MUITO MAIS DO QUE SER UM PICHADOR

(Autor: Antonio Brás Constante)

 

O ser humano tem um certo fascínio pela escrita, infelizmente muitas vezes este fascínio é encoberto por camadas de repulsa, por encarar o ato de escrever apenas como uma tarefa e não como uma arte. Já nos tempos da pré-história muitos se aventuravam em registrar seu cotidiano através de pinturas nas paredes das cavernas. Eles pereciam, mas seus desenhos se eternizavam. Desenhos que venciam o tempo chegando até os nossos dias, como quem envia um e-mail sem se preocupar em receber a resposta.

 

Mesmo antes de aprender a andar, a criança já gosta de rabiscar. Passa o lápis colorido em uma folha de papel (ou em uma mesa, ou no chão, etc) e algo mágico acontece, pois aparece uma marca do nada, seguida geralmente de um grito de repreensão de algum adulto.

 

Passamos a escrever através da arte, através da ciência. Escrevemos por necessidade. Para libertar pensamentos. Escrevemos no próprio corpo em forma de tatuagens. Escrevemos livros, ou na própria história. Escrevemos a vida e os sonhos.

 

Mas tem um tipo de expressão escrita que me causa decepção, a pichação. Esta forma de rebeldia atrai muitos adeptos. Entre o pichador e a vítima da pichação existem dois mundos paralelos. De um lado encontramos gente que sente a adrenalina correr pelo corpo ao saber que está transgredindo algo. Do outro lado encontramos a parede nua, indefesa, que sofre a violência contra si, sendo violentada por marcas de spray.

 

No mundo do pichador, o feito é anônimo para sociedade, mas enaltecido entre sua tribo. A coragem de escalar muros e marcar o alheio com seus sinais compreensivelmente incompreensíveis. Já no mundo do dono do estabelecimento, o que acontece é a frustração de ter seu patrimônio depredado, maculado.

 

Nosso corpo é uma fonte quase inesgotável de substâncias químicas, causadoras de euforia. Alguns alcançam o frenesi destas substâncias, por exemplo, através da prática de esportes radicais. Mas há quem busque esta sensação de liberdade através da pichação.

 

O que poucos sabem é que existem outras formas de se produzir tais substâncias, ou mesmo de se destacar perante a humanidade. A solidariedade é uma dessas formas. “Ops, mas que papo careta!”, alguns poderão pensar. Para quem acha isso, devo lembrar que é preciso muito mais coragem para ajudar do que para vandalizar. O vandalismo é um ato egoísta, vazio. Enquanto a ajuda é algo construtivista que transmite força na leveza de suas ações.

 

A juventude dispõe de uma energia gigantesca, que poderia mudar o mundo. Mas boa parte desta força viva é desperdiçada na geração de marcas sem futuro. Quando você marca uma parede com spray, qualquer tinta pode desfazer sua obra. Mas quando você marca uma pessoa com seus gestos, parte de você passa a viver dentro daquela pessoa. Algo que pichação nenhuma jamais conseguirá fazer. É como tatuar seu nome na alma dos seus semelhantes, deixando de ser um anônimo pichador esquecido, para se tornar um artista imortal, um pintor de sorrisos.

 

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