UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

         CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

         FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

8ºPERÍODO - NOITE

           AS RELAÇÕES DO TRABALHO E EDUCAÇÃO COM A POLÍTICA NEOLIBERAL: POR QUE A ESCOLARIZAÇÃO NÃO GARANTE NECESSARIAMENTE O TRABALHO(EMPREGO) NUMA ECONOMIA GLOBALIZADA?

POR 

JOSÉ LUIZ TEIXEIRA DA SILVA

MAT:  2002.1.02161.11 

RIO DE JANEIRO

JULHO-2005

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

8º PERÍODO – NOITE

AS RELAÇÕES DO TRABALHO E EDUCAÇÃO COM A POLÍTICA NEO-LIBERAL: POR QUE A ESCOLARIZAÇÃO NÃO GARANTE NECESSARIAMENTE O TRABALHO(EMPREGO) NUMA ECONOMIA GLOBALIZADA? 

POR

JOSÉ LUIZ TEIXEIRA DA SILVA.

MAT:  2002.1.02161.11

MONOGRAFIA APRESENTADA À FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO COMO REQUISITO PARCIAL À OBTENÇÃO DO GRAU  DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA, DUPLA HABILITAÇÃO, EM MAGISTÉRIO EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E MAGISTÉRIO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS.   

ORIENTADORA: BERTHA BORJA REIS DO VALE

CO-ORIENTADORA: LETÍCIA CARVALHO          

                  

RIO DE JANEIRO

JULHO-2005

                                           AGRADECIMENTOS.

=> A Deus, por tudo que consegui até hoje.

=> Aos meus pais pela educação, dedicação e incentivo.

=>A todos os amigos da faculdade que tanto me ensinaram na troca de idéias,nos momentos de confraternização, de amizade e solidariedade.

=> A todos os professores e funcionários da U.E.R.J pela dedicação, atenção, no transcorrer das aulas e quando necessitei de alguma ajuda da direção e da secretaria sempre fui bem atendido, com rapidez e educação.

=> Aos meus orientadores, que tanto ajudaram-me nas pesquisas quanto no ordenamento técnico da monografia.   

             " OLHAI OS OPERÁRIOS DO CAMPO E DA CIDADE:                        

                ELES FIAM E TECEM E, NO ENTANTO, ANDAM NUS."

                                              VLADIMIR MAIAKOVSKI(1893-1930)       

                                                                  POETA RUSSO

RESUMO

O objetivo dessa pesquisa é verificar as diversas fases da educação relacionada com o trabalho, seus problemas com as políticas adotadas dando ênfase a política neoliberal adotada pela maioria dos governos do planeta sugerindo um comércio globalizado. Isso foi facilitado com os avanços tecnológicos nos transportes , nas comunicações via internet, celular etc.

Tópicos como conceitos sobre trabalho, breve histórico sobre trabalho e educação, pontos de vista importantes para a compreensão dos capítulos seguintes e a importância e relevância do tema no contexto atual são abordados o capítulo I.

No capítulo II, o tema educação e trabalho, é explorado intensivamente, procurando mostrar que por fatores políticos ligados ao trabalho , como a teoria do capital humano, foram utilizadas para adaptar a educação para servir de apoio ao capital e não uma mudança profunda nas condições de trabalho ou educação. Não há uma preocupação de melhorar a educação de nível médio nem a educação de nível superior.

O capítulo III, é o mais polêmico, pois a empregabilidade em questão  pode simplesmente ser uma questão de esforço pessoal, de adaptação ao mercado de trabalho, de estar mais bem preparado para a difícil inserção numa economia neo-liberal globalizada. Só que há vários fatores observados que contradizem essa explicação simplista do conceito de empregabilidade.

Já o capítulo IV, tenta responder por que a escolarização não garante necessariamente o trabalho(emprego) numa economia globalizada?

                                                          ABSTRACT



               The goal of this research is to examine the various stages of education-related work, their problems with the policies emphasizing neoliberal policy adopted by most governments in the world suggesting a globalized trade. This was facilitated by the technological advances in transport, communication via internet, mobile etc.



               Topics like working on concepts, brief history of work and education, viewpoints important for understanding the following chapters and the importance and relevance of the topic in the current context are discussed Chapter I.



                In Chapter II, the subject of education and work, is exploited intensively, by trying to show that political factors related to work, such as human capital theory, were used to adapt education to serve as capital support and not a profound change in conditions work or education. There is a concern to improve high school education or higher education.



              Chapter III, is the most controversial because employability in question may simply be a matter of personal effort, adaptation to the labor market, to be better prepared for the difficult insertion into a neo-liberal globalization. But there are several factors observed that contradict this simplistic explanation of the concept of employability.



                Have Chapter IV attempts to answer why the school does not necessarily guarantee (work) in a globalized economy?

                                                              

                                                                 RESUMEN



                El objetivo de esta investigación es examinar las diferentes etapas de la educación relacionada con el trabajo, sus problemas con las políticas que enfatizan la política neoliberal adoptada por la mayoría de los gobiernos en el mundo que sugieren un comercio globalizado. Esto fue facilitado por los avances tecnológicos en el transporte, la comunicación a través de internet, móvil, etc


 
              Temas como trabajo en los conceptos, la historia breve del trabajo y la educación, puntos de vista importantes para la comprensión de los siguientes capítulos y la importancia y relevancia del tema en el actual contexto se discuten Capítulo I.



              En el Capítulo II, el tema de la educación y el trabajo, es explotada intensamente, tratando de demostrar que los factores políticos relacionados con el trabajo, tales como la teoría del capital humano, se utilizaron para adaptar la educación a servir de apoyo de capital y no un cambio profundo en las condiciones el trabajo o la educación. Hay una preocupación por mejorar la educación secundaria o educación superior.



            Capítulo III, es el más controversial porque la empleabilidad en cuestión puede ser simplemente una cuestión de esfuerzo personal, la adaptación al mercado de trabajo, para estar mejor preparados para la difícil inserción en la globalización neo-liberal. Pero hay varios factores observados que contradicen esta explicación simplista del concepto de empleabilidad.



            Y el capítulo IV intentos de responder por qué la escuela no garantiza necesariamente (trabajo) en una economía globalizada?

CAPÍTULO I

 

GENERALIZAÇÕES SOBRE O TRABALHO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GENERALIDADES SOBRE O TRABALHO

 

Desde a antiguidade, o trabalho fazia parte do cotidiano do homem. No início não era remunerado e sim uma questão de sobrevivência. A organização do trabalho variava de grupo social. Desde a pré-história até os dias atuais, diversas transformações se sucederam, vários modelos econômicos, sociais e políticos. Uma parte relevante dessa história vai ser abordada a seguir.

O trabalho é, sobretudo, um fenômeno que une o homem e a natureza. Um fenômeno no qual o homem adapta, dirige e controla a troca de matéria que faz a natureza. Age perante a matéria natural como uma força natural. As forças naturais que pertencem ao seu corpo, os seus braços e as suas pernas, movimentando-as para se apropriar da matéria natural sob uma forma que possa servir à sua vida. Agindo sobre a natureza que lhe é exterior através desse movimento e transformando-a, transforma também sua própria natureza (...)  consideramos o trabalho sob uma forma especificamente humana. Uma aranha executa  operações semelhantes às do tecelão; uma abelha, ao construir as suas celas de cera,desconcerta alguns  arquitetos da mais hábil das abelhas é que o primeiro, antes de realizar a cela em cera,constrói-a mentalmente.

(Karl Marx , O Capital)

O trabalho,no sentido de satisfazer o ser humano é de extrema importância para o seu desenvolvimento social e elevação de auto-estima pois quando o homem encontra uma atividade em que ele se destaca,a qual é bem remunerado e aceito pela sociedade , ele se torna um ser feliz. Com isso, devolve a sociedade parte de sua tecnologia ,de sua habidade . Seja em forma de uma obra de arte, de um estudo científico,uma descoberta que mude para melhor o cotidiano das pessoas ,literatura ou qualquer outra forma de manifestação de sua capacidade produtiva. O trabalho como atividade remunerada e coordenada serve para dar atendimento as nossas necessidades. Segundo Maslow , são divididas em:primárias-fisiológicas e segurança;secundárias-sociais,estima,auto-realização.

Como o fim imediato e o produto por excelência da produção capitalista é a mais-valia, temos que só é produtivo aquele trabalho-e só é trabalhador produtivo aquele que emprega força de trabalho-que diretamente produz mais-valia;portanto,só o trabalho que seja consumido diretamente no processo de produção com vistas à valorização do capital.(...) é produtivo,pois, o trabalho que se representa em mercadorias;mas se consideramos a mercadoria individual, o é aquele que, em uma parte alíquota deste representa trabalho não-pago; ou de levarmos em conta o produto total, é produtivo o trabalho em que uma parte alíquota do volume total de mercadorias representa simplesmente trabalho não pago, ou seja, produto que nada custa ao capitalista."(Marx,K.,1980,p.70-1).

Muitas vezes ,o Homem é explorado em seu trabalho,podendo surgir crises nervosas pelas péssimas condições no seu emprego. O emocional não pode ser desagregado as funções que o operário tem que executar. Refletindo quase sempre em seu comportamento com os amigos e familiares tornando-o infeliz e dependente de um sistema  que o domina e o transtorna. Se em seu trabalho ele é muito cobrado exigindo dele tarefas de difícil execução e pouco tempo para absorção mental e física do que é para ser feito, acaba desestabilizando seu sistema nervoso tornando-o menos produtivo e sujeito a doenças relativas ao trabalho. Pode-se citar também os acidentes do trabalho causados em muitas vezes pela falta de informações sobre os diversos assuntos relacionados a execução de tarefas pertinentes a trabalhos específicos, tais como operar uma máquina de raio x, para tanto devemos analisar e avaliar os riscos e controlar as possíveis causas de danos para a saúde física ou mental do operador. Com isso protegeremos a saúde global dos trabalhadores, uma ação essencialmente preventiva. O empregador deve melhorar as condições do trabalho tornado-o ergonômico e salutar obtendo assim as seguintes vantagens: manutenção da saúde dos trabalhadores, prevenção de acidentes e doenças profissionais. Atuando na educação,segurança e satisfação do trabalhador. A ergonomia visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho satisfatório,de forma a conciliar a habilidade e os limites individuais dos trabalhadores que executam determinada função.A não observação dessa norma de número 17, poderá causar transtornos tais como as L.E.R. (Lesões por Esforços Repetitivos), as patologias osteomusculares (tendinites, tenossinosites,(...)) que são causadas pelos seguintes fatores:repetitividades do movimento padrão,excesso de força no movimento padrão e postura incorreta.O que acarreta sobrecarga estática da musculatura. Para previnir tais acontecimentos é necessário medidas preventivas como ginástica laboral compensatória,pausa compensatória de 10 minutos em cada hora nos trabalho repetitivos e variações dos movimentos nas atividades monótonas. É muito importante respeitar a jornada de trabalho,principalmente quando se trata de trabalho em atividades repetitivas , monótonas e as que podem trazer consequências desgastantes em virtude do trabalho intelectual como os professores e profissionais ligados a educação.

A história da humanidade está repleta de exemplos que serão abordados nesse primeiro capítulo. De uma sociedade reprodutora de privilégios em que há dominantes e dominados que sustentam esse paradigma de difícil ruptura.

"Em toda a sociedade civilizada existem necessariamente duas classes de pessoas: A que tira sua subsistência da força de seus braços e a que vive da renda de suas propriedades ou do produto de funções onde o trabalho do espírito prepondera sobre o trabalho manual. A primeira é a classe operária; a segunda é aquela que eu chamaria a classe erudita. (...) os homens da classe operária têm desde cedo  necessidades do trabalho de seus filhos. Essas crianças precisam adquirir desde cedo o conhecimento e sobretudo o hábito e a tradição do trabalho penoso a que se destinam.  Não podem, portanto, perder tempo nas escolas. Os filhos da classe erudita, ao contrário, podem dedicar-se a estudar durante muito tempo; têm muita coisa a aprender para alcançar o que se espera deles no futuro. Necessitam de um certo tipo de conhecimento que só se pode apreender quando o espírito amadurece e atinge determinado grau de  desenvolvimento".

(Desdutt de Tracy , Frigotto ,1993,p.131)

 Em primeiro lugar, o trabalho começa por formar,inicialmente o próprio homem, permitindo-lhe sair do plano animal para o de ser social. Esse ser modificado possibilita o aparecimento das funções intelectuais ( que vão   distinguí-lo do animal) conscientizando-o do mundo e de si mesmo.

A acumulação do trabalho gera o mundo dos negócios, a  necessidade da conservação das técnicas que se devem transmitir a todos  os membros de uma comunidade em idades diferentes e de uma geração a outra. Esta transmissão é a educação em seu significado original social. Em seguida temos que a posse desta educação é uma atividade vital, isto é , a participação do trabalho de cada um no coletivo é condição de sobrevivência pessoal. O lema do cristianismo primitivo " Quem não trabalha não come" (São Paulo).

O trabalho toma diferentes sentidos ao longo da história. O mais forte, talvez, pelas condições de exploração e dominação a que têm submetidos os trabalhadores em todas as épocas, é do esforço físico, do castigo, da  subordinação, do sofrimento e da manipulação. A condenação bíblica  "comerás o pão com o suor do teu rosto", dirigida a Adão, é a versão negativa do  trabalho,embora a reforma protestante passe a dar-lhe outro sentido.

Hannah Arendt estabelece a distinção entre labor,referente ao esforço físico do corpo para prover o sustento, e trabalho, como um fazer das  mãos que realiza um produto. De tripalium (três paus), instrumento de tortura, deriva-se a palavra trabalho que em todas as línguas em que aparece com o significado de labor, também carrega sentidos relativos à dor e ao sofrimento. (Arendt,1983,p.90; Noselle, 1987,p.30)

Na Grécia, o trabalho escravo sustenta as condições de produção da ciência que permitem às classes proprietárias e dirigentes o tempo livre  necessário à produção filosófica e a atuação política, no entanto,não ingressa  nos ambientes onde se produz o conhecimento e a política. Até então, a formação daqueles que trabalham: camponeses, artesãos escravos, comerciantes, soldados . faz-se no próprio trabalho, iniciando-se na família.

O exercício do pensamento é incompatível com qualquer espécie de trabalho envolvendo o corpo ,o desgaste físico provocado pelo trabalho e a  subordinação às suas atividades rotineiras para a reprodução da existência, segundo Aristóteles, embrutecem o homem e subtraem a liberdade de pensar. Não é só o trabalho escravo visto como impedimento à participação nos círculos restritos da academia mas todos os tipos de trabalho: Aqueles que decorrem do comércio; os inferiores ou que sujam as mãos e o rosto, aqueles em que o corpo trabalha mais que o espírito; os mais ignóbeis , aqueles que não exigem qualquer espécie de virtude (1997,p.26).

No sistema feudal continua a estratificação social, organiza-se entre senhores e servos a sociedade. Gradativamente, as estruturas sociais vão se modificando até constituir a classe burguesa. "A burguesia tem sua gênese nesses primeiros comerciantes que realizavam a intermediação entre a produção camponesa e artesanal e os mercados onde esta produção poderia ser trocada e/ou vendida (Polany,2000).

Como já foi dito, nem sempre na história da humanidade o trabalho foi visto positivamente; por muitos séculos foi uma atividade relegada aos  inferiores da sociedade. O prazer, a realização pessoal, o prestígio social  estavam ligados exatamente ao não-trabalho, e os que trabalhavam, não ganhavam propriamente a vida com ele, faziam-no por obrigação, não moral, muito menos jurídica, mas por condição social de escravidão, ou de servidão. E que os trabalhos nem sempre são penosos, os trabalhos mais criativos,mais interessantes, sempre foram melhor remunerados que os mais duros, mais monótonos, que os homens tendem a ser melhor remunerados que as mulheres por conta mais de convenções e atitudes sociais do que da quantidade e qualidade daquilo que uma pessoa produz independendo de seu gênero ou raça .

O trabalho, em seu sentido de produção de bens úteis materiais e  símbolos ou criador de valores de uso, é condição constitutiva da vida dos seres  humanos em relação aos outros mediante isso,o trabalho transforma os bens da natureza ou os produz para responder, antes de tudo, as suas múltiplas necessidades.

" O trabalho, como criador de valores de uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do homem -quaisquer que sejam as formas de sociedade - é necessidade natural eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza e portanto, de manter a vida humana ."(MARX,1982,P-50).

A história humana, infelizmente, até hoje, reitera a exploração de seres humanos por seres humanos e de classes sobre classes. Até hoje os seres humanos vivem a pré-história das sociedades de classes, em que grupos ou classes dominantes escravizam ou alienam os demais grupos ou classes. Uma história onde o ser humano está dividido. Por isso, como indica Nosela (1997), o significado dominante que assume o trabalho na história das humanidades e que ainda perdura é o de tripalium (instrumento de três partes utilizados para torturar).

A associação entre trabalho e dever moral, dizem os historiadores, foi uma criação da religião, de um lado, e da ideologia burguesa ,de outro, esta última, aliás, muito fundamentada na ética protestante. Assim a idéia de que a forma correta de passar a vida é labutando, e que só o trabalho incansável  liberta o homem do ócio, são construções sociais, não um fato da "natureza".

Desde o século XVIII, em quase todas as sociedades, o trabalho vem sendo regulado pelas relações sociais capitalistas. Foi estruturado em contraposição ao modo de produção feudal, e que se caracteriza pelo acúmulo de capital, mediante o surgimento da propriedade privada e dos meios de  produção. Os trabalhadores necessitam vender sua força de trabalho para manter sua subsistência, em uma relação desigual de trabalho e emprego, assim os próprios trabalhadores tornam-se mercadoria desvalorizada pelo capitalista, dono dos meios e instrumentos de produção.

Com o trabalhador assalariado torna-se possível a acumulação e a riqueza de poucos, mediante a exploração da mão-de-obra do trabalhador. Com a abolição da escravidão pode a classe burguesa construir ideologicamente uma relação positiva entre trabalho explorado e alienação do trabalhador. O trabalhador é alienado quando perde o controle sobre o produto do seu  trabalho o que permite a apropriação de grande parte do seu tempo de  produção para o empregador capitalista que fica com todo o lucro. O que disfarça essa exploração é a sua legalização pelo contrato de trabalho. A princípio, ao assinarem um contrato de trabalho,passa a idéia que o empregador e o trabalhador o fazem igualmente livres e nas mesmas condições, no entanto,o que se observa é uma relação de classe profundamente desigual. Esse modo, o contrato de trabalho, sob o capitalismo neoliberal, é uma exploração legalizada ou legalização da desigualdade.

No Brasil, a política de educação  planejada após a segunda metade da década de 60, nos preceitos da Teoria do Capital Humano seu suporte básico. Ao lado de uma política econômica que rapidamente se alia ao capital internacional, cujo o princípio é a acumulação exagerada de capital e renda ,do acesso à escola , particularmente as universidades, como instrumento básico de mobilidade, igualdade e justiça social. Produz-se,então, a crença de que o progresso tecnológico não só gera novos empregos, mas exige uma qualificação cada vez mais esmerada. De outro modo,acredita-se que a aquisição de capital humano, via escolarização e acesso aos graus mais elevados de ensino, constitui-se em garantia de ascensão a um trabalho qualificado e, conseqüentemente, a níveis de renda cada vez mais melhores. Aproximadamente quatro décadas se passaram e o que se verifica é que , ao contrário da distribuição de renda, aconteceu justamente o contrário, a concentração só aumentou. Ao contrário de mais empregos com maiores salários , houve uma redução da oferta de empregos e um retração salarial inclusive para os oriundos do nível superior que supostamente teriam mais  competitividade formando assim um exército de ilustres desempregados.

"O ideal de Dewey, de uma escola que forma o cidadão para a democracia, só alcançará a concreção quando as pessoas não tiverem mais que se submeter ao autoritarismo para ganhar a vida, quando conquistarem a democracia dentro do local de trabalho. Essa conquista não é um momento, mas um processo, através do qual trabalho e estudo poderão se conciliar." (Salm,C. , 1980,p.101).

A dinâmica macroeconômica da globalização e da mudança tecnológica com efeitos da flexibilização produtiva sobre os níveis de emprego, desemprego e subemprego em países,regiões etc.

Na economia neoliberal há precarização das relações de emprego, ou seja, o da convivência com o desemprego prolongado e a exclusão social, as " sociedades sem emprego" . Devido ao desenvolvimento tecnológico, da  globalização, em espaços alternativos da esfera privada e comunitária.

Há presença de novos personagens sem emprego no padrão  clássico, de trabalhadores qualificados, educados, ou profissionais de nível superior, pertencentes às classes médias, anteriormente resguardadas das variações do mercado,tanto nos países centrais quanto nos periféricos. Findo o otimismo e as oportunidades da economia do pleno emprego e do Estado protetor dos anos 50. O risco hoje não é somente da periferia, mas de uma sociedade inteira, a maior parte da população.

Dos anos dourados à era da flexibilização, padronização dos contratos de trabalho,dos espaços de produção e das jornadas de trabalho.

A época de ouro foi o auge do "capitalismo organizado" e a hegemonia do "Fordismo" caracterizou-se pelo predomínio da tecnologia  mecânica, da produção em massa, das grandes concentrações industriais geradas pelos princípios Tayloristas da administração científica e seus princípios, tais como; parcelamento das tarefas ,da separação entre concepção e execução e do monopólio gerencial das funções de planejamento (Pereira,1979). Rígida separação do trabalho, controle centralizado e hierarquia.

Preços baixos, salários altos, crédito ao consumidor e estratégias  agressivas de marketing, providenciando a expansão de um mercado de produtos em série o "Fordismo" correspondeu a uma lógica de acumulação que privilegiava o pleno emprego, a jornada de tempo integral, os contratos por prazo indeterminado, o fortalecimento das organizações sindicais e políticas dos trabalhadores.

Ingresso em massa de mulheres,especialmente das casadas, no mercado de trabalho.

Empregos e família ocupavam locais e tempos distintos na vida das pessoas, um dos aspectos mais discutidos do trabalho da mulher era justamente sua "dupla jornada"(Pereira,1981) Foi Gramsci quem cunhou a expressão Fordismo, além de uma forma de organização da produção, a um "estilo de vida",próprio do capitalismo avançado (exemplificado pelo sistema criado por Henry Ford para sua fábrica de automóveis), no qual o controle da fábrica estendia-se ao controle da vida do trabalhador. "Os novos métodos de trabalho são inseparáveis de um modo  específico de viver,pensar e sentir" , dizia Gramsci (1970). O modelo da sociedade industrial de "emprego em tempo integral por prazo indeterminado" tomado como referencial "clássico", resultou, em si mesmo, de conflitos sociais e políticos.

O tema da satisfação, insatisfação do trabalhador com o seu trabalho e a instituição e os entraves gerenciais de obter a adesão da mão-de-obra aos objetivos de eficiência empresarial, acentuando a monotonia do parcelamento das tarefas e suas conseqüências desmotivadoras ou alienantes.

A análise de trabalhadores relativamente bem pagos,qualificados, de tarefas enriquecidas,estabilidade no emprego, mas pouco numerosos e,de outro pólo, dos não qualificados, mal pagos, instáveis e muitos numerosos, a classe operária. A redução global do volume de mão-de-obra empregada, precarização dos mercados secundários, conflitos e resistências ao controle Fordista. Toda discussão analítica envolvendo as noções de especialização flexível, pós-fordismo e até mesmo a de neofordismo, tem como referência concreta, o advento das novas formas de organização e gestão do trabalho e da produção empreendidas pela fábrica japonesa da Toyota. É patente o impacto destas inovações, que conformariam o modelo japonês, na reflexão sobre as transformações ocorridas.

O modelo japonês, implantado pelo engenheiro Taiichi Ohno,nos anos 50, se constituiria em torno de noções tais como velocidade,produtividade, qualidade e participação. O desdobramento e a realização prática disto se  dariam através "da integração em fluxo contínuo das etapas e a circulação  permanente do produto em transformação. Redução de estoques e organização celular da manufatura."(Castro,1993,p.157) .

Agregado a isso tem-se que, no que se refere à  qualidade, parte-se da idéia da focalização  das atividades da empresa em produtos e tarefas onde se garantem suas maiores competitividade e lucratividade, terceirizando o resto; intensificaria assim a necessidade de uma ação mais engajada dos trabalhadores por intermédio de " uma melhoria contínua e incremental dos procedimentos de produção (kaisen) " (Ibidem). Esta preocupação deve ser compartilhada por todos que devem se sentir sempre estimulados a promover inovações. No Brasil o contexto das inovações tem relação direta com a tentativa de acesso ao mercado mundial e a seus padrões de preço e qualidade dos produtos, ocorrido quando da abertura do mercado interno durante o governo Collor. Este processo forçou à competitividade uma economia em grande parte, senão na totalidade, desenvolvida sob a visão protecionista. Conforme indicado por Carvalho (1994,p.109), haveria um escasso dinamismo tecnológico e um correlato atraso relativo da indústria brasileira. Isto poderia ser explicado por " um padrão de industrialização que foi marcado pela exploração de mão-de-obra barata e de recursos naturais abundantes e na manutenção de um protencionismo generalizado e ilimitado no tempo ''deste quadro, resultariam a permanência de processos de trabalho convencionais com pouco espaço e aceitação da inovação, assim como o uso exploratório de uma força de trabalho pouco qualificada, que por isso justificaria seu baixo salário.

Quanto à baixa escolarização e conseqüente baixa qualificação da força de trabalho no país, muitas vezes utilizada como argumento justificativo dos obstáculos à modernização, Carvalho (1994) chama atenção para o fato de que as mesmas foram resultados, entre outros fatores, de uma demanda que vinha sendo formada por um processo de recrutamento Taylorista.

A flexibilização da mão-de-obra e do trabalho vai crescendo no ambiente produtivo, de modo desigual entre patrões e empregados quanto a regulamentação do trabalho e modo de produção.

Ainda falando da "era da especialização flexível" ou do "pós-fordismo" que enfrentou as crises no final dos anos 60 e o princípio dos anos 70 surgiu a fase das incertezas, instabilidade e experiências denominada por Hobsbawm de décadas de crise , fase do "capitalismo desorganizado", que tem modificado a face da economia mundial nos últimos 35 anos. Na verdade uma reorganização do "sistema mundial" convertendo-o em espaço global de acumulação de capital.

Os  aspectos mais nítidos da globalização são os financeiros. A concorrência se dá  em três níveis: no da economia nacional, onde os países mais poderosos tendem a se proteger com medidas protecionistas; no nível do dos blocos regionais,onde os países centrais tendem a impor sua hegemonia. Aos países de sua periferia imediata; e as grandes empresas,cuja arena é , o mercado global.

A teoria da "sociedade pós-industrial " ou da "sociedade da  informação" expressa o otimismo básico dos intelectuais e acadêmicos nos recursos revolucionários proporcionados pelas novas tecnologias de base micro-eletrônica. A sociedade pós-industrial é uma sociedade da informação, assim como a sociedade industrial foi uma sociedade produtora de bens" , escreveu Daniel Bell, em 1973, o criador do conceito.

No entanto ,o que de fato ocorreu foi um aumento do desemprego, segundo a O.I.T (Organização Internacional do Trabalho), no ano 2000, mais de um bilhão e cem milhões de pessoas estavam desempregadas, ou trabalhando em condições precárias, ou ainda, mal remuneradas. Entre as causas estão as constantes transformações no mundo do trabalho. Prioriza-se o trabalhador "fiel" , aquele que trabalha muito, não reclama de seu salário e para conseguir uma promoção entrega seus companheiros injustamente muitas vezes caluniando seus parceiros de trabalho.

Particularmente no Brasil, o desemprego- que atinge a mais de doze milhões de trabalhadores- gerou enorme corrida em busca de trabalhos alternativos. O trabalho informal, principalmente o ambulante, ganhou proporções nunca antes imaginadas. Milhões vivem de "bicos" esporádicos, insuficientes para a manutenção da casa.

Várias experiências têm sido desenvolvidas no campo da micro-empresa, onde o desempregado emprega seus últimos recursos financeiros para tentar sobreviver 'salvos uns poucos casos, a experiência não tem sido boa  porque falta preparo administrativo para a imensa maioria, assim como é difícil concorrer com os produtos das grandes empresas e com os importados. Há ainda o fator concentração de renda  que  deixa a imensa maioria da população sem poder aquisitivo.

Experiências positivas têm  ocorrido com empresas que passaram a ser administradas pelos próprios trabalhadores, em sistemas de cooperativas Parte obtém sucesso .Parte não dá certo, pelos mesmo motivos comentados no parágrafo anterior, há ainda os casos daqueles que trabalhavam fazendo reparos como faz-tudo( eletricista,pedreiro, etc), em geral se dão bem por algum tempo, aos poucos passam a concorrer entre si e a encontrar os obstáculos que os demais.

Em 2003, as redes de televisão mostraram uma cena marcante para seu público: milhares de pessoas em fila, aguardando para disputar algumas poucas vagas de coveiro e gari. A imagem apareceu nacionalmente como símbolo da falta de emprego no país.

De lá para cá, pouco mudou. Há dois anos, (hoje abril de 2005), o índice de desemprego era de 12,8%, segundo dados do I.B.G.E (Instituto brasileiro de geografia e estatística). Hoje, a taxa está em 10,2% o que significa aproximadamente 20 milhões de brasileiros desempregados.

O salário mínimo também não cresceu significativamente: em 2003, estava em 200 reais e hoje chega a 300 reais, apesar das promessas eleitorais de duplicar seu valor.

A justificativa dada para os índices acima é necessidade de manter a economia brasileira em equilíbrio para os mercados financeiros internacionais. Segundo o ministro da fazenda Antonio Palocci, a taxa de inflação está prevista em 6.5% este ano graças ao estreito controle dos recursos públicos.

A precarização do trabalho aumentou, o que significa menos carteiras assinadas. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o crescimento de empregos sem carteiras assinadas no segmento particular cresceu 15,5% no final do ano passado (2004), enquanto que empregos com carteiras assinadas atingiram apenas 4.2%.

Isso significa que direitos básicos assegurados pela C.L.T  (Consolidação das Leis do Trabalho) , pela legislação trabalhista: como garantia de férias, 13º salário, licença maternidade, descanso semanal remunerado etc. não são mais obrigatórios para os empregadores.

O desemprego e o emprego informal de remuneração muito baixa desencadeia no país a necessidade do trabalho realizado por seus filhos para manter subsistência da família.

O trabalhador infantil encontra-se em total desarticulação:não é sindicalizado, não conhece as leis de proteção ao trabalho, é expressiva a quantidade de crianças que integram o mercado informal de trabalho,"não fala por si",como, aliás, indica a própria etimologia da palavra "infância/infante": "o que não fala" (Lajoto,1997). Tudo isso permite um grau mais elevado de exploração. Se o trabalho infantil, por um lado,compromete seriamente o  desenvolvimento físico, psicológico e intelectual da criança,por outro, impetra a morte da vida inocente(lado infantil), ou seja, inviabiliza o viver da infância, o que revela uma das muitas contradições da ordem vigente.

O problema do trabalhador é vasto, estruturalmente complexo ao ser explorado de uma forma dinâmica e contextualizada ,desde os que trabalham em pequenas roças no interior até aqueles que trabalham em grandes plantações mecanizadas ,de última geração. Do trabalhador avulso, ambulante, autônomo,profissional liberal, trabalhador de carteira assinada,servidor público, trabalhador eventual,e outras formas de ser trabalhador, suas responsabilidades com a empresa , com a sociedade.

Os principais problemas:desemprego, baixos salários,condições de trabalho desfavoráveis, falta de uma política voltada para os interesses dos trabalhadores não voltadas especificamente ao capital.

No capítulo seguinte, haverá  uma maior preocupação em relacionar Educação com Trabalho, suas implicações históricas,as mudanças ocorridas com as políticas públicas voltadas para  formar uma classe de trabalhadores com a finalidade de atender ao mercado.

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO E TRABALHO

 

 

 

EDUCAÇÃ0 E TRABALHO

 

Este capítulo procura fazer uma relação entre educação e trabalho passando pelo viés político e econômico, abordando o sistema neoliberal e a globalização, tecendo comentários sobre a exclusão social , as práticas educativas em educação de jovens e adultos e cidadania.

"A pressão em direção à igualdade real (na escola) implica a igualdade de acesso ao saber,portanto,à distribuição igualitária dos conhecimentos disponíveis. Mas aqui também é preciso levar em conta que os conteúdos culturais são históricos e o seu caráter revolucionário está intimamente associado à sua historicidade. (...)Uma pedagogia revolucionária centra-se, pois, na igualdade essencial entre os homens. Entende, porém, a igualdade em termos reais e não apenas formais. Busca, pois, converter-se, articulando-se com as forças emergentes da sociedade, em instrumento a serviço de uma sociedade igualitária. Para isso a pedagogia revolucionária, longe de secundarizar os conhecimentos descuidando a sua transmissão,considera a difusão de conteúdos,vivos e atualizados,uma das tarefas primordiais do processo educativo em geral e da escola em particular"( Saviani,1982a,p.59)

Por volta dos anos 80, vários países destacavam medidas relacionadas  com a formação profissional. Enquanto prática  que se efetiva nas relações de classe é contraditória e medeia interesses antagônicos, o espaço que ocupa é alvo de disputa, e dá-se justamente pelo controle da situação na dimensão política e técnica, apropriando-se  do saber históricamente produzido,sistematizado e acumulado beneficiando os interesses de classe. Em fins da década de 80, já se assinalava para a importância da escola no processo processo formativo do trabalhador, já que o conhecimento lhe é negado no mundo do trabalho. Nesta perspectiva, a escola teria como responsabilidade democratização de conhecimentos de caráter universal, de saberes científicos permitindo que o trabalhador viesse elaborar teoricamente suas práticas profissionais, especialmente nos planos de sua participação política e produtiva. Segundo Kuenzer (1988) , o trabalho começa  a ser tomado como eixo articulador da relação educação e cidadania, em especial na escola de ensino médio, justificando-se que o trabalho se constitui em um direito e um dever de todo cidadão.

                  Segundo a Constituição Federal de 1988:

                         Art. 205

"A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho."

                            Art. 208

       O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

         I- Ensino fundamental  obrigatório e gratuito assegurada,inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria.

Significa que a cidadania se encontra diretamente dependente dos espaços democráticos que viabilizam a escola pública, que no caso da educação traduz-se em sua privatização, a questão de cidadania fica esvaziada de seu sentido concreto (Gentili,1997a). tal esvaziamento se faz notar segundo Silva T. (1995), justamente pela investida neoliberal em torno da redefinição do significado não apenas da cidadania, mas também de expressões como democracia e direitos.

Parte expressiva da população brasileira que, por  razões de caráter político e econômico, não teve assegurado, pelo estado, o direito a  educação básica na infância e na adolescência.

É bastante significativa, hoje, no brasil, a procura por cursos que possibilitem a aquisição de escolaridade básica ou sua complementação nos níveis fundamental e médio, por parte de jovens e adultos. Segundo o  INEP, o censo escolar de 2001 registrava um total de 3,77 milhões de alunos matriculados na modalidade E.J.A . Dado como esse contribui para demonstrar a magnitude e a importância das questões relativas a educação dos jovens e adultos trabalhadores e revelam um quadro extremamente grave, no que se refere a baixa escolaridade da população jovem e adulta brasileira. Entretanto não chegaram sensibilizar aqueles que elaboraram nem os que aprovaram a lei de diretrizes e bases da educação nacional em vigor à partir de 1996.

A lei Darcy Ribeiro, LDB 9394/96, reserva uma pequena seção à educação de jovens e adultos. Por outro lado,é reconhecido o caráter estritamente flexível atribuído à EJA, tratamento insuficiente conferido a essa modalidade de ensino.

No Brasil, as políticas públicas, pauta as ações no campo educacional estritamente pela relação custo/benefício e considera, particularmente,adultos com baixa ou nenhuma escolaridade, pessoas com pouco significado para o mercado de trabalho,às quais, portanto, não compensa,em termos econômicos, agregar o valor educativo.

O país convive, históricamente, com um imenso contingente de analfabetos, que se reduz lentamente por iniciativas descontínuas e,  na maioria das vezes destinadas a reduzir os índices estatísticos. Segundo o IBGE, o censo de 2000 apontava para o fato de que quase 10% da população do país é ainda analfabeta. Ou seja, convivemos atualmente com aproximadamente 20 milhões de brasileiros analfabetos, com 15 anos ou mais.

                      Segundo a constituição de 1988.

                            Art. 214

A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à :

                           I- Erradicação do analfabetismo;

                           I I- Universalização do atendimento escolar;

                           I I I- Melhoria da qualidade de ensino;

                            I V- Formação para o trabalho;

                              V- Promoção humanística, científica e tecnológica do país.                 

            

No decurso do governo Fernando Henrique Cardoso, o ensino da E.J.A não foi valorizado retirando sua importância no combate a exclusão social de jovens e adultos tanto na educação quanto no trabalho. O veto presidencial à lei que obrigava todas as empresas e órgãos públicos, com mais de cem(100) analfabetos, a criar o programa empresarial de educação. Além dele, destaca-se a lei 9429/96 que, ao regulamentar o cálculo para a alocação dos recursos que integram o fundo de manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e valorização do magistério (FUNDEF), não incorporava o ensino supletivo, em virtude de veto do próprio presidente da república à redação original,que incluía, no mencionado cálculo,as matrículas do ensino fundamental na função suplência.Na história recente da educação brasileira, encontramos um importante documento que, embora marcado por limites políticos e ideológicos no momento de sua elaboração, promove uma  valorização sensível dessa modalidade de ensino. O parecer CNE/CEB 11/ 2000, apresenta as Diretrizes Nacionais Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos, relatado pelo professor Jamil Cury.

Considerando a EJA como uma "categoria organizacional constante da estrutura da educação nacional, com finalidades e funções específicas"( Parecer 11/2000 , p.5). Apenas a partir de 2001, o governo federal, através do FNDE,  decidiu contribuir para educação de jovens e adultos, determinando, na Resolução FNDE/CD/12/01, a " assistência financeira suplementar a projetos educacionais no âmbito da EJA". Inicia-se, assim, o Programa Recomeço, que atende prioritariamente, aos estados do Norte e do Nordeste, onde se desenvolve o Projeto Alvorada.

O parecer atribui à EJA a função de restaurar o direito de todos à educação escolar de qualidade " uma oportunidade concreta de presença de jovens e adultos na escola e uma alternativa viável em função das especificidades sócio-culturais destes segmentos para os quais se espera uma efetiva atuação das políticas sociais (...) e adultos (Id.,Ib.,p.9).

A segunda função da EJA é a equalizadora " confirmar competências adquiridas na educação extra-escolar e na própria vida" (Id.,Ib., p.10). O Estado tem o dever de garantir àqueles que foram alijados do direito à educação, as condições essenciais para adquirirem ou ampliarem sua escolaridade. Essa função vai ao encontro do afirmado por Boaventura Santos, ao pronunciar-se sobre a questão da igualdade:" temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza" (Santos,1996,p.3).

A terceira função é a qualificadora ou permanente, que representa" o próprio sentido da EJA" (Parecer 11/2000,p.11). A função qualificadora tenta preencher o " caráter incompleto do ser humano" (Id.,Ib.), e sua função consiste em propiciar a todos a atualização de conhecimentos por toda a vida"(Ib.,Id.), garantindo-lhes as condições necessárias para que , em qualquer fase da vida, usufruem seu direito de apreender.

A Educação de Jovens e Adultos, necessita de profissionais com formação específica. Entretanto o que se observa é a não-obrigatoriedade de estudos sobre essa modalidade de ensino nos diferentes cursos de formação de professores, a ausência de concursos públicos específicos para área,demonstra a falta de interesse do Estado com essa modalidade de ensino.

É preciso rever as concepções políticas da educação que fingem atender os interesses dos trabalhadores no entanto atendem aos interesses do capital, com uma educação ajustada ao contexto atual da organização do trabalho.

Paulo Freire (1996), no seminário internacional de educação de jovens e adultos fez o seguinte comentário:

" Na visão pragmática-tecnicista,contida em discursos reacionariamente pós-modernos, o que vale é a transferência de saberes técnicos, instrumentais, com que se assegure boa produtividade ao processo produtivo. Esse tipo de pragmatismo neo-liberal a que mulheres e homens, ontem da esquerda, aderiram com entusiasmo se finda no seguinte raciocínio, nem sempre explícito: se já não há classes sociais, portanto seus conflitos também, se já não há ideologias, direita ou esquerda, se a globalização da economia não apenas fez o mundo menor mas o tornou quase igual, a educação de que se precisa hoje não tem nada que ver com sonhos, utopias e conscientização. Não tem nada haver com ideologias, mas com  saber técnico. A educação será tão eficaz enquanto treine os educandos para certas destrezas. Introduzir no ensino e no aprendizado da matemática, da física, ou no "treino" de operários qualificando-se o sonho da libertação, a utopia da justiça social é repetir erros honestos por causa dos quais pagamos caro. A educação para hoje é a que melhor adapte homens e mulheres ao mundo tal qual está sendo. Nunca talvez se tenha feito tanto pela despolitização da educação quanto hoje".

( p.15).

                    A LDB de 96 dissocia a educação geral da formação profissional:

                   Art.36 ; §2º e § 4º :

"O ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas." .

“A preparação geral para o trabalho e facultativamente, a habilitação profissional, poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou de cooperação com instituições especializadas em educação profissional."

                   Art39 .

" A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, a ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para vida produtiva".

                     Parágrafo único .

" O aluno matriculado ou ingresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto ; contará com a possibilidade de acesso á educação profissional."

               Art.40.

"A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho."

               Art.41.

" O conhecimento adquirido na educação profissional,inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimentos ou conclusão de estudos."

Certa vez, Gaudêncio Frigotto, falando em uma palestra aos funcionários  da FAETEC observou que a lei 9394/96 , LDB, não representa grandes avanços e não vai trazer progressos maiores a proposta da politecnia tão importante  a sociedade atual.

Voltando um pouco na história do Brasil,mais precisamente na época da ditadura militar, surge um discurso novo educacional baseado na Teoria do Capital Humano. Que transformaria a educação em um aliado forte ao desenvolvimento político e econômico de controle da população. A partir de 1971,porém, há sensível baixa de qualidade nas instituições públicas escolares que não conseguiam atender os interesses do ensino profissional nem o ensino propedêutico.

"Sua força de trabalho e seu trabalho incorporam-se como fatores vivos de produção do Capital; convertem-se em um de seus componentes, e precisamente, no componente variável que não só em parte conserva e em parte reproduz os valores de capital adiantados,mas que ao mesmo tempo aumenta-os,e, em conseqüência , graças tão somente à criação da mais-valia, transformando-os em valores que se valorizam a si mesmos, em capital". (Id.,bid.,p.72)

Para fazer a articulação da educação com o trabalho nos moldes da teoria do capital humano comprometeu o desenvolvimento do sistema tradicional de produção, forçando uma rápida inovação tecnológica para competir tanto no mercado interno quanto o mercado externo atendendo uma lógica de mercado em grande escala cada vez mais competitiva e desumana. Com isso passou a empregar cada vez menos mão-de-obra que foram e estão sendo substituídos por máquinas, computadores e outros meios usando uma tecnologia cada vez mais aprimorada e alienante . Em conseqüência o número de desempregados aumenta geometricamente, ou seja, um verdadeiro exército de reserva com mão-de-obra disponível a um valor aquém da sua real força de trabalho e que não encontra mais vaga pois foram substituídos por "elementos" que não reclamam do trabalho,não precisam tirar férias e não ficam questionando as condições de trabalho.

O trabalho pesado, manual, é alternativa para classe economicamente desfavorecida , já o trabalho que exige um raciocínio aprimorado, intelectual é privilégio da classe que ocupa o poder. A divisão entre trabalho mental e o braçal é determinado pelas relações sociais, isso por que o trabalho humano sempre fez diferenciação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual. Gramsci (1978) diz:

" Não se pode separar o homo faber  do homo sapiens"     (p.8)

Gramsci deixa claro que não pode excluir de qualquer atividade intelectual o esforço físico muito menos o contrário pode ocorrer. Um dado triste é o caso da exclusão social de crianças que necessitam trabalhar para ajudar os pais por suas precárias condições de saúde e subsistência. No Brasil, de acordo com Pochmann(1998), são 2,9 milhões de crianças entre 10 e 14 anos, que necessitam "abandonar a escola para buscar alguma forma de sobrevivência através do trabalho".Proibir o trabalho infantil simplesmente não resolve, pode inclusive piorar suas vidas e de suas famílias.

Deve-se assegurar o direito a infância e adolescência livres de qualquer pressão do mercado de trabalho. No entanto o projeto pedagógico predominante, veicula a educação básica ao mercado e ao capital, pedagogia das competências e da empregabilidade, trata-se da pedagogia que forma indivíduos de fácil manipulação.

"A educação, qualquer que seja, é resultado de uma disputa social.Por isso, ela varia , se reestrutura, tem um movimento contraditório em seu interior.(...) na perspectiva das classes subaalternas, em especial os trabalhadores, a educação é, antes de mais nada , desenvolvimento de potencialidades e apropriação do ' saber social'.Trata-se de buscar na educação conhecimentos e habilidades que permitam uma melhor compreensão da realidade e elevam a capacidade de fazer valer os próprios interesses econômicos, políticos e culturais."

(Grzybowski,c.;Op. cit.,p.8)

É preciso formar uma consciência libertadora , restauradora de um ensino básico emancipador ,buscando formar um cidadão crítico.Um ensino público de qualidade,gratuito e universal. As políticas de desenvolvimento devem estar ligadas a  nova perspectiva de ensino, mais humano o que não significa apenas incorporar conceitos, como transcender a questão de emprego,salário, competitividade ,empregabilidade. Procurando integrar história e cultura modificando para melhor a vida das pessoas tornando-as significativas. Desestimulando a exploração do trabalho dos operários ou qualquer outro tipo de trabalho,eliminar todas as formas de trabalho escravo pois isso significa desenvolver o espírito pacífico e solidário do ser humano, a verdadeira face do conhecimento não coisifica o homem e sim dignifica a busca da conscientização da sociedade, dos seus direitos e deveres, entre eles o trabalho justo e uma educação de qualidade.

O próximo capítulo teremos o conceito "Empregabilidade" examinado. Dirimindo algumas possíveis dúvidas, especificando e destacando pontos de importância para empregadores , trabalhadores e a sociedade.

CAPÍTULO I I I

 

 

EMPREGABILIDADE

 

 

EMPREGABILIDADE

 

 

Este capítulo procura desenvolver um tema polêmico e bastante atual,a empregabilidade que,na verdade, não é garantida por um único fator mas sim por diversos fatores complexos que se interagem. A empregabilidade vem sendo referida pelos órgãos privados e governamentais de formação profissional a um determinado conjunto de capacidades e competências que tornam o trabalhador apto a torna-se"empregável"(SENAI.SP,1996,p.37), isto é, a manter um emprego ou a encontrar um novo trabalho remunerado, em suma, a ter a capacidade de se manterem um mercado de trabalho em constante mutação.(Donaldo,1999,p.68).

Outro conceito é que a empregabilidade é uma ilusão de segurança,nem todo mundo no mercado de trabalho neoliberal vai ter acesso às vagas de uma empresa "x" ou "y". Por mais que esteja preparado ou capacitado se nessas empresas o que interessa é o lucro "acima de tudo". Somente em caso de morte ou crescimento econômico para repor os empregos que vão se ceifando devido a modernização tecnológica dos postos de trabalho (emprego),substituindo peões por máquinas,preparação de um grupo de mão-de-obra qualificada ,o que  não quer dizer necessariamente melhorias para o seu quadro funcional e sim aumento de mão-de-obra barata que gerará um maior lucro.

Porém há um enorme contingente de mão-de-obra cada vez mais qualificada, no desemprego ou subemprego. Com isso, os proprietários do capital podem especular com os salários e as garantias sociais desses trabalhadores, oferecendo baixos salários e ainda assim conseguindo operários qualificados e de forma abundante.

Segundo Frigotto, " A noção de empregabilidade é uma construção ideológica violenta que passa a idéia de que o culpado do desemprego é o próprio trabalhador" (1988,p.12).

Para Boaventura Santos, a fragilização do trabalhador é produzida pelo facismo da insegurança; " grupos sociais vulnerabilizados pela precariedade do trabalho que manifestam elevados níveis de ansiedade e insegurança quanto ao presente e ao futuro, de modo a fazer baixar o horizonte deexpectativas e a criar a disponibilidade para suportar grandes encargos, de modo a obter reduções mínimas dos riscos e da insegurança "(1999,p.54,55).

No modo de produção capitalista, o limite máximo de reforma educacional conquistada pela "classe que vive do trabalho" (Antunes,1999) é a Escola Nova, em que o modelo de "escola integradora"(gentili,1998), sistematizado pela sociologia estrutural-funcionalista, prepara para um mercado baseado na produção e consumo de massa. O limite mínimo da educação da "classe que vive do trabalho" está associado ao Estado neoliberal que reduz a escola pública àqueles que não dispõem dos recursos financeiros mínimos para adquirir a mercadoria educação. Este modelo impõe aos destinados à isenção do emprego formal uma educação " flexibilizada" para uma possível "empregabilidade" , desvinculando a estrutura social, produtora do desemprego, da organização escolar, da formação profissional e da construção de currículos. O indivíduo assim preparado deve entender um pouco de tudo e de nada, estar disposto às "mudanças" do mercado e a  assumir a sua "incompetência" e responsabilidade por não conseguir um emprego formal. O currículo, para o pensamento neoliberal, visa o indivíduo possessivo,"empreendedor", capaz de tudo para eliminar concorrentes na disputa por um dos escassos empregos (Gentili e Silva , 1994) .Precisamos ter claro, então,que, o optar-se pela preparação para o trabalho,(sendo este trabalho) um emprego assalariado,fica difícil trabalhar valores, como a cooperação e a solidariedade, métodos baseados na organização coletiva e objetivos que tenham em mente a autonomia do educando.

Verifica-se que tanto os agentes do capital como os trabalhadores reivindicam um nível elevado de escolarização, embora cada segmento postule uma escola a seu modo, com seus próprios critérios de qualidade de ensino. As propostas de educação vinculadas aos interesses do capitalismo mundial têm sido amplamente analisadas e criticadas(Paiva e Warde,1993;Costa,1994;Frigotto,1995).

Há interação entre as prática formativas e os contextos de trabalho, com isso, institui-se uma acepção de formação centrada na idéia de escola como unidade básica da mudança educativa, em que as escolas são consideradas "espaços institucionais para a inovação e melhoria e, simultaneamente,como contextos privilegiados para a formação contínua de professores"(Escudero & Botia,1994).

A relação trabalho-formação sustenta-se sobre projetos sociais e educacionais diferentes, contraditórios, conflitantes, que se irão refletir na elaboração de currículos escolares vinculados àqueles respectivos projetos, ou seja, o capitalista e o socialista. O trabalho, que assuma a forma histórica deemprego assalariado, tem sua formação reduzida à preparação para o trabalho e o currículo para essa formação visa a produzir um indivíduo subordinado, dependente, porém competitivo para enfrentar a disputa pelas escassas vagas no mercado formal de trabalho.

O trabalho deve contemplar a dimensão coletiva da cooperação e a dimensão pessoal da realização. Resgatar o trabalho como criação da autodeterminação humana, como recuperação do "ser ontológico", que é propriamente o ser organizado, isso dentro de uma emancipação cultural e social. "Sobretudo com relação a trabalho, formação e currículo no atual contexto de desemprego estrutural e tecnológico, resultante da eliminação de milhares de postos de trabalho que decorrem da implantação das novas tecnologias aos processos produzidos e da opção pelo neoliberalismo" (Ferreti, Silva Jr e Oliveira,1999).

Para os milhões de jovens sem perspectiva de conseguir um trabalho (emprego) no mercado formal é oferecida uma formação flexibilizada , aligeirada que atenda as necessidades de mercado e não que responda suas reflexões, e dúvidas interiores. Deixam de ser importantes as disciplinas reflexivas como psicologia, filosofia e sociologia. No currículo de ensino médio a seleção dos conhecimentos, a forma de ensinar seus conteúdos, a fragmentação em disciplinas, a separação em teorias (conteúdo) e práticas (estágios) marcam o currículo como uma modalidade de organização da educação escolar adaptada ao modelo liberal da sociedade reproduzida na escola.

Não serão esses elementos assim definidos e muito menos a escola que irão transformar o modelo de sociedade autoritária, injusta e desigual que temos. Todavia; como Paulo Freire afirmou em diferentes obras," A transformação  social não se faz sem a escola, sem uma mudança de cultura que ela produz/reproduz".

Para melhor entender a política da empregabilidade na lógica do sistema neoliberal globalizado, observaremos um artigo de Paulo Alcantara Gomes, publicado no suplemento especial "Trabalho e Cidadania" da Folha Dirigida de primeiro de maio de 2005. O título do artigo é " Educação Superior e Emprego na Sociedade do conhecimento", O autor do artigo é Reitor da Universidade Castelo Branco e membro do conselho deliberativo do Sebrae/RJ.

A segunda metade do século XX e os primeiros anos deste século vêm se constituindo em palco de notáveis transformações das empresas, em virtude da globalização e dos crescentes avanços da ciência e da tecnologia.

Na busca pelo incremento da competitividade, capaz de assegurar a sua sustentabilidade num cenário que impõe a presença constante e contínua no fluxo de comércio internacional, as micro e pequenas empresas têm que obrigatoriamente modernizar as práticas gerenciais ,agregar novos valores aos seus produtos, priorizar a inovação, promover a inclusão digital no seu ambiente e identificar novas oportunidades de parcerias, deixando de lado conceitos seculares, vigentes desde a revolução industrial e totalmente superados pelas presença crescente da sociedade do conhecimento.

Diferentes tipos de "aglomerados" empresariais, de cooperativas e de arranjos produtivos locais vêm se consolidando como os modelos mais adequados para o enfrentamento dos desafios que surgem nestes novos tempos, no qual  o acesso a informação é determinante para vida das empresas.

Dentre as ações decorrentes das estratégias acima relacionadas destacam-se fortemente as relacionadas com a qualificação e a formação de quadros técnicos e gerenciais e com a realização de projetos de investigação destinados à apropriação e desenvolvimento de tecnologias,cada vez mais em harmonia com os princípios norteadores do desenvolvimento sustentável. Assim, notadamente nos países em desenvolvimento, empresas e universidades têm intensificado suas relações procurando articular de forma mais eficaz o processo de diplomação de profissionais, com perfis de habilidades e competências compatíveis com as exigências das novas profissões e preparados para mudanças contínuas, fruto do progresso científico e tecnológico.

Dessa forma, a empregabilidade passa a ser decorrência da qualidade da informação e da capacidade do indivíduo responder adequadamente à novas e diferenciadas demandas, que impõe a construção de estruturas curriculares calcadas em sólida formação básica, na interdisciplinaridade, no uso intensivo das novas tecnologias da informação e da comunicação,na motivação para um comportamento empreendedor e na articulação com a inovação tecnológica e ainda estimuladoras da educação continuada, decisiva para um "emprego duradouro".

Para atender novos requisitos, as universidades estão se reestruturando, modernizando sua base laboratorial, estabelecendo novas formas de articulação entre as várias áreas de conhecimento, fortalecendo seus programas de pós-graduação e extensão e redefinindo suas formas de articulação com as empresas, tanto na realização de projetos de investigação que conduzam inovações, como na própria oferta de programas especiais de qualificação e atualização profissional.

Por outro lado, a empresa passa a ver a universidade como seu mais poderoso aliado na busca pela competitividade, na medida em que o crescimento da primeira é conseqüência da qualidade dos quadros originários da  segunda. Na sociedade do conhecimento, a empregabilidade e a educação estão umbilicadamente interligados.

Contrapondo-se ao artigo supra-citado podemos argumentar que a idéia de educação e formação para empregabilidade, requalificação e reconversão profissional , traduz-se na " Produção de cidadãos que não lutem por seus direitos e pela desalienação do e no trabalho, mas cidadãos participativos, não mais trabalhadores, mas colaboradores e adeptos ao consenso passivo (...) " (Frigotto,1997a,p.24).

Kuenzer (1997a) destaca que a defesa da ampliação das oportunidades de educação básica para todos,quer pelo capital, quer pelo estado, face sua vinculação com a empregabilidade, vem acompanhada de uma drástica redução dos postos de trabalho " (...) mostrando uma face perversa, servindo a escola de instância de seleção prévia notadamente de classe social, para  escolher os mais "educáveis" e,portanto, mais adequados às finalidades do processo produtivo."(Op.cit,p19). Essas propostas não estariam vinculadas com os espaços públicos e democráticos da sociedade, por não contemplarem nitidamente  a integração de um projeto econômico,político e cultural compatíveis com a geração de emprego e renda. (Frigotto,1997a).

Verifica-se quanto a Empregabilidade uma relação precipitada entre educação e manutenção ou conquista de melhores empregos ou ainda uma certa estabilidade no trabalho. Seguindo a Teoria do Capital Humano busca-se fazer uma educação voltada a atender às necessidades de mercado usando como estímulo uma virtual melhoria das condições de trabalho e renda pelo aumento da escolarização. Assim por essa concepção neoliberal de mercado só dependeria do esforço de cada um para se enquadrar ao novo perfil de empregado, seria mais um conceito de adaptação às  regras do modo de produção  a condição de estar empregado ou não. Ou seja , coloca a culpa do desemprego na falta de empenho do trabalhador em galgar melhorias em suas atividades laborais e não pela escassez de oportunidades num mercado restrito e competitivo, o qual remunera bem abaixo de sua força de trabalho, exigindo múltiplas habilidades e restringindo seus direitos trabalhistas ao máximo para obterem um lucro cada vez maior as custas dos seus operários e da sociedade.

Usa-se o termo Reconversão  Profissional associado ao Retreinamento , à Reciclagem ou à Requalificação da "população em idade economicamente ativa que se encontra desempregada",objetivando expressar ligações entre o "antigo emprego" e o "futuro emprego" a ser conquistado pelo trabalhador.(SENAI D.N.,1995,p.5).

A reconversão profissional é defendida pelo SENAI como um processo contínuo de atualização de conhecimentos, habilidades e atitudes"de um profissional adulto, tendo em vista a garantia de trabalho remunerado (empregabilidade) ao longo de vida economicamente ativa" (Op.Cit.,p.4).

Souza (1996a), apontando para o caráter ideológico presente nos discursos  sobre a reconversão profissional, ressalta que o projeto neoliberal ao se deparar com a quantidade imensa de desempregados produzida pela desregulamentação, liberalização e desestatização econômica, reclama da educação, em particular a de cunho profissional, ações que favoreçam o reingresso no mercado da mão-de-obra expulsa dos processos produtivos, como se o problema do desemprego atual fosse redutível à mera atualização ou recuperação de conhecimentos, habilidades e atitudes. ( Donaldo,1999,p.70).

Para Machado "A estreiteza e desequilíbrios do mercado de trabalho teriam muito mais a ver com o modo subordinado de inserção do país na dinâmica  do capitalismo mundial, com o padrão de acumulação implementado e a lógica de reprodução das desigualdades sociais."(1997,p.3).

Defende-se ainda a prática de parcerias da escola pública com o setor privado e, até mesmo, sua "adoção" por este setor (Oliveira,1996b,p.85), como forma de assegurar os parâmetros de competitividade, eficácia e eficiência.

Trata-se da busca de diferentes mecanismos que objetivam manter a subordinação do trabalhador  e da qualidade de sua formação aos interesses da valorização do capital (Frigotto,1995b,Machado,1996a,b;De Luiz,1997b) de impor uma limitação, também aos trabalhadores em educação das escolas públicas, no jogo da privatização da educação(Fidalgo,1996b,Oliveira,1996b) e, por último, de escamotear as contradições sociais, atuando desse modo enquanto ideologia a serviço do capital.(Silva Junior) .

Como foi intensamente posto , a empregabilidade tem  fundo ideológico que tenta administrar a possibilidade de o trabalhador pelo seu próprio esforço manter-se empregado, pela sua capacitação e facilidade de adaptar-se a novas situações, ter uma postura participativa e ao mesmo tempo submissa quanto ao ordenamento de suas funções e para se manter no emprego não reivindica melhorias nas condições de trabalho, tem postura pouco ética quanto aos seus companheiros , bajulador e sem a qualidade da solidariedade se transforma num faz tudo e pisa em seus colegas de profissão em troca de favores ou uma promoção no emprego a custa de uma competitividade desumana e doentia.

O próximo capítulo o tema a ser abordado é uma questão  difícil de ser respondida , fala sobre escolaridade/trabalho e sua possibilidade de equacionar positivamente esses fatores que no entanto não atendem a lógica de quanto maior o grau de escolarização mais fácil encontrar um emprego de qualidade e sustentabilidade nessa função.

CAPÍTULO IV

 

 

POR QUE A ESCOLARIZAÇÃO NÃO GARANTE

NECESSARIAMENTE O TRABALHO(EMPREGO)

NUMA ECONOMIA GLOBALIZADA?

Por que a escolarização não garante necessariamente o trabalho (emprego) numa economia globalizada?

 

 

Diversos fatores concorrem para  responder esse questionamento, dependem de fatores políticos, sociais e econômicos inseridos no contexto onde ocorre o fato.

" O mais grave na relação entre escola e a formação da classe trabalhadora no Brasil é que se fez de tudo para que o trabalhador não fosse educado, não dominasse a língua, não conhecesse sua história,não tivesse ao seu alcance instrumentos para elaborar e explicitar o seu saber, sua ciência e sua consciência." ( Miguel G. Arroyo)

Inicialmente, a Teoria do Capital Humano, foi uma estratégia de melhorar a qualidade da força de trabalho apenas o suficiente para atender os interesses do capital mais especificamente da classe dominante burguesa e não para uma evolução da classe trabalhadora e muito menos da sociedade como um todo. Consistia em ministrar uma educação básica em que os trabalhadores pudessem saber o suficiente a ponto de  beneficiar um produto mais bem elaborado, consequentemente mais caro, aumentando assim o lucro do empresário capitalista que no entanto não repassa esse lucro ao operário. Agindo desse modo se apropria da força de trabalho, o trabalho alienado faz o enriquecimento do empresário aumentando o seu capital e o poder de decisão na vida dos seus empregados tornando a relação profundamente desigual. No entanto o que se esperava da Teoria do Capital Humano era justamente o contrário. Que o trabalhador com uma maior escolarização, mais treinamentos,qualificando-se  para o mercado pudesse obter cargos melhores, um aumento de renda sensível , maiores garantias no emprego diminuindo assim as desigualdades sociais. O que se viu com o avanço tecnológico foi o aumento da competição em conseguir um mercado consumidor para os seus produtos ,com isso adquiriu-se máquinas que substituíram grande parte da mão-de-obra existente pois produziam mais em menos tempo e com uma maior qualidade. Além disso não precisavam de descanso, de direitos trabalhistas, não ficavam doentes e nem faziam greves. Colabora também para a desqualificação do trabalhadores pois a mão-de-obra que ainda tinha seus empregos ocupavam-se de detalhes da produção desconhecendo outras fases importantes para se obter o produto final e por essa limitação tornava o trabalho, monótono , repetitivo e de fácil substituição causando ao trabalhador problemas tanto físicos pela repetitividade das funções quanto aumentavam sua depressão por não terem um trabalho que lhes garanta uma flexibilidade nas suas atividades,de promoção e com muito deslocamento de mão-de-obra. O que não garante um bom salário e muito menos a estabilidade no emprego, surgindo assim um enorme exército de reserva de mão-de-obra qualificada ou semi-qualificada esperando uma oportunidade de ocupar uma vaga no mercado de trabalho. Em economias de países em desenvolvimento, onde a taxa de inflação é inconstante, o apoio empresarial é quase nulo e a sociedade ainda não é politizada ,desinformada e com altas taxas de analfabetismo, de juros altos o que força uma restrição exagerada de bens vitais a população como alimentos e remédios, recessão, alfabetismo funcional e outros problemas correlatos. Nesse caso, a situação se agrava muito pois as diferenças são muito mais evidentes. Grande parte da população está desempregada ou sub-empregada, poucos e maus investimentos em políticas públicas, grande caos político quase sempre ligados  a corrupção e fraude eleitoral e possibilidades de fácil manipulação dos países detentores do capital em influir nas grandes decisões, as quais o povo nunca participa e imenso poder nas mãos de empresários que na mais fria visão do neoliberalismo entendem como o capital ser algo mundializado o que justificaria a sua não empregabilidade no local onde ele é extraído mas sim onde tenha maior retorno, não é solidário apenas acumulador de riquezas e de poder.

A Teoria do Capital Humano , surge no bojo de condições históricas em que se configura a idade de ouro do desemprego(Gorz,1983) Na formação social onde a teoria teve sua gestação e seu desenvolvimento -E.U.A , contrariando Shults, postulava que o investimento em educação era o grande investimento que as pessoas podiam fazer nelas mesmas, tem-se hoje um quadro de aproximadamente 10 milhões de desempregados.

O instituto Battelle, de Frankfurt, indica por outro lado, que nos próximos anos as máquinas-ferramentas permitirão dispensar 30% dos operários de produção; já no setor de montagem ,os robôs poderam dispensar até 90% dos trabalhadores.

No âmbito dos serviços, o projeto escritório da SIEMENS assinala que a mini-informática, até 1990, poderia substituir até 30% dos empregados nos escritórios de grandes e médias empresas(Gorz,1983). A teoria encontra seu espaço de desenvolvimento, não apenas quando se patenteia uma desqualificação crescente do trabalho, como também se manifesta historicamente, de forma clara, a não-correspondência entre crescimento de produção e crescimento do emprego.

A organização de produção e do desenvolvimento do modo de produção capitalista não prega pela retomada ou ampliação dos investimentos, a  uma  redução de desemprego.No entanto os investimentos em novas tecnologias ceifadoras de mão-de-obra só servem para aumentar a concentração de capital, não servindo para melhoria de vida dos empregados.

Na sua dimensão mais ampla, a mediação da escola com o processo produtivo capitalista faz-se mediante o fornecimento de um saber geral articulado com o saber específico que se desenvolve no interior do processo produtivo, adotando uma ideologia necessária ao fortalecimento do domínio do capital sobre o social buscando atingir a um maior número de trabalhadores. O conceito de alfabetização funcional desenvolvido pela UNESCO e muito utilizado nos programas e contratos do banco mundial  expressa, nas condições históricas atuais , o nível de educação requerido é aquilo que A. Smith quis dizer, ao aconselhar educação para as classes populares , porém em doses homeopáticas.

No Brasil , a Teoria do Capital Humano, nos últimos 34 anos, não só permitiu o desenvolvimento de uma política educacional contrária aos interesses da classe trabalhadora,como também justificou, mediante a tese da equalização das oportunidades educacionais e da democratização do ensino, houve a concentração do capital na mão de uma fração cada vez menor, da classe burguesa aliada ao capital internacional.

A escola ,mediadora dos processos de seletividade social e criação de centros de excelência, prepara com o domínio aprofundado em diferentes ramos do conhecimento os intelectuais de diversos níveis(Gramsci,1979) que atuam como quadro de trabalhadores improdutivos, mas necessários à produção e realização da mais-valia, principalmente no âmbito de organização, planejamento, gerência, controle e supervisão da produção. Atuam principalmente para maximizar as condições de produção da mais-valia. O domínio aprofundado de diferentes saberes transmitidos na escola é fundamental nesta tarefa.

A escola cumpre também uma função mediadora no processo de acumulação capitalista, diante de sua ineficácia, sua desqualificação.Na medida que a escola é desqualificada para a classe dominada, para os filhos dos trabalhadores, ela cumpre,simultaneamente, uma dupla função na reprodução das relações capitalistas de produção: justifica a situação de explorados e,ao impedir o acesso ao saber elaborado e históricamente acumulado quanto por negar o saber social produzido coletivamente pela classe trabalhadora no trabalho e na vida.

Como assinala Gramsci, em determinadas circunstâncias históricas, funções parasitárias podem tornar-se necessárias dentro da sociedade capitalista.O prolongamento da escolaridade desqualificada pode cumprir esta função, tendo como efeito produtivo tanto o represamento de um exército de reserva funcional à extração da mais-valia, quanto como válvula de escape das tensões sociais.

A classe trabalhadora não é desprovida de saber nem de consciência. A luta fundamental capital-trabalho, que é primeiramente uma luta pela sobrevivência material, é também uma luta por outros interesses, dentre esses, o acesso ao saber elaborado e sistematizado e cuja apropriação se dá dominantemente na escola .

A educação,então, pode não ser garantia de empregabilidade porém com certeza as chances das pessoas menos escolarizadas caem absurdamente ao pleitiarem uma vaga de carteira assinada,com seus direitos trabalhistas garantidos, ou seja, uma ocupação formal dentro de uma sociedade neoliberal globalizada. 

Gintis, ao refutar o vínculo existente entre a escolaridade e o salário, enfatiza a relevância da formação de atitudes requeridas pelo mercado de trabalho.

"Na realidade a escola contribui para formar uma força de trabalho socialmente requerida inculcando uma mensalidade burocrática aos estudantes"

(Gintis,1971)

A escolarização, de acordo com Gintis, " que influi de maneira considerável sobre a personalidade dos indivíduos, é reduzida progressivamente ao seu papel funcional : ela favorece as condições psicologicamente requeridas para formar a força de trabalho alienada que é desejada". (Gintis,1971).

A organização escolar,em seus principais aspectos, é uma réplica das relações de dominação e submissão da esfera econômica.

Por mais que o indivíduo conheça as técnicas de informação, tenha um nível de letramento avançado, uma escolarização nas melhores  instituições de ensino,não o garantirá necessariamente no mercado de trabalho formal numa sociedade neoliberal globalizada. Vários fatores concorrem de modo a fragilizar o ingresso de jovens nessa economia tão afuniladora.Tais como as tecnologias aplicadas que necessitam de pouca mão-de-obra para serem operacionalizadas, além da facilitação do acesso e entendimento dessas tecnologias, o que causará um aumento da demanda de trabalhadores aptos a dominar essas tecnologias formando um contigente cada vez maior de pessoas concorrendo a uma mesma vaga.

O aumento da escolarização, por si só, não é fator que possa influir decisivamente na hora de conseguir um trabalho (emprego).Primeiro a economia tem que estar em crescimento, com um planejamento governamental visando conter a inflação que torna insustentável qualquer crescimento econômico, cabar com a especulação financeira e a sonegação de impostos. Importante também são as políticas públicas com relação à saúde do trabalhador,tanto física quanto mental. Sabe-se que a falta de oportunidades de emprego causa um desgaste muito grande a auto-estima do ser humano e a própria imagem do governo. Calcula-se que há 20 milhões de brasileiros ditos "normais" que estão desempregados ou sub-empregados e ainda pelas estatísticas do IBGE (2000) estimam que existam 15 milhões de pessoas portadoras de necessidades especiais e que possivelmente 9 milhões estariam em condições de exercer uma atividade produtiva remunerada. Para enfrentar essa situação, não basta apenas a escola fazer a sua parte, a sociedade como um todo tem que resgatar o conceito de cidadania participante, para romper esse paradigma econômico-social denominado neoliberalismo. Medidas são necessárias, e muitas delas são evidentes, segurança pública comprometida com a população, trabalho e educação nas penitenciárias, tratamento digno aos mendigos , aos moradores de rua ,as crianças abandonadas e as que trabalham para ajudar os pais.

Recuperação das verbas desviadas e sua aplicação em saúde e educação, investimentos em políticas públicas eficazes como medidas equalizadoras na distribuição de renda justa e igualitária. No somatório de medidas simples porém de relevancia dependem a sustentação da empregabilidade no Brasil e no mundo. Não dá mais para separar a economia, com a globalização , a competição é muito mais acirrada já que não só atende ao mercado interno mas sim o mundial, dependemos das variações do euro e do dólar, da variação das bolsas de valores, do preço internacional do barril de petróleo, das políticas exteriores que  interagem a todo momento com a nossa e vice-verso. No entanto adaptação não quer dizer submissão, evidentemente precisa haver uma melhoria sensível nos políticos brasileiros, nas três esferas do governo, ou seja , no Legislativo, no Executivo e no Judiciário . Também é preciso fazer um trabalho intenso de educação ,de base democrática, na população, fortalecendo conceitos de cidadania, letramento, envolvimento social e político  para que todos assumam seus direitos e deveres calcados na educação.

Paulo Freire proferiu o seguinte dizer:

" A educação deve ser antes de tudo um ato libertador."

E ainda:

“O exercício de pensar o tempo, de pensar o conhecimento enquanto se conhece,de pensar o quê das coisas, o para que, o como, o em favor de que,de quem, o contra que,o contra quem, são exigências fundamentais de uma educação democrática à altura dos desafios do nosso tempo" .(Paulo Freire, Seminário Internacional de EJA,1996)

Portanto não basta focalizar somente o trabalho, a formação para o trabalho nas escolas e instituições de ensino,é importante abranger os pontos de vista de uma educação emancipadora, conscientizadora do valor da cidadania para lutar pelos seus direitos e respeitar os seus deveres de cidadão

Não quer dizer que a educação não influêncie para se conquistar uma vaga no trabalho formal e muito menos que a escolarização não ajude na mobilidade no emprego, no entanto, muitos fatores contribuem para que a educação e a escolarização não sejam fundamentais para a empregabilidade,  muitas pessoas com baixa ou nenhuma escolaridade conseguem grandes fortunas com trabalho informal, um número pequeno em relação a população de  miseráveis que passam fome e não têm nenhuma expectativa em se tornar empregável muito menos bem sucedidos. Prova que  alguns conseguem superar este fator limitante que é a falta de escolaridade, casos raros que mostram Ter habilidades adquiridas fora da instituições formais de ensino. Há um número considerável de indivíduos que não possuem um trabalho fixo,vivem de "bicos", trabalhadores eventuais,ambulantes, pessoas com instrução mas sem emprego formal se sujeitam a enfrentar filas enormes para empregos de nível mais baixo que sua escolaridade ,mas pela falta de mercado em sua formação intelectual os fazem escolher empregos temporários até surgirem novas vagas em suas  especialidades.

"Há muitos que pensam na educação para a classe trabalhadora como uma educação exclusivista. É trabalhador? Então vai ser operário, ele precisa de uma educação técnica,precisa ser instruído, não educado; ele precisa ser adestrado, não polido, intelectualizado!(...) Por que os que são proprietários dos meios de produção têm capacidade de comandar, a arrogância de mandar etc? Porque eles aprendem nas escolas uma educação de classe e adquirem uma cultura geral que é uma cultura formativa. Temos de dar ao trabalhador essa mesma educação. O trabalhador precisa conhecer o mundo, explicar o mundo e, para isso, não basta lhe dar adestramento"    (id.,1989,p.9)

Vários concursos públicos surgem como saída da crise de desemprego que assola o país. No entanto apesar da estabilidade ,há um pequeno número de vagas o que não atende a grande procura desses concursos. E cada vez mais fica difícil pois a competitividade aumenta, chega ao absurdo de pessoas com o nível superior concorrerem em vagas para o nível elementar assim praticamente assegurando um emprego na teoria seguro mesmo não atendendo suas pretensões de salário nem sociais.

Muitos outros pontos a serem abordados como sustentabilidade e trabalho, trabalho e educação ambiental, trabalho e programas sociais que serão tratados em outra oportunidade.

CONCLUSÃO

 

 

 

Dos capítulos estudados, despreende-se que a escola não deve se  limitar a educar ou melhor dizendo a preparar para o trabalho. Servindo de reprodução da classe dominante por meio da perpetuação dessa classe no poder indefinidamente. Essa segregação se torna clara quando para a maioria da população tem acesso somente às instituições públicas que por razões políticas estão sucateadas e   desmotivadas por falta de investimento, má-fé dos políticos dirigentes ou por absoluta incompetência dos mesmos que conta a favor para dominação de um sistema separatista, elitista e mantedor das castas sociais que é o sistema neoliberal globalizado. Portanto uma educação precária grande parte da população se submete a obedecer o que manda o mercado mundial, ou seja, com a escasses de empregos todos têm que se esforçarem ao máximo para se tornarem "empregáveis". Assim se consegue uma mão-de-obra cada vez mais especializada e o que é melhor na ótica do empresariado muito mais barata devido a grande concorrência de pessoas desempregadas e desesperadas a busca de um emprego de carteira assinada. Com isso o lucro das empresas aumentam consideravelmente pois existe mão-de-obra abundante,mercado consumidor para adquirir seus produtos frutos da exploração operária, um governo conivente que mantém a educação a níveis degradantes para os filhos da classe dominada e não investe profundamente em políticas públicas. Já os detentores do poder investem pesado na formação de seus filhos e parentes preparando-os para futuramente ocuparem o lugar que o "destino" propicia a eles que é o comando das empresas e destinos de uma massa insipiente de trabalhadores reprodutores do capital seja ele nacional ou internacional que continuarão não usufruindo do produto do seu trabalho, no máximo, ficando com um pequeno estímulo que é a participação dos lucros que são calculados pelos contadores da empresa ou do mercado financeiro que não correspondem ao real valor de trabalho desempenhados na sua função.

As instituições de ensino devem oferecer uma educação alternativa ao sistema atual . Que priorize a formação do cidadão, de forma contextualizada, dando oportunidades para que seu corpo discente possa se manifestar sobre sua cultura, seus hábitos e suas ideologias. Desse modo construindo e recontruindo pensamentos é que poderemos incentivar as pessoas a se emanciparem das condições reprodutoras da realidade dominante que hoje impera.

A escola não cabe fazer uma transformação social, cabe sim a ela informar os meios de como atingir a essa conquista que não é fácil e nem vai ser rápida. Não basta apenas mudar o exterior, é uma ação profundamente reflexiva, o ser humano tem que interiorizar pensamentos de solidariedade, internalizar a educação não como um gesto trasformador da realidade mas sim de difusão filosófica de transformação interior. Quando cada um respeitar os direitos dos outros , nesse momento a educação terá evoluído imensamente.

Como disse Frigotto (1995) " A atual crise do trabalho real tem propiciado análises que afirmam a crise do trabalho e o fim de sua centralidade."

Afinal ,o trabalho deve mediar o bem viver para o homem e não sugá-lo até tirar sua última gota de sangue. Deve ser usado para bens e serviços que possibilitem a emancipação do ser humano.

Faltaram muitos assuntos que poderiam ser facilmente arrolados mas como na filosofia " o trabalho não se esgota em si" (J.L, 2005) , outros estudos virão a sequenciar este com outras problematizações com muito mais profundidade. O difícil mesmo é acabar com a exploração do homem pelo homem.

Embora esta monografia tenha se originado em 2005, o tema ainda é bem atual. Mesmo que as pessoas consigam estudar em boas escolas, seguindo ritmo normal de estudos de um país desenvolvido chegando ao mestrado ou doutorado não garante empregabilidade no País. Lógico que entre a grande massa da população altamente restringida em seus direitos de acesso à educação as chances dos cidadãos privilegiados que puderam estudar de obterem emprego é obviamente muito maior. Hoje em 2013, a escolarização já melhorou muito, no entanto ainda está longe da dos Países desenvolvidos. Porém se pensarmos que o Pais é jovem em termos de Educação histórica , que foi colônia de exploração, que enfrentou uma ditadura, que nossos tão afamados políticos não têm tradição de valorizar a educação, a cultura, a saúde . Para eles são despesas muito grandes e não dão retorno político esperado. No entanto uma grande aplicação de recursos nestas pastas fariam o que podemos denominar de investimento seguro, pois pessoas mais esclarecidas , se cuidam melhor e diminuem despesas médicas, podem colaborar diretamente com o desenvolvimento do País.

 

 

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