Tive vários. Desde cachorros e gatos até jabutis, tartarugas, tracajás e peixes ornamentais, sem falar de periquitos, papagaios, curiós e o derradeiro deles, um galo pedrês.

O primeiro que eu me lembro, era na verdade mais de meu pai, eu só tinha uns sete, oito anos de idade. O Veludo, um cachorro, digamos, vira-lata, sem pedigree ou raça definida, simplesmente um cachorro. Pelo nome a ele atribuído – Veludo – pode-se concluir que a sua pelagem era um preto macio e liso de cauda espessa e também preta. Morávamos nessas ocasião na Vila Judith, na trav. Arciprestes Manoel Deodoro, Belém, Pará. A bem da verdade, como disse no início, ele era meu pai que o tratava com todo o cuidado, porém, o considerava um animal mais de guarda do que companhia. Tinha a sua casa, que meu pai mesmo construiu e localizava-se no pequeno quintal de onde ele não saia, ou seja, não entrava nos aposentos. Um pequeno portão na saída da cozinha feito exatamente para isso o impedia. Ele que cuidava dando-lhes alimento, água e o asseando de vez em quando. O Veludo foi famoso. Certa vez, um gatuno tentou entrar no quintal escalando o muro. Para atrair e distrair o Veludo, jogou-lhes uma comida ao chão. Porém, o animal não comeu a isca jogada, pois estava acostumado à só comer em um lata – aquelas de goiabada peixe – e continuou a latir copiosamente, o que fez meu pai acordar e afugentar o ladrão de galinhas que se mandou rapidamente. Quando em 1958, fomos morar no Rio de Janeiro, visto que meu pai, militar que era, fora transferido, o Veludo ficou sob a guarda de um tio, o Tio Prado. Pra encurtar a história, ao retornarmos para Belém, alguns anos depois, o Tio Prado mostra pra família, um recorte de jornal da época em que aparecia a foto do Veludo e suas qualidades caninas enaltecidas. Já alguns anos adiante, quando passamos a morar em casa própria, na rua Veiga Cabral, papai mandou fazer uma portinhola de tamanho adequado para o Veludo passar. Isso só acontecia no final do dia ou quando a casa ficava sem ninguém. O animal era solto e assim atravessava do quintal até a garagem e a frente de casa, cumprindo toda a sua área de ronda. Quando o Veludo se foi, guardei comigo a sua última corrente de metal, que em 1965, durante uma viagem-aventura da família pela estrada Belém-Brasília em direção ao sul do Brasil, resolveu um pequeno acidente no automóvel DKW Vemag em que íamos. O silencioso do veículo bateu na lama endurecida entre as valas formadas pelas rodas dos veículos maiores, especialmente caminhões de carga, que dominava o trecho ainda não asfaltado. Um ruído quase ensurdecedor passou a perturbar a todos. Depois de várias paradas para amarrar o dito acessório com uma corda que se partia logo em seguida, lembrei da dita corrente que tinha embarcado no porta malas – acho que foi a partir daí que a boa máxima cultivada por mim até hoje – Isto vai servir para alguma coisa! – me acompanha. Foi a solução até a chegada em Anápolis, Goiás, a primeira cidade que tinha recursos disponíveis para um conserto profissional do carro. Foi o que foi feito.

Os jabutis, tartarugas e tracajás eram todos filhotes, certamente nem um ano de idade tinham. Eram enviados pela minha saudosa vovó Clarice, de Maués, Amazonas como presentes aos netos, quando de lá minha também saudosa mãe chegava. Vinham dentro de bolsas à tira colo sem maiores problemas. Para criar os tracajás e tartarugas os mesmos ficavam dentro de recipientes de vidro de boca larga, postos sobre mesas ou em algum móvel da sala. Os jabutis, porém, viviam soltos no pequeno quintal. Sua alimentação era baseada em vegetais como folhas de couve e alface, migalhas de pão e alguns pequenos pedaços de sobras de carne e peixes. Os jabutis além disso tudo comiam frutas. O grande desafio desses estimados animais de criação era acompanhar seus desenvolvimento, seus crescimentos. Entrava e saia ano e os seus tamanhos quase não mudavam na percepção de meus atentos olhos. Enfim, descobri aí a longevidade dos quelônios!

Os peixes de aquário, que só mais tarde soube que eram chamados de ornamentais, foram no princípio, capturados por mim nas valas de frente e perto de casa, na rua Veiga Cabral e arredores, Belém, Pará. Os criava em vidros de boca larga, aqueles de embalagens de produtos alimentícios da época, que seriam jogados no lixo e que eu antes disso às resgatava cuidadosamente. Mais adiante, ganhei um pequeno aquário de vidro de meu pai, ao ver a minha dedicação aos peixinhos. Certo ano, no Arraial de Nazaré, durante o Círio, ganhei um peixe Véu de Noiva em uma brincadeira de pescaria. Fiquei radiante e passei a cuidar com mais afinco desses meus animais de estimação. Lembro que um deles, coletado nas valas, tinha a barriga grandona e outros com a cauda bastante coloridas. Descobri assim os sexos dos peixes e mais adiante alguns processos reprodutivos deles. O barrigudo na verdade era uma fêmea. Alguns dias depois de estarem na nova moradia, presenciei um fato extraordinário: o nascimento de filhotes saídos da barriga da barriguda! Sim, aquela espécie era ovovípara e o apelido da espécie guppy. Na última reforma de nosssa casa, papai dedicou um pequeno espaço entre a frente da casa e o muro frontal, para a construção de um pequeno lago revestido de azulejos e com água abundante e drenagem. Aí viveram os peixes e os quelônios com mais espaço e ambiente adequados que durou até a minha juventude e ingresso na faculdade de agronomia em 1970. Só quando estava fazendo o curso de agronomia é que fui saber que a cidade de Belém, assim como toda a grande bacia banhada pelo Rio Amazonas, era sedimentar e suas terras eram ocupadas por várzeas, igarapés e igapós e alguma floresta de terra firme. As chamadas valas nas ruas recém abertas eram na verdade, testemunhos de antigos igarapés e igapós que eram abundantes na capital. Explica-se assim a presença de peixes nelas. E Belém com seus lindos e inúmeros igarapés, tempos depois, passou a chamá-los pejorativamente de canais, onde os esgotos e as águas pluviais são lançadas! – Não quero ver vocês tomando banho no igarapé da Almirante Tamandaré! – Falava rigorosamente minha mãe para mim e meu irmão, antes de alguma saída. Este é um dos exemplos que os igarapés de Belém eram fontes de muitas brincadeiras e diversões naqueles tempos, meado da década de 1960!

Gatos, tive alguns também. Não, não chegaram à comer os peixes, não! Um deles, já adulto, começou a fazer suas necessidades fora dos locais apropriados e a ele ensinados. Tinha vida livre. Á noite iam passear pela rua, subir nos muros e telhados próximos, enfim, viver felinamente… Meu pai, que não tolerava ver sujeita – era dentista – pegou corda com o comportamento inadequado e sujo do bichano e resolveu exportá-lo. Ensacou o mesmo, colocou no pota malas de seu Vemag e o soltou alguns quilômetros adiante, bem em frente ao Hospital Geral do Exército,HGB, na Praça Brasil. Para espanto e surpresa de todos, o felino no dia seguinte apareceu de volta em casa! Acho que ele, o felino, em suas saídas noturnas, conheceu Belém quase toda! Meu pai não desistiu. Em outra ocasião o levou muito mais pra longe, em ambientes nunca antes visitados, lá pra banda de Marituba! Daí, não voltou mais! Fui ter um outro bichano, algumas décadas mais tarde, quando morei só por um curto intervalo de tempo. Resgatei um filhote na rua e passei a criá-lo. Alguns meses depois, me arrependi do meu ato generoso ao ser importunado com as unhadas que o bichano fazia em minha rede, quando nela fazia a minha sesta habitual ou curtia uma ressaca. Ofertei o bichano à um vizinho e me livrei do bicho, optei pelo sossego.

Com toda a certeza os meus animais de estimação preferidos são papagaios e periquitos. Pela inteligência dos mesmos em se comunicar, aprendendo palavas e até frases me cativam muito. Quando morei em Manaus por alguns anos, tive vários. A “Rosa”, o “Louro” viviam quase lívres em poleiros de gaiolas instaladas na parte de fora da casa, na direção do pequeno quintal sombreado. Eram carinhosos e até catavam piolhos em mnha cabeça… Não vou dizer as palavras que eles aprenderam pois algumas são palavrões, mas falavam também “dá o pé, louro”, dentre outras quando queriam passear comigo. Tive que dá-los quando retornei para Belém. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, IBDF, hoje Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, IBAMA, começou a fiscalizar os passageiros na hora do embarque no aeroporto de Manaus e não tive como contrabandeá-los entre os meus pertences. Em Belém, ainda tentei ter um, mas desisti ao saber os custos das licenças ambientais e mais do que isso, avaliei que poderia importunar meus vizinhos do prédio, desacostumados aos sons canoros dos psittaciformes (papagaios, araras e periquitos).

Neste mesmo período, por volta de 1990 – 1993, tive o mais inusitado dos animais de estimação: Um franguinho pedrês, presente de um amigo praiano, o Leds, barraqueiro da praia de Ajuruteua, Bragança, Pará. Sem pestanejar, aceitei o desafio de criar o galinho no meu apartamento e instalei o “Nixon Tung” – apelido que dei pro mesmo – em uma gaiola posicionada na pequena sacada. Para aliviar o inconveniente dos excrementos galináceos, dáva-lhes periodicamente comprimidos de creolina, um remédio aprendido em minha andanças pelo interior. Além disso, ele participava brilhantemente de minhas festinhas mandalas que eu promovia no apê vestindo-o com fraldas descartáveis, o que lhes dava liberdade para andar por todo o ambiente festivo!

Enfim, nos dias atuais, já quieto, crio uns peixinhos em um aquário que instalei junto ao Meu Nano Viveiro na sacada do apê onde moro em Belém, Pará. Esses foram e são os meus animais de estimação preferidos!