A medicina veterinária teve início no Brasil no século 19 por obra e graça do exército Brasileiro. A escola de veterinária do exército foi fechada pelos militares em 1972 por não desempenhar mais suas funções, a de formar médicos veterinários, pois, as universidades se encarregaram dessa formação.

 Funcionava na no bairro da mangueira à Av: Bartolomeu de Gusmão, em frente ao instituto de Medicina veterinária do Rio de Janeiro Jorge Wastman. Os aspirantes a tenentes que entravam no exército e serviam na escola, após um ano de estudos saiam doutor veterinário. A profissão só foi reconhecida em 1968. Após a criação dos cursos superiores de medicina veterinária pelas universidades, a escola perdeu sua função. Podemos deduzir que a profissão foi por muito tempo dominada por oficiais militares, consequentemente o machismo era comum em nossa nascente classe profissional. Muitos militares mandavam seus filhos à universidade em busca de graduação, pois, quem possuía curso superior engajava-se com a patente de tenente. Mas, foi no final da década de 60 que as mulheres começaram descobrir essa maravilhosa profissão.  Tinha 13 anos de idade quando fui trabalhar em uma clínica em construção do saudoso Dr. Manoel da Cunha Filho. Veterinária Bom Pastor, localizada no Rio comprido, e começava a ouvir comentários desabonadores a respeito de   mulheres atuando como médicas veterinárias. Desconstruir as mulheres e consequentemente sua capacidade profissional era a cultura da época. Por muito tempo não se comentava outra coisa senão o medo das mulheres tomar o lugar dos homens na veterinária. Como sempre fui visionário, sempre afirmava que seria a melhor coisa que aconteceria em nossa profissão. Eu era auxiliar de veterinário e achava o máximo se isso acontecesse. Em 1979 trabalhava em dois consultórios em Copacabana. Um na Rua Francisco Bicalho e outro à Rua Duviviê. Exercia uma influência muito forte sobre os médicos veterinários com quem trabalhava, pois, possuía muita experiência com pequenos animais e naquela época as universidades não ofereciam este diferencial. Os cursos eram voltados para grandes animais, e indústria. Quando eu propunha a contratação de mulheres para trabalhar conosco era rebatido imediatamente. Adotei uma estratégia que funcionou. Comecei domesticar meus machistas patrões que as mulheres só ofereciam vantagem. Sempre afirmava: Elas são mais honestas, pontuais, carinhosa com os animais, mais estudiosas que os homens, dedicadas naquilo que se propõe, sem serem ardilosamente competitivas. Fui quebrando resistência. Acabei sendo encarregado nos dois consultórios de selecionar moças recém-formadas para trabalhar conosco, com a condição de ser uma espécie de orientador delas. Foi o maior sucesso!

 Na Francisco Bicalho, trabalhou comigo, Drª Mariza Martins de Carvalho e Sua irmã já falecida Clara Martins de Carvalho, Drª Cecília, não me lembro do sobrenome, hoje estabelecida em Miami EUA. Drª Jane Maubrigades, estabelecida na orla de Maricá, bairro Cordeirinho; até hoje minha amiga e parceira.  Na Duviviê trabalhou Comigo, Drª Elizabeth Macedo Morgado já falecida e Drª Lenita, também não me lembro do sobrenome. Coincidentemente a filha do primeiro veterinário com quem comecei a trabalhar, em 1970, Daniela Russo Cunha é hoje uma das mais brilhantes médicas veterinária, em Jacarepaguá. Orgulho-me em dizer que peguei no colo. Mas meu orgulho maior é ter a certeza de que ela deu continuidade ao trabalho começado pelo seu pai, que foi um dos maiores clínicos que já conheci, e com ele aprendi muito.  

                Não quero ter a arrogância de dizer que fui o introdutor de mulheres nas clínicas de pequenos animais, mas que dei minha contribuição, ha! Isso dei!

Atualmente meu quadro de profissionais, bem como de estagiárias é composto só por mulheres.  Oxalá, no futuro; na politica, nos governos em fim em todos os matizes sociais, sejam dominados por elas. Na justiça essa realidade é visível.

Drº Pedro Nunes Caldas, médico veterinário, cirurgião e ortopedista.  Escritor, é autor do livro O intelectual de Periferia. Atualmente é diretor do Hospital veterinário Niterói