Meu nariz.

”Pensar globalmente, agir localmente”. Este foi um slogan lançado em 1990 para comemorar o Dia da Terra. Passados vinte e três anos, aquilo que seria um pensamento ecologicamente correto (outro slogan), digamos assim, contém uma mensagem a nosso ver fortemente colonialista: a globalização. Ora, globalizar significa desconhecer fronteiras físicas, culturais, científicas, usos e costumes e tudo o mais que forma o status de um povo, de um país, de uma nação.

                Não me refiro simplesmente à globalização da informação, rede mundial, parabólicas, celulares, comunicação via satélite, i-pods, tablets, etc. Refiro-me a globalização para quem? Quem se desenvolverá com a globalização? Quem terá benefícios com a globalização? Será o ribeirinho da “boca” do igarapé de São Benedito, na ilharga de Muaná, no Marajó, Pará? Ou o morador do edifício Atalanta, em Belém do Pará, ou ainda o morador da Avenida Vieira Souto, no Rio de Janeiro? Ou o morador da Vila da Barca, em Belém, Pará? Quem?

                Deparamo-nos diariamente, às vezes segundos a segundos, com mensagens na televisão informando acontecimentos lá da caixa-prego (Ops, este lugar existe e está na Bahia, mais precisamente na Ilha de Itaparica!). Assim, sabemos de fatos do outro lado do mundo e deixamos de saber o que está acontecendo no nosso quintal, na frente do nosso nariz.

                Nomes estrangeiros titulando lojas, serviços, produtos, pessoas e tudo o mais. “É chic”, dirão alguns... De sorte que nossa cultura, nossas lendas, crendices, nossa ciência tradicional estão sendo soterradas por este fenômeno chamado globalização, uma verdadeira pororoca ou tsunami! Entre nós, até a pobreza e o meio ambiente dão poema... Quanta contradição existe em afirmar a fome e a pobreza na Amazônia!

                Por que teremos que esperar que chegue um alienígena para nos salvar? Que competência tem uma cultura e civilização que exauriu o seu chão, poluiu sua água e ar e exterminou milhares de espécies animais e vegetais?

                Que moral tem um povo de clamar por ar puro alardeando mentirosamente que a Amazônia é o pulmão do mundo, se este mesmo povo expele diariamente através de seus automóveis e chaminés toneladas e mais toneladas de gases altamente venenosos?

Eu quero ser dono de meu nariz e nele só quem mete o dedo sou eu mesmo!