O artigo faz uma análise do trabalho de E. P. Thompson, e identifica elementos que permite um estudo do contexto histórico atual por um a comparação com a história inglesa. Faz uma crítica à utilização de sinterizações do método thompsoniano. Nesse contexto, uma das questões teóricas tratadas por Alexandre Fortes diz respeito a uma releitura das diversas interpretações sobre o mutualismo no movimento dos trabalhadores, pela percepção de que as organizações mutualistas são nocivas para o desenvolvimento de uma consciência de classe.

 

Fortes se aproveita da formulação clássica de E. P. Thompson, quando diz que a classe se forma à medida que “classe acontece quando os homens articulam seus interesses entre si e em oposição a outros” foi reformulada em trabalhos posteriores para “classe acontece quando os homens e as mulheres articulam seus interesses entre si [...]”. Na avaliação dele, um dos grandes problemas da história do movimento operário tem sido a articulação entre o primeiro elemento “identificação de interesses entre si”, e o segundo, “identificação de interesses em oposição a outros”. Para ele, é largamente difundida a idéia de que o nível de conflito com “os outros”, particularmente com a burguesia, seria o único indicador de consciência de classe. Por outro lado, esforços de crítica a esta identificação unilateral entre conflito e consciência de classe tendem a permanecer presos à dicotomização entre estratégias conflitivas e estratégias não conflitivas.

 

Alexandre Fortes explica que, embora o sindicalismo assegurasse aos trabalhadores instrumentos para lutar pela efetivação de seus direitos, estava muito aquém de representar plenamente a dimensão e os potenciais colocados na configuração de classe. No entanto, afirma, sem estarem imunes às tensões e contradições apontadas, outras cadeias de representação e canalização de demandas, de maior ou menor organicidade, articulavam-se também no universo da

participação partidária.

 

E, mais, lembra que, para um trabalho que reivindica inspiração thompsoniana, a luta de classes em geral faz nele apenas uma pálida figuração, com os capitalistas estando completamente ausentes. Já o Estado, ao invés de uma estrutura político-institucional que serve de cenário a uma forma particular de exercício de hegemonia de classe, estaria comparecendo nas conclusões como um ator unívoco, capaz de estabelecer, em nome próprio, pactos com uma classe operária cujos contornos eram por ele mesmo definidos.

 

Conclusão

 

Em termos de inspiração teórica, o trabalho se inscreve na melhor escola da história social, liderada por E.P. Thompson. É mais uma confirmação da grande influência desse historiador inglês no estilo e no modo de interpretar de gerações de historiadores e cientistas sociais brasileiros nos últimos trinta anos, o que resultou, para nós numa releitura da história dos trabalhadores no Brasil, conseguimos atribuir importância às experiências de classe, tanto no cotidiano como na construção de formas diferenciadas de resistência política.