A geração de empregos pelas siderúrgicas, fato incluído na lista dos possíveis impactos positivos decorrentes da operação dessas empresas, também se mostrou pouco significativa no que se refere à possibilidade de impulsionar processos de desenvolvimento local. Foram criados aproximadamente 14 mil empregos, cujo vínculo trabalhista foi estabelecido com as próprias empresas ou por contratos estabelecidos por intermédio de outras firmas.

Quanto aos acidentes de trabalho, coletamos os depoimentos de funcionários e de profissionais responsáveis pela saúde e segurança no trabalho:

Nas conclusões de nossas investigações de acidentes de trabalho chegamos na maioria das vezes em atos inseguros. Estes podem acontecer por excesso de confiança, descuido ou por não usar os equipamentos de proteção individual (EPI) que lhe são entregue gratuitamente.  Estes EPI’s na maioria das vezes são aprovados primeiramente pelo SESMET e posteriormente por eles mesmos. Estamos trabalhando sistematicamente neste assunto e temos tido excelentes resultados e a prova disto são reduções nos acidentes de trabalho.  Em uma Siderúrgica como a Sinobrás que se subdivide em 4 outras que são: Altos Fornos, Aciaria, Laminação e Trefila (Em processo de implementação), e que nestas temos distribuídos mais de 835 colaboradores tivemos neste ano 8(oito) acidentes sem qualquer tipo de afastamento (SPT) do colaborador, e 2(dois) acidentes com afastamentos sendo 1(um) na área Administrativa e o outro na área industrial. Este número de acidentes representa 1,20% em relação ao nosso numero de colaboradores. Ficamos 281 dias sem acidentes com afastamentos em nossa empresa e não estamos satisfeitos com estes valores, pois a nossa meta e o acidente é ZERO. Este número esta cada vez menor, mesmo com as constantes contratações. Hoje (22/06/09) a gerencia de Alto Forno completou 1 ano sem acidente com afastamento. A nossa área Industrial se divide em 24 células, e de todas estas apenas 3 (três) estão a menos de um ano sem acidente com afastamento. (Entrevistado A, p. 2-3, ls. 93 a 117).

A incapacidade da força de trabalho demandada pela siderurgia para impulsionar processos de desenvolvimento local não se deve, fundamentalmente, ao número relativamente pequeno de empregos. O aspecto importante a considerar é o fato de a formação requerida pelos trabalhadores envolvidos na extração e na transformação industrial de minerais ter laços muito delicados se é que existem com o conhecimento das especificidades locais e regionais. Por conseguinte, os processos de formação de capital humano associados às atividades mínero-metalúrgicas não são capazes de estabelecer sinergias voltadas para a apropriação, o aprimoramento e a difusão de conhecimento implícito não formalizado em livros ou manuais, regionalmente acumulado. A força de trabalho encontra dificuldades em romper os limites do capital. “O mecanismo social de produção composto de muitos trabalhadores parciais individuais pertence ao capitalista” (MARX, 1996, p. 474).

Assim, o mercado de trabalho da siderurgia, mesmo recorrendo à contratação de força de trabalho local, está assentado em relações que pouco têm contribuído para o estabelecimento de processos de desenvolvimento de base local, dependentes e formadores de capital humano.

Quanto às questões referentes aos profissionais designados para exercer as atividades de saúde e segurança no trabalho, através de pesquisa de campo, obtivemos a seguinte declaração de um deles:

A Sinobrás oferece todos os equipamentos necessários para a execução de suas atividades, independente de valores. Somos uma empresa pequena, mas anualmente é feito um investimento de R$ 720, 000,00 ano em equipamentos de proteção individual. Investimos aproximadamente R$ 100.000,00 em nossos dispositivos de bloqueio que fazem parte de nosso PCEP(PROGRAMA DE CONTROLE DE ENERGIAS PERIGOSAS). Toda a nossa rede elétrica e correias transportadoras têm chaves de emergências que protegem primeiramente pessoas e conseqüentemente evitando danos maiores ao patrimônio da empresa. Temos um equipamento que nos custou mais de R$ 100.000,00 que evita que nosso colaborador se exponha a um dos maiores riscos nas atividades no Alto Forno. Esse equipamento (perfuratriz) executa a tarefa do forneiro no vazamento do gusa liquido no forno. Outro investimento em segurança e relaciona as EPI'S. Os uniformes de nossos eletricistas são diferentes dos demais colaboradores, pois este os protege de possíveis arcos elétricos que podem ocorrer em suas atividades, sejas elas nos riscos 2 ou 3. Qualquer colaborador da SINOBRAS seja ele um diretor ou um ajudante de produção não adentra áreas que possam oferecer risco de projeção de materiais incandescentes sem estar devidamente protegido com roupas Anti-Chamas.  A possibilidade disto ocorrer é remota, mas estamos sempre nos antecipando aos riscos. (Entrevistado A, p. 2, ls. 68 a 89).

Percebe-se na fala do funcionário que se trata de pessoa bastante informada sobre as questões da empresa, ele cita alguns dados que não estão disponíveis em outros lugares. Refletindo, assim a postura empresarial. Embora as empresas siderúrgicas possuam alternativas, existe um significativo número de trabalhadores, principalmente da área operacional, que reclamam a necessidade de mais segurança. O depoimento de um funcionário que trabalha em uma das empresas siderúrgicas de Marabá expressa a sua indignação em relação à segurança do trabalho:

Cuidado mesmo com a Segurança do Trabalho não tem, essa empresa tem bastante recursos, é um grupo de elite que a administra, mas não se nota interesse nenhum por parte deles com a Segurança do Trabalho, é uma verdadeira falta de consciência. Outro dia, entrei na sala dos técnicos de segurança e o técnico de segurança, o Rocha estava falando que muitas coisas já tinham melhorado lá, mais não percebo mudança nenhuma, e olha que trabalho ali desde a sua construção. Só pra ter uma idéia, nem um plano de saúde a empresa paga. Outro dia um funcionário da empresa passou mal e foi às pressas para o médico e o médico questionou os funcionários não usarem o plano de saúde que segundo ele nos temos nos papéis mais não temos de fato. Olha lá não tem um carro para prestar atendimento de emergência, certo dia um trabalhador caiu do rodeio onde fica a lingoteira que é em média uns três metros de altura e um técnico teve que levar o trabalhador todo machucado em uma caçamba. Pense comigo, nós temos 02 (dois) alto fornos e outro dia choveu e virou simplesmente um verdadeiro lamaçal entre eles, os funcionários estão trabalhando dentro da lama. É um monte de barro, correndo um risco seríssímo de acidente e até de vida porque já trabalhamos num setor de risco, com coisas quentes e imagine ainda nessas condições, olha na minha escala de serviço não tem ninguém da segurança, nem um técnico. (Entrevistado D, p. 1, ls. 20 a 40).

No que se refere à CIPA, o profissional entrevistado relatou as seguintes atividades desenvolvidas: Podemos dizer que esta entrevista, revela com mais ênfase, a posição dos trabalhadores. Na fala desta entrevista, demonstra ser uma pessoa que vive inserida no processo de trabalho e procura desenvolver uma percepção mais crítica. E podemos, dessa forma, entender que a CIPA nesse local é mais para cumprir a lei.

As atividades da CIPA na empresa são muito poucas. Só para você ter uma idéia os EPI’s nunca é o suficiente, um dia tem bota outro dia não tem, um dia tem capacete outro dia não tem, um dia tem luva outro dia não tem, eles são muito negligentes nessa parte, não funciona. Olha nós temos um Engenheiro de Segurança na Siderúrgica que só vai lá na usina para pegar o pagamento, ele tinha que exercer a função do seu papel, porque na siderúrgica é de grande risco e ele não exerce sua função. Além dos técnicos de segurança tem os suplentes parece. Olha eu não sei, eu trabalho a 05 (cinco) anos na empresa e nunca participei de nenhuma reunião da CIPA e nem da administração e é porque sou encarregado mais nunca fui convocado para uma reunião. (Entrevistado D, p. 2, ls. 57 a 77).

Verificamos junto a esses depoimentos que o setor siderúrgico em Marabá precisa passar por um processo de modernização das relações de trabalho, compreendendo-se como sendo um setor que mesmo em meio a uma crise econômica considerável conseguiu reunir esforços para superá-la, pelo menos parcialmente.

Esta modernização passa pela necessidade de atuação do sindicato das empresas siderúrgicas e uma maior fiscalização do poder público local no que se refere às condições de insalubridade e de segurança nos locais. Através das entrevistas e das pesquisas de campo, desenvolvidas junto às empresas, notamos a necessidade, inclusive, de um diálogo mais aberto entre patrões e empregados, no sentido de dar sustentação aos benefícios da CIPA e de reconhecer a sua importância no contexto se saúde e segurança no trabalho.

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