Autora: Alice Silva da Costa - Graduanda em Letras - Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Email:[email protected]

Orientadora: Francisca Liciany Rodrigues de Sousa - Doutora em Literatura comparada. E-mail: [email protected]

Resumo: Este trabalho faz um recorte na literatura de autoria feminina, tendo como objetivo analisar duas personagens de duas escritoras mulheres. Vimos de um lado o silêncio, a obediência e a ignorância de Macabéa, em A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, e do outro o ativismo, e protagonismo de Conceição, na obra O Quinze, de Rachel de Queiroz. A pesquisa é de caráter bibliográfico e contou com a uma breve exposição do caminho percorrido pela mulher na literatura e na sociedade, o que possibilitou a criação de uma contextualização do espaço no qual as autoras estão inseridas, seguido de uma análise do perfil das personagens estudadas, com suas caraterísticas físicas, personalidades, ambições, ideologias, e trajetórias de vida. Como suporte teórico, tivemos: Beauvoir (1967), com suas ponderações sobre o que é ser mulher, Del Priore (2010) trazendo uma contextualização mais histórica sobre as mulheres e os livros, Showalter (1986), crítica que propõe a divisão do percurso da escrita feminina em três fases, e Virginia Woolf (2014), com sua discussão sobre mulher e ficção. Percebemos que as personagens, apesar de serem ambas nordestinas órfãs e criadas por parentas beatas, se constroem de maneira dicotômica, isto é, enquanto uma é descrita como uma moça romântica (virgem, ingênua, passiva, alienada) a outra se mostra como uma mulher realista/moderna (ativa, dona de suas opiniões e ideais), no entanto, há algo que as une e este algo é uma busca identitária dessas personalidades que rompem com os padrões de suas épocas ao agir de forma diferente da que as sociedades contemporâneas das mesmas esperavam, ou seja, transgredindo as regras comportamentais vigentes, uma vez que a contemporânea Macabéa é vista como a passiva, ao passo que a regionalista dos anos 30, Conceição é mostrada com a ativa, estando a frente de seu tempo, lutando por sua liberdade.
Palavras - chave: Literatura. Perfis femininos. Identidade. O Quinze. A Hora da Estrela

Vocês tem noção de quantos livros sobre mulheres são escritos no decorrer de um ano? Vocês tem noção de quantos são escritos por homens? Têm ciência de que vocês são talvez o animal mais debatido do universo?
Virginia Wolf

INTRODUÇÃO

O estudo de obras de autoria feminina, principalmente das que abordem, mesmo que involuntariamente, a questão da condição feminina na sociedade e na literatura, é uma linha de pesquisa com a qual alguns pesquisadores simpatizam.

Por muito tempo só tivemos praticamente a visão masculina das coisas. Na literatura isso não ocorre de maneira diferente. Ainda que a literatura de autoria feminina, no Brasil, tenha crescido e ganhado seu espaço, embora seja um fenômeno recente, é preciso levar em conta que a formação literária de gerações escolarizadas consecutivas, no Ensino Fundamental, Médio e Superior, tem por base obras de autoria masculina, as aclamadas obras canônicas, em cujas listagens figuram raras mulheres. Lembremos então da importância dessa questão ser discutida, ainda que cause incômodo.

Assim sendo, este tema torna-se relevante por nos proporcionar uma viagem aos séculos passados e ao contexto sociocultural, que tanto afetou a figura feminina ao longo dos tempos e que, até o século XIX, privilegiou, majoritariamente, figuras masculinas como representantes significativas em nossa formação literária.

Iremos expor brevemente o percurso literário feminino na perspectiva de Showalter (1986), exemplificando cada fase com representantes brasileiras, a fim de fazer uma breve exposição do caminho percorrido pela mulher na literatura e na sociedade, o que possibilita a criação de uma contextualização do espaço no qual as autoras estão inseridas, chegando então ao objetivo que é analisar o perfil das personagens (caraterísticas físicas, personalidades, ambições, ideologias, trajetória de vida) e o diferente comportamento dessas jovens nordestinas, órfãs, no ambiente citadino ao qual os destinos das mesmas as levaram; além de observar os contextos históricos e literários em que as obras foram escritas, e tentar descobrir até que ponto eles influenciam na construção das personagens e do estilo da escrita.


Para a realização da pesquisa, utilizou-se uma série de suportes bibliográficos de autores que estudam a condição feminina na Literatura, tanto a personagem (criatura = ser criado), quanto a escritora (criadora= autora), como livros publicados, antologias compostas por artigos, ensaios, e/ou comentários e observações sobre palestras e rodas de conversa a respeito do assunto. Além dos livros das autoras estudadas, mais especificamente os que apresentam as personagens Macabéa e Conceição, A Hora da Estrela (1998), de Clarice Lispector e O Quinze (2015) de Rachel de Queiroz, respectivamente. Beauvoir (1967), com suas ponderações sobre o que é ser mulher, Del Priore (2010) trazendo uma contextualização mais histórica sobre as mulheres e os livros, Showalter (1986), crítica que propõe a divisão do percurso da escrita feminina em três fases, e Virginia Woolf (2014), com sua discussão sobre mulher e ficção.

O trabalho contará com quatro tópicos a serem desenvolvidos. O primeiro traz uma pequena trajetória da mulher ao longo dos séculos, seguida de uma divisão da escritura feminina em fases. Trata-se de uma proposta feita pela pesquisadora inglesa Elaine Showalter (1986), adaptada pela brasileira Elódia Xavier (2012), que vai trazer exemplos de autoras brasileiras que se encaixam em cada momento e que buscavam a construção da identidade autônoma da mulher, registrando a maneira como ela foi/é representada dentro da literatura brasileira; o segundo tratará do tipo de mulher silenciosa, passiva, e ignorante representado pela personagem Macabéa da obra A Hora da Estrela; o terceiro apresentará o tipo oposto, isto é, falaremos sobre a escolha de ser “dona do seu próprio destino”, de Conceição, da obra O Quinze, mulher independente, que se auto intitula solteirona, rompendo com os padrões que ditam qual deve ser o papel da mulher na sociedade e como esta deve se comportar. O último, mas não menos significativo, confrontará as semelhanças e diferenças dessas duas personagens, que, apesar de serem ambas nordestinas, órfãs, e criadas por parentas beatas, se constroem de maneira dicotômica, entretanto há algo em comum nessas personalidades: o rompimento com os padrões de suas épocas condicionados a busca identitária.

Destacamos que o estudo dessas duas personagens criadas por duas autoras, que, cada uma a seu modo, conquistaram renome dentro da Literatura Brasileira, é importante para quem tem interesse pela representação da mulher na literatura, principalmente, da mulher nordestina, seja ela a autora (a criadora), seja a personagem (a criatura).
Por fim, pretende-se deixar uma colaboração para a crítica literária sobre esse assunto, destacando-se a relevância do estudo de obras de autoria feminina, pincipalmente das que abordem, mesmo que involuntariamente, a questão da condição feminina na sociedade e na literatura.