RESUMO

Analisa-se o processo de racionalização característico da sociedade moderna e a crise da razão iluminista. Com a desconstrução do passado são abandonadas promessas de felicidade, consideradas destituídas de credibilidade: as possibilidades de satisfação se concentram no presente, na sucessão das modas. O império do efêmero (Lipovetsky) libera o indivíduo do peso de sistemas de significado que exigiam dedicação e sacrifício. A colonização do mundo-da-vida por parte do mercado traz como conseqüência a banalização da existência (Arendt). Configura-se uma mutação antropológica, iniciada pela ruptura do entrelaçamento entre amor, sexualidade e procriação. Apontam-se mudanças na família: o valor da igualdade no cotidiano, originando formas mais democráticas de partilhar tarefas e responsabilidades; a exigência de satisfação no presente questiona o ideal de sacrifício da pessoa pelo bem da família. Na pluralidade de opções, os indivíduos movem-se entre a sedução do mercado e a autonomia da liberdade. Nesse contexto, desenvolvem-se as políticas familiares. Palavras-Chave: mudança social; família; história social da família.

1. INTRODUÇÃO

A sociedade moderna caracteriza-se por mudanças de grande porte nos campos da economia, da política e da cultura, com repercussões significativas em todos os aspectos da existência pessoal e social. Estas mudanças assumem, no Brasil, um ritmo particularmente acelerado nos maiores centros urbanos. Trata-se de mudanças profundas e permanentes, que dizem respeito à atividade produtiva e à organização do trabalho, aos processos educativos e de comunicação, até a socialização das novas gerações, ao universo de valores e critérios que orientam a conduta no cotidiano. Essas mudanças, concentradas e aceleradas, repercutem significativamente na vida familiar, desde a concepção de masculinidade e feminilidade e a forma de compreender a sexualidade e a relação entre os sexos, até a maternidade e a paternidade, a relação entre as gerações, principalmente no tocante à atividade educativa e de socialização. O presente estudo visa aprofundar o conhecimento de alguns aspectos da mudança social e cultural que caracterizam a sociedade moderna, considerados relevantes pelas repercussões que produzem no conjunto da sociedade brasileira e, particularmente, nas relações familiares, com o objetivo de identificar os vetores mais significativos dessas mudanças, para compreender suas 2 origens, as dinâmicas de desenvolvimento, as conseqüências e implicações em diversos aspectos da existência, de forma a ampliar o espaço da liberdade com a qual os cidadãos podem orientar suas escolhas e formar seus juízos, agindo como sujeitos da própria história, a partir de uma consciência informada, reduzindo a percepção de confusão e de turbilhão (Berman, 1988) que ameaça arrastálos. [...]