Miríades por toda a eternidade
Publicado em 05 de novembro de 2009 por Marcos Miliano
O
artigo faz uma análise do trabalho de E. P. Thompson, e identifica elementos que
permite um estudo do contexto histórico atual por um a comparação com a
história inglesa. Faz uma crítica à utilização de sinterizações do método
thompsoniano. Nesse contexto, uma das questões teóricas tratadas por Alexandre
Fortes diz respeito a uma releitura das diversas interpretações sobre o
mutualismo no movimento dos trabalhadores, pela percepção de que as organizações
mutualistas são nocivas para o desenvolvimento de uma consciência de classe.
Fortes
se aproveita da formulação clássica de E. P. Thompson, quando diz que a classe
se forma à medida que “classe acontece quando os homens articulam seus
interesses entre si e em oposição a outros” foi reformulada em trabalhos
posteriores para “classe acontece quando os homens e as mulheres articulam
seus interesses entre si [...]”. Na avaliação dele, um dos grandes problemas da
história do movimento operário tem sido a articulação entre o primeiro elemento
“identificação de interesses entre si”, e o segundo, “identificação de
interesses em oposição a outros”. Para ele, é largamente difundida a idéia de
que o nível de conflito com “os outros”, particularmente com a burguesia, seria
o único indicador de consciência de classe. Por outro lado, esforços de crítica
a esta identificação unilateral entre conflito e consciência de classe tendem a
permanecer presos à dicotomização entre estratégias conflitivas e estratégias
não conflitivas.
Alexandre
Fortes explica que, embora o sindicalismo assegurasse aos trabalhadores
instrumentos para lutar pela efetivação de seus direitos, estava muito aquém de
representar plenamente a dimensão e os potenciais colocados na configuração de classe.
No entanto, afirma, sem estarem imunes às tensões e contradições apontadas,
outras cadeias de representação e canalização de demandas, de maior ou menor
organicidade, articulavam-se também no universo da
participação
partidária.
E, mais,
lembra que, para um trabalho que reivindica inspiração thompsoniana, a luta de
classes em geral faz nele apenas uma pálida figuração, com os capitalistas
estando completamente ausentes. Já o Estado, ao invés de uma estrutura
político-institucional que serve de cenário a uma forma particular de exercício
de hegemonia de classe, estaria comparecendo nas conclusões como um ator
unívoco, capaz de estabelecer, em nome próprio, pactos com uma classe operária
cujos contornos eram por ele mesmo definidos.
Conclusão
Em termos
de inspiração teórica, o trabalho se inscreve na melhor escola da história
social, liderada por E.P. Thompson. É mais uma confirmação da grande influência
desse historiador inglês no estilo e no modo de interpretar de gerações de
historiadores e cientistas sociais brasileiros nos últimos trinta anos, o que
resultou, para nós numa releitura da história dos trabalhadores no Brasil, conseguimos
atribuir importância às experiências de classe, tanto no cotidiano como na
construção de formas diferenciadas de resistência política.