Maria José Sousa*

Resumo

Este artigo apresenta o resultado de um levantamento de referências bibliográficas que teve como objetivo, conhecer como a vida em condições de pobreza repercute na elaboração de sentidos sobre a maternidade para mulheres grávidas. Para tanto, teve como instrumento metodológico a coleta de dados através de pesquisas bibliográficas em sites acadêmicos, além da utilização de outras fontes de pesquisa como livros e revistas. O resultado da análise dos artigos, mostra que ao longo dos anos a maternidade tem adquirido diferentes significados. Ao conhecer o sentido da maternidade para essas mulheres a partir de suas próprias representações, acredita-se que será possível pensar estratégias que possa melhorar a qualidade de vida e proporcionar a autonomia e o desenvolvimento psicossocial dessas mães.

 

INTRODUÇÃO

Este artigo vem propor uma compreensão da gravidez vivida por mulheres em situação de pobreza. Para isso, será abordado os significados que são atribuídos acerca da maternidade, assim como as questões que envolvem os papéis que a mulher ocupou na sociedade ao longo do tempo. O estudo fará uma reflexão sobre as mudanças nos padrões da maternidade para então analisar como a vida em situação de pobreza repercute na elaboração de sentidos sobre a maternidade para mulheres grávidas.

Durante muito tempo foi atribuído a mulher apenas o papel de mãe, sendo exclusivamente dela o cuidado do lar e o zelo na criação dos filhos. Segundo Scavone (2001), com o consumo crescente das tecnologias reprodutivas (contraceptivos e conceptivos), o processo de globalização e a inserção da mulher no mercado de trabalho, foi possível a essa mulher escolher com maior segurança a maternidade, o que abriu espaço para o questionamento sobre o desejo da mulher de ser ou não mãe. Segundo esse autor, a mulher finalmente pôde fazer as suas escolhas, como que profissão seguir, ter ou não ter filhos, quando, e em que tipo de arranjo familiar.

 Ainda de acordo com o autor acima citado, a transição de um modelo tradicional de maternidade (a mulher definida essencial e exclusivamente mãe com proles numerosas) para um modelo moderno de maternidade (a mulher definida também como mãe, entre outras possibilidades: proles reduzidas e planejadas) deu-se com a consolidação da sociedade industrial e a consequentemente entrada da mulher no mercado de trabalho. Dentro dessa perspectiva de livre escolha, a maternidade configura-se não mais como algo inevitável e natural à mulher, mas como uma das muitas possibilidades. No entanto, o processo de industrialização, não foi o único responsável pelas mudanças dos padrões da maternidade. A mulher, que antes não tinha participação nas decisões da sociedade, hoje encontra espaço para suas preferências e vontades, sendo reconhecida como agente de transformação das mudanças sociais, tendo participação ativa na política, na economia, e em diversas formas de atividades produtivas. Vieira(2005).

 Hoje, muitas mulheres trabalham fora e para algumas a maternidade é assumida em condições mais difíceis. Em consequência disso, a maternidade passou a ter diferentes sentidos considerando o contexto em que cada mulher está inserida. Para Munõz e et al (2013, p.2), “[...]mulheres grávidas, quando submetidas a precárias condições de trabalho, moradia, insegurança, baixa escolaridade e ausência do parceiro durante a gestação, correm o risco de ter a saúde reprodutiva, neonatal, mental e familiar deteriorada [...]”.

De acordo com os autores Sá e Campos (2007), a gravidez para as mães de camadas médias possui um significado de realização pessoal, enquanto que, entre as mães de setores populares, o surgimento de um filho é algo que tira dessas mulheres as possibilidades de qualificação profissional, restando apenas à reprodução das tarefas domésticas.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) mostram que o cuidado com a família e de pessoas com maior vulnerabilidade (menores, idosos, deficientes) é uma atribuição destinada quase que exclusivamente as mulheres. A não participação no mercado de trabalho, o cuidado da família, a responsabilidade pelos afazeres domésticos e o acesso restrito aos recursos econômicos são aspectos que contribuem para a dependência econômica feminina e consequentemente para a situação de pobreza em que muitas se encontram. Outro fator que chama atenção é a desigualdade salarial entre homens e mulheres, a proporção de homens que ganham mais de cinco salários mínimos é de 15% e das mulheres, 9%.

 Segundo o Ministério da Saúde (2004), as dificuldades enfrentadas pelas mulheres podem ser demonstradas pela diferenciação de salários entre elas e os homens, mesmo quando realizam trabalhos idênticos, e também pelo crescimento do número de famílias chefiadas exclusivamente por mulheres.

Embora a mulher tenha ganhado mais espaço dentro do mercado de trabalho, ela ainda não estar em vantagem em relação ao homem, pois continua a existir muito preconceito, discriminação e desigualdades. O perfil da mulher hoje é diferente daquele do início do século. Hoje a mulher trabalha fora, ocupa cargos de responsabilidade como os homens, e ainda desempenha o papel tradicional de ser mãe, esposa e dona de casa (PROBST, 2006). No entanto, vale ressaltar que o papel que a mulher tem exercido na sociedade contemporânea trouxe também outras limitações, especialmente para aquelas de camadas populares, onde a qualificação profissional é de difícil acesso, levando essas mulheres muitas vezes a submeter-se a precárias condições de trabalhos.

Outro fator relevante, é o crescente números de famílias chefiadas por mulheres que vem crescendo ano a ano e que coloca essas famílias em situação de vulnerabilidade em consequência do alto grau de discriminação que sofrem as mulheres no mercado de trabalho onde recebem rendimentos menores por desempenharem atividades menos qualificadas Lavinas, (2006).

 As transformações sociais e os novos arranjos familiares, atingiram a estrutura familiar, principalmente da mulher que vive em condição de pobreza, baixos salários, a falta de qualificação profissional, as desigualdades de gênero, raça e etnia são fatores que contribuem para que essas mulheres permaneçam num ciclo de pobreza.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Combate à fome(2012), embora nos últimos anos a pobreza tenha diminuído, as mulheres ainda representam mais da metade dos brasileiros que vivem em condições de extrema pobreza, sem oportunidades de trabalho, renda e cidadania.

Diante do exposto, definiu se como objetivo desse estudo conhecer como a vida em condições de pobreza pode repercutir na elaboração de sentidos sobre a maternidade para mulheres grávidas, considerando os prejuízos que uma gravidez no contexto de pobreza pode acarretar a saúde mental dessas mulheres. A escolha do tema surgiu da convivência com mulheres grávidas em situação de pobreza no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), na cidade de Hidrolândia, local onde foi possível conhecer um grupo de mulheres grávidas que vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade social, onde a maioria delas, são as únicas responsáveis pelo sustento do lar.

 Esse estudo justifica se pela necessidade de conhecer que sentido essas mulheres atribuem a maternidade. Acredita-se que conhecendo a realidade a partir do olhar dessas mulheres será possível pensar estratégias que possa melhorar a qualidade de vida e proporcionar a autonomia e o desenvolvimento psicossocial dessas mães.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Quednau (2007), homens e mulheres aprenderam a viver em sociedade e, assim, compartilhar normas e crenças estabelecidas de acordo com cada cultura. Dessa forma, podemos afirmar que quando os valores e as crenças da sociedade mudam, mudam também os nossos conceitos em relação a determinadas situações. De acordo com Oliveira (2007), a história das mulheres sempre foi marcada por grandes transformações. A postura da mulher submissa, preparada para ser dona do lar, mãe e boa esposa, vem ao longo do tempo sendo substituída pela mulher que ocupa as mesmas funções que os homens.

 Segundo Simões e Hashimoto (2012), nos últimos tempos, as mulheres tem ocupado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, e passaram a preocupar-se com a sua satisfação pessoal e o sucesso de sua carreira profissional. No entanto, muitas delas ainda carregam o estereótipo de que a mulher é a única responsável pelo cuidado do lar, dessa forma, ao optarem por trabalhar fora, sentem se culpadas por não dar atenção necessária aos filhos. O desafio da mulher do século XXI, é conciliar a vida profissional, familiar, acadêmica e a educação dos filhos, numa sociedade que ainda vê a mulher como a única responsável pelo bem estar da família.

Segundo Oliveira (2007), as mudanças ocorridas ao longo do tempo trouxeram transformações também nas representações sobre a maternidade. O momento e as formas de ser mãe vêm se alterando e se adaptando de acordo com o contexto histórico em cada mulher está inserida.

De acordo com Nascimento (2009), as últimas décadas do século XX proporcionaram a mulher uma maior participação no mercado de trabalho, na política e na economia, indo da esfera doméstica a ocupação de diferentes funções. Para Babosa e Coutinho (2007) foi o advento dos métodos contraceptivos que proporcionou a mulher um maior controle das suas funções reprodutivas e desde então, elas passaram a definir a própria vida.

Outro fator relevante foram as mudanças ocorridas no interior das famílias brasileiras que trouxe uma nova organização a vida social das mulheres, aumento de mães solteiras, divórcios, novos tipos de união entre os sexos e o surgimento das famílias monoparentais.

Segundo Costa e Marra (2013), A família monoparental feminina é aquela em que vivem juntos mãe e filho, ou filhos, na qual a mulher é mãe solteira, divorciada ou separada que não mais quis ou teve a oportunidade de uma união estável. Nessa nova constituição familiar, a mulher é a única responsável pela manutenção dor lar e a sobrevivência da família, fatores que tem contribuído para a uma nova perspectiva sobre a maternidade para essas mulheres.

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