INSTITUTO LUTERANO DE ENSINO SUPERIOR DE ITUMBIARA

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

 

  

BÁRBARA BUZO FERREIRA

CAROLINA FERREIRA SOUZA

DÉBORA DUARTE FERREIRA NAVES

ISABEL CRISTINA SILVA BELONI

LAURA PEREIRA ALVES

 

  

MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

 

 


Itumbiara, 2019

BÁRBARA BUZO FERREIRA

CAROLINA FERREIRA SOUZA

DÉBORA DUARTE FERREIRA NAVES

ISABEL CRISTINA SILVA BELONI

LAURA PEREIRA ALVES

 


 

MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

 

 

Projeto de pesquisa submetido ao Curso de Bacharelado em Psicologia do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara, Goiás.

 

Prof.ª Orientadora Patrícia Francisca dos Santos Medeiros.


 

 

Itumbiara, 2019

  1.                                                       

O presente projeto de pesquisa tem como base investigar os impactos causados pela violência sexual contra a mulher: na vítima e no agressor. Na vítima há relatos de pós trauma com sintomas de vários transtornos mentais, problemas sexuais, acarretando assim prejuízos comportamentais, sociais, cognitivos e emocionais, tanto no âmbito familiar como no social. No agressor investigar comorbidades relacionadas ao transtorno mental e viabilizar a justiça perante o seu ato. Dessa maneira identificar os comportamentos da vítima e do agressor, descrevendo assim as formas de violência contra a mulher, como também os transtornos mentais desenvolvidos e/ou instalados em ambos decorrentes desta violência e, ainda determinar as formas de tratamento para a vítima e o agressor. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que será realizada por meio de consultas online, via computadores e smartphones, tendo como foco principal a leitura minuciosa em cima de artigos acadêmicos, vistos como fundamentais para este projeto. No que se refere ao procedimento de coleta de dados serão selecionados os artigos acadêmicos pertinentes ao tema, e a partir da leitura detalhada e rigorosa em cima de todos os instrumentos escolhidos, será realizada uma análise que irá verificar os artigos e as demais pesquisas, e a identificação dos mesmos com os aspectos fundamentais do conteúdo destes com o estudo deste projeto. Diante do impacto na saúde e vida social e familiar da vítima, faz-se necessário o atendimento psicológico e médico, para que a mesma possa se restabelecer perante tamanho trauma. Da mesma maneira esperara-se pronto atendimento da justiça perante a causa, no julgamento e encaminhamento do agressor para tratamento médico/psicológico quando necessário.

 

Palavras chave: Vítima, Agressor, Transtorno mental, Tratamento.


 

 

ABSTRACT

 

This research project is based on investigating the impacts caused by sexual violence against women: on the victim and the aggressor. In the victim there are reports of post trauma with symptoms of various mental disorders, sexual problems, thus causing behavioral, social, cognitive and emotional impairments, both in the family and social sphere. In the aggressor investigate comorbidities related to mental disorder and enable justice before its act. Thus, identifying the behaviors of the victim and the aggressor, thus describing the forms of violence against women, as well as the mental disorders developed and/or installed in both arising from this violence and also determine the forms of treatment for the victim and the aggressor. This is a bibliographic research that will be carried out through online consultations, via computers and smartphones, focusing primarily on the detailed reading on top of academic articles, seen as fundamental to this project. With regard to the data collection procedure, the academic articles relevant to the theme will be selected, and from the detailed and rigorous reading on top of all the chosen instruments, an analysis will be carried out that will verify the articles and other researches, and the identification of them with the fundamental aspects of the content of these with the study of this project. Given the impact on the victim's health and social and family life, psychological and medical care is necessary, so that it can be restored to the size of trauma. Similarly, emergency justice was expected to attend the cause, in the judgment and referral of the aggressor for medical/psychological treatment when necessary.

 

Keywords: Victim, Offender, Mental Disorder, Treatment.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Nos dias atuais, é possível perceber nitidamente em jornais, revistas, redes sociais, ou até mesmo no nosso cotidiano com vítimas de convívio pessoal, relatos sobre violências sexuais com crianças, adolescentes e adultos. A violência sexual pode ser caracterizada por atos de violação onde não há o consentimento do outro. Segundo a literatura, vítimas de violência sexual tendem a desenvolver e apresentar transtorno de ansiedade, sintomas depressivos e agressivos, problemas quanto ao seu papel e funcionamento sexual e graves dificuldades em relacionamentos interpessoais. Além de desenvolverem vários transtornos mentais, as violações podem trazer prejuízos cognitivos, emocionais, comportamentais e sociais, e assim desenvolvendo mudanças no comportamento escolar, isolamento, tendências suicidas, medo em ficar sozinha ou perto de um determinado adulto, entre outros.

O presente projeto tem como tema as mulheres vítimas de violência sexual, tendo em questão, quais são os fatores existentes que podem prejudicar a vida dessas pessoas e como esses aspectos refletem em suas vidas. Posteriormente, apresentando a hipótese de acreditar que, a falta de apoio, o desequilíbrio psicológico, as lembranças e as ameaças são alguns dos motivos que prejudicam diretamente a vivência dessas vítimas, gerando danosa longo prazo no seguimento emocional, podendo desenvolver alterações psicológicas, como a depressão.

O objetivo geral do projeto é descrever quais são os comportamentos emitidos pelas vítimas e pelos agressores. Dessa forma, tendo como objetivos específicos: descrever as formas de violência contra a mulher e identificar o comportamento do agressor e da vítima, como também verificar os transtornos mentais desenvolvidos em ambos referentes à violência e ainda, determinar as formas de tratamento tanto para a vítima quanto para o agressor.

Assim, a justificativa social do estudo busca analisar as consequências psicológicas da violência sexual em mulheres, expondo o tema que ainda hoje é tratado como tabu em alguns aspectos, como as situações de medo ou descrédito referente às denúncias da vítima. Na justificativa científica atribui-se extrema importância o contato com relatos e referências bibliográficas para compreensão profunda das situações de violência, buscando entender os traumas impostos as vítimas que afetam seus comportamentos e interações sociais no decorrer da vida, assim como as leis em vigor, incluindo as punições para o agressor e o tratamento dado as vítimas, como também acrescentar pesquisas e reflexões sobre o tema.Por fim, este projeto possui como justificativa pessoal, o entendimento de que estudo agregará novos conhecimentos sobre a problemática, auxiliando no desenvolvimento de um senso crítico para futuras atuações profissionais.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

 

Em um primeiro momento, é interessante expor um resgate histórico no que se refere à violência contra a mulher. Antigamente, a subordinação, a desigualdade social e as ameaças contra as mulheres eram maiores comparadas aos dias atuais, isto pelo fato de as mulheres na época não terem seus direitos constituídos e serem totalmente submissas aos homens. Estes fatores eram determinantes durante os atos de violência exercidos dentro dos lares, onde a mulher não podia dizer e nem fazer nada para sair desta situação. A partir de inúmeras conferências internacionais e nacionais, movimentos feministas e convenções foram que estabeleceram proteção aos direitos humanos e, em decorrência disso surgiram impactos positivos na compreensão da violência contra a mulher, tema este que passou a ter mais visibilidade na sociedade a partir dessas mudanças sociais.

 

2.1 Formas de violência contra a mulher

A violência contra a mulher é considerada um crime hediondo, sendo um problema social e um fator grave de saúde pública devido ao grande número de vítimas violadas, podendo ser definida como um ato de violência que resulta em danos físicos, psicológicos e sexuais, gerando também inúmeros homicídios. A Convenção de Belém do Pará define violência contra a mulher como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado.” Segundo Cassique e Furegato (2006, p. 3) a violência de modo geral “(...) é influenciada pela cultura e submetida a uma contínua revisão na medida em que os valores e as normas sociais evoluem.”

Pode ser caracterizada em diferentes tipos, como violência de gênero, ou seja, aquela em que a vítima sofre pelo fato de pertencer ao sexo feminino, violência doméstica que é aquela ocorrida em ambiente doméstico, violência familiar, quando ocorre em um espaço familiar, ou seja, com relações formadas a partir de um vínculo de parentesco, violência física que é aquela onde o agressor utiliza de sua força como forma de ferir a integridade física da vítima, violência moral que é aquela atribuída na intenção de difamar/caluniar a reputação da mulher, violência psicológica, ou seja, qualquer tipo de ação onde se fere a saúde psicológica da vítima.

Especificamente, a violência sexual é considerada como qualquer forma de contato sexual, incluindo ameaças e intimidações onde o agressor utiliza de sua força física para violentar sexualmente a vítima, sem o seu consentimento, com isso, acarretando inúmeras consequências, físicas, sexuais, reprodutivas, e principalmente o sofrimento psíquico, o que afeta sua qualidade de vida. “A fragilização dessas vítimas pode incluir efeitos permanentes na autoestima e autoimagem, deixando-as com menos possibilidade de se proteger, menos seguras do seu valor e dos seus limites pessoais (...)” (ADEODATO, et al. 2005, p. 109). Dessa maneira, percebe-se que em decorrência dessas violações, os impactos são extremamente danosos ao psicológico dessas mulheres, pois acabam se tornando vulneráveis a essa situação e, muitas das vezes preferem não ser vistas.

A partir da visão de Barbosa, Souza e Freitas (2015, p. 273) “A violência sexual não está limitada à penetração da vulva, do ânus ou de outra parte do corpo como o pênis ou outro objeto e inclui estupro, agressão, molestamento, assédio e incesto, sendo que as definições para esses atos específicos diferem entre países.” Portanto, existe uma série de tipos de agressões que podem ser consideradas violência sexual. Segundo alguns autores, a violência sexual contra a mulher surge como resultado da desigualdade de gênero no país, onde são estabelecidos funções, posições e encargos diferentes para cada indivíduo, sendo assim necessário o enfrentamento direto dessa problemática nas esferas públicas, de segurança e saúde.

Nessa mesma perspectiva, (OLIVEIRA, et al. 2005) descreve ainda, que este tipo de violência, revela o difícil cenário de relação de poder ainda existente entre os sexos opostos, o que na realidade não deveria existir. O referido autor expõe que em razão das consequências danosas da violência sexual contra as mulheres, sejam elas físicas ou psicológicas, a procura de serviços de saúde pública aumenta, principalmente em prontos-socorros, devido ao fácil acesso, porém, sabe-se que nem sempre terão demandas que resolverão de forma imediata. A maioria das mulheres necessita de apoio psicológico no processo de cicatrização das feridas deixadas pelo agressor, e esse processo terapêutico é extenso e doloroso para a vítima.

No entanto, Schraiber (et al. 2002, p. 471) contribui articulando que “(...) a violência nas relações de gênero não é reconhecida nos diagnósticos realizados nos serviços de saúde, sendo problema de extrema dificuldade para ser abordado.” O reconhecimento de uma violência sexual em relações conjugais pode ser complexo devido ao silêncio da vítima, em razão das ameaças e subordinações  feitas pelo agressor, ou então por questões culturais, onde diversas definições sobre agressões seja de qualquer categoria, são relativas á prática sexual sem o consentimento da mulher, muitas vezes ser considerada como obrigação da mesma. (SCHRAIBER, et al. 2007)

É importante ressaltar que os registros em boletins de ocorrência são inferiores comparados ao número de agressões que ocorrem de fato. De acordo com Adeodato, et al. (2005, p. 109) “No Brasil, 23% das mulheres estão sujeitas à violência doméstica; a cada quatro minutos, uma mulher é agredida, sendo que em 85,5% dos casos de violência física contra mulheres, os agressores são seus parceiros.” Segundo Schraiber (et al. 2007) a maioria destes casos de violência física estão associados a violência psicológica e, um terço e meio a violência sexual. Portanto, a partir disso percebe-se que através da prática de determinada violência seja de qualquer tipo, consequentemente vai gerando outras.

 

2.1.1 Comportamentos desenvolvidos pela vítima

É importante destacar que, em razão da violência sexual e suas implicações, a vítima apresenta algumas mudanças de comportamento como sentimentos de vergonha relacionados ao corpo, culpa, construção de pensamentos relacionados à suas capacidades, falta de cuidados e desleixo devido á visão que tem de si própria e sua autoimagem afetada, baixa autoestima, sentimentos de invalidez e desmerecimento, impressão de estar ‘imunda” e "suja" devido à experiência deplorável que viveu, insegurança, dificuldade em confiar nas pessoas, o que pode dificultar relações interpessoais, uso de substâncias químicas como álcool, drogas, entre outros.

Estes sinais afetam diretamente a saúde mental da vítima, acarretando inúmeros transtornos tais como, de ansiedade, depressão, ideações suicidas, anorexia, bulimia, estresse pós-traumático e ainda, comprometendo a vida social e familiar da mesma. Segundo Souza, et al. (2013, p. 99) “Na mesma direção, Drezett (2000) relata que podem ocorrer transtornos da sexualidade, incluindo vaginismo, dispareunia, diminuição da lubrificação vaginal e perda do orgasmo, que podem evoluir para a completa aversão ao sexo.”

 Dentre as consequências físicas, as agressões podem provocar doenças sexualmente transmissíveis (DST), gravidez indesejada, lesões na região vaginal, podendo também comprometer o funcionamento sexual, dessa forma, a partir do que foi mencionado, é possível perceber que a qualidade de vida dessas vítimas é diretamente afetada. Adeodato, et al. (2005, p. 109) descreve que “Em termos globais, as consequências do estupro e da violência doméstica para a saúde das mulheres são maiores que as consequências de todos os tipos de câncer e pouco menores que os efeitos das doenças cardiovasculares.”

Nessa mesma perspectiva, é importante mencionar que mulheres que sofreram violência sexual na infância, carregam sequelas emocionais intensas e são mais propensas a desenvolver transtornos mentais na fase adulta, como também "(...) crescem reprimindo a raiva, por medo de repreensões, de isolamento ou da retirada do afeto." (PADILHA E GOMIDE, 2004, p. 55). Segundo Lopes, et al. (2004, p. 112) "Estudos populacionais realizados em diversos países demonstram que 20% das mulheres revelaram terem sido abusadas sexualmente quando crianças."

No que se refere ao sentimento das vítimas nestes casos Souza, et al. (2013, p. 100) expõe que há consequências no futuro da pessoa que foi violentada, especificamente se ocorreu na infância ou se a violência aconteceu frequentemente em sua vida. O autor descreve que é como se a “sobrevivente” deste sofrimento estivesse sempre destinada a ocupar a posição de vítima, impossibilitando-a de ter o domínio da própria vida.

 No Brasil, existem vários órgãos responsáveis por esta demanda de mulheres vítimas de violência sexual, como a delegacia da mulher, defensorias públicas e defensorias da mulher (especializada), casa da mulher brasileira, juizados especializados de violência doméstica e familiar contra a mulher, e ainda, diversas leis que apoiam e asseguram os direitos das mesmas. Porém, a respeito das denúncias, a maioria das mulheres se sente ameaçadas pelos agressores, humilhadas e constrangidas durante os exames periciais devido a sua exposição.

 

2.1.2 Comportamentos desenvolvidos pelo agressor

No que se refere à conduta do agressor, o mesmo possui a visão de que a mulher é apenas um instrumento de prazer, submissa a ele. Na maioria dos casos apresenta comportamentos que desconstroem a identidade da vítima, intimidando-a, humilhando-a, manipulando-a e ameaçando-a direta e indiretamente. Estudos revelam que alguns dos agressores ingerem uma grande quantidade de álcool e consomem substâncias ilícitas antes das agressões sexuais e apresentam atitudes agressivas com outras pessoas.

Em determinados casos, após as violações, o agressor pede desculpas e promete melhoras, esses são alguns dos principais motivos que impedem a separação do casal, a dependência financeira e o medo também são fatores determinantes. O mesmo age de maneira violenta na tentativa de realizar o abuso sexual, não necessariamente o contato físico-sexual em si, mas também de maneira verbal, incluindo comentários provocantes, entre outros, sem o consentimento da vítima.

Segundo Antoni, et al. (2011, p. 99), a exploração sexual também se dá no âmbito comercial, ou seja, a comercialização do próprio corpo através de prostituições e pornografias, por meio de redes sociais, via internet ou ao vivo. O autor expõe ainda que os relatos no Disque Denúncia de situações de explorações sexuais comerciais, ou seja, em que a violência sexual ocorre objetivando ao lucro, é considerado comum atualmente. Existem vários tipos de agressores, o situacional, ou seja, aquele que aproveita de uma determinada situação para realizar o abuso sexual, o pedófilo, aquele que conscientemente possui o desejo e/ou atração sexual por especificamente crianças e adolescentes e, ainda aquele agressor que possui algum tipo de transtorno mental e que, em razão disso pratica as violações contra as mulheres.

É fundamental destacar também a existência de dois contextos em que o agressor emite tais comportamentos característicos de violência sexual contra mulheres, o ambiente intrafamiliar e o extrafamiliar. O intrafamiliar é o abuso que ocorre no meio familiar, com pessoas próximas a vítima, com algum grau de parentesco, como por exemplo, pai, tio, avô, primo, padrasto etc, de acordo com alguns estudos é apontado como o mais comum. O extrafamiliar é aquele realizado por pessoas fora do ambiente familiar, sem vínculo afetivo e desconhecido pela vítima. Adeodato, et al. (2005, p. 109) expõe que "(...) o locus da violência continua sendo gerado no âmbito familiar, sendo que a chance de a mulher ser agredida pelo pai de seus filhos, ex-marido, ou atual companheiro, é muitas vezes maior do que o de sofrer alguma violência por estranhos."

Nos casos de abuso intrafamiliar, embora não existam razões para tais comportamentos, o fato da vítima viver no mesmo local, a dependência financeira em algumas situações, os laços afetivos construídos, o excesso de ciúme, a confiança gerada ao longo do tempo, a não aceitação do fim de um relacionamento, possuir filhos com o agressor, são elementos que facilitam as violações e que, inclusive são usados contra a vítima como forma de manipulação. Em situações de abuso extrafamiliar as razões estão mais relacionadas a exploração sexual, geralmente acometido aquelas mulheres que vivem em situação de rua. Pesquisas revelam que nesse caso, o agressor pode ou não ser conhecido pela família da vítima, porém, não possui nenhum vínculo afetivo com a mesma.

 

2.2 Transtornos mentais que as vítimas e os agressores desenvolvem

A violência sexual pode acarretar vários transtornos as vítimas e aos agressores, tanto imediatamente após o fato ou a médio e longo prazo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) uma em cada quatro pessoas vítimas de violência sexual desenvolverá algum transtorno mental durante a vida. O alto índice de vítimas no Brasil tem aumentado cada vez mais. Os transtornos mentais são considerados como o mal do século, servindo como um fator preocupante, tanto por ser recente e além de atingir inúmeras pessoas. De acordo com (LOPEZ E MURRAY, 1998) é importante conscientizar de que os transtornos mentais elevam a um sério risco de saúde pública.

Os transtornos podem ser por uma violência tanto física como psicológica. Uma violência muito comum é a sexual, que é um problema mundial. No mundo todo, agredir, estuprar e matar uma mulher é considerado crime. Diante desta problemática várias organizações vêm se mobilizando contra essas violências, afim de compreender os fatores que levam a estereótipos de gênero, a violência e outras questões sociais relacionadas ao comportamento do indivíduo. (BLAY, 2003)

Embora existam muitas e diferentes formas de violência, segundo Krug, et al. (2002) a violência sexual é definida como atos, tentativas ou investidas sexuais indesejadas, com uso de coação e praticados por qualquer pessoa, independentemente de sua relação com a vítima e em qualquer contexto, seja doméstico ou não. Pode-se ocorrer também um evento situacional, sem vínculo onde o agressor age de acordo com o meio. A violência pode se manifestar através de humilhações, xingamentos e intimidação da vítima levando a mesma a uma série de transtornos.

 

2.2.1Transtornos mentais desenvolvidos pela vítima

Mulheres violentadas podem desenvolver vários tipos de transtornos mentais, segundo (Sijbrandij M, et al. 2016) os transtornos mais frequentes entre as vítimas de violência, estão a depressão, a ansiedade e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Independentemente de ter alguma relação ou não com o agressor, pode-se acarretar vários danos a vítima, sendo alguns deles: infecções sexualmente transmissíveis (IST), gravidez indesejada ou abortos espontâneos, desenvolvimento de fobias, crise de pânico, transtornos de ansiedade, do sono ou alimentar, depressão e síndrome do estresse pós-traumático, de acordo com (FAÚNDES, A. et al. 2006)

     Por serem violentadas e por desenvolver esses transtornos muitas vezes se isolam da sociedade, tendo dificuldades para arrumar empregos, começar ou finalizar estudos, manter um relacionamento estável, situação que parece dificultar ainda mais o desenvolvimento da autonomia para o autocuidado e a autodefesa. Em vista disso, nos estudos sobre violência sexual de homens contra mulheres é necessário considerar a posição que é dada a elas ao longo da história e buscar compreender a dinâmica psíquica que o estupro envolve, assim como suas marcas e consequências psicológicas. A relação com a própria imagem, a autoestima e as relações afetivas também são afetadas negativamente, o que limita a qualidade de vida. Esses sintomas podem ser duradouros e estender-se por muitos anos na vida dessas mulheres. Segundo Meekers D, et al. 2013, quanto mais grave for a violência, maior será o impacto sobre a saúde mental das mulheres. Os resultados sugerem que a recuperação pode levar mais tempo para algumas vítimas e para outras pode se prolongar por tempo indeterminado.

 

2.2.2 Transtornos mentais desenvolvidos pelo agressor

No caso do agressor, deve se enfatizar, porém, que os indivíduos que cometem abuso sexual são seres humanos que apresentam distúrbios de ordem moral, social e psicológica e devem ser tratados (COHEN e GOBBETTI, 2002). Em contrapartida, nem todos os agressores apresentam as mesmas razões, ou seja, podem haver vários fatores envolvidos.

O conhecimento do fato de que 30 a 60% dos agressores sexuais não apresentam quaisquer transtornos psiquiátricos diagnosticáveis é importante, tanto do ponto de vista médico, quanto jurídico-social ressalta Curtin e Niveau (1999). Há um aumento nos últimos anos de agressores sexuais na prisão, e não podemos deixar de lado, eles irão sair de lá, sem qualquer intervenção médica ou psicológica para prevenir a reincidência social. Segundo Karpman (1960) já se expressava nestes termos, referindo sobre a necessidade do melhor treinamento de profissionais da saúde no controle e na identificação dos agressores sexuais.

(...) não há um fator único que explique porque algumas pessoas se comportam de forma violenta em relação a outras, ou porque a violência ocorre mais em algumas comunidades do que em outras. A violência é o resultado da complexa interação de fatores individuais, de relacionamentos, sociais, culturais e ambientais. Entender como esses fatores estão relacionados à violência é um dos passos importantes na abordagem da saúde pública para evitar a violência. (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE VIOLÊNCIA E SAÚDE. Genebra, OMS, 2002)

 

Para que os esforços preventivos e de reincidência obtenham os resultados desejados e efetivos, há de se fazer uma anamnese com um médico psiquiatra e com psicólogo, para que se houver qualquer transtorno de personalidade, doenças mentais ou abuso de álcool e/ou drogas, possa ser iniciada a terapia combinada com fármacos se necessário. O homem sendo o originário da violência doméstica, tem que ser tratado e não somente encarcerado, Bianchini (2013 apud Medrado, 2008, p.83), diz “...que a lei, de certo modo reconhece que para intervir no contexto da violência doméstica e familiar contra as mulheres, a partir da perspectiva de gênero, é preciso implementar ações que possam também incluir os homens”.

De acordo com Zuma, et al (2007), há de ser salientado, que as ações em direção à vítima de violência doméstica são mais plausíveis dentro de uma sociedade punitiva, diante de atos que lesam corporalmente, além de psicologicamente é claro, o outro. As ações diretivas ao cuidado do agressor devem ser articuladas de maneira a se praticar a justiça necessário e o tratamento adequado diante de possíveis quadros de doenças mentais ou uso de drogas que desencadearam e colaboraram para que a violência contra a sua parceira ocorresse.

Não só as vítimas como os agressores tem ou desenvolvem transtornos mentais, segundo Prentky RA, Knight RA (1991) vários estudos mostram que muitos agressores sexuais podem apresentar problemas psiquiátricos, tais como psicoses, transtornos do humor e até mesmo retardo mental. Para McElroy et al (1999) é necessário o conhecimento dos tipos e prevalência de transtornos mentais em agressores sexuais. Compreender a relação entre esses transtornos e a violência, se este pode tornar possível o desenvolvimento de mais políticas efetivas, correcionais e de saúde pública. Conhecer e colocar em prática o tratamento psicofarmacológico apropriado para esses indivíduos, juntamente com programas de tratamento psicossociais, a chance de reabilitação pode ser bem-sucedida. Fatores de risco e estratégias de prevenção contra a violência sexual podem ser identificados e desenvolvidos, se os setores de saúde, educação, segurança, justiça e assistência social trabalhares unidos visando o mesmo propósito de reabilitação de ambas as partes: vítima e agressor.

 

2.3 Formas de tratamento para a vítima e para o agressor 

Comentar a respeito dos inúmeros tratamentos que as vítimas e os agressores se apegam para conseguir superar e tentar reiniciar a vida depois da violência é complicado, superar um trauma e tentar se reinserir dentro do seu próprio contexto, mas que agora será encarado de outra forma, com medo, ansiedade, stress pós-traumático, entre outros, não são visto por muitos pesquisadores como uma tarefa simples, mas existem diversas formas de tratamentos e além de formas existem meios ao quais ambos se apoiam para superar tal vivência.

O mais interessante é que a violência sexual é encarada de formas diferentes e subjetivas, que é própria e única, para cada sujeito. Mas a literatura evidência que alguns métodos são excepcionais e fundamentais para a recuperação da maioria dos indivíduos. A família e a religião de acordo com alguns autores são os principais alicerces e que a maioria das vítimas se apegam para realizar o processo de recuperação. Além disso, as redes de atendimento as mulheres vítimas de violência sexual tem mudado e promovendo cada vez mais auxilio e suporte para as mesmas. Segundo Villela e Lago (2007) as redes de serviço e atendimento a mulheres vítimas de violência, em específico o DEAM que são as delegacias de atendimento especializado à esse público, não buscam somente punir os agressores, mas amparar, dar suporte, defender os diretores, dar proteção e acima de tudo incentivar as vítimas a denunciar as agressões, que segundo os autores são uma rede de serviço único e fundamental para o tratamento e inserção, tanto para vítimas quanto para os agressores, pois segundo os mesmos não é justo e correto que o agressor passe por ileso desta violência.

É notório que vítimas de violência sexual passam por um imenso processo de resiliência, de tentar superar as adversidades e se refazer sem carregar mágoas e ficar revivendo o momento de sofrimento. Nesse processo a família entra como um alicerce fundamental para a recuperação e melhora da mulher após a violência, é considerada uma base para superar traumas. Segundo Cyrulnik e Magalhaes (2008), em momentos que o sujeito passa por muita dor e sofrimento o mesmo pode adquirir de recursos internos, que neste caso é a família, tanto quem promoveu a violência quanto quem sofreu, vale ressaltar que o agressor também passará por algum tipo de sofrimento, seja ele pelo fato de se tornar um monstro para a sociedade e se denunciado for para cadeia, mas claro se esse agressor possuir algum transtorno mental, se o mesmo for um agressor situacional e que acredita ter feito a coisa certa e ainda culpar a vítima, neste caso será mais difícil desse sujeito sentir arrependimento ou sofrimento, pois essa atitude faz parte da sua crença e valores.

 Cyrulnik (2004) apresenta que o afeto dado pela família é capaz de aliviar o sofrimento e ajudar no enfretamento do problema, o afeto pode ser transmitido de diversas formas, não somente pelo toque, mas por palavras de conforto, olhar e pela escuta. Família é responsável pelos laços de amor e cuidado que são construídos desde a infância e que ajudam na criação da personalidade e caráter do indivíduo. Ao contrário de Cyrulnik (2004), Faúndes (2006) aponta como os procedimentos de urgência em atendimento a vítimas e agressores são importantes no tratamento, sendo eles recepção, anamnese, exame físico, exames complementares e tratamentos indicados para cada caso.

De acordo com o livro Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes (2012) é de extrema importância à validação das experiências, autonomia, individualidade, direitos, sigilo, atendimento e humanização, são aspectos fundamentais para os tratamentos de vítimas de violência.

Outro fator importante e que é ressaltado por muitos é a religião vista como outro tratamento utilizado por vítima e agressor, um tratamento quase que social, mas que os mesmos fazem uso para reiniciar suas vidas após a vivência. Existem inúmeras religiões e cada uma tem seu seguimento e crença específica e cada um se apega com a religião que mais se identifica ou que é específica da sua família. Estudar sobre religião e fazer afirmações sobre a mesma é muito complexo pelo fato de não ser algo científico e comprovado, mas ao mesmo tempo ter o poder de provocar mudanças nos indivíduos que talvez a ciência não consiga explicar, como o que é conhecido por fé. Segundo Paiva (2007, p.101) “É notável que essas curas geralmente não terminassem no bem-estar físico ou psicológico, mas apontavam para um tipo de bem-estar religioso, concretamente a libertação do pecado e a união com Deus”.

Com essa passagem fica evidente como a religião é bastante utilizada e capaz de ajudar a promover sentimentos de paz, aceitação e amor. Mulheres que vivenciam momentos de bastante sofrimento procuram de alguma forma se apegar a algo que possa aliviar o sofrimento vivenciado pelas mesmas. Esses mesmos recursos subjetivos e individuais são usados tanto pela vítima como pelo agressor, tanto a família quanto a religião é vista e possui importância e significados diferentes para cada sujeito o que não pode determinar qual é o mais usado ou importante. Ainda se assemelhando a esse pensamento, Andrade (2005) cita que entre os mecanismos de controle social informal, a família e a religião se encaixam.

A família e a religião são muletas construídas, não são todas as pessoas que possuem uma família estável e apoiadora, muito menos acredita em alguma religião. As políticas de saúde são fundamentais para esses casos de violência, tanto para o atendimento da vítima quanto do agressor, aconselha-se que após essa vivencia procure um atendimento médico e psicológico para ambos, mas em muitos casos ambos não se sentem à vontade ou acreditam não precisar de tal tratamento e preferem buscar forças na família ou em algum tipo de religião. Segundo a Revista Bras. Ginecol Obstet (2006) é necessário que a rede de saúde junto com uma equipe multidisciplinar ofereça um atendimento de recepção, de anamnese, exames físicos, tratamento, exames complementares, profilaxia dos tipos de DST’s virais e não virais. O atendimento para esses tipos de casos deve ser acolhedor e realizado com cuidados, em muitas situações acontece do próprio profissional não estar preparado para receber atendimento a vítima e o agressor. Até mesmo pelo fato de alguns agressores não apresentarem sinais de quem são em seu cotidiano de vida, como ter comportamentos agressivos com qualquer pessoa, sendo ou não de seu convívio ou até mesmo não aparentar diferenças, pois psicólogos afirmam ter dificuldades em identificar o perfil da pessoa que agride, quando um sujeito desses chega ao atendimento de emergência deixa os profissionais da área com uma espécie de indignação e rancor, pelo fato de serem surpreendidos pelos mesmos.

Segundo Serafim, A. et al (2009), há dados no departamento de justiça dos Estados Unidos em que comprovam que os agressores sexuais pertencem a qualquer classe econômica, religião, raça ou algum grupo étnico, por essa fato é que o  pensamento necessita ir além da vítima, ou seja, também deve haver tratamento para os agressores, pois cuidando deles, estará protegendo várias outras pessoas, que poderiam ser futuras vítimas, estendendo a família da vítima, do agressor, e assim conseguindo auxiliar todos de uma ótima forma.

Outro ponto importante defendido por alguns autores e que a violência pode ser passada de geração em geração, onde (CORTEZ, M. PADOVANI, R. WILLIAMS, L., 2005, p. 14) afirmam que “essa visão possibilita novas formas de tratamento e o direcionamento a tópicos que envolvam desde o controle da raiva até trabalhos sobre o questionamento de mitos e de pensamentos errôneos direcionados à própria parceira e ao relacionamento homem-mulher.” Há bastante eficácia no tratamento de agressores, trabalhando com grupos terapêuticos para desenvolver um programa com estes, podendo depender de cada caso e variando a duração desses encontros. Possui êxito nesse tipo de tratamento, pois o agressor também precisa de um acompanhamento adequado, e não somente a vítima, pois tratando dele pode-se evitar vários outros possíveis acontecimentos, além do sofrimento familiar de ambos. Desse modo, o que Faúndes, Rosas, Bedane e Orozc (2006) afirmam que é fundamental tanto para vítima quanto para o agressor fazer uso das políticas de saúdes oferecidas para esses casos, é necessário acompanhamento médico é principalmente psicológico, terapias, grupos de encontro, analises e a resignação da vida e do que levou aquele sujeito a estar ali, serve como auxiliador e provedor de um futuro bem-estar físico e psicológico.


METODOLOGIA

  • Tipo de estudo - A metodologia deste projeto de pesquisa visa descrever a forma como será realizada a pesquisa e explicitar todos os procedimentos específicos pelos quais o tema será trabalhado durante todo o processo de construção do mesmo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que será realizada por meio de consultas online, tendo como foco principal a leitura minuciosa em cima de artigos acadêmicos, vistos como fundamentais para este projeto.

 

  • Amostra -Serão utilizados dezesseis artigos que abordam o tema, relacionados com as palavras-chaves, a maioria deles retirados do site Scielo, porém de outras plataformas também, através da ferramenta de pesquisa Google Acadêmico.

 

  • Critério de inclusão - O critério de inclusão utilizado será as palavras-chaves: mulheres; violência sexual; agressor; transtornos mentais; auxílio.

 

  • Instrumentos/Materiais/Local - Os instrumentos usados para a realização da pesquisa serão computadores e smartphones assim, encontrando artigos para a melhor compreensão do tema.

 

  • Procedimentos de coleta de dados - No que se refere ao procedimento de coleta de dados serão selecionados os artigos acadêmicos pertinentes ao tema e quanto ao período dessas publicações que irão ser pesquisadas, serão consideradas aquelas entre 2004 e 2018.

 

  • Análise dos dados - A partir da leitura detalhada e rigorosa em cima de todos os instrumentos escolhidos, sendo realizada uma análise que irá verificar os artigos e as demais pesquisas, e a identificação dos mesmos com os aspectos fundamentais do conteúdo destes com o estudo deste projeto, análise de dados ocorrerá através desta identificação, e os dados serão analisados a partir da importância que se apresenta em relação ao presente objeto de estudo.

 

 

 

 

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante dos estudos bibliográficos expostos no presente trabalho, nota-se que as concepções dos autores referente à causa da violência sexual contra a mulher não se opõem, sendo que maioria deles defendem o mesmo pensamento, com ideias semelhantes. Assim como Cassique e Fuguerato (2006) descrevem que a violência ocorre na medida em que as relações sociais e os valores evoluem, sob influência de uma determinada cultura, Oliveira, et al (2005) reitera afirmando que este tipo de violência demonstra visivelmente o contexto vivenciado hoje nas relações conjugais, bem como as relações de poder existentes entre os sexos, e ainda, segundo alguns autores expõem que a violência sexual é resultado da desigualdade de gênero ainda existente no país.

No que se refere à definição da violência contra a mulher, a visão de vários autores também se coincide, consideram este tipo de violência como qualquer ato ou contato sexual realizado de maneira direta ou indiretamente, onde o agressor usa de sua força física para agredir sexualmente a vítima. Nessa mesma perspectiva, Barbosa, Souza e Freitas (2015) contribuem enfatizando a ideia de que a violência sexual não se limita somente na penetração em si, mas que envolve também estupros, assédios, molestamentos, ameaças etc. A respeito dos tipos de violência, verificou-se que em vários casos de violência sexual, há algum vestígio de violência física, doméstica e psicológica, assim como Adeodato, et al (2005) descreve que 25% das mulheres estão sujeitas a violência doméstica, Schraiber et al. (2007) acrescenta que a maioria de casos de violência física estão relacionados a violência psicológica e sexual.

Em decorrência das violações praticadas pelos agressores, surgem diversos efeitos na vida das vítimas, efeitos estes que afetam diretamente sua saúde mental e qualidade de vida, sobre estas consequências, as opiniões de vários autores se complementam. Dessa forma, referente aos comportamentos desenvolvidos pela vítima, os autores mencionam o surgimento de vários transtornos mentais e transtornos alimentares, Souza, et al. (2013), descreve ainda que, Drezett (2000) inclui também transtornos de sexualidade. O sentimento das mulheres que sofreram abuso sexual quando criança vai se tornando cada vez pior na fase adulta, e as concepções dos autores sobre essa questão não se diferem, Padilha e Gomide (2004) revelam que essas mulheres crescem reprimindo a raiva e passa a ficar cada vez mais isoladas, dessa forma, Souza, et al. (2013) exprime a idéia de que é como se essas mulheres vivessem sempre na condição de vítimas.

Nessa mesma perspectiva, não menos importante, faz-se necessário destacar aqui, as ideias dos autores referente aos comportamentos desenvolvidos pelo agressor, visto que este é considerado como o sujeito ativo destas violações. Concepções estas que não se opõem, uma vez que possuem a visão de que o agressor vê a vítima apenas como um mecanismo de prazer, apresentando condutas totalmente agressivas e ameaçadoras.  Existem autores que afirmam existir uma grande quantidade de agressores que emitem tais comportamentos típicos de violência sexual em contexto extrafamiliar, porém Adeodato, et al. (2005) afirma que as chances de mulheres serem agredidas em um ambiente intrafamiliar, por companheiros, pai ou tio é maior comparada as chances de serem violentadas por terceiros.

Verifica-se que as vítimas que sofreram violências, tendem a desenvolver traumas, portanto, segundo Sijbrandij M, et al (2016) a depressão e a ansiedade podem ser exemplos. Dessa maneira, Faúndes A, et al (2006), discorre que independente de ter uma relação ou não com o agressor, pode trazer vários danos para as vítimas, tanto psicológico, quanto físico. Cada vítima tem uma forma diferente de reagir, tendo inúmeras dificuldades para enfrentar a vida daquele momento para frente.

Uma a cada quatro pessoas que são violentadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sofrem algum tipo de transtorno mental como consequência. O número de pessoas que sofrem deste crime tende a aumentar constantemente, portanto, segundo Lopez e Murray (1998) devemos buscar meios de conscientizar as pessoas que os transtornos mentais levam um risco a saúde.

Diante de uma questão tão discutida atualmente, devido ao aumento de casos e/ou a coragem da mulher em denunciar o seu parceiro abusador, é nos permitido fazer uma reflexão na qual sabemos que nem todo indivíduo que tem transtorno mental ou é usuário de drogas ou álcool, age com violência no ambiente familiar ou com sua parceira. Certamente é de nosso conhecimento que a violência doméstica não exclui classe social, credo ou raça, e que o comportamento violento muitas vezes e até na maioria é aprendido e sentido na infância do agressor e da vítima também, porque em muitos casos a agressividade é recíproca.

Padovani et al (2001), realizou intervenções psicoterápicas com agressores e suas esposas, utilizando a terapia cognitivo comportamental e suas técnicas como modelagem de suas ações, relaxamento muscular, auto registro de pensamentos e ações, técnicas de autocontrole, manejo da raiva, combate à depressão, leitura e discussão sobre o assunto, visando também o diálogo entre ambas as partes e que é de extrema importância dentro de um relacionamento. É possível reverter casos de violência doméstica com o comprometimento do casal que quer realizar as mudanças necessárias para continuarem a viverem juntos se for da vontade deles.

Porém o movimento feminista não está satisfeito com as demandas públicas para restaurar a dignidade do agressor perante a sua família e a sociedade, sentindo que tais medidas educativas e de saúde, possam eximir o agressor da culpa e da pena perante o judiciário. Cabe a própria sociedade a fiscalização e cobrança de resultados perante as medidas implementadas no caso da violência a mulher, voltadas para a igualdade de gênero e para a promoção da paz e respeito entre ambas as partes. (ZORZELLA, 2014)

Ao que se refere aos delineamentos das formas de tratamentos tanto para abusador quanto para abusado os estudos selecionados e os autores mencionados se consentem em alguns aspectos e se contrapõem em outros.  Como no caso da assistência prestada pelas redes de atendimento público e privada, para ambos. Villela e Lago (2007) apontam a importância da delegacia de atendimento especializado em mulheres vítimas de violência, mas também ressalta o quanto é importante punir o agressor, por isso de acordo com ele, procurar esse serviço após a violência é primordial, tanto para procurar ajuda quanto para buscar justiça diante o ato sofrido. Ao contrário do que diz Villela e Lago (2007), Faúndes aponta sobre as redes de atendimento de urgência, porém voltadas para o serviço de saúde, para ele atendimento especializado logo após ou durante a violência é muito eficaz, mas claro se houver preparo, especialização e humanização por parte dos funcionários que prestaram tal serviço.

Consentindo com Faúndes, entra o livro Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes criado pelo Ministério da Saúde (2012) que vem tratar, em um capítulo específico as consequências positivas do atendimento humanizado, atenção e valorização para a vítima, mas ressaltando que para esses atendimentos é necessário uma capacitação, pois dentre formas positivas e eficazes de tratamentos para vítimas e agressores é essencial ter atendimento especializado e de qualidade para tal. No que diz respeito ao lado mais pessoal e que varia de indivíduo para indivíduo, Cyrulnik e Magalhães (2008) e Cyrunik (2004) se apoiam, quando apresentam a importância da família como alicerce emocional e físico, sendo os autores receber apoio da família neste momento pode modificar e amezinhar o sofrimento em níveis relevantes, receber carinho, compreensão e apoio da família para estes autores pode ser único para o enfretamento, até mesmo para o agressor, o que acontece em muitos casos é o agressor se isolar, receber críticas e punições por parte da família, e em nenhum momento receber apoio, não apoiando o que ele fez, mas no aspecto de que ele é mais do que a violência que cometerá, de que ele tem que pagar pelo que fez, mas que após a punição ele pode decidir seguir novos caminhos e não retornar a ser o que era antes, ou repetir as mesmas ações negativas que estão vinculadas com a violência.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Diante da relevância deste tema de pesquisa para os dias atuais, em que a violência contra a mulher se configura em vários âmbitos sociais, analisamos e comparamos diversos artigos, que fundamentaram as nossas hipóteses de que tanto a vítima de violência sexual, quanto o agressor ficam com a vida familiar e social impactada em vários aspectos.

Considerando as demandas advindas da estrutura familiar do agressor, é notório que a desigualdade de gênero está enraizada em nossa cultura, e muito colabora para o aumento de casos de violência sexual contra a mulher, somando a isso o uso de drogas e transtornos mentais não diagnosticados.

Através da explanação sobre o assunto de diversos autores nesta pesquisa, podemos constatar que a vítima além do abuso sexual, carregará consigo traumas físicos e psicológicos, podendo desenvolver comorbidades associadas, e transtornos mentais que afetarão sua vida social e familiar. Neste sentido, é de extrema importância a busca por ajuda nos órgãos competentes, que possibilitarão o tratamento adequado e a inserção da vítima no seu cotidiano diário, valorizando assim a sua autoestima e seu autocuidado.

Cabe às políticas públicas debater esse tema e fiscalizar a ação da justiça, para que o agressor cumpra a sua pena, e também passe por um processo de tratamento e recuperação, para que volte ao convívio familiar quando possível e retome sua vida social e laboral.

Esta pesquisa é um pequeno prognóstico de algumas das demandas que envolvem a violência sexual contra a mulher, um tema de extrema importância mundial e que é de urgência o seu debate para que se configurem resoluções através do cumprimento das leis de proteção à mulher, e que o atendimento ás mesmas seja humanizado e pontual para que a vítima se sinta amparada e protegida e tenha seus direitos preservados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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