Mostra o peito mulher

Não sei quando começou, mas a exposição ocorreu em 1968. Não só foi o ano da reinvenção de valores, dos hippies, das músicas de protesto mas, principalmente o ano em que a mulherada mostrou o peito. Não porque puseram seus sutiãs na fogueira (que na verdade não foi acesa) mas porque mostraram que o mundo e as relações estavam mudando. Havia motivos e condições para lutar pela igualdade, pelo fim da exploração de uns sobre os outros.

Eu sei que, mais do que utópica, a ideia de igualdade é meio absurda e, nos dias atuais, fora de moda. Hoje todos querem saber não de igualdade racial, de gênero, econômica ou de qualquer outro sonho louco, mas do seu direito pessoal. A luta pelo direito individual, pessoal... se sobrepôs a todos os outros direitos (exemplo: um bandidão preso tem prioridade no atendimento médico sobre centenas de pessoas atropeladas nas filas do serviço público de saúde). Ainda se fala em igualdade sexual, de gênero, de direitos... mas essa igualdade só vale se ela trouxer benefícios pessoais...

Você, assim como eu, sonha com direitos iguais? Faça uma autocrítica e se analise. Se a autoanálise for verdadeira a conclusão será esta: o que mais lhe importa é o seu interesse pessoal. Se o seu interesse pessoal vier junto com o direito de todos, melhor ainda, mas o seu direito não pode faltar! (Falaremos mais disso numa outra oportunidade!!!!).

Voltemos ao peito de fora, que não é peito nu. É só uma figura de linguagem para falar – e valorizar – as conquistas que se sucederam a partir do movimentado de 1968. Ano que, independentemente das conquistas femininas, foi marcante para a história e pleno de conquistas... e permanência de problemas.

Tudo isso para dizer que estamos num ano de campanha política. Neste ano serão eleitos alguns deputados federais e estaduais, alguns senadores, os governadores e o presidente da república. Essas deveriam ser pessoas que desejassem dedicar quatro ou oito anos de suas vidas a um trabalho voltado para os interesses da população. Longe dos modelos corrosivos da corrupção.

Este deveria ser um ano em que a lei da ficha limpa prevaleceria, não na forma da lei, mas nas posturas morais: os eleitores deveriam ser capazes de fazer o saneamento – afinal defendem seus interesses – descartando os elementos podres (lembrando o ditado “uma batata podres estraga o saco inteiro”; e não queremos nosso saco sujo com as imundícies dessas velhas hienas).

A propósito disso, não é demais lembrar que o executivo só pode fazer uma boa gestão se estiver apoiado por bons parceiros do legislativo. Por isso a faxina tem que ser geral: jogar fora todo lixo, pra não sujarem nosso saco que já está cheio de pilantras. Nosso interesse é manter o saco de batatas pronto para ser usado. E todas as batatas limpas!

E quem são as batatas podres, com ficha suja? De acordo com a lei não são muitos, pois a lei só entende que o cara é sujeira depois de todas as apelações... quando já foi julgado e condenado... Só que isso demora, pois a lei não foi feita pela moralidade e sim por eles (os ficha suja, as batatas poderes que estão sujando nosso saco!).

Então façamos a limpeza em nome da moralidade e da decência. Para isso não dependemos de juízes nem das leis ou outras das artimanhas criadas para ludibriar a lei. A moralidade se baseia nos atos (a propaganda pode ser linda, mas a vida pregressa demonstra os atos e comportamentos assumidos ao longo da vida suja; os discursos podem ser bem elaborados, mas temos que atentar para o que dizem e não para a eloquência do discurso).

Analise os exemplos: Um candidato, nos discursos e na vida, inferioriza as mulheres, caso eleito continuará pisando sobre elas. Outro candidato que mantenha discursos preconceituosos, se eleito adotará práticas preconceituosas. Além disso, já tivemos experiências com salvadores da pátria: Não deu certo! Quem não cumpre a lei como candidato, se eleito pisará nela.

Já estão fazendo cinquenta anos da queima dos sutiãs. As mulheres, naquele ano mostraram a quê vieram. O desafio permanece: só os homens não elegem um candidato. Então, mulheres, botem o peito no mundo. A força não está no músculo ou no discurso maledicente, mas na união.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura- RO