, ainda mais considerando que ele é ‘Diretor’. Depois eu peço o arquivamento, já sei tudo o que aconteceu. ‘Toninho’, o Bada tem que entender que ele não é absoluto, ele não pode exercer um poder absoluto. Depois disso, comentei que iria pedir o arquivamento da sindicância do Delegado Nada.

Depois disso relatei um pouco sobre o clima na na Corregedoria e durante a conversa regada a vinho, ‘Toninho’ me perguntou se eu queria que o ajudasse na questão. Respondi que não e ele insistiu que se dava muito bem com a Delegada "P."  , esposa do...  ‘Toninho’ acabou relatando uma pérola:

- “Felipe, eu vou lá e falo com ela, deixa comigo. Eu telefono para ela e peço para preparar um jantar lá na casa dela com aquelas porcelanas ‘Schmidt’, então aí...”.

Interrompi Toninho:

- “Ah, pára ‘Toninho’, não quero nada disso, não preciso, por favor, eu só te contei um pouco a história lá da ‘Corregedoria’ para a gente dividir...”.

‘Toninho’ soltou outra pérola:

- “Ah, mas o ‘T.’ tem uma boa do (...). Tu sabes que ele tá nas nossas mãos. Ah, sim, ele tá nas nossas mãos. Tu sabias que o ‘T.’  tem uma filmagem dele  (...).  Ah, ele tem, deixa eu te contar...”. 

Sobre a saída do Delegado Douglas da Corregedoria relatei que lamentava muito a sua saída... Toninho confidenciou que algumas vezes o Delegado "N" havia desabafado que não aguentava mais o Douglas, queria a sua cabeça de qualquer jeito, iria pedir para que o mandassem embora, porém, nunca o fez...