Resumidamente, de acordo com os dados mais recentes publicados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel for Climate Change – IPCC) existem três possíveis cenários climáticos para um mundo mais quente.

O primeiro cenário para o final deste século manteria a temperatura média do planeta cerca de 1,5º C mais quente que o nível pré-industrial. Foi este o período – final do século XVIII –, a partir do qual as temperaturas médias da Terra começaram a subir, devido à emissão de gases resultante da queima de combustíveis fósseis. Para isso, segundo os cientistas, os países e as empresas terão que fazer vultuosos investimentos em tecnologias limpas e eficiência energética, substituindo tecnologias antiquadas e desperdiçadoras por outras mais eficientes. 

Gradativamente, até por volta de 2030, o setor transporte terá que substituir seu principal combustível, os derivados de petróleo, por alternativas menos ou não poluentes, como: combustíveis renováveis (álcool de cana e de milho), motores movidos a células de combustível (queima de hidrogênio) e motores elétricos.

O setor de geração de energia do hemisfério Norte, cujo principal combustível é o carvão mineral (China, Rússia e Índia) e o gás natural (Europa e USA), será forçado a gradualmente substituir os recursos não renováveis por fontes renováveis, como geração de eletricidade a partir de energia eólica, solar, biomassa e biogás, hidrelétrica e a energia das marés, entre outras. Alguns países, como o Japão e os Estados Unidos, consideram aumentar investimentos em energia nuclear que, apesar do risco, é pouco poluente.

O setores agrícola e pecuário, grandes geradores mundiais de emissões de gases de efeito estufa, também deverão introduzir técnicas menos poluentes, como a agricultura ecológica e a redução drástica do desmatamento em regiões tropicais.

O consumo também teria que passar por uma grande mudança. Espera-se que para reduzir as emissões de gases, as sociedade abram mão de um consumo excessivo, gerador de grande quantidade de resíduos de todos os tipos; do desperdício de alimentos aos imensos volumes de embalagens plásticas.

Estas providências, esperam os cientistas, ajudariam a diminuir em emissões globais de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono (CO²), metano (CH4) e óxido nitroso (N²O), permitindo que a atmosfera sofra um aquecimento máximo de 1,5 º C até o final do século. No entanto, mesmo com todos os investimentos em infraestrutura, produção, distribuição e consumo, a humanidade ainda terá que conviver por várias décadas com o aumento da temperatura ao longo do século XXI. O imenso e complexo sistema climático terrestre necessitará, provavelmente, de algumas centenas de anos para voltar ao seu ritmo normal – se efetivamente voltar.

O segundo cenário climático imaginado pelos cientistas é aquele no qual os esforços globais não atenderiam a todas as metas estabelecidas para manter as mudanças climáticas sob suficiente controle. Neste quadro, a temperatura da Terra teria um aumento médio de 2º C em relação às temperaturas do período pré-industrial.

Em se concretizando esta situação, seriam necessários grandes investimentos em infraestrutura por todo o globo, para fazer frente a inundações e outras catástrofes climáticas, cada vez mais constantes. Diretamente ligado a este problema, haveria grande número de migrantes, os “refugiados do clima”, que premidos por quebra de colheitas, destruição de cidades e suas infraestruturas, ou secas, procurariam refúgio em outras regiões ou países. O fenômeno já vem ocorrendo em uma escala reduzida na América Central, onde dezenas de milhares de pessoas estão abandonando suas regiões de origem em Honduras, Guatemala e El Salvador, para procurar melhores condições de vida nos Estados Unidos. Na África subsaariana também são constantes os deslocamentos populacionais, devido a situações causadas pelos fenômenos climáticos, geralmente relacionados à falta de água e quebra das colheitas.

Neste segundo cenário os países terão que aumentar a arborização, plantando árvores em extensas áreas. Matéria publicada na revista Science em julho de 2019 informa que é necessário o plantio de 1,2 trilhão de árvores – cerca de quatro vezes o número de árvores que se estima existam na floresta amazônica – para capturar o excesso de dióxido de carbono existente na atmosfera do planeta. 

Assim, mesmo com um aumento da temperatura média de 2º C até o final do século, a economia global e as diversas sociedades poderiam, com grandes investimentos e sacrifícios sobreviver aproximadamente da mesma forma como atualmente. Cientistas estimam que, da maneira como os países vêm de diversas formas – alguns mais outros menos – implantando ações para reduzirem as emissões de gases de efeito estufa, é bastante provável que o segundo cenário climático deva ser o que prevalecerá até o ano 2100.

O terceiro cenário é o mais catastrófico. Seria uma tragédia para a humanidade se este quadro climático prevalecesse no futuro, com uma temperatura média de 3 graus Celsius acima daquelas do período pré-industrial. Resumidamente, esta situação poderia se impor caso os grandes emissores – Estados Unidos, China, Rússia, Alemanha, Índia, Reino Unido, Japão, entre os principais – abandonassem o Acordo do Clima e não envidassem mais esforços para reduzirem suas emissões. Haveria uma rápida queda na produção mundial de alimentos devido aos fenômenos climáticos (secas, chuvas torrenciais, furacões, geadas), aumento do nível dos oceanos, grandes movimentos populacionais e todas as consequências: epidemias, guerras, carestia e milhares ou milhões de mortos.

As nações teria que fazer uso de tecnologias de grande impacto, cujas consequências em seus detalhes são desconhecidas da ciência até o momento, tais como modificação da radiação solar através de painéis orbitando o planeta e fertilização dos oceanos com ferro, para aumentar a biodiversidade (algas) e, consequentemente a fotossíntese. Soluções desesperadas para uma civilização à beira do caos e de sua desintegração.

Em artigo publicado na revista Piauí, escreve o jornalista norte-americano David Walace-Wells:

“O sistema climático sob o qual fomos criados, assim como foi criado tudo que entendemos hoje por cultura humana e civilização, agora está, como o pai ou a mãe de alguém, morto. O sistema climático visto nos últimos anos, que tem castigado o planeta repetidas vezes, não é uma prévia do nosso futuro sombrio. Seria mais preciso dizer que é fruto de nosso passado climático recente, já sumido em nosso retrovisor no lixo da nostalgia ambiental. Não existe mais este negócio de ‘desastre natural’, mas as coisas não vão piorar, simplesmente; tecnicamente já pioraram.” (Wallace-Wells, 40)

A temperatura da atmosfera terrestre vem aumentando gradativamente a cada três a quatro anos; o aumento é cumulativo. No início de 2019 a Agência Espacial Americana – NASA anunciou que o ano de 2018 foi o quarto ano mais quente da história, desde quando as medições tiveram início há 140 anos. Até hoje, o ano mais quente da história foi o de 2016, seguido dos anos de 2017, 2015 e 2018. Ainda segundo a agência, a temperatura média da superfície do planeta subiu cerca de 1º C desde os anos 1880. 

O objetivo de todo o esforço promovido pela ONU através de seu Acordo Climático, assinado por quase todos os países em 2015 em Paris, é de manter a temperatura global abaixo dos 1,5 graus Celsius até o final do século. Segundo o último relatório do IPCC, publicado em outubro de 2018, a ação do homem já provocou um aumento médio de 1,1º C na temperatura do planeta. Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do IPCC, declarou à ocasião para a Agência FAPESP:

 “Estamos em uma encruzilhada. Aquilo que for feito nos próximos cinco e dez anos será determinante para o clima no planeta neste e nos próximos séculos. Se não agirmos agora e conseguirmos obter reduções substanciais nas emissões ao longo da próxima década, será muito difícil manter o aquecimento global em apenas 1,5°C”.

Com relação ao nível do mar na costa brasileira, mais especificamente o litoral de São Paulo, “nada será como antes amanhã”, como diz a música de Milton Nascimento. Haverá um aumento cada vez maior segundo climatologistas, geógrafos e oceanógrafos, de tempestades, excesso de ventos, ressacas e, consequentemente, aumento do nível do mar. Prevê-se o aumento de furacões com velocidades acima dos 80 km por hora, principalmente no estado de Santa Catarina. Fenômenos como o ciclone ou furacão “Catarina”, ocorrido em Santa Catarina em final de março de 2004, com ventos alcançando até 180 quilômetros por hora, poderão se tornar mais constantes. Cabe observar que ventos em torno dos 80 km/h já deixaram de ser incomuns, mesmo no litoral Sul do estado de São Paulo.

A faixa mais propensa ao aumento do nível do mar na costa brasileira está na faixa litorânea entre o Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. No entanto, segundo especialistas a região litorânea do estado de São Paulo também preocupa.

Segundo os especialistas, não há, para toda a costa brasileira, um valor médio de quanto subiu o mar nos últimos anos. O principal motivo desta ausência de informações é que não existe uma base de dados históricos comprovados, de qual era o nível do oceano nos diversos pontos ao longo da costa nos diversos períodos históricos. Segundo o IPCC, no mundo todo o nível dos oceanos subiu 1,7 mm (milímetros) a cada ano durante o século XX.

Na região de Santos, por causa da localização do porto, os dados da variação do nível do mar vêm sendo acompanhado por um período mais longo. Segundo os dados do mareógrafo instalado na região portuária, houve uma alta de 12 mm por ano nas últimas décadas, desde os anos 1940. Fatores diversos, como correntes trazendo areia de outras regiões, a movimentação dos navios, entre outros, explicam esta diferença entre a taxa de aumento mundial e a local.

A altura média das ondas também passou de cerca de 1m em 1957, para 1,3m em 2002, período em que houve também aumento da frequência de ressacas. A previsão é que em 10 anos (o estudo é de 2015) haja um aumento de 18 cm e que em 35 anos (2050) o nível das água do mar esteja 35 ou 36 cm acima do nível de 2000.

Segundo pesquisa de Celia Regina Gouveia, do Instituto Geológico do Estado de São Paulo, 51,5% das praias paulistas têm risco alto e muito alto de erosão costeira, isto é, de perder areia e sumir. Ainda segundo esta pesquisa, as praias do litoral Sul situadas entre os municípios de Mongaguá e Peruíbe correm grande risco de perder muita areia até meados deste século. Se nestas áreas ocorrer o mesmo aumento do nível do mar previsto para Santos (35-36 cm até 2050) muitas faixas de praia provavelmente desaparecerão. Em Peruíbe, por exemplo, é provável que a Praia do Centro seja engolida em alguns trechos. 

O aumento do nível do mar, que já está ocorrendo e é claramente perceptível em regiões mais densamente povoadas estabelecidas perto do oceano, como no caso de Santos, já preocupa e mobiliza os especialistas. Em junho de 2018 Secretários de Meio Ambiente das cidades do litoral paulista se reuniram para discutir a situação e criar um fórum permanente para tratar do tema.

Assinaram um manifesto no qual afirmam que “é preciso agir urgentemente contra os impactos das mudanças climáticas nas cidades costeiras diante de um ‘cenário sombrio’ de aumento do nível do mar, de tendência de alta de ressacas e de grave erosão costeira. Participaram da reunião representantes das cidades de Bertioga, Cananeia, Cubatão, Caraguatatuba, Guarujá, Iguape, Ilha Comprida, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos, São Sebastião, São Vicente e Ubatuba.

A única cidade do litoral brasileiro que já está implantando algumas poucas ações para fazer frente às mudanças climática é a cidade de Santos. Diretamente afetada em alguns de seus bairros, principalmente na Ponta da Praia, a cidade deverá fazer consideráveis investimentos ao longo dos próximos anos para se preparar para o inevitável fenômeno. As demais cidades do litoral de São Paulo, com limitados recursos financeiros e consultivos, pouco puderam fazer em relação ao assunto, além de organizar eventos para conscientizar a população.

Em outros países, administrações municipais já se preparam para o que está por vir. Segundo matéria publicada na revista Scientific American Brasil de junho de 2019, a cidade de Nova York planeja criar barreiras verdes, incrustadas de ostras, como proteção às ondas altas de tempestade, reduzir a erosão costeira e revitalizar o ecossistema local. Em outras regiões da Costa Leste dos Estados Unidos, prefeituras estão adquirindo terrenos e casas localizados em áreas sujeitas a inundações provocadas por tempestades, renaturalizando estas áreas. A ideia é preparar uma zona de proteção, formada por um ecossistema natural, entre a área de possível avanço do mar e a periferia da cidade.