Com a mídia nos deixando a par de todos os acontecimentos do mundo, vejo o horror de milhares de migrantes de todas as idades fugindo dos horrores de países da África, Síria e outros países do Oriente Médio, fugindo da violência, da miséria e da fome, caminhando famintos, desesperados e sem rumo pelas estradas, fitando um horizonte distante, sonhando com a ajuda de outros povos para poderem viver com dignidade. Muitos ajuntados em barcos superlotados, caindo e morrendo nas águas geladas do mar, outros em terra tentando atravessar cercas de arame farpado, outros morrendo eletrocutados nas cercas eletrizadas que dividem alguns territórios. São pessoas anônimas, e muitas perderam a vida para entrar numa história também anônima, que cairá no esquecimento. Em meio a tudo isso eu vi ontem a imagem do pior e mais impiedoso dos acontecimentos: enquanto soldados batiam com cassetetes nos refugiados para que recuassem, um dos migrantes, um homem sírio, era chutado por uma desalmada cinegrafista húngara.

Pasmem! Estamos no décimo quinto ano do século XXI, e as barbaridades pouco diferem dos conflitos das Guerras Púnicas, de mais de duzentos anos a.C. Apesar de toda a evolução técnica, o mundo parece estar em pleno retrocesso espiritual por falta de amor a próximo. 

De repente, ali sentada no sofá assistindo ao telejornal, por favor me entendam; não comparando, mas num flash-back mental eu voltei aos terríveis tempos do detefon; voltei aos meus nove, dez anos de idade, quando olhava pelas janelas laterais da minha casa nos dias de limpeza geral. Lembrei-me das cenas chocantes do massacre das baratas, que fugindo dos horrores do terrível inseticida, procuravam refúgio em qualquer lugar, e ainda eram escorraçadas e mortas com a vassoura. Infelizmente era uma violência necessária, porém chocante, e eu nunca esqueci. Felizmente isso hoje pode ser feito com dignidade. Infelizmente também, com muitos seres humanos a violência continua. 

Eu entendo que todos os seres viventes merecem respeito e nada nos dá o direito de maltratá-los. Até mesmo de pessoas perniciosas e indesejáveis à sociedade podemos nos livrar, mas de uma forma justa e respeitosa.

Não há mais palavras que eu possa usar para descrever a tristeza que eu e muitas outras pessoas sentimos, ao ver tanta falta de amor aos nossos semelhantes diante de um quadro tão dramático como o desses refugiados errantes, enquanto os países ricos a tudo assistem sem nada ou quase nada, fazerem. Apenas o povo, em iniciativa privada tem ajudado e o Papa, em suas mensagens, tem chamado a atenção do mundo no sentido de darem as mãos a esses nossos irmãos despatriados. Com certeza a cúpula do mundo rico está mais preocupa com o próximo evento social ou atlético dos seus países. Aí sim, se abrirão as comportas e escoarão rios de dinheiro para se providenciar o que for preciso. Sofrimento e morte de migrantes pobres e problemáticos, a mídia registra. Apenas fará parte da História.

O que passa passou, e logo passará. É como dor de parto; logo cai no esquecimento até a chegada da próxima.

Autora: Júnia - 20/9/2015