Mirando o Futuro
Dr.Wagner Paulon
1986 -2008

Quando se pergunta aos pais o que mais gostariam que seus filhos tivessem na vida, a resposta normalmente é "felicidade". Mas onde está a felicidade e como podemos ajudar nossos jovens a alcançá-la? Ajudando-os a tornar-se financeiramente seguros? Cuidando da saúde deles? Protegendo-os da tragédia e do infortúnio? Certamente poderemos fazer esforços nesse sentido, mas neste mundo imprevisível não podemos ter certeza de um sucesso mais que temporário.

Muitos dos desafios que os jovens futuramente terão que enfrentar e muitas das adaptações que terão de realizar são impossíveis de predizer: para reconhecer isso, basta olhar as estimativas do último ano, feitas por especialistas, acerca de como seria o mundo de hoje. Mas se os pais não podem proporcionar aos filhos um plano para o futuro, nem lhes prescrever como devam viver a própria vida, que mais podem fazer?

Se olharmos para a realidade sem qualquer preconceito, parece-me que o melhor que podemos fazer com relação a nossos filhos é procurar desenvolver neles um sentido claro e seguro de identidade própria e um compromisso com algum sistema de valores básicos. Sem isso, a existência humana terá pouco significado ou propósito reais. A vida traz muitas crises e decepções. Mas os jovens emocionalmente maduros — capazes de alcançar uma integração eficaz de suas próprias necessidades e desejos, de sua consciência e de seus ideais, e as demandas do mundo real — estarão muito mais bem preparados para enfrentar os inevitáveis "altos e baixos do destino" do que os jovens imaturos, rígidos e inflexíveis, ou indefinidos e auto-indulgentes, ou neuróticos.

Ser "mentalmente são" não significa ser capaz de atravessar a vida sem conflito. Ninguém pode evitar os conflitos entre suas próprias necessidades, objetivos e desejos e as demandas da realidade, ou entre necessidades internas opostas; seja como for, uma parcela razoável de conflito costuma servir como impulso para maior crescimento e desenvolvimento pessoal. O que os pais podem e devem fazer é ajudar os filhos a aprender a tolerar uma quantidade razoável de conflito e frustração e lidar eficazmente com eles, a ser realistas e moderados em suas necessidades e medos.

Perguntaram certa vez a Sigmund Freud, o que entendia ele por maturidade emocional. Ele respondeu: "Lieben und arbeiten" — a capacidade de amar e trabalhar. Ao amarmos genuinamente nossos filhos (o que certamente não previne momentos de frustração e irritação aguda), ao valorizá-los e respeitá-los como pessoas, ao desfrutarmos de sua companhia, ao sermos dignos de sua confiança, podemos ajudá-los a tornar-se capazes de amar e de confiar nos outros.

Ao encorajar nossos filhos e filhas a serem independentes, competentes, confiantes e responsáveis, podemos ajudá-los, nas palavras de Freud, "a trabalhar" — isto é, prepará-los para enfrentar os desafios das cambiantes demandas vocacionais e para assumir as responsabilidades de cidadãos. Como vimos, esta tarefa é mais bem realizada por pais "competentes" ou "democráticos" do que por pais autoritários ou indulgentes, ultratolerantes em suas práticas educativas — e certamente não sendo remissos nem indiferentes.

Mas numa sociedade moderna não se pode esperar que os pais sozinhos façam todo o trabalho. As crianças precisam de cuidados nutricionais e de saúde adequados; precisam crescer em locais decentes; precisam estar cercadas de amigos e adultos que lhes possam proporcionar modelos bem sucedidos de comportamento social responsável. E precisam de boa educação, que possa estimular e desenvolver suas capacidades naturais e prepará-las para carreiras compensadoras e para serem cidadãos responsáveis.

Finalmente, quando se tornam adultos jovens, os indivíduos precisam encontrar emprego e ser aceitos como membros capazes da sociedade.