MORTE SOBRE DUAS RODAS

Até parece frase feita com efeito apelativo. Mas não se trata disso. Trata-se apenas de chamar a atenção para o fato de que muitos jovens estão morrendo em acidentes com motocicleta: por fatalidade, por excesso de velocidade, por condução irresponsável, por causa de imperícia de terceiros, por causa das ruas e estradas com defeitos, por negligência ou por burrice mesmo. Ser imprudente sobre duas rodas é pedir para morrer!

Mas comecemos com um fato fácil constatar: A vida sobre duas rodas é uma maravilha! Motocicleta é um estilo de vida! É uma aventura! O contato com a natureza é constante, direto e radical. Ela não se presta à velocidade mas à curtição do trajeto. A sensação de liberdade quase equivale à sensação de estar voando e a brisa no rosto produz aquela sensação que só se experimenta sobre duas rodas. Sem contar a economia de combustível!!!

Se isso não bastasse, a moto é mais ágil, mais versátil, mais econômica, mais fácil de manobrar, de estacionar, entra em vários lugares que um automóvel não entraria... E se estamos com a namorada na garupa tem aquele abraço apertado com seus seios aquecendo nossas costas....um abraço que dura todo o percurso....

É claro que, proporcionalmente ao carro, o imposto da moto é bem mais caro. Os riscos de acidente, também são maiores. E, pior ainda, as consequências do acidente são sempre piores. Daí aquela afirmação de que “para-choque de moto é o peito do motoqueiro”.

Enquanto no carro os ocupantes têm um monte de lata e vidros como barreira e proteção a única proteção, na moto, é o bom senso do condutor. Nem o capacete é cem por cento seguro, pois dependendo da queda ou do impacto o peso a mais do capacete pode ser um perigo adicional para uma eventual quebra de pescoço – o que não significa que se deva andar sem capacete. Por isso, mais uma vez: a maior segurança da moto e do seu condutor é o bom sendo só motoqueiro. E é neste ponto que o bicho pega.

Por ser um veículo usado majoritariamente por jovens, o bom senso nem sempre acompanha o trajeto e a trajetória pois, de modo geral, o jovem, por ser mais dinâmico, acaba sendo menos prudente. Junta-se a imprudência com a agilidade da moto e o perigo se instala. Mas isso tem explicação: qualquer um de nós tem esse comportamento: sentimo-nos eternos!

A irreverência e a vitalidade do jovem levam-no a pensar que o pior só acontece com os outros. Todos nós somos assim: se estarmos saudáveis nos imaginamos imortais. E isso se acentua no jovem. Cada um de nós pensa que é melhor, possui mais perícia, tem maior domínio e autocontrole do que efetivamente temos e por causa dessa crença abrimos mão da prudência e entre os jovens a imprudência é uma característica existencial. E a imprudência atrai acidentes. E isso é uma constância entre os jovens. Enfim, como tudo isso está muito mais presente no jovem ele se considera o melhor sobre duas rodas. E, mais negligente, está mais propenso ao acidente; a imprudência aproxima o jovem do acidente do qual ele se imagina livre por que se considera perito, excelente piloto e imortal.

Tudo isso somado produz o resultado dos acidentes trágicos e fatais entre motoqueiros. Sem contar a burrice que produz imprudência fazendo com que o condutor atropele as normas de trânsito gerando riscos impensados. E essa irresponsabilidade não é privilégio dos jovens. São muitos os que dão causa a acidentes porque passam por cima das normas de segurança.

 Podemos admitir que muitos acidentes envolvendo um jovem e uma moto são resultado de uma fatalidade ou de fatores externos. Mas se é verdade que terceiros ameaçam os motoqueiros também é verdade que existem muitos motoqueiros se ameaçam e aos outros com sua irresponsabilidade.

E se cresce o volume de morte sobre duas rodas isso nos convida a rever a maneira de conduzir... moto é um estilo de vida por mais vida e não combina com irresponsabilidade.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador

Rolim de Moura - RO