Morte e abandono de crianças! De quem é a culpa?

Ainda repercute a imagem chocante do corpo de Aylan Kurdi, garoto Sírio de apenas 3 anos, encontrado morto numa praia da Turquia. E não é pra menos, qualquer coração por mais duro e insensível que seja, sucumbe, diante da imagem e da história de luta travada pela família de Aylan, que buscava somente o direito a vida. Alias, o direito a vida é o primeiro e o mais elementar dos direitos humanos. Segundo Carolina Alves de Souza Lima, em Aborto e Anencefalia – Direitos Fundamentais em Colisão, (2012, p.35), “o bem jurídico do ser humano por excelência é a vida”. O Estado, nada nem ninguém tem o direito de decidir quem deve viver ou morrer. E tendo garantido este, podemos exercer os demais, como o direito ao trabalho, moradia, saúde, segurança, educação.

Diante da nossa incapacidade de intervir no grave problema dos imigrantes Sírios, nos resta  voltar os olhos para nosso umbigo,  e percebermos que por aqui, também temos uma realidade capaz de nos fazer indignar-se, e quem sabe nos despertar para uma mudança de atitude, talvez para um novo olhar, capaz de manter-se alerta e indignado com o desprezo dado aos nossos filhos, Já que centenas de milhares de Aylans brasileiros, estão sendo abandonados a própria sorte, e muitos infelizmente morrem logo ao nascer. São cerca de 8 milhões de crianças abandonadas no nosso país. Isso mesmo! Oito milhões.  Destes, 2 milhões vivem nas ruas. E não estão fugindo do radicalismo religioso implementado pelo Islamismo, dos conflitos, perseguições e guerras da África Subsariana. Contrariando o que determina o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente de que “Toda criança tem direito à vida, saúde, liberdade, educação, cultura e dignidade”. Mostrando infelizmente, que na prática a realidade é outra. E nossos brasileirinhos estão desaparecendo por conta da omissão do Estado que falha nas suas políticas de prevenção, atenção à saúde e a família. Também pelas mãos daqueles que  deveriam protegê-los, livra-los de toda e qualquer situação de risco a sua integridade física, os pais.

Sabemos que não é de hoje que esse problema nos aflige, já que o abandono de bebês vem desde a era colonial, quando crianças eram largadas nas ruas, nas portas, e tudo isso tendo como justificativa a falta de recursos da família ou para preservar a honra das “moças de família”. O crescimento populacional que segundo o IBGE já ultrapassa os 204 milhões de habitantes, é na visão de especialistas um dos agravantes, mas não determinante para consolidar esses números de abandono. Grave mesmo é o número de jovens adolescentes na faixa etária de 14 a 17 anos, e que em tese deveriam estar voltadas para os estudos, sua formação acadêmica e profissional, engravidam precocemente, e quando se veem desamparadas,  abandonam seus rebentos a própria sorte, ajudando a engrossar uma estatística macabra que nos envergonha.

Estes são problemas caseiros e que merecem constantemente a nossa indignação, atenção, cuidado, zelo. E não vamos esperar que venham mais imagens fortes e revoltantes como a protagonizada pela morte de Aylan Kurdy, para somente assim, brotar em nós o sentimento de humanidade e solidariedade. Comecemos agora! No nosso lar, no bairro, na escola, cobrando do Estado que assuma sua responsabilidade e que cada um na sua individualidade e coletividade, exerça de forma ativa a cidadania.

Professor Francisco Silva Júnior